Amigos do Fingidor

terça-feira, 31 de julho de 2018

Saudável é jaraqui



Pedro Lucas Lindoso


A conversa girava em torno de comida saudável. Tia Idalina repete sempre que “você é o que você come”. Titia conta que nos anos setenta foi “macrobiótica”. E explica:
– Era moda aqui em Copacabana. Havia um restaurante macrobiótico aqui perto de casa. Resolvi testar a macrobiótica para emagrecer. Comia-se principalmente o arroz integral assim como outros cereais, legumes e leguminosas. Tomava-se muito chá. Coisa de oriental. Dizia o tal mestre dono do restaurante que a macrobiótica valoriza o poder energético dos alimentos. A dieta busca um equilíbrio entre as propriedades “yin” e “yang” que são duas forças opostas.
Depois de seis meses tia Idalina desistiu da macrobiótica. Emagreceu. Ficou saudável, porém muito triste. Não conseguiu balancear o “yang” e o “yin”. Segundo Idalina, de comedora de carne “yang”, virou comedora de arroz e leguminosas “yin”. Hoje titia é adepta da “low carb” e faz jejum intermitente.
No momento tia Idalina está interessadíssima no kefir.  Disse-me que é alimento natural que pode ser usado de diversas formas na culinária. Cuida do seu corpo de dentro para fora, explica.
Conheci um restaurante macrobiótico em Brasília. A comida pode ser até saudável, mas não é nada gostosa.
Há um antigo e prestigiado escritório de advocacia trabalhista em Brasília – Riedel de Figueiredo e Advogados Associados.  Ulisses Riedel é o chefe do clã que já soma seis gerações de vegetarianos. O escritório existe há vários anos e sempre teve apoio de uma excelente cozinha vegetariana. Hoje se dizem veganos. Eles agora fundaram um dos melhores restaurantes saudáveis e veganos de Brasília, o Supren Verda. Dr. Ulisses Riedel explica que, em esperanto, supren significa ascensão e verda, verde.
Diferente dos macrobióticos, a comida lá é bem palatável. E claro, saudável.
Meu colega Sidnei não se considera vegetariano nem vegano. Mas preocupa-se em comer alimentos orgânicos. Li no Jornal do Commercio que o setor de orgânicos deve crescer 20% este ano e movimentar acima de R$ 4 milhões. Sidnei evita carne vermelha e dá preferência para carnes brancas e peixes, desde que certificadas e orgânicas. Abomina alimentos com glúten e lactose. Não come açúcar. Também é adepto do “low carb”.
Em minha opinião, saudável e muito gostoso mesmo são nossos peixes amazônicos. Principalmente o tambaqui e o jaraqui.
E como diz o caboclo: “quem come jaraqui não sai mais daqui”.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Jogos de Poder em Literatura


Para mais informações, clique aqui.

domingo, 29 de julho de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXIX


Colégio Estadual, na Sete de Setembro.

sábado, 28 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Victoria Stoyanova.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Cérebro: elo entre evolução e consciência 2/2



