Mustesielu. |
terça-feira, 30 de abril de 2013
Paulo Vanzolini (25/04/1924-28/04/2013)
Paulo Vanzolini, à direita, e Adoniran Barbosa, vistos por Cássio Loredano. Veja fotos inéditas de Vanzolini e amigos clicando aqui. |
segunda-feira, 29 de abril de 2013
O Chile de Neruda 1/2
Tainá Vieira
Da
janelinha do avião mira-se uma paisagem inesquecível. A mesma paisagem vista
inúmeras vezes pelo seu filho maior, Pablo Neruda. Sim, estou falando da
Cordilheira dos Andes. Uma vasta cadeia montanhosa que atravessa sete países da
América do Sul, os chamados países andinos. Um deles o Chile, que tem como
capital Santiago, esta que me hospedou por sete dias. Era um dos meus sonhos
conhecer esse país tão demasiadamente colorido e elegantemente frio. E
principalmente famoso pelos seus vinhos maravilhosos, seu vale Nevado e mais
ainda pelo seu filho, prêmio Nobel de literatura, o louvado Pablo Neruda, motivo máximo de minha viagem. Assim que pus
os pés em Santiago, senti uma energia estranhamente boa apossar-se do meu corpo,
que entrou pelos meus pés e saiu pela minha boca. Acho que era porque tinha que
hablar español por uns dias. Tarefa
que receberia a nota 8,5 numa prova oral. É uma língua bonita de se falar e
difícil de compreender, quando falado rapidamente. É necessário muita atenção
para se comunicar, ser entendido e não
ouvir dos hermanos chilenos a palavra
em tom de “quase” menosprezo: brasileña?
Pois eles compreendem muito bem o nosso portunhol. Eu ouvi essa frase algumas
vezes. De resto, quanto ao quesito falar espanhol, eu diria que foi
gratificante.
Mas não fui ao Chile gastar dinheiro.
Não fui simplesmente viajar por aquele país. Não, minha viagem tinha outro
motivo. Conhecer um pouco da vida de Pablo Neruda. Minha missão no Chile. Pablo
Neruda que é considerado o maior poeta chileno e um dos maiores da America do
Sul. É através das casas de Pablo Neruda que se pode conhecer um pouco desse
poeta, que lutou e amou seu povo até a morte. Em 1953,
constrói sua casa em Santiago, apelidada de La
Chascona, para se encontrar clandestinamente com sua amante Matilde
Urrutia, que viria ser sua terceira esposa e o acompanharia até o seu ultimo
dia de vida. A casa tem o nome La
Chascona (que significa “a descabelada” na língua indigena quíchua) porque
Maltide tinha uma enorme cabeleira. A ela Neruda dedica os versos:
Me falta tempo para celebrar teus
cabelos.
Um por um devo contá-los e louvá-los:
outros amantes querem viver com
certos olhos,
eu só quero ser penteador de teus
cabelos.
(“Soneto XIV”, de Cem sonetos de amor, tradução de Carlos
Nejar)
La Chascona,
localizada no bairro Bellavista, La
Sebastiana, na cidade de Valparaíso,
e Isla Negra são casas-museus de
Pablo Neruda. As casas lembram barcos.
São casas bem diferentes de quaisquer outras que já se tenha visto. La Chascona é uma casa divida em três
partes, unidas por escadas e caminhos, e
tem um belo jardim. Diz-se que eram duas casas, uma de Pablo e outra de
Matilde, e que Pablo abriu uma passagem para ambos transportarem-se, um para a
casa do outro. A casa funciona como museu e como biblioteca do autor. As
visitas sempre são acompanhadas de guia, em língua espanhola e inglesa. La Sebastiana está localizada no cerro
Bellavista, em Valparaíso, e, com seu formato de barco, tem-se uma visão de
sonho do Pacífico. Dá a impressão de que o barco logo irá partir. Isla Negra, a casa favorita de Pablo
Neruda, foi seu ultimo lar. Lá ele viveu seu amor intenso com sua amada
Matilde. Em seu livro Confesso que vivi,
Pablo Neruda, falando sobre a mulher, diz:
Minha mulher é da província como eu.
(...) Ao falar-lhe, disse-lhe tudo em meus Cem
Sonetos de Amor. Talvez estes versos definam o que ela significa para mim.
A vida e a terra nos reuniu. Ainda que não interesse a ninguém, somos felizes.
Dividimos nosso tempo comum em longas temporadas na solitária costa do Chile.
(“Matilde Urrutia, minha mulher”,
tradução de Olga Savary)
Isla
Negra é o nome da praia onde a casa está localizada, um lugar lindo à
margem do oceano pacífico. Fica num pequeno distrito de pescadores da região e
não é uma ilha – o adjetivo é uma referência a cor predominante das rochas que
tornam a praia inviável para o banho de mar. No caminho, a guia repete a piada
cotidiana: alguém já ouviu falar do poeta chileno Neftalí
Ricardo Reyes Basoalto? Silêncio. E de Pablo Neruda? É claro que todos iam a
Isla Negra por causa do escritor, ignorando que aquele nome estranho era o seu
nome verdadeiro. O pseudônimo é uma homenagem ao poeta francês Paul Verlaine e
a um escritor checo, Jan Neruda.
