domingo, 30 de novembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Pensar é um ato de humor
Zemaria Pinto
O
professor José Dantas Cyrino Junior, que se revelou poeta em plena maturidade –
contrariando a regra de que todos cometemos poesia apenas enquanto não temos a
autocrítica firmada –, surpreende-nos de novo com um livro que, à parte a
poesia latente, vai do trocadilho com intenção meramente humorística até a
reflexão mais profunda.
Apesar
do subtítulo – frases que não pretendem
chegar a máximas –, Cyrino brinca com as palavras, ou melhor, com os
fonemas, descobrindo novos sons e revelando novos sentidos, a partir mesmo dos
títulos de cada uma das quatro partes em que o livro se divide. A referência a
Millôr Fernandes no texto de abertura não é gratuita, mas cabe aqui lembrar
outros frasistas notáveis, como Nelson Rodrigues e os irlandeses Oscar Wilde e
Bernard Shaw, este o preferido de Millôr. Na filosofia, os pensamentos de Pascal
e a filosofia a marteladas de Nietzsche destacam-se. Há uma tradição, portanto;
e como em toda tradição, há também um cânone.
Aliterações,
assonâncias, rimas internas – Cyrino lança mão de recursos típicos do arcabouço
poético para moldar suas frases, dando-lhes um ritmo natural, que torna a
leitura ainda mais prazerosa. Vejamos alguns exemplos ao léu:
O poeta é uma pessoa que
destoa.
Férias são ócios do
ofício.
O ovo é o anúncio do
novo.
A
primeira lembra-me um verso de Jorge Tufic – Poeta não se define: é um ser à parte. A pessoa que destoa não
seria outra senão Pessoa. A segunda brinca com a negatividade da expressão
popular “ossos do ofício”, tornando-a positiva, a partir da proximidade fônica
ossos/ócios, bem como da relação ócio/ofício. A terceira é um achado de
linguagem e de imagem: além das aliterações e assonâncias, constata-se que, de
fato, um ovo, em si mesmo, é uma coisa que anuncia outra. Ou, como diria
McLuhan, é a um só tempo meio e mensagem...
Mas
há também as frases que dispensam a técnica rítmico-musical, bastando-se em si
mesmas, como nesta que resume o espírito do livro:
Banal é tudo aquilo que
não me faz pensar.
O
leitor mais atento terá muito a pensar lendo este livro, escrito por alguém que
não tem pudor em despir-se das máscaras cotidianas, revelando-se por inteiro:
Eu tenho sido a maior
criança que um adulto pode ser.
Tenha
uma alegre e prazerosa leitura.
Apresentação do livro Mínimas – frases que não pretendem chegar a máximas (Manaus: Valer, 2014).
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Apresentações e orelhas,
José Dantas Cyrino Júnior,
Lapidares,
Zemaria Pinto
Medicina e o direito aderidos ao bem, ao bom, ao melhor
João Bosco Botelho
Teorizando em
torno da associação entre o ético-moral gerando o bem, o bom, o melhor, antepondo-se
ao vício ligado ao mal, mau, pior, é interessante assinalar que historicamente parece
existir elos entre as éticas da Medicina-boa prática e a do Direito-absolvição,
ambas entendidas pelo senso comum como aquelas que ofereciam bons resultados e trazem
melhorias à vida pessoal e coletiva.
Os registros
mais antigos apontam que tanto o médico quanto o julgador, entendidos personagens
sociais, concorreram para ajustes políticos e administrativos na maior inclusão
dos curadores e dos julgadores, como agentes do bem, do bom, do melhor. Os
curadores e julgadores que não conseguiram firmar capacidade na solução dos
problemas expostos pelos postulantes, curando os doentes e absolvendo os
acusados, não recebiam o reconhecimento coletivo.
As práticas
médicas edificadas nas academias, nas universidades são as que construíram,
desconstruíram e reconstroem teorias para desvendar as origens das doenças, nas
dimensões cada vez menores da matéria, a priori mais competentes para empurrar
os limites da dor, da morte, gerando aceite coletivo. Desse modo, as teorias
para entender as doenças têm vencido as barreiras para diminuir a abstração e
aumentar a materialidade das enfermidades, aumentando a longevidade e a cura de
doenças consideradas mortais até poucos anos atrás.