João Bosco Botelho


É impossível saber exatamente a razão determinante da escolha do fígado como o órgão mais importante ou porque não foi outro órgão, como o pulmão e o coração. Os indícios da preferência poderiam estar assentados na alta prevalência de doenças hepáticas e febres com icterícias mortais, nas margens alagadiças dos rios Tigre e Eufrates.
Adotando esse raciocínio é lógico pressupor que se alguém pudesse interpretar as variações anatômicas do fígado seria capaz de prever o futuro pessoas. A adivinhação por meio da hepatoscopia (visão do fígado) para saber a vontade dos deuses era prática corriqueira em todos os estratos sociais.
O judaísmo resistiu à tradição politeísta e colocou o centro do corpo no coração. A escolha poderia estar sedimentada no conhecimento histórico apontando para as mudanças do ritmo e da força das batidas cardíacas durante as emoções mais fortes. No Antigo Testamento (AT) existem citações do coração como sede da vida física (Ge 18, 5; At 14, 17), da tristeza (Dt 15, 10), da alegria (Dt 28, 47) e do medo (Dt 20, 3).
O cristianismo manteve a mesma certeza de que Deus se comunica com os homens através do coração (Mc 2, 6 8; Lc 3, 15; 2Co 2, 4).
O islamismo foi mais longe. Estabeleceu uma relação com a presença do Espírito sob o duplo aspecto de Conhecimento e Ser. O coração passou a representar o órgão da intuição ("al kashf" = revelação, ato de levantar o véu) e o ponto de identificação (wajd) com o Ser (al wujud).
A força cultural do monoteísmo dominante fez com que, pouco a pouco, o fígado deixasse de ter importância e a consciência volitiva fosse acoplada às batidas cardíacas. A literatura medieval está repleta de aforismos associando o coração à felicidade e aos dissabores do amor.
É também interessante lembrar que a força do espaço sagrado articulado pelo cristianismo conseguiu suprimir o valor de uma das máximas hipocráticas (século 4 a. C.) de ser o cérebro o centro das emoções: “Algumas pessoas dizem que o coração é o órgão com o qual pensamos, e que ele sente dor e ansiedade. Porém não é bem assim: os homens precisam saber que é do cérebro e somente do cérebro que se originam os nossos prazeres, alegrias, risos e lágrimas. Por meio dele, fazemos quase tudo: pensamos, vemos, ouvimos e distinguimos o belo do feio, o bem do mal, o agradável do desagradável... O cérebro é o mensageiro da consciência... O cérebro é o intérprete da consciência...”
O desvendar profano do corpo chegou com a anatomia e a fisiologia dos séculos 16 e 17, resgatando a maravilhosa percepção de Hipócrates e trouxe para o primeiro plano um novo centro corpóreo como elo final entre a evolução e consciência: o cérebro.
A suprema beleza da “Criação do Homem”, pintada por Michelangelo (1475-1564) no teto da Capela Sistina, no Vaticano, é a sublime manifestação na arte do deslocamento do coração, como o centro do corpo, para o cérebro. O afresco que retrata o momento em que o homem recebeu de Deus a inteligência tem a perfeita forma do sistema nervoso central.  

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Colin Staples.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Tranquilo que nem um grilo



Pedro Lucas Lindoso


Convivo com jovens. Melhor, com aqueles que se tornaram adultos há pouco tempo. A minha geração é aquela dos que nasceram pós-segunda guerra. Não havia roupa de marcas e “herdava-se” um casaco, algumas roupas, livros e material escolar dos irmãos mais velhos. As famílias eram de muitos filhos. Hoje quem tem mais de um casal de filhos é excêntrico.
“De boa na lagoa”, me diz um jovem profissional, que se recusa a casar numa idade em que já tinha meus dois filhos. Hoje muitos não precisam se apressar para casar. Namorar hoje em dia é como, dizem, “suave na nave”.
No tempo em que se dizia: “É uma brasa, mora”. Namorava-se. Mas o namoro com meninas de família tinha limites. Namorava-se, como diz meu amigo advogado, o Dr. Chaguinhas, “lato senso”. Para se namorar “estrito senso”, segundo o Chaguinhas, tinha que casar, ou pelo menos ficar noivo.
Essa nova geração parece bem mais preparada. Do ponto de vista das habilidades é capaz de usar “high tech” com facilidade. Encontraram desde jovenzinhos acessos facilitados à cultura e bons colégios. Aprendem línguas em cursos multimídia.  Conhecem lugares do mundo em viagens de intercâmbio e em férias, que outras gerações morreram sonhando em ir por lá.
Mas parece que estão sempre com pressa. Antigamente esperávamos uma semana para ter fotos reveladas. Mas agora tudo é mais fácil. Talvez alguns achem que a vida é mesmo muito fácil.
Mas não é. Ninguém nasce herdando toda a felicidade do mundo. Os problemas do cotidiano fazem parte da vida. Não precisa acreditar que a vida é “um vale de lágrimas”, mas não se pode auto enganar-se de que estamos longe de sofrimentos e dor.
Todos nós temos que conquistar as coisas com muito trabalho e muita coragem. Sem esquecer de que as conquistas devem e precisam ser pautadas em princípios éticos, em exercícios diários de cidadania. De preferência buscando sempre o caminho da honestidade.
É ótimo estar “de boa na lagoa”. Quem não gosta?! “Suave na nave”, então, é maravilhoso. Mas infelizmente não se vive o tempo todo “tranquilo que nem um grilo”. Infelizmente. 