A casa de Isla Negra é única, não há
outra casa no mundo como a de Pablo. Na verdade, são varias casas em uma. Ora
se está em uma casa de pedra, ora em uma casa de madeira. Cada cômodo da casa
nos deixa com a impressão de que estamos em lugares diferentes: há uma parte
que tem o formato de um vagão de trem, homenagem ao seu pai que era
ferroviário; outra parte é um barco. A casa abriga várias coleções do autor,
pois Pablo era um grande colecionador: há mais de 3.000 objetos do mundo todo
espalhado por toda casa. Infelizmente, não se pode fotografar na área interna.
Numa das portas, há um tapete feito só de conchinhas, inclusive conchinhas do Brasil,
levadas para lá pelo seu amigo Jorge Amado.
Em cima de uma das mesas de centro há uma coleção de taças de vinho. Há
um compartimento da casa só para as garrafas, são inúmeras garrafas coloridas.
O quarto que Pablo dividia com Matilde é um lugar lindo. Há uma parede de vidro
de frente para o Pacífico. A cama está posicionada de um jeito que a cabeça
fica em direção ao nascer do sol e os pés ao pôr-do-sol. No quarto está a
coleção de chapéus do poeta, a penteadeira de Matilde, um guarda-roupa com as letras
P e M na porta, os diversos ternos usados pelo poeta, incluindo o traje que ele
usou para receber o prêmio Nobel de literatura, em 1971. No quintal da casa há
um barco, onde o comandante Neruda reunia com amigos em imaginárias viagens mar
adentro. Há também um sino que Neruda tocava quando os amigos chegavam. Em Isla
Negra está o túmulo do poeta e da esposa. Como quis o autor.
Companheiros, enterrai-me em Isla
Negra,
diante do mar que conheço, de cada
área rugosa
de pedras e ondas que meus olhos
perdidos
não tornarão a ver.
(“Disposições”, do livro Canto Geral, tradução de Paulo Mendes
Campos)
Pablo Neruda faleceu em
23 de setembro de 1973, aos 69 anos, de câncer na próstata, numa clinica em
Santiago. Mas essa é a versão oficial. Está em curso a investigação de um
possível assassinato. Foi enterrado sem cerimônia, em Santiago, sob o
testemunho de militares de Pinochet. Mesmo morto, o poeta querido pelo povo
assombrava-os. Somente 19 anos depois, com a restauração da democracia, seu
corpo foi levado a Isla Negra, foi então realizada uma cerimônia com a presença
de muitos amigos, e sob o olhar do povo que tanto o amava. Depois de conhecer a
casa de Neruda, é possível descer à praia, onde há um “moai” (escultura inspirada na cultura rapa nui, da Ilha de Páscoa), esculpido
em uma das rochas, representando a cabeça do poeta, olhando o mar sem fim. O
túmulo de Neruda fica de frente para o oceano, com a trilha sonora das ondas,
batido pela brisa fria do Pacífico. Fiquei um tempo observando: ora mirava o
túmulo, ora mirava o mar. Nem sei descrever o que senti naquele momento. Só sei
que esse momento permanecerá para sempre gravado na minha memória, assim como a
poesia de Pablo Neruda.
Publicado originalmente na revista Valer Cultural, n° 4.
Fotos: Tainá Vieira.
Detalhe da casa de Neruda, em Isla Negra. |
A parte de pedra da casa de Neruda, em Isla Negra. |
domingo, 28 de abril de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Dabacuri – amazônica 1/13
Zemaria Pinto
caminho de terra –
o mato à margem exala
perfumes silvestres
arpão certeiro
o tucunaré debate-se
– festa em Nhamundá
ao descer das águas
a várzea rejuvenesce
– tempo de plantar
sem fazer bulício
a jacina pousa leve
na água estagnada
Publicado no livro Dabacuri (Manaus: Uirapuru, 2004)
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Zemaria Pinto
Mãe-Terra: pressuposto da fome saciada 2
João Bosco Botelho
Do
sangue à terra cultivada
As dezenas
de milhares de anos nas quais os caçadores-coletores permaneceram em relação
direta com a natureza animal, de onde retiravam o sustento, deixaram traços bem
definidos na nova adaptação sedentária, frente às mudanças provocadas pelo
cultivo da terra e pastoreio.