O Direito de
igual modo também construiu, ao longo dos séculos, a estrutura sustentadora da
credibilidade coletiva para nortear o bom, o certo, o belo, separando-se das
ideias e crenças religiosas e laicizando o ideário de justiça.
Dessa forma,
esse desejo coletivo de administrar os conflitos nascidos no pressuposto
Medicina-boa prática e Direito-absolvição, presentes tanto na ancestralidade quanto
nos mais próximos, moldaram linguagens-culturas igualmente inseridas no anseio
coletivo de prevalecer o bem, bom, justo, contra o mal, injusto. O conhecimento
historicamente acumulado, desde os primeiros registros do médico e do julgador
como personagens sociais, se ajustou na maior inclusão dos curadores e dos
julgadores, como agentes para evitar a doença e a injustiça.
Entre esses
dois grupos de médicos e julgadores — os dos bons resultados e os que não
satisfizeram as demandas pessoais e coletivas —, as organizações sociais, em
diferentes instâncias, ao mesmo tempo em que reconheciam e nominavam o médico e
o julgador, procuraram refletir, identificar, coibir e punir as más práticas, estabelecendo
fortes critérios na edificação da historicidade das éticas do médico e do
julgador.
De modo
geral, as más práticas na Medicina e no Direito continuam entrelaçadas ao
resultado desfavorável: o fracasso da cura e a sentença considerada injusta.
Nenhum procedimento na Medicina e no Direito, no passado e no presente, tem
sido aceito se provoca, respectivamente, piora de qualquer natureza no enfermo
ou a suspeição de a sentença não ter sido justa.
Esse esboço
normativo ético-moral voltado aos bons resultados, no movimento de secularização
das práticas da Medicina e do Direito, claramente exposto no Código de
Hammurabi, no século 16 a.C., culminou com o aparecimento na Grécia, no século
4 a.C., do conceito de deontologia (do gr. déontos, “o que é obrigatório, necessário” + logia), que evoluiu para “o estudo
dos princípios, fundamentos e sistemas de moral”, em torno das ideias do
filósofo inglês Jeremy Benthan, o fundador do Utilitarismo.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
domingo, 23 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Dabacuri – urbana 3/3
Zemaria Pinto
relógios na mente –
o executivo passeia
sua pressa infinita
riscos incertos –
voando em torno da lâmpada
insetos noturnos
festa de luzes
na praia da Ponta Negra
– lua de verão
lendo à luz de velas,
dou a mão a Zaratustra
– senda luminosa
dou a mão a Zaratustra
– senda luminosa
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Dabacuri,
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Zemaria Pinto
Construções da ética pré-social
João Bosco Botelho
O fato de
que na atualidade ainda não existem mecanismos na engenharia genética capazes
de identificar os genes e as respectivas proteínas que ativam as MGSs não
invalida a construção teórica da existência da ética pré-social.
É difícil
atribuir a milenar busca da virtude somente às relações sociais!
Em incontáveis
ações humanas pessoais ou coletivas, nos grupos sociais das muitas etnias, nos
quatro cantos do planeta, existem fortes indicativos de que esse encanto
coletivo pela virtude, ético-moral voltado ao bem comum, ligando práticas de
cura e anseios de justiça, seja motivado por impulsos que transcendem o
exclusivamente social.
Sob essa
perspectiva, os significantes da ética ligada à moral, oriundos da escrita
grega, com o “e” longo, o eta, ou com
o “e” curto, o épsilon, reproduzem
importantes e indispensáveis mecanismos sócio-genéticos da sobrevivência da
espécie humana, materializados nos códigos de ética de muitas atividades, nas
quais as éticas da Medicina e do Direito são duas entre outras construções, ao
longo da ontogenia, que valorizaram o bem, o bom, o certo, como antagonistas do
mau, do ruim, do errado.
Ainda em
torno da associação entre o ético-moral gerando o bem, o bom, o certo,
antepondo-se ao vicio ligado ao mal, ao mau, ao pior, é interessante assinalar
um ensaio teórico para apreender a ética médica integrada à virtude. Na tese de
doutorado, defendida em Paris, em 1955, intitulada “A ética médica”, o
professor Derrien firmou relações conceituais da ética médica voltada ao
benefício do paciente, isto é, aos bons resultados das práticas médicas.