domingo, 22 de julho de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXVIII


Por trás da Booth Line, o famigerado IAPETEC, o primeiro “arranha-céu” de Manaus.

sábado, 21 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Arthur Braginsky.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


93 – Preso político e improvável candidato, esta é a primeira eleição direta para presidente, em 58 anos, sem Lula.

94 – Os que não entenderam a afirmação (não é piada), paciência: vão estudar história.

95 – Jânio Quadros, um louco despudorado, foi o último presidente eleito pelo povo – eu disse povo? –, sem precisar enfrentar Lula.

96 – Depois dele, vieram os assassinos de 64.

97 – E depois dos assassinos verde-oliva, o supremo corrupto Sir Ney.

98 – Sobre quem Glauber, o Rocha, com sua cabeça populista latino-americana, fez um belíssimo documentário – Maranhão 66: está no iutube.

99 – Ah, não sobre o presidente corrupto – Glauber já estava morto – mas sobre o governador corrupto de quem Glauber esperava a redenção do miserável Maranhão, que continua tão ou mais miserável que há 52 anos.

100 – Glauber também fez um curta sobre o Amazonas, Amazonas governado pelo biônico Arthur Reis. Tá lá no iutube, mas não perca seu tempo: não é um Glauber autêntico – está mais pra globo repórter.

101 – De Castelo a Sir Ney, todos, sem contar com um mísero voto do povo – povo?

102 – Quando a globo elegeu Collor, as cinzas do velho Marx reacenderam-se. Afinal, Ele já avisara que a história acontece como tragédia e repete-se, sempre e sempre, como farsa.

103 – o collorido glloball era apenas uma pífia imitação do idiota Jânio – e tanto um quanto o outro serão apenas notas de rodapé nos livros de história do Brasil, quando o Brasil tiver uma história para contar.

104 – Aí veio o professor, o intelectual que afirmou em alto e bom som: esqueçam o que escrevi – na prática, a teoria é a mais conveniente no momento.

105 – Para desespero da imprensa dependente, da direita envergonhada e do capital apátrida, o povo elege Lula em 2002 e 2006, além do poste de 2010 e 2014.

106 – Como estamos falando de eleições diretas, o golpe de 2016, futura nota de pé de página, será ignorado.

107 – 2018, a dois meses das eleições, como será a participação de Lula?

108 – O Jânio da vez, identificado como capitão cueca, segundo lugar nas pesquisas dirigidas (o primeiro, apesar das manipulações, é Lula, pois não há como negar) não tem mais que 8 segundos de televisão (menos que o palhaço Enéas, de triste memória) – e não consegue, pagando em ouro, a porcaria de um vice, porque mesmo os mais os sórdidos não querem se associar a ele.

109 – Nem mesmo o malta, cujo nome já o identifica – um magno bandido.

110 – Marielle assassinada, em quem ela votaria?