As anteriores relações míticas do homem com o
animal que predominaram no universo mítico do homem pré‑histórico caçador-coletor
foram modificadas junto às práticas agrícolas. A ordem anterior foi substituída
pela solidariedade mítica com o vegetal cultivado. O osso e o sangue foram
deslocados pela terra e pelo esperma; o arado sulcava e germinava a terra, como
o pênis, a mulher fértil. Ao mesmo tempo, ocorreu a ascensão da mulher no novo
espaço social, reconhecida, tal como a Mãe‑Terra.
Essa mudança
está muito forte na arte rupestre, que assumiu aspecto naturalista, ao
contrário da precedente dos caçadores-coletores, predominantemente esquemática
e geométrica. O simbolismo sexual se tornou evidente nas esculturas dos arados em
forma de falo e das figuras femininas obesas com enormes mamas, conhecidas como
Vênus Pré‑históricas. O pênis, ao penetrar na mulher para fecundar,
naturalmente, se comparou ao arado rasgando a Mãe‑Terra para germinar o
alimento.
Os vestígios desse
universo mítico, da esperança da vida após a morte, na cultura neolítica,
parecem ter recebido muitos elementos metafóricos oriundos dos novos valores da
terra cultivada e renovados, periodicamente, no ciclo eterno da natureza
visível.
A antiga dispersão mítica se concentrou nos
valores do espaço definido: a aldeia. Nessa fase, apareceram os primeiros
lugares urbanos consagrados exclusivamente à divindade – o templo –, cujos
responsáveis detinham o conhecimento historicamente acumulado, para explicar o
curso da natureza, por isso se portavam como intermediários do transcendente.
Essa complexa sequência da transição do
imenso espaço do caçador-coletor à pequenez da aldeia, pode ter consolidado as
idéias religiosas, não só pela agricultura, de onde saía o alimento, mas também
no mistério da gestação, ambos inseridos na nova consciência coletiva, identificada
no ritmo da vida dos vegetais, no processo eterno de renovação do mundo.
Existem exemplos de mitos que relacionam o
homem ao produto da terra cultivada que garante a vida.
Os nativos da ilha do Ceram, na Nova Guiné, onde
do corpo retalhado de uma jovem semidivina, Hainuwele, crescem plantas até então
desconhecidas, que oferecem o alimento necessário à sobrevivência. Semelhante, o
mito amazônico do guaraná, do vale dos rios Andirá e Maués, descreve o drama da
morte do filho da índia Onhiamuacabe e do seu renascimento através dos olhos
plantados na terra molhada, dando origem, do lado esquerdo, ao falso guaraná
uaraná‑hôp, e do direito ao verdadeiro guaraná uaraná‑cécé, que seria usado
para alimentar e curar as doenças.
A significação dos mitos nascidos da relação
do homem com a terra é clara: os alimentos são sagrados por derivarem da Mãe‑Terra.
terça-feira, 23 de abril de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
sábado, 20 de abril de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 6/6
Zemaria Pinto
O contador de histórias – É o mais interessante dos doze trabalhos de Tigre no Espelho. Observe, leitor, que,
de maneira despojada, simples, Aragão usa da metalinguagem para desentranhar
uma história que, narrada em terceira pessoa, é a história do próprio narrador,
dando-nos uma verdadeira aula sobre a criação literária.
Note que o personagem defronta-se com três situações
adversas: o confronto com o chefe de escritório, que o adverte por estar
conversando; o conflito com o chefe de redação, que o critica por confundir
jornalismo com literatura; finalmente, o encontro com o policial, que julga que
ele esteja a fazer discursos em praça pública. Nos três casos, articulam-se
idéias sobre o fazer literário:
1 – A literatura escrita difere da literatura oral,
baseada na tradição, por trazer em seu bojo todo um aparato técnico do qual se
serve o escritor. Tigre no Espelho,
por tudo o que já dissemos antes, é um exemplo bem acabado desse fato;
2 – Jornalismo (realidade) e ficção (fábula) são
excludentes. A ficção será sempre a realidade transformada, recriada, do
contrário será mera reportagem;
3 – A literatura não serve para vender ideias,
objetivo imediato do discurso: o convencimento, a persuasão. A literatura de
ficção deve, acima de tudo, provocar prazer no leitor. As ideias, se as houver,
e Tigre no Espelho é um exemplo de
obra ficcional recheada de idéias sobre o fazer artístico, devem estar
subjacentes ao texto, de forma a não incomodar o leitor que opte apenas pelo
prazer de navegar à superfície do texto.
Por que não matei Olga? – A mulher de calcinha do conto “A velha Remington”
retorna em grande estilo, mantendo um diálogo com o escritor de contos
eróticos, o Avelar, de “As tias”. Olga, a personagem, quer independência do
velho careca, que com ela faz par no conto citado. Nada a acrescentar, além do
que já dissemos antes sobre o caráter metalinguístico da narrativa e do estilo
fantástico, que permite o inusitado diálogo entre criador e criatura.
Antes que se apague – Um diálogo com um interlocutor desconhecido, cujas manifestações não
nos chegam, este conto radicaliza o que chamamos, muitos parágrafos atrás, de
problematização do ato criador.