No entendimento
desse conceituado professor, é possível entender a virtude kantiana nas
práticas médicas, obrigatoriamente, ligada ao “bem”, ao “bom”, no qual o médico
controla a dor e adia os limites da vida, sempre festejado pelo doente. Dessa
forma, seria inadmissível pensar a Medicina como uma especialidade social para
provocar a dor ou a morte. Essa vertente ligando a ética médica aos bons
resultados entendidos como “boas práticas”, gerando bem-estar ao doente, está
presente na historicidade e na maior parte das atuais abordagens teóricas
referenciais.
Nesse
sentido, é possível resgatar relações do conhecimento historicamente acumulado
atando a ética médica à boa prática, entendida pelo senso comum como aquela que
oferecia bons resultados às demandas da clientela por meio de ações que
deveriam, obrigatoriamente, trazer melhorias à vida pessoal e coletiva.
A
historicidade dos códigos das éticas das práticas de curas se construiu
entendendo os respectivos curadores como especialistas sociais que devem saber
controlar a dor e aumentar os limites da vida.
Historicamente,
é possível distinguir três vertentes das práticas de curas:
–
Medicina-divina: fortificada nos templos dedicados às muitas divindades, cujos
agentes, sacerdotes e sacerdotisas, reconhecidos como intermediários das deusas
e deuses curadores, oferecem curas mágicas, sob a vontade das divindades.
–
Medicina-empírica: com forte partilha com as ideias e crenças religiosas, os
agentes que compreendem parteiras, erveiros, encantadores e benzedores, homens
e mulheres sem escolaridade, exercem as práticas fora dos templos. Até hoje, em
muitas linguagens-culturas, são respeitados e festejados.
– Medicina-oficial: muitíssimo mais recente em
relações às anteriores, oferece curas por meio de processos de aprendizados
amparados pelos poderes dominantes.
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Sábado na Academia: a poesia no Clube da Madrugada
Celebrando os 60 anos do Clube da
Madrugada, o escritor Zemaria Pinto e o compositor Mauri Mrq se uniram para
criar o CD-livro Lira da Madrugada,
que deveria ser lançado na Academia Amazonense de Letras na manhã do próximo
dia 22 de novembro. Infelizmente, entretanto, a obra, confeccionada em São
Paulo, não ficará pronta a tempo. Mas esse contratempo não modificará a
programação do Sábado na Academia,
dentro da série 60 anos do Clube da
Madrugada.
Fundado nas primeiras horas do dia 22 de
novembro de 1954, o Clube da Madrugada estabeleceu-se, com o passar do tempo,
como o mais importante movimento artístico do Amazonas. Num momento de
estagnação econômica, jovens intelectuais, com interesses os mais diversos,
resolveram chacoalhar o marasmo, questionando não apenas a literatura,
encastelada na sisuda Academia Amazonense de Letras, mas também as artes
plásticas, a filosofia, a economia e a sociologia – de onde se depreende a
abrangência dos interesses, convergindo para um movimento político.
Foi, entretanto, na literatura e nas artes
plásticas que o Clube da Madrugada deixou as marcas mais profundas – existe,
nesses segmentos criativos, um antes e um depois do Clube da Madrugada.
O trabalho de Zemaria Pinto e Mari Mrq
foca especialmente “A poesia no Clube da Madrugada” e a apresentação deste
sábado será uma aula-show, nos moldes do saudoso Ariano Suassuna: Zemaria Pinto
comentará os poemas dos madrugadenses musicados por Mauri Mrq, que mostrará o
seu trabalho usando a consagrada estrutura bossanovista: “um banquinho, um
violão”. A dupla contará ainda com a presença da poeta Astrid Cabral, que dará
um testemunho da sua vivência no Clube da Madrugada.
