sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
A poesia é necessária?
Alvíssaras
Antônio Lázaro de Almeida Prado
Que traz em seu alforje a
madrugada?
E o áugure o que lê nas entrelinhas
Das arcanas entranhas do futuro?
Em seu ninho de fogo, generoso,
Que prepara em seu sangue o pelicano?
E Orfeu o que perscruta em sua lira?
Acaso já delira a pitonisa
Em sua embriaguez antevisora?
Qual a safra de sonhos do profeta?
Desvelo em seu tremor estas primícias
Do canto inaugural da Nova Idade,
E posso proferir meus vaticínios:
Haverá tanto amor na virgem Terra
Que seu mênstruo benéfico assegura
A vitória da Ovelha sobre o Lobo.
Tudo mais será escória do Passado,
Voz antiga, insensível, dispensável,
Que o fogo em seu ardor reduz a cinzas...
Embora infante boca do futuro
Já posso pronunciar meu Evangelho:
SOMENTE O AMOR INFLAMARÁ O PLANETA!
E o áugure o que lê nas entrelinhas
Das arcanas entranhas do futuro?
Em seu ninho de fogo, generoso,
Que prepara em seu sangue o pelicano?
E Orfeu o que perscruta em sua lira?
Acaso já delira a pitonisa
Em sua embriaguez antevisora?
Qual a safra de sonhos do profeta?
Desvelo em seu tremor estas primícias
Do canto inaugural da Nova Idade,
E posso proferir meus vaticínios:
Haverá tanto amor na virgem Terra
Que seu mênstruo benéfico assegura
A vitória da Ovelha sobre o Lobo.
Tudo mais será escória do Passado,
Voz antiga, insensível, dispensável,
Que o fogo em seu ardor reduz a cinzas...
Embora infante boca do futuro
Já posso pronunciar meu Evangelho:
SOMENTE O AMOR INFLAMARÁ O PLANETA!
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A poesia é necessária?,
Antonio Lazaro de Almeida Prado
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
Abundância
Pedro Lucas Lindoso
Estava no fórum e como de costume conversava com meu amigo
Dr. Chaguinhas. O assunto versava sobre um famoso brocardo jurídico – quod abundat non nocit. No jargão
forense, significa o que abunda não prejudica. Ou, o que é demais não é nocivo.
A origem do verbo abundant
é obviamente o Latim. Diferente de outra palavra que se refere aos glúteos,
cuja origem está em línguas africanas. Línguas que contribuíram muito para o
enriquecimento do Português do Brasil e de nossa cultura em geral.
Chaguinhas lembrou-se de um versículo do Evangelho de João em
que Jesus nos fala “Quero que tenhais vida e vida em abundância”.
E ficamos meditando sobre a beleza desse ensinamento de
Jesus.
O dicionário nos ensina que abundância é excesso do que é
necessário; bens em exagero, grande porção de alimentos, de indivíduos.
Mas será que o ensinamento bíblico seria esse mesmo?
Eu penso que não. Acredito que para o Messias abundância não
seria excesso. Também acredito que não significa desperdício nem muito menos
perda.
Chaguinhas concordou. E como bom filósofo humanista, disse
algo bem tocante:
– Acho que o ensinamento que podemos ter do versículo é que
abundância é não faltar nada. Que as coisas importantes da vida estejam sempre
disponíveis. Que não haja qualquer tipo de restrição.
Um rapaz nos ouvia com atenção. Aguardava para ser testemunha
em uma audiência. Identificou-se como estudante de Física, com intenções de
especializar-se em Astronomia.
O jovem nos contou que havia aprendido que abundância é a
quantidade de átomos ou moléculas que fazem parte de uma camada de gases que
envolvem o sol. Não só o sol, emendou ele. Mas todas as estrelas. Essa camada
de gases e íons circundam o núcleo, a parte de dentro das estrelas.
Chaguinhas e eu ficamos encantados com a explicação do jovem
futuro astrônomo.
Eu disse ao rapaz que continue a estudar as estrelas, os
planetas, o cosmo. E como seria bom se aqui em nosso planetinha Terra, todos os
habitantes tivessem abundância de comida, trabalho e principalmente de amor.
domingo, 26 de janeiro de 2020
sábado, 25 de janeiro de 2020
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
A poesia é necessária?
Antes o mundo não existia
Zemaria Pinto
Quando o mundo inda era nada
Yebá-Buró, não criada
do nada fez os trovões
e os rios e a luz foram feitos
mas o universo perfeito
a humanidade pedia
foi então que ela criou
Yebá-Gõãmu, o criador
Umukosurã-Panami, Umukosurã
Das entranhas da serpente
em canoa transformada
fez-se então a humana gente
e a terra foi povoada
Tukano, Tapuia, Desana
Baniwa, Maku, Siriana
entre si distribuíram
as riquezas do Trovão.
Umukosurã-Panami, Umukosurã
Quando o branco apareceu
tendo ao lado o missionário
cumpriu-se o ciclo esperado
inventou-se o tal pecado
e nunca mais houve paz
nos caminhos da canoa.
Com o lento passar do tempo
toda forma se transforma:
o um no todo se enforma
e o todo se enforma em um
– o um
do nada criado
ao todo um dia retorna
fundindo a fôrma com a forma
e o todo se torna um.
Umukosurã-Panami, Umukosurã