Se a um escritor a cegueira total não impede que ele
continue criando, não se pode inferir o mesmo de um escultor: a forma, na
literatura, é abstrata; na escultura, é concreta. O escritor não precisa “ver”
seu poema ou seu conto – ele pode ditá-lo, para alguém ou um simples gravador,
e trabalhá-lo até a forma final. Basta-lhe a audição. Um escultor, pelo
contrário trabalha com as mãos e o resultado do seu trabalho pressupõe a visão,
sob os mais diversos ângulos. O drama do escultor cego remete-nos ao do músico
surdo: Beethoven (1770-1827), nos últimos anos de sua vida, totalmente surdo,
não apenas escrevia suas composições como as regia em público. Tal como o
poeta, o músico tem o recurso da escrita (a partir da visão) para anotar suas
criações. Ao escultor, entretanto, resta apenas o tato para amenizar a mutilação
de sua capacidade criadora.
As tias –
Deslocado dos demais quanto ao tema, este conto traz um amargo sabor
nelsonrodrigueano, no relacionamento doentio e hipócrita entre as tias
solteironas e o sobrinho exibicionista. Avelar, o personagem-escritor de “A
velha Remington”, criador de Olga, a mulher de calcinha, vive com as tias Ana e
Branca, solteironas e assexuadas. Avelar provoca-as andando nu pela casa,
talvez um costume de infância. As tias, entretanto, não entendem assim e
sublimam sua sexualidade atribuindo as “esquisitices” do sobrinho à sua
condição de “poeta”.
O espelho e o tigre
Em algum lugar deste texto, dissemos que Tigre no Espelho é um livro de reflexão
sobre o ato criador. Agora, pensemos um pouco adiante: a arte só tem sentido
se, ao proporcionar prazer, conduzir à reflexão, ao questionamento, à dúvida. O
ser humano que só tem certezas é um infeliz, pois não percebe a diversidade de
vida que habita o seu caos cotidiano e não terá sensibilidade para perceber a
obra de arte.
O espelho é um símbolo da realidade que nos aprisiona.
Quanto ao tigre, leitor... Bem, coloque-se diante de um espelho e tente
decifrar o enigma.
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Mãe-Terra: pressuposto da fome saciada 1
João Bosco Botelho
De caçador-coletor à vida sedentária
As mudanças climáticas ocorridas, em torno de 12000
anos AP (Antes do Presente), na Europa, proporcionaram incríveis transformações
nas relações sociais dos caçadores‑coletores. O recuo das geleiras provocou a
migração da fauna em direção às regiões setentrionais, com substituição das
estepes pela floresta, obrigando os nossos ancestrais distantes à se adaptarem
à nova fase.
Os elementos sagrados continuaram acompanhando os
caçadores-coletores na nova trajetória de conquistas. O espaço que garantia a
sobrevivência havia se deslocado, efetivamente, em direção das terras férteis
próximas aos rios e lagos.
O lago de Stellmoor, perto de Hamburgo, na Alemanha
Ocidental, constitui marco desse período. Muitos objetos com forte aparência de
sacralidade, encontrados nesse sítio arqueológico, datam de 8.000 anos. Um
deles chamou particularmente a atenção: a estaca de pinho com um crânio de rena
na sua porção mais alta. Os posteriores estudos do solo comprovaram incontáveis
resíduos ósseos desse animal, com claras marcas de a carne ter sido retirada
com a ajuda de artefatos de pedra. Esse fato sugere que a rena representou uma
das mais importantes fontes da sobrevivência daquelas pessoas que lutavam
diuturnamente contra o congelamento dos próprios corpos.
Em outra área de pesquisa arqueológica neolítica, não
muito distante da anterior, foi resgatado um tronco de salgueiro com mais de
três metros de comprimento, grosseiramente esculpido, se percebendo a cabeça e
o pescoço de uma figura humana. O
simbolismo expressado nos totens parece configurar a convivência de dois
momentos distintos do universo mítico: a divinização do bicho e a do próprio
homem. Dessa forma, parece lógico pressupor não ser difícil, para quem já
tornou sagrado o circundante, tomar para si a sagração.
A última grande modificação climática do planeta, resultante
do deslocamento das geleiras, interferiu na passagem do antepassado caçador‑coletor
à vida sedentária, quando as comunidades neolíticas optaram pela vida mais sedentária,
ao contrário das anteriores, nômades.
A mudança também reconhecida como Revolução Agro‑Pastoril
do Neolítico se processou como o produto final de combinações circunstanciais, culminando
com as práticas agrícolas.
É certo que não podemos estabelecer limites rígidos
no tempo para situar esse aspecto civilizatório para as diferentes culturas. Contudo,
é possível assimilar que os povos situados em diferentes continentes viveram
situações semelhantes em fases diversas, variando de 10.000, na Mesopotâmia, a
7.000 anos, no planalto mexicano.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Marmitão Seboso e a poesia proletária
João Sebastião
O proletário é o sujeito explorado financeiramente pelos patrões e literariamente pelos poetas engajados.