Graúna festeja 15 anos e debate Naturismo




Cérebro: elo entre evolução e consciência 1/2



João Bosco Botelho


Ao longo do processo de transformação, caminhando em diferentes trilhas, o homem e a mulher têm procurado a natureza das próprias consciências.
Existe farta evidência de que desde os primeiros registros escritos, em torno de 4.000 anos, a busca foi articulada em duas dimensões: sagrada, sagrando a todos e a tudo; profana, entendendo a ressonância das ideias na realidade mensurável.
No espaço sagrado, a divindade passou a ser a força motriz de todos os sentimentos. A vontade divina exercendo o papel de dominadora das emoções, restando aos homens e às mulheres cumprir fielmente o determinismo inexorável, vindo do céu, obedecendo às ordens dos representantes na terra do poder transcendente, e agradecer, com oferendas e ritos de louvor, a vida vivida.
Na dimensão profana, situada à margem do sagrado, procurando entender o visível mensurável, as pessoas iniciaram a longa busca para conhecer o próprio corpo escondido atrás da pele como primeiro momento para saber porque chorava, ria, amava e odiava.
O esforço coletivo e milenar tem se mostrado árduo, pleno de avanços e recuos, indicando o conflito de competência entre os dois espaços, para desfazer as dúvidas e seduzir pelo convencimento.
Desse modo, são claras as sucessivas tentativas, quase sempre no sentido do sagrado ao profano, de utilizar o naturalmente observável para legitimar o imaginado. Uma das estratégias tem sido a sagração de uma parte do corpo, transformando-a no centro, para facilitar a comunicação com a divindade.
As recentes interpretações dos registros arqueológicos mesopotâmicos mostram com bastante clareza que o fígado foi escolhido por aqueles povos como a porção mais importante do homem. Para os babilônios antigos, os sentimentos que dirigiam a vida estavam localizados na estrutura hepática.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Christiane Vleugels.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Mick Jeta



Pedro Lucas Lindoso


Tia Idalina não se conforma com a desclassificação prematura da seleção na copa da Rússia. Para ela estava tudo planejado para ser uma copa da Europa. Desclassificaram todos os times da África, do Oriente e das Américas. Na final só ficou time europeu. Uma copa na Europa e para a Europa. Um absurdo!
Titia havia decorado sua varanda com as cores do Brasil. Chamou os sobrinhos como faz em toda copa do mundo. Se autointitula “torcedora bissexta”. Só torce para futebol de quatro em quatro anos.
A varanda ficou esplendorosa. Provavelmente, a mais bacana em toda Copacabana.  Um pouco “over” é verdade. Os vizinhos pediam para ver a decoração. Merecia um prêmio! Comentava-se no prédio.
Os sobrinhos só aceitavam o convite ao saber que tia Jeta não estaria presente. Tremendo pé frio. Tia Idalina explicava que ela estava em Friburgo. Garantia que Jeta não viria assistir aos jogos em sua casa.
Jeta visitou Nova Iorque às vésperas do atentado ao World Trade Center. Na semana seguinte em que esteve no Chile houve um grande terremoto. Joca que é flamenguista doente, veste a camisa do Vasco na tia Jeta antes de Flamengo e Vasco. O Vasco sempre perde. É tiro e queda.
Na copa passada aqui no Brasil convenceram tia Jeta a visitar uma sobrinha em Belo Horizonte. No fatídico jogo em que o Brasil perdeu de 7x1 para a Alemanha, por total desconhecimento do pé frio da dona Jeta, levaram-na para assistir ao jogo no Mineirão. Para completar, tia Jeta compra na loja exclusiva da FIFA, uma camiseta de cor preta. Na tal camiseta, preta, repita-se, havia a figura da taça e escrito: FIFA – Brasil World Cup. Deu no que deu.
Neste ano de 2018, nos três primeiros jogos da copa, dona Jeta ficou quietinha em Friburgo. Curtindo a baixa temperatura que faz por lá nessa época do ano. Mas Jeta estava sentindo muito frio, principalmente nos pés. Assim, resolveu de surpresa, descer para o Rio. Justamente no dia do jogo Brasil x Bélgica.
Chegou atrasada à casa de Idalina. No exato momento em que a Bélgica fez o primeiro gol. Abriu a porta e vestindo a tal camiseta preta da copa passada. Gritou:
– Bonjour! Em alto e bom Francês!
 O pessoal se arrepiou.  Mas como todos achavam que o Brasil iria passar pela Bélgica sem problemas, deixaram tia Jeta quieta no seu canto.
De repente alguém pergunta:
– Que idioma falam esses galalaus belgas?
Tia Jeta responde de imediato:
– Então vocês não sabem que na Bélgica se fala francês? Français, bien sur!
Nesse momento a Bélgica faz o segundo gol. Joca não perdoa. E implora:
– Tia Idalina, por favor, leva a tia Jeta para o quarto.
Foi uma confusão. Jeta não admitia que a chamassem de pé frio. Aquilo era um desrespeito a sua pessoa. Não seria bode expiatório. E foi embora! Gol do Brasil!
Final de jogo. Bélgica 2 Brasil 1.  Todos colocaram a culpa da derrota na tia Jeta. Idalina protestou:
– Gente, não façam a pobre da Jeta de bode expiatório! Mas que foi culpa dela foi! Eita pé frio! Pior que ela só o Mick Jagger! É a própria Mick Jeta.

