Amigos do Fingidor

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A poesia é necessária?



                                      Carolina Maria de Jesus


Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

No “parpite”



Pedro Lucas Lindoso


Houve uma época em que não havia o IBAMA e desconhecia-se o Direito Ambiental. Vendiam-se tartarugas, papagaios e periquitos livremente no Mercado Adolpho Lisboa, aqui em Manaus, o nosso Mercadão. Tinha até uma ala só para a venda das tartarugas.
Menino de calças curtas, ganhei de presente de aniversário da Darinha um periquito verde, que fora licitamente comprado nos arredores do Mercadão. Daria Nascimento, a nossa querida Darinha, foi lá para nossa casa antes de eu nascer. Era analfabeta funcional, mas seu Português oral era impecável. Flexionava os verbos e usava os pronomes de forma escorreita. Tinha certa autoridade sobre nós, delegada por nossa mãe. Era carinhosa e cuidadosa com minhas irmãs.
Menino curioso, perguntei a ela se aquele periquito verde era macho ou fêmea. Darinha me explicou que ele era muito novinho para saber. Se ficasse com o narizinho de cor azul, seria macho; se ficasse com narinas de cor marrom rosado, seria fêmea.
De fato, depois de algum tempo, o nariz do periquito ficou amarronzado e Darinha veio me dizer que o periquito era na verdade uma periquitinha. Recebeu o nome de Manduquinha.
No sábado seguinte, acompanhei minha mãe em compras no Mercadão. Tinha o objetivo de comprar um companheiro periquito para morar com a Manduquinha, que estava muito solitária.
Para minha surpresa, logo na entrada do mercadão, tinha um caboclo forte, com um enorme cesto de vime, o que chamamos de paneiro, cheio de periquito verde.
E as pessoas pediam ora periquito macho, ora periquita fêmea. E o caboco vendendo na forma dos pedidos.
Menino esperto, verifiquei que os periquitos eram muito novinhos.  Não dava para ver se o narizinho era azul de macho ou marrom róseo de fêmea. Com toda a minha coragem, perguntei do vendedor como ele sabia se os periquitos eram macho ou fêmea.
Na maior cara de pau, o caboclo me responde:
– No “parpite”.
– Então, me vende um periquito macho.
Foi um palpite feliz. “Parpite” certo.  Dei o nome do bichinho de Parpite.



domingo, 25 de novembro de 2018

Manaus, amor e memória CCCXCVI


Prédio do DERAM, na Cachoeirinha.
Hoje, Faculdade de Medicina da UEA.

sábado, 24 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Portrait of an african woman.
Viktoria Lapteva.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Academia Amazonense de Letras lança 4 títulos inéditos


A AAL foi fundada em janeiro de 1918.
Estes lançamentos fazem parte das comemorações pelo centenário.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A poesia é necessária?


Poema obsceno

Ferreira Gullar


Façam a festa
cantem dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira
Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
– e espreitam.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Femme Himba-Hass.
Stephanie Ledoux.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Além da ecografia