(Mário Quintana)
Para Marmitão Seboso, o último
stalinista, Mário Quintana era apenas um poeta neoliberal, vendido ao
capitalismo gaúcho.
Marmitão Seboso não é um poeta
engajado – é muito mais: é um crítico engajado.
Sua análise crítica da poesia
perscruta os ritmos proletários, as imagens industriais, as metáforas
florestais da poesia, que devem, sim, portar uma mensagem libertária e
conscientizadora, que eduque a classe trabalhadora.
Para Marmitão Seboso, Maiakovski foi
apenas um títere a serviço do capital internacional, com sua poesia de
metáforas assexuadas: eu sou uma nuvem de
calças!
Para exercitar sua verve crítica, o
último dos stalinistas cerca-se de jovens poetas iletrados, analfabetos
funcionais, drogados eventuais – que jamais leram um livro, para não se
deixarem influenciar pela hidra poética capitalista, de ritmos dissolutos, em
suas folias metafísicas.
Marmitão Seboso, não suportando mais a
vida neste Brasil varonil, onde nem o grande poeta Ferreira Gullar, que já foi
stalinista e hoje é apenas maranhense, se leva a sério, resolveu pedir asilo à Coreia do Norte, onde o
pequeno timoneiro Kim Yong-nam estuda como aproveitar o seu cérebro
privilegiado.
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domingo, 14 de abril de 2013
Manaus, amor e memória CIV
sábado, 13 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 5/6
Zemaria Pinto
Meu contrato
milionário –
Observe, leitor, a forma como este conto é apresentado, através de sequências,
com registro do tempo e do lugar onde se desenvolve a ação. Essa é uma
referência direta à linguagem cinematográfica, embora seja inimaginável uma sequência
na qual o personagem tenha uma fala tão longa como a que abre este conto. Na
verdade, o autor apenas usa o recurso cinematográfico para fazer literatura.
DJ, o personagem
principal, é um escritor que acaba de tirar a sorte grande: assina um contrato
com uma editora, pelo qual recebe um adiantamento. O problema é que ele ainda
nem começou a escrever o romance contratado. DJ é o mesmo escritor-personagem
de “Aranha tece a teia”, que, você deve estar lembrado, buscava inspiração ao
lado de Lily. Aqui, a companheira é Mariana, cujo irmão, Thiago, é assassinado
no desenrolar da trama.
Neste conto, a
representação da busca pela motivação de escrever tem um cunho quase didático:
a partir de um dado real, o assassinato de Thiago, DJ começa a tecer o seu
romance, transformando a realidade, reinventando-a, pois é assim que se dá a
gênese da literatura de ficção. Observe, leitor, que a trama ficcional de DJ
vai muito além da realidade que ele conhecia:
(...) DJ decide armar o jogo da ficção. Um homem é assassinado.
A viúva sorteia entre os filhos aquele que irá vingar a morte do pai
assassinado por um pistoleiro de aluguel. Um jagunço é contratado pela viúva
para cuidar que ninguém mate o pistoleiro antes que o filho vingue a morte do
pai.
(...) DJ retoma a história que está nascendo. Mas o filho vai
ter que ser preparado, treinar muito com a arma de fogo, até ficar muito bom na
mira do trabuco. A história começa a ficar interessante. Parece que finalmente
encontrei o fio da meada. Agora é ir como a aranha, tecendo a teia.
Anotações para um
conto – Escrito em
primeira pessoa, é subdividido em quatro anotações. Na primeira, há como que
uma “invocação às musas” da poesia: o escritor-narrador sente-se sem “inspiração”,
sem forças para escrever. Na segunda anotação, ele faz observações sobre um
personagem: um escritor que, como ele, tinha dificuldades de criar. Na terceira
anotação, surge Santiago, personagem deliberadamente tomado emprestado do
escritor norte-americano Ernest Hemingway (1898-1961), da novela O Velho e o Mar, seu maior sucesso de
público.
A anotação de número
quatro faz uma digressão sobre o estado mental do escritor-personagem. Ele se
identifica tanto com Hemingway, que sente remorsos por seus atos. Na última
anotação, o escritor entra em definitivo no mundo fictício de Hemingway, mais
especialmente na fábula de O Velho e o
Mar.
O caráter metalinguístico
deste conto permite-nos imaginar que, não fora o desgaste das tentativas
anteriores, Adrino Aragão poderia fazer com Hemingway o que fizera com Borges e
Kafka. A opção pelas “anotações”, entretanto, pareceu-nos mais correta, porque
apenas sugere o que nos outros é perigosamente explicitado.