domingo, 15 de julho de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXVII


Av. Castelo Branco, antiga Valpés, cruzada pela Ramos Ferreira.

sábado, 14 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Equilibrium.
René Zwaga.

sexta-feira, 13 de julho de 2018


Arte: Jorge Bandeira.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

IGHA promove seminário "Negritude e Amazonas"



O legado de MauMao em exposição



A medicina e o caos 2/2



João Bosco Botelho


Foi sem dúvida o matemático francês Henri Poincaré (1854-1912) quem demonstrou a instabilidade mesmo em sistemas simples. Este pensador acabou ficando conhecido também pela sua colocação acerca da comodidade da ciência, onde as teorias científicas traduziriam unicamente a arbitrariedade da razão com o objetivo de tornar inteligível um conjunto de fatos observados. A atual compreensão de instabilidade regendo o conjunto que mantém a vida no planeta é absolutamente fantástica e preocupante ao mesmo tempo. É fantástica porque nos fez mergulhar na incerteza angustiante, e é preocupante porque colocou por terra as certezas acabadas. O estudo do caos está abrindo a matemática aos sentidos do homem onde a sua capacidade de abstrair formas espaciais foi incorporada à uma geometria muito diferente da euclidiana. Mesmo com a indiscutível indeterminação de Heisemberg somos hoje capazes de imaginar como é a projeção espacial de uma molécula de ADN e o feedback (retroalimentação) dos hormônios hipotalâmico hipofisário no controle das glândulas endócrinas (tireoide, ovário, testículo, suprarrenal), para o equilíbrio de muitas funções vitais do homem. 
O avanço foi concomitante em várias direções. Um novo entendimento de espaço surgiu e envolveu o caos trazendo subsídios ainda maiores e mais concretos para romper o equilíbrio tridimensional. 
Parece ser adequado continuar discutindo que a doença, enquanto abstração nominada pelo homem, será compreendida como fenômeno dinâmico e mutante no tempo capaz de ser estudada fora do espaço euclidiano. Haverá tempo em que a biologia perguntará: em qual espaço você deseja estudar o hipertireoidismo? É claro que este espaço não se refere ao tamanho da sala, mas a descrição da estrutura geral do objeto a ser investigado. 
O simples raciocínio da hierarquização orgânica (só estamos tratando dos seres vivos) pode reforçar essa suposição. Do organismo vivo até as partículas subatômicas conhecidas, o caos pode passar sucessivamente pelos sistemas orgânicos (respiratório, digestivo, urinário etc.), órgãos, tecidos, células, organelas (ribossomos, mitocôndrios etc.), moléculas, átomos e partículas subatômicas. O mais fascinante é o fato não se esgotar aqui. Existem sistemas matemáticos que apesar de serem determinados não são, como seria de esperar, previsíveis. Não existe nenhum fator desconhecido que possa justificar a falha da previsibilidade. Esta ocorre pela incapacidade do homem para representar a infinitude.          
Sendo partes do mesmo todo, é possível que a teoria do caos contribuirá também para a melhor compreensão dos sistemas vivos sob o prisma da termodinâmica. Hoje continua sendo muito difícil entender como o homem, como exemplo de sistema aberto, consegue manter a vida com rigorosa ordem interna e baixa entropia. 
Enquanto as correntes ideológicas se digladiam na busca das suas certezas acabadas utilizando a saúde e a doença como armas para conquistar o poder, a coisa em si passa gradual e inexoravelmente à coisa para nós.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Nubian Princess.
Frans Mensink.