Pedro Lucas Lindoso


Depois do outubro rosa temos o novembro azul. A campanha é pertinente. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Atrás somente do câncer de pele não melanoma. É um câncer da terceira-idade, pois atinge principalmente os maiores de 55 anos. 
Sabe-se que os fatores de risco são principalmente o genético, alimentação errada, álcool em excesso, fumo e obesidade.
A prevenção é aquela que temos que fazer para se ter saúde em geral: não fumar e beber moderadamente; dieta saudável e fazer exercícios físicos com regularidade.
O diagnóstico é feito por exame de sangue, o já conhecido PSA.  Deve ser menor que 2,5 mg/m2. Temos também a ecografia e o temido e constrangedor toque retal. No país da piada pronta, não falta anedota e gozação com relação a este último. Há inclusive piadas de papagaio. Ave símbolo da nossa cultura e de nossa indefectível brasilidade. Eis a última.
Uma garotinha perdeu um valioso anel no quintal da casa. Havia muitas galinhas e possivelmente alguma poderia ter ingerido o anelzinho. Iniciou-se uma ousada caçada ao anel da garotinha com sucessivos toques nas frangas. Uma confusão total no galinheiro.
De repente avistaram o papagaio. O bicho foi logo advertindo o pessoal:
– Comigo só na ecografia!
As empresas submetem os seus empregados a exames periódicos. Mesmo porque o Ministério do Trabalho regulamenta e estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.
Mas além do periódico devemos fazer um “check-up” anual. O check-up médico corresponde à realização de vários exames clínicos, de imagem e laboratoriais, com o objetivo de avaliar o estado geral de saúde e diagnosticar precocemente alguma doença que ainda não tenha manifestado sintomas.
Assim, o periódico que se faz na empresa não é “check-up’”. Sendo esse último bem mais abrangente. É preciso enfrentar. São necessários os exames de sangue e, claro, fazer o toque retal. Não sejamos como o papagaio. É importante ir além da ecografia!



segunda-feira, 19 de novembro de 2018

IGHA: palestra de Foot Hardman é cancelada





A presidente do IGHA, Professora Dra. Marilene Corrêa, informa o cancelamento, por motivo de força maior, da palestra do professor Foot Hardman, da Unicamp, marcada para a tarde do dia 20 de novembro.   

domingo, 18 de novembro de 2018

Manaus, amor e memória CCCXCV


Esquina da 7 de Setembro com Eduardo Ribeiro, em agosto de 1973.
Acervo: Frank Lima.

sábado, 17 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Carol Phillips.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A poesia é necessária?



Mulher proletária
Jorge de Lima


Mulher proletária  única fábrica
que o operário tem, (fábrica de filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Marion Weymouth.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