Projeto: Sábado na Academia
Série: 60 anos do Clube da Madrugada
Quando: 22.11, sábado, às 10h
Participantes: escritores Zemaria Pinto e
Astrid Cabral e compositor Mauri Mrq
Endereço: sede da Academia Amazonense de
Letras – Casa de Adriano Jorge, Rua Ramos Ferreira, 1009 – Centro
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Lábios que beijei 34
Zemaria Pinto
Ana
Minhas veleidades
literárias nunca produziram mais que meia dúzia de sonetos, um deles dedicado a
Ana, esposa do gerente do banco onde eu trabalhava e era o responsável pelas
operações internacionais, que só existiam na fantasia de um organograma
elaborado no Rio de Janeiro. Mas eu frequentava as mesmas rodas, os mesmos
bares que os jovens poetas da cidade, todos regulando mais ou menos a minha
idade: Jorge, um turco inquieto; Neto, romântico até no falar; Antísthenes,
sempre apressado, elétrico; Luiz, um aristocrata arredio; Carlos, histriônico,
sempre aprontando – todos eles tocados pela centelha do gênio poético, além de
uns tantos que a memória tratou de esquecer junto à má poesia que perpetravam.
Ana era uma deusa grega – de mármore: não sorria nunca e tinha os olhos opacos.
Parecia estar sempre insatisfeita – saudades da capital federal, de onde fora
arrancada para viver em um aglomerado urbano no meio da selva amazônica. O
soneto funcionou: pela primeira vez a vi esboçar um leve sorriso, que logo se esvaneceu
por trás do nariz empinado e do olhar perdido, longe. Publicado em um jornal
local, edição de domingo, dedicado a A, o meu soneto foi o sucesso do dia,
valendo-me de Ana um novo meio-sorriso, num encontro casual, na hora do almoço,
além de elogios e tapinhas nas costas dos amigos poetas, com exceção do
rabugento Luiz, que apenas murmurou algo incompreensível. Disseram que eu tinha
futuro e me convidaram para fazer parte de um grupo que eles declarariam
fundado, com pompa e circunstância, naquela mesma noite, na praça da Polícia.
Foi um fim de semana atípico: o gerente viajara às pressas para resolver uma
pendência em Belém e me deixara em seu lugar, para qualquer eventualidade. À
noite, já me arrumava para encontrar os amigos, quando recebi um bilhete,
assinado apenas A. Vivi naquela noite a mais bela noite que um mortal pode
viver ao lado de uma deusa. E vi o seu sorriso escancarado, a gargalhada solta
– e o brilho de seus olhos negros faiscando à meia luz do clandestino quarto.
Lá fora, chovia uma chuva enjoadinha. Um vespertino do dia seguinte noticiou
com riqueza de detalhes que ao amanhecer daquele dia 22 de novembro, plena
segunda-feira, fora fundado o Clube da Madrugada. Mas o meu nome não estava
lá...
domingo, 16 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Dabacuri – urbana 2/3
Zemaria Pinto
Dia do Trabalho –
a cabeleireira sorri
da fila de espera
restaurante lotado,
garçons em ziguezague
– Dia do Trabalho
almoço findo,
trabalhadores descansam
à sombra da mangueira
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Manoel de Barros (19/12/1916 – 13/11/2014)
UEA e UFAM debatem 60 anos do Clube da Madrugada
A UEA (cartaz acima) e a UFAM estarão promovendo na próxima semana debates sobre os 60 anos do Clube da Madrugada, o que a Academia Amazonense de Letras vem fazendo desde o dia 01/11, aos sábados. Clique aqui para saber sobre o Sábado na Academia.
Mais informações nos sites das instituições e redes sociais.
Historicidade da ética como herança genética
João Bosco Botelho
É razoável
pensar a Medicina e o Direito como partes da organização social da ontogenia,
voltados à valorização da vida em torno da ética e da moral, estruturando os
bons resultados: os agentes da Medicina controlando a dor e empurrando os
limites da vida e os operadores do Direto construindo mecanismos nas linguagens
para impor a legalidade, a licitude.
Nessa longa
construção, é importante relembrar que o alfabeto grego possui duas letras “e”,
a longa = eta e a curta = épsilon. Dessa forma, êthos com eta significa: característica, modo habitual de se comportar; éthos com épsilon, corriqueiro, costume, usual. O processo histórico
linguístico impôs semelhança etimológica entre os dois termos: ambos estão
vinculados à virtude. Talvez também por essa razão, no cotidiano, a ética
oriunda da tradição grega tem caminhado ao lado da moral.
A etimologia
da palavra “moral” parece ser de origem latina: “mores” significa “costume”,
mas não qualquer costume, mas o estritamente aderido à virtude. Assim, Kant
caracterizou a ação moral, em caráter universal, plena de virtude e realizada,
exclusivamente, por dever legalista, em respeito às leis.