terça-feira, 10 de julho de 2018

Sarau Literário no Casarão das Ideias



Miséria pouca é bobagem



Pedro Lucas Lindoso


O rapaz vivia repetindo “miséria pouca é bobagem”. Ganhou o apelido de Zé Bobagem. Goiano e morador de Brasília, decidiu que seria policial federal. Encetou um programa de estudos com esse objetivo. Zé é professor de educação física e “personal” nas horas vagas.
Após dois anos de cursinho e muito estudo veio o edital esperado. Provas em diversas capitais, inclusive em Manaus, cidade que já foi chamada de sorriso. Mas hoje é só isso! Com muito trânsito e muito buraco.
Pois bem! Zé Bobagem soube que a nota de corte em Manaus possivelmente seria menor e com maior chance de aprovação. Eureca! Faria a prova em Manaus!
Devidamente inscrito no concurso e com muitas horas de dedicação e estudo estava pronto para enfrentar a prova na capital amazonense. Faltava uma semana para o concurso quando Zé Bobagem resolve comprar a passagem! Um susto. O trecho Brasília-Manaus-Brasília estava variando entre três a quatro mil reais. Para a véspera da prova estava mais caro ainda. Era fim de ano. Receberia o décimo terceiro. Miséria pouca é bobagem, pensou. Comprou a prazo, no cartão.
O voo de Zé chegou por volta de uma hora da madrugada. Horário Manaus. Estava cansado. Era novembro, e no verão a diferença de fuso entre Brasília e Manaus é de duas horas.
Zé dispensou o Uber. Precisava que o taxista lhe indicasse um hotel perto do local da prova. Marcada para as 13:00 horas (horário de Brasília).
Não há taxi comum no aeroporto de Manaus. Só especial. Outro susto. A hospedagem mais próxima da prova não era bem um hotel. Trata-se do mais antigo motel da cidade. Leva o nome do mais famoso dos répteis. O local é possivelmente tão antigo quanto a famosa serpente da Bíblia.
Os barulhos estranhos e o cheiro de mofo não foram suficientes para amainar o cansaço e tirar o sono de Zé Bobagem. Dormiu profundamente. Acordou por volta das dez horas.  Pediu café da manhã. Considerando-se a decadência do local, até que não estava tão ruim. A prova seria às 13:00 horas. Deixou o motel por volta das 11:00 horas, com banho tomado e todo serelepe.
Ao chegar ao local da prova os portões estavam fechados. Eram 11:15 horas em Manaus. Em Brasília já passava das 13:00 horas!
Na sexta série do Ensino Fundamental ensina-se fuso horário. Zé perdeu essa aula. Não merecia mesmo passar no concurso. Desgraça pouca é bobagem.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

domingo, 8 de julho de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXVI


Getúlio Vargas com Tarumã. Anos 60?

sábado, 7 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Daniel Miller.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A medicina e o caos 1/2