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O cólera no Amazonas imperial
João
Bosco Botelho
O cólera chegou ao Pará em 15 de
maio de 1875, a bordo da galera portuguesa “Defensor”. O diário de bordo
descreveu a agonia dos trinta e cinco dias de viagem, entre a cidade do Porto
(Portugal) e Belém (Pará), retratada na morte de trinta e seis passageiros.
Nos dias que se seguiram, os registros
sugerem ter havido pressão de interesses escusos e incompetência para que a
galera fosse autorizada a desembarcar sem qualquer controle sanitário.
O
cólera-morbo desembarcou em Belém e continuou a viagem, poucos dias depois, para
Óbitos e Manaus, a bordo do vapor Tapajós, com os trinta e dois colonos
estrangeiros, que desembarcaram em Óbitos, e quarenta militares do 11º Batalhão
de Caçadores que se dirigiam para Manaus. Na semana seguinte, o cirurgião do
Corpo de Saúde do Exército, comunicou que dois soldados do 11º Batalhão de
Caçadores estavam contaminados com cólera-morbo.
É possível que a Companhia de
Comércio e Navegação do Alto Amazonas, proprietária do Tapajós, concessionária
da exclusividade da navegação a vapor, no rio Amazonas, tenha pressionado as
autoridades da Província para a ocultação da gravidade da epidemia. A notícia
chegada da mortal enfermidade alarmaria outros imigrantes estrangeiros, o que
implicaria em prejuízos à Companhia do Visconde de Mauá, representante dos
interesses da Inglaterra na Amazônia.
O fluxo migratório de colonos
europeus para a Amazônia começou em 1854, um século depois do fracasso do
Diretório Pombalino, coordenado pela mesma Companhia com objetivo de
substituição da mão de obra indígena, para melhorar a produção agrícola.
Com o medo coletivo da morte fora de
controle, sem alternativas de tratamento, as pessoas apavoradas propuseram
muitos remédios, desde o cozimento concentrado de goma arábica, até as infusões
de folhas medicinais, sempre acompanhadas dos purgativos. Porém, o maior
sucesso se voltou ao suco de limão concentrado como a grande revelação para o
tratamento do cólera-morbo, principalmente para os pobres, a maioria da
população, que não podiam pagar as extravagantes combinações farmacológicas dos
médicos.
A notícia de milhares de novos casos
no interior da Província aumentava o medo. Na localidade de Cametá, com a
população de seis e sete mil habitantes, o número de mortes chegou a cinquenta
pessoas por dia. O Presidente da Província do Pará, impressionado com a
gravidade da situação, fez visita no local e morreu vítima do cólera-morbo a
bordo do paquete Rio Negro, quando regressava da viagem.
A busca dos culpados por meio da
expiação dos pecados tomou corpo. O bispo
de Belém, acreditando que a ira divina só poderia ser aplacada com rezas e
penitências, promoveu, com a autorização do Presidente da Comissão de Higiene,
concorridas peregrinações e ritos que acabaram por se constituir em um momento
facilitador da propagação do bacilo.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
terça-feira, 9 de abril de 2013
Platônica VII
Olá,
“Cavaleiro Iniciado em Todas as Madrugadas do Universo!” Lembras-te disso,
Luiz?! Deparei-me com isso quando estava a estudar o livro “Clube da Madrugada
30 Anos”, de Jorge Tufic. Gostei do conteúdo do livro, gostei mais ainda porque
tu fazes parte dessa história, bela história por sinal. E a mais importante da
literatura amazonense. Mas não quero aqui discorrer sobre esse assunto, até
porque não me vejo capacitada para tanto e, imagina Luiz, se eu iria tratar de
literatura contigo. Não, estou a te escrever porque quanto mais o tempo passa
mais eu me pergunto por que resolveste partir?! Se tu soubesses as atrocidades
que aconteceram depois da tua partida, coisas tão desleais para com a tua
pessoa, com a casa, na qual tu eras o membro mais importante. Enfim, combinamos
que não iríamos falar sobre isso. Vamos falar de coisas boas, então; sabes que
outro dia quando estava na minha academia, conheci duas leitoras tuas, elas se
aproximaram de mim, para perguntar algo sobre um poema teu, estão trabalhando
sobre ele na escola em que elas lecionam, fiquei deveras feliz e demasiadamente
vaidosa, por elas terem me procurado (isso Luiz, é devido a uma ferramenta na
internet, na qual eu divulgo – do meu jeito – algo que eu escrevo sobre ti, e
também divulgo teus poemas e olha que faz muito sucesso, tu és muito amado).