Em muitas
circunstâncias, essa característica universal da ação moral, citada por Kant,
isto é, a busca incessante para que o comportamento humano estivesse sempre ao
lado da virtude, independente do processo fiscalizador, ultrapassa as relações
sociais em si mesmas.
Não é
impertinência pensar que esse desejo humano, a partir de passado impossível de
precisar, de concretizar a ética, valorizar a virtude, como antagonismo ao
vicio, à desordem, seja processo sócio-genético gerado ao longo da ontogenia,
ligado à sobrevivência desde os ancestrais mais distantes, já que não seria
possível manter a vida coletiva sem regras e mecanismos para cumpri-las.
Incontáveis
culturas, nos quatro cantos do mundo, pelo menos desde os primeiros registros
de natureza religiosa e laica, continuam lutando para instrumentalizar as regras
valorizando a ética junto à moral, atadas como características insubstituíveis
e universais da condição humana, como genialmente Kant descreveu.
Dessa forma,
é possível articular um processo teórico entendendo esse conjunto como
pré-social, isto é, inserido na herança genética, ao longo da ontogenia,
resultando na existência de memórias-sócio-genéticas (MSGs) ligadas à
valorização do bem, da virtude, moral e ética como instrumentos para adequar a
sobrevivência coletiva e superar a desordem, o mal, imoral, que dissolvem sem
reconstruir. Simultaneamente, essas MSGs também interfeririam na manifestação
pessoal e coletiva do desprezo ao vício que corrompe e compromete a
sobrevivência pessoal e coletiva.
Esse
conjunto organizador social presente nas MSGs da espécie humana, vinculado à
sobrevivência, ajustado ao ético-moral, amparando a vida pessoal e coletiva,
claramente desprezando o vício (aqui compreendido como oposição ao ético-moral,
à virtude), está em curso, amparando a sobrevivência, por meio da Medicina e do
Direito.
Nesse
momento, cabe a pergunta: porque esse mecanismo genético de busca da ética, da
virtude ainda não conseguiu controlar a agressividade da espécie Homo sapiens sapiens: capaz de matar e
trucidar pessoas inocentes; crenças religiosas que geram ódios e matanças? Se
comparado ao passado distante, é possível argumentar que o processo genético de
mudança está em curso.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Escrever é fácil
domingo, 9 de novembro de 2014
sábado, 8 de novembro de 2014
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Dabacuri – urbana 1/3
Zemaria Pinto
flores refletidas
no azulejo do pátio
– quadro de Monet
da alta estante
a corujinha de gesso
observa os homens
caixinha de jóias –
o moleque, no sinal,
vendendo morangos
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Zemaria Pinto
Ecologia e poder: da foice e do martelo ao arco‑íris
João
Bosco Botelho
Durante
muito tempo, no Ocidente, o mito foi equivocadamente compreendido como conjunto
das linguagens oral e escrita reproduzindo a fábula. Ao contrário, em outras
sociedades, compreendido como retrato de estória verdadeira, plena de
significado religioso e simbólico, relacionada às proteções pessoal e coletiva em
torno das divindades e da posse do território.
As
teorizações de Xenofaneso (570‑528 a.C.), da escola eleata, precursor do
pensamento em conceitos, investiu contra as representações míticas de Homero e
Hesíodo, contribuindo para sedimentar a grande rachadura entre o mito e o logos.
As construções
dos saberes, no Ocidente, nos séculos seguintes, influenciadas pela forte
herança cultural grega, adotaram o logos como o oposto ao mito. O mito significando
a antítese da realidade.
A atual
tendência é a admissão acadêmica de não existir diferença pretendida entre
logos e mito. As duas construções estariam interligadas e dependentes como estados
alternados da mesma realidade.
É
reconhecido por alguns historiadores que Karl Marx, em certas ocasiões, utilizou
um dos grandes mitos da escatologia do mundo asiático‑mediterrâneo – o papel do
justo sacrificado – entendido pelos marxistas na figura do proletariado, para
justificar a mudança ontológica do mundo. Parece existir correlação entre os
mitos em torno da posse da terra e a função soteriológica do proletariado, proposta
por Marx e Engels. De certo modo incorporou parte da ideologia messiânica
judaico‑cristã, simulando a luta do bem – o comunismo – atacando impiedosamente
para desaparecer o mal – o capitalismo – da Terra.