João Bosco Botelho
   

Os indicativos apontam, com clareza, que a ciência caminha na direção da melhor compreensão do átomo e a medicina, inexoravelmente, seguirá na mesma trilha e aplicará as novas teorias na busca da arqueologia da doença, trazendo à discussão os processos teóricos do caos, instabilidade que persiste. 
Apesar do grande avanço tecnológico que o homem alcançou com a mecanização, automação do cotidiano, interferindo cada vez mais profundamente no domínio da natureza, persistem muitas questões fundamentais para que se possa compreender melhor a coisa em si (referida ao conceito kantiano). Contudo, deve ficar claro que esta abordagem teórica está voltada à certeza da resolutividade do processo histórico do conhecimento como ponte para transformar a coisa em si para a coisa para nós. 
O caos está presente em toda a natureza. Ele pode se manifestar quando um objeto é submetido ao efeito de mais de uma força gerando situações impossíveis, com os atuais conhecimentos, de previsibilidade. Os exemplos mais banais vão desde a tentativa de prever o próximo movimento de uma folha que corre livre ao sabor da corrente das águas de um rio, uma bactéria que sobrevive na corrente sanguínea até às previsões climáticas (o movimento do ar). Nestes exemplos ainda não é possível saber o que poderá acontecer à folha, à bactéria e se terá ou não tempestade em Malta num determinado dia, mesmo utilizando os mais sofisticados e complexos sistemas de cálculos.  
A maior dificuldade reside em separar a supremacia do caos à aparente estabilidade e ritmicidade do cosmo. Aqui tudo se apresenta dentro de um ritmo uniforme e eterno: a noite, o dia, as estações do ano, as estrelas e o movimento dos planetas. Sob a guarda dessa ritmicidade aparente que o homem começou a transformar a natureza e se fez Homem acumulando o conhecimento. Do mesmo modo, foi construída uma compreensão estática da saúde e da doença, onde parecia existir um divisor de águas entre o homem doente e o sadio, sendo aquele representado pela negação e este pela afirmação da vida. 

(Continua...)

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Fantasy Art - Galeria


Esad Ribic.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Roupa suja nem sempre se lava em casa



Pedro Lucas Lindoso


Há um ditado popular que diz: “roupa suja se lava em casa”. Não sei ao certo a origem, mas brigas e disputas entre familiares devem ser resolvidas sem escândalos e, obviamente, no ambiente doméstico.
Madame Carradot, professora de Francês, ensinou-me que Balzac utilizava a expressão “Il faut laver le linge sale en famille”. Em Inglês se diz: “Wash your dirty linen at home”.
Metáforas são metáforas. O fato é que muita gente não lava a roupa suja em casa. Há as modernas lavanderias. Antigamente, aqui em Manaus, havia as lavadeiras. Essas senhoras pegavam as roupas nas residências para lavar nos igarapés. Secavam no sol. Colocavam as roupas para “quarar” ou “coarar”. Significa deixar as roupas de cor branca ou clara, como toalhas e lençóis, já lavadas e ensaboadas, expostas ao sol, para ficarem com um branco "imaculado", ou seja, sem manchas.
Conheci um rapaz que trabalha em uma plataforma de petróleo. O regime é de 14 dias de trabalho por 21 dias em terra, de folga. O petroleiro leva para cada embarque a quantia exata de 14 cuecas. Ao chegar em seu alojamento, coloca as peças diligentemente empilhadas na primeira prateleira do armário. É o fiel indicativo de quantos dias fica embarcado. Cada dia uma cueca. Há um prazer incontido em vestir a última peça, pois significa que desembarca naquele dia. Cada um com sua mania.
Não sei se é lenda ou fato histórico. Dizem que no auge do Ciclo da Borracha, aqui no Amazonas, enquanto os barões da borracha acendiam seus charutos em notas de libra esterlina, suas esposas mandavam, por navios, seus enormes vestidos de festa para serem lavados na Europa.
No lobby de um conhecido apart-hotel da cidade, um executivo relatava aos colegas que sua maleta vem de São Paulo com ternos, camisas, meias e cuecas limpas. A mesma muda de roupas usadas e sujas retornam para São Paulo no fim de semana.
O que nos leva a concluir que nem sempre a roupa suja se lava na cidade ou no local onde foi usada.
Presenciei um jovem casal discutindo e brigando na fila do caixa de um supermercado local. Infelizmente e metaforicamente, roupa suja também nem sempre se lava em casa.  

domingo, 1 de julho de 2018

Neide Gondim (1944-30/06/2018)



Manaus, amor e memória CCCLXXV


Casarões apodrecendo no entorno do Roadway.