Conversamos muito sobre a tua obra, e devido ao fato de conhecerem um pouco e
amarem tanto teus poemas, as batizei como Damas Iniciadas Bacellarianas. Achei
justo. Fico muito contente quando conheço pessoas que te gostam, que admiram
tua obra. Lembras quando eu te falava que na universidade, quando o assunto era
literatura amazonense, era só o teu nome que os professores falavam, pois é,
continua assim. E eu nem preciso te dizer o porquê de seres tão estudado e
comentado. Vaidoso como és, deves saber... Mas, Luiz, voltando ao assunto do
Clube da Madrugada, eu penso que tu não foste batizado “Cavaleiro Iniciado em
Todas as Madrugadas,” sabes por quê? Porque tu jamais foste iniciado, já
nasceste mestre maior... (como eu queria te ver dando aquele sorriso, ao me
ouvir te dizendo estas parcas palavras).
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Os 64 anos de Marcos Frederico Krüger
domingo, 7 de abril de 2013
sábado, 6 de abril de 2013
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 4/6
Zemaria Pinto
A Condessa – Narrado em primeira pessoa, este
conto tem a literatura apenas como pano de fundo: há uma profusão de citações,
inclusive cinematográficas, mas como já chamamos sua atenção alguns parágrafos
atrás, este conto foi escrito por um personagem: o narrador de “Aranha tece a
teia”, que é o mesmo de “Meu contrato milionário”. É a ficção dentro da ficção.
O enredo, embora não seja
muito original, tem humor: um sujeito pobre conhece uma mulher madura, que se
identifica como Condessa. Eles passam a ter um caso, encontrando-se no luxuoso
apartamento dela. Um belo dia a verdade vem à tona: ela era apenas a empregada
da verdadeira Condessa, que estivera viajando.
Aranha tece a teia – Outro escritor de contos eróticos
medita enquanto espera pela namorada, Lily, que funciona também como uma
anacrônica “musa inspiradora” na sua busca pela motivação de escrever. Como já
observamos, e o leitor notará no bojo do texto, ele é o autor de “A Condessa”.
Narrado falsamente em terceira pessoa, só na última frase do conto percebemos,
com a mudança de terceira para primeira pessoa, que o narrador é o próprio
escritor-personagem:
Ela sorri. Os olhos verdes brilham. Agora sim, eram os olhos
verdes da Lily que ele conhecia.
Anoitecia quando Lily deixou o quarto de pensão. Ele comeu o
último pedaço de pizza, cuspiu o caroço de azeitona, bebeu o resto de vinho na
garrafa. Não existe ninguém como a Lily. Ela chega, espanta os fantasmas que
rondam o solitário escritor. E quando vai embora deixa sempre farto material
para o novo romance, que não sei se consigo escrever.
Observe também a inserção
gráfica, em forma de parêntesis, na qual se faz a apresentação de Lily, representando
o pensamento do personagem.
A barata – este conto é gêmeo de “Tigre no
Espelho”, a narrativa que abre o livro. Mostra-nos o theco Franz Kafka
(1883-1924), que é, como Borges, um dos escritores essenciais deste século,
autor de clássicos do gênero fantástico, como a novela A Metamorfose, ponto de partida da narrativa de Aragão. Para que o
leitor entenda melhor o personagem deste conto, vamos resumir a trama de A Metamorfose. O texto começa de forma
lapidar:
Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos
intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.
Observe, leitor, que não
se trata de delírio. Samsa realmente transforma-se em um inseto. De esteio da
casa, ele converte-se em estorvo para a família, antes tão dependente. Até a
irmã, que no início da metamorfose procurava demonstrar-lhe carinho, vai aos
poucos afastando-se dele. A incomunicabilidade é total. Gregor Samsa definha
até a morte.
O Kafka de Adrino Aragão é
prisioneiro de uma obsessão: o personagem Gregor Samsa. Há algumas liberdades
por parte do autor. Por exemplo: Kafka só conheceu Milena, por quem se
apaixonou, oito anos após ter escrito A
Metamorfose. Mas estamos tratando de ficção, não de uma biografia de Kafka.
Um problema grave, entretanto, no nosso entendimento, começa com o título da
narrativa, “A barata”: Kafka em nenhum momento diz que em que espécie de inseto
Samsa transformou-se. É um inseto, apenas. Traduzi-lo como barata é
empobrecedor e arbitrário.
A entrada em cena do
poeta norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), parece-nos também
problemática, a menos que aceitemos a cândida explicação do personagem:
– A senhora disse que ouviu vozes? Talvez não
acredite, mas falava comigo mesmo. E em voz alta. Ou melhor, conversava com
meus anjos e demônios. Mais demônios que anjos...
Ao fazer Poe parafrasear
Guimarães Rosa (“o verdadeiro escritor não morre, fica encantado”) e prever o
sucesso futuro de Kafka, Aragão toma tal liberdade com as relações tempo/espaço
que a única “explicação” plausível é a condição onisciente do autor de O Corvo, cujos versos citados no
original apresentamos na tradução de Fernando Pessoa:
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Mas a intenção do autor é
interessante. Poe e Kafka tiveram uma vida um tanto conturbada, sem
reconhecimento público, e morreram jovens, na casa dos 40 anos de idade. Kafka,
turberculoso, e Poe, de cirrose. No diálogo entre os dois, Aragão registra,
como em outros contos deste livro, o dilaceramento provocado pelo ato criador:
– Escrever é um sofrimento. Mas também é, para mim, a
forma de eu me defender diante do mundo conturbado, caótico, aterrorizador. Ou
escrevo ou enlouqueço.
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O cólera: doença da miséria social
João Bosco Botelho
O cólera-morbo já era conhecido
pelos navegantes árabes e europeus que viajavam pelos grandes rios na Ásia
meridional, pelo menos cinco séculos antes de Cristo. Os gregos chamavam a
doença do kholera ou fluxo de
bílis e os sinais se manifestavam com diarréia grave, vômitos
incoercíveis, hematomas em várias partes do corpo, emagrecimento rápido e a morte
após alguns dias ou mesmo horas depois de a enfermidade ter se instalado.
É possível que a designação kholera
tenha surgido na Escola de Cós, no século 4 a.C., quando a mortalidade
da doença recebeu a explicação por meio da teoria dos Quatro Humores. Segundo essa
teoria, a saúde seria consequente do equilíbrio entre os quatro humores
fundamentais que regulam as funções corpóreas: sanguíneo, linfático, bilioso
amarelo e bilioso negro. O excesso de um humor determinaria as doenças. No
cólera, o humor bilioso preto seria o determinante do quadro clínico. O
tratamento de todas as moléstias, inclusive do cólera, seria obtido pela eliminação
dos humores, provocada com a ajuda dos vomitórios e purgativos.
Os registros indicam que, em 1817, ocorreram
surtos em Calcutá, tendo alcançado a China, na mesma época. Em 1821, se
disseminou no Irã, e a devastação foi de tal gravidade que facilitou a
conquista de grande parte do território pela Rússia. Por outro lado, milhares
de soldados russos morreram durante os primeiros meses da ocupação militar.
Em janeiro de 1832, a epidemia
alcançou o porto francês Calais, na época, importante entreposto comercial
entre Oriente e Ocidente, fato que contribuiu na propagação do cólera em outros
países europeus. Dois meses mais tarde, somente na França, o cólera-morbo matou
mais de cento e quarenta mil pessoas.
Semelhante ao que ocorreu em alguns
episódios da peste negra, na Europa, especialmente na França e Alemanha, o medo
coletivo da morte, atribuiu aos judeus o “envenenamento da população por meio
de bruxaria e culto pagão”. Sob essa falsidade, milhares de famílias judias
foram massacradas e queimadas nas fogueiras de lenha verde. O Prefeito de Paris
ofereceu, em dezembro de1832, generosa recompensa para quem desse a informação
correta do culpado.
Essa
triste realidade, o massacre de culpados imaginários quando sociedades sentem
medo da morte fora de controle, tem se repetido, em muitas ocasiões, desde os
primeiros registros escritos. A população do Haiti, com a totalidade composta
abaixo da linha de pobreza, devastada pela crônica corrupção das instituições e
várias catástrofes climáticas, sentindo-se desamparada para conter o surto do
cólera, que já atingiu mais de 80.000 pessoas com 2.000 mortos, linchou quatorze
pessoas acusadas de “praticar bruxaria e trazer a epidemia para a região” com
golpes de facão, pedradas e os corpos esquartejados e queimados nas ruas.
Ao
longo dos processos sociais, nos tempos marcados pelo medo pessoal e coletivo
da possibilidade de morte antecipada, especialmente, nas epidemias fora de
controle, as buscas dos culpados imaginados permeiam toda a brutalidade que as
pessoas podem perpetrar.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
terça-feira, 2 de abril de 2013
Arlindo Porto recebe de volta mandato violado pela ditadura
Manaus, 2 de abril de 2013
Caro confrade Arlindo Porto,
O dia 3 de abril de 2013 será um
marco na história do Legislativo amazonense, na medida em que, simbolicamente,
repara um erro de quase cinco décadas.
Apesar de ainda andar de calças
curtas por aquela época, o Tempo encarregou-se de formar em minha mente a imagem
do deputado Arlindo Porto, que, junto com outros brasileiros de igual quilate,
foram condenados pelo crime de discordar dos poderosos de plantão. Essa imagem –
do deputado aguerrido, em sintonia com os anseios populares – sempre esteve
associada ao seu nome.
Por isso, manifesto a minha alegria
pela iniciativa do jovem Bisneto, em restituir-lhe o mandato – que, antes de
pertencer a você, sempre pertenceu ao povo do Amazonas. Calaram o deputado Arlindo
Porto, calaram o povo do Amazonas, que ele representava com tanto brilho.
Lamento, meu caro, impedido por
compromissos profissionais firmados anteriormente, não poder comparecer à
Cerimônia.
Aceite meu abraço fraterno.
Zemaria Pinto
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segunda-feira, 1 de abril de 2013
8 de março na Mansão dos Belos Quadros
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