Os diálogos
entre os teóricos marxistas, na época da Terceira Internacional, e os
filósofos historicistas, evidenciaram o quanto pesou na disputa para tornar
exclusivo, na práxis, a objetividade do social pelos primeiros e a subjetividade,
na produção das ideias pelos segundos.
Nos últimos
vinte anos, as sociedades estão tendo a rara oportunidade de presenciar outro movimento
da coesão social: o mal, antes simbolizado pelo comunismo, foi dicotomizado: o
lado maléfico – a droga – e o benéfico – o verde.
É fantástico
como os ideólogos do capitalismo não só conseguiram desmontar o rigor da
abordagem política do marxismo, como também deram aos desiludidos marxistas uma
opção para continuar falando. Não é demais valorizar Paulo (1Cor 11, 19):
"É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem
manifestos entre vós aqueles que são comprovados.”
Durante
pouco mais de cinco anos, para difundir a nova ideia pela grande mídia articulada,
facilitando a assimilação do inevitável: a dissolução da URSS. A primeira meta das
notícias que dominaram a mídia estava assentada na desmoralização do comunista‑inimigo,
acentuando as contradições internas e externas insustentáveis.
A
entrevista do diretor do FBI, durante a passagem por São Paulo, em 1991, foi
muito interessante. De acordo com o policial, os comunistas deixaram de ser
preocupação do governo americano do norte. A prioridade atual é o combate às
drogas. O rápido e, até certo ponto, previsível, desastre social do desmonte da
ordem comunista, impôs à ideologia dominante vencedora, o capitalismo
transnacional, a necessidade de apressar o movimento mítico de coesão social
em outra vertente: a droga substitui os comunistas e o arco-íris da vida
garantida pelo capitalismo deve preservar o verde das florestas.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Não considero mais a felicidade inatingível
Não considero mais a felicidade
inatingível, como eu acreditava tempos atrás. Agora sei que pode acontecer a
qualquer momento, mas nunca se deve procurá-la. Quanto ao fracasso e à fama,
parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que procuro é a
paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado
ambicioso, a sensação de amar e ser amado.
(Jorge Luis Borges (1899-1986), aos 71 anos, em Ensaio autobiográfico)
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Lábios que beijei 33
Zemaria Pinto
Marcela
Fosse eu um personagem
machadiano, diria que Marcela me amou por seis meses e alguns milhões de
cruzeiros. Não é apenas uma coincidência de nomes, é uma maldição. Cento e
oitenta e oito dias foi o tempo da ventura. O montante é uma abstração
monetária: o bastante para instalar apartamento confortável, com tudo do melhor
disponível à época. Marcela fazia de mim seu sultão, ela meu harém. Aos 19
anos, Marcela era múltipla e absolutamente talentosa em tudo o que fazia,
especialmente em se tratando de sexo. Aliás, tiremos o especialmente, que aqui
fica sem função. Resumindo Marcela: com ela eu fiz tudo o que imaginei fazer
com uma mulher – e mais alguma coisa que só ela poderia imaginar. Um final de
tarde, chegando sem avisar ao apartamento, nos altos de um velho sobrado do
centro histórico, vi de longe uma figura conhecida indo na mesma direção que
eu. Estanquei o passo. Vi que ele entrou onde eu temia que entrasse. Não podia
ter dúvidas. Sentei-me idiotamente no meio-fio, com a esperança de que a visita
fosse rápida e houvesse uma desculpa razoável depois. Perdi a noção do tempo.
Em meu estômago, a sensação de um soco atingindo fígado e baço, se é que tal
golpe é possível. No dia seguinte ela me procurou. Sem dizer uma palavra,
devolvi-lhe o soco: olho esquerdo roxo, nariz sangrando, escândalo, denúncia,
depoimento, abafa. Paguei mais dois meses de aluguel e risquei Marcela do
livro-caixa da minha vida. Contudo, ainda hoje, cinquenta e tantos anos passados,
desperto em meio à madrugada escutando sua gargalhada sarcástica. Maldita!
domingo, 2 de novembro de 2014
sábado, 1 de novembro de 2014
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