As lágrimas de Matilda



                                                                        Guilherme Carvalho


Passei todo o domingo numa grande ressaca, corpo cansado, sono e uma vontade danada de ficar esparramado no sofá da sala, assistindo aos filmes da Matilda. Não, não era uma ressaca etílica, mas uma tristeza que rondava nossos corações.
Depois de um belo almoço com as mulheres mais lindas da minha vida, tomei um bom banho e fui dormir. Dormi boa parte da tarde. Queria que aquele dia passasse logo, ou o que estava por ser anunciado fosse parte apenas de um grande e duro pesadelo. Diante do conforto dessa possibilidade, joguei-me nos braços de Morfeu e afundei na cama, abraçando um travesseiro, como se quisesse testemunha para aquele momento de fuga.
Ao acordar, todos haviam saído. Dei um jeito na pia que estava repleta de pratos e panelas sujas do almoço. Geralmente faço essa tarefa ouvindo música, mas preferi, naquele momento, o silêncio que era quebrado apenas pelo enxaguar dos talheres, pratos, panelas e copos. Tudo lavado, fui direto para o sofá, onde comecei a assistir a um programa sobre a arte da pintura do artista brasileiro Almeida Junior.
Com a chegada das meninas que trouxeram pães, tive que levantar para passar um belo café. Mesa posta, cheiro de café tomando a casa, voltei para o sofá para chamar Matilda, quando ouvi um fungar permeado com soluços vindo do quarto. Maria já estava com ela, acalmando-a, consolando-a. Eu a tomei nos braços, abracei-a bem forte e disse a ela que esse era o momento para ficarmos bem juntos, unidos e fortes para resistirmos a tudo que possa vir desse ex-capitão do Exército brasileiro que pautou toda sua campanha pela truculência e pelo franco desrespeito aos direitos humanos básicos de uma sociedade que se quer democrática. Lembrei a ela do “Resist!”, proferido por Roger Waters durante suas apresentações aqui no Brasil.
Foram uns dias terríveis esses que antecederam ao pleito. Desrespeito a mulheres, ameaças a índios, negros, nordestinos, gays, divulgações de matérias falsas pelos meios sociais contra seu oponente, violência sendo vista e fomentada nos quatro cantos do Brasil e tudo isso mexeu muito com todos os brasileiros, alcançando até uma adolescente, nossa filha Matilda, um poço de sensibilidade. Esse poço transbordou e percebeu tudo o que a sociedade pode perder – aquela parte mais vulnerável da sociedade, principalmente – com a eleição daquele candidato. Percebi naquele choro um misto de tudo o que ela ouvia em casa sobre liberdade, leveza, alegria, tolerância, arte, Deus, amor com aquilo que se sabia e se sentia que poderá vir a ser a rotina de um povo já amplamente desrespeitado pelo estado brasileiro: mais injustiça e dor com a destruição do estado de bem-estar social.
O Jornal Metrópoles anuncia as precauções que a administração da UnB está tomando para conter um provável ataque à Universidade, prometida por partidários do candidato eleito, quando das comemorações por sua eleição.
Essas lágrimas de Matilda serão semeadas aos ventos que as levarão ao encontro das tantas lágrimas de todos os que defendem um Brasil livre de preconceitos, livre de quaisquer amarras contra quaisquer gritos de injustiça, contra quem quer que seja, onde quer que seja. As lágrimas da Matilda vão para o povo que vive da terra lá no longínquo sertão nordestino; vão para as várias Marielles que são diariamente desrespeitadas e oprimidas; vão para os milhares de trabalhadores que colocam suas vidas em risco, quando tomam um transporte de péssima qualidade para defender um trabalho, muitas das vezes, sem direito algum, pois escravos que são; vão para seu professor de biologia, meu irmão e meu sobrinho, representando a comunidade gay; vão para todos os negros e pardos do Brasil que são maioria nos presídios nacionais; vão para os índios que tiveram sua cultura aviltada, suas terras invadidas por banqueiros e latifundiários, ávidos por lucros cada vez maiores. Enfim, essas lágrimas que brotaram do fundo deste coração adolescente, carregam um desejo visceral por um mundo repleto de sonhos e flores, cachoeiras e praias, aventuras e alegrias, borboletas e arco-íris, animais e crianças, brigadeiros e feijão tropeiro... Nesse mundo sonhado pela Matilda, as crianças brincam mais, os adolescentes aventuram-se muito mais e os adultos tem mais tempo para deleitar-se lendo mais livros, ouvindo mais músicas, abraçando-se mais e ficando mais tempo descalços ao lado dos filhos e amigos para ouvir e contar mais histórias.
O mundo semeado com as lágrimas de Matilda ouvirá mais a dor do outro para, assim, ter mais tempo para estender a mão ao próximo, praticando a solidariedade, a caridade. Neste mundo de Matilda não há espaço para opressores e oprimidos. Há uma brisa soprando no rosto, embaraçando cabelos e um sorriso leve, profundo, vigoroso, celebrando a nova aurora que não tardará a surgir.
 Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível.



segunda-feira, 12 de novembro de 2018

domingo, 11 de novembro de 2018

Manaus, amor e memória CCCXCIV


Instituto Benjamin Constant, por Huebner, c. 1890.

sábado, 10 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Rhona, the Witcher.
Inar-of-Shilmista.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A poesia é necessária?


A flor e a náusea

Carlos Drummond de Andrade


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.



quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Fred Hatt.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Matilde diagnosticada



Pedro Lucas Lindoso


Vou chamá-la pelo nome fictício de Matilde. Moça que desde a tenra infância foi dada a fofocas. Coscuvilhice, como se diz em Portugal. Aqui no Amazonas gostamos de usar a palavra potoca ou fuxico.
No Jardim da Infância, denunciava os coleguinhas que ainda não haviam desfraldado e usavam chupeta. A pequena Matilde, ávida por fofoca, desde o pré-primário procurava saber quais os amiguinhos que ainda tomavam mamadeira ou usavam fraldas para dormir.
Nas séries iniciais do Primário, não se sabe como, Matilde descobria os meninos que ainda faziam xixi na cama. Usava sempre terceiros inocentes para espalhar os fuxicos.
No Ensino Médio, a moça foi responsável por provocar a “saída do armário” de três colegas de turma. Um deles, filho de um pai severo e homofóbico, foi obrigado a fugir de casa.
Matilde é secretária em uma multinacional no Polo Industrial de Manaus. Como profissional continua com sua patológica mania de fazer fofoca. Leva e traz fuxicos da diretoria ao chão da fábrica numa habilidade extraordinária.
Já foi expulsa de vários grupos de WhatsApp. Porém, tem se especializado em coscuvilhice virtual e se tornou uma expert em “fake news”.
Matilde com todo esse histórico de fuxiqueira se tornou um perigo para a sociedade. Nas últimas eleições, resolveu divertir-se elaborando as mais imaginativas “fake news” de candidatos à presidência. Elaborou “fakes” durante todo o período de campanha eleitoral. Especialmente no segundo turno, a moça usava suas horas de lazer para postar mentiras deslavadas entre diversos grupos virtuais. O estranho e doentio é que fazia “fakes” tanto para o candidato Bolsonaro como para Haddad. Vai entender!
Quem me contou essa história foi o meu amigo Dr. Chaguinhas. Matilde teria sido levada à Polícia Federal para averiguações e precisou de advogado.
Chaguinhas, desde que começou a ler Sigmund Freud, apaixonou-se pela psicanálise. Formou-se como psicanalista recentemente. Segundo ele, Freud explica tudo. E no caso de Matilde, será que Freud explica?
Para Chaguinhas, a moça tem “complexo de fuxico intermitente”. Finalmente, Matilde foi diagnosticada.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Autoritarismo e Literatura de Resistência, na UFAM


Na UFAM, auditório da FT.
Sem inscrição: chega&entra.

domingo, 4 de novembro de 2018

sábado, 3 de novembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Wood Nymph.
Frans Mensink.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


267 – Uma palavra de carinho aos nossos valorosos Fernando Haddad e Manuela D’Ávila – foi uma honra lutar ao vosso lado, sob o vosso comando.

268 – Acho que só agora compreendo plenamente o velho chavão, tão aviltado: a luta continua. Continua.

269 – Presidente Lula, você não queria, mas lhe deram de bandeja o papel de mártir. A História lhe fará justiça.

270 – Caiu a máscara da canalha: o bandido Fraga e o bandido Lorenzoni são os braços (ambos direitos, claro) do Capitão Farofa, o farofeiro – o corrupto anticorrupto que se cerca de corruptos por todos os lados.

271 – Mas o maior de todos os bandidos da quadrilha, digo, do governo do Capitão Farofa chama-se Sergio Moro, o devagar.

272 – Como um enxadrista russo (só para lhe dar urticária), o Moroso montou a estratégia para deixar o judiciário, onde já havia perdido terreno de modo irrecuperável, para se tornar o que ele sempre negou: um político de merda.

273 – Mas Moro não vai parar no superministério da opressão suprema. Ele quer mais. Ele sabe que o Capitão Farofa é um idiota, uma marionete que será, mais cedo do que pensamos, enredado pelos quadrilheiros liderados pelo Paulo Guedes, que tem dezenas de processos em andamento e é pau mandado do capitalismo internacional.

274 – No próximo São João, podem apostar, começará o inferno astral do CapFá – e aí, eleições suplementares, quem surgirá como o super-herói, salvador da pátria? Ele Moro Moroso, o estrategista das leis. O devagar quase parando, o que trocou a biografia gloriosa, embora montada sobre bases fraudulentas, pelo poder efêmero.

275 – O supremo Gilmar Mendes é fichinha perto de Moro, amigo íntimo de Aécio, sempre acobertado pelo juizeco paranaense.

275 – Para o bem ou para o mal, Moro Moroso poderia ser um capítulo dos livros de História. Optou por ser nota de pé de página.

276 – Quem sobreviver verá.

A poesia é necessária?


No caminho, com Maiakovski
                                                   Eduardo Alves da Costa
                                                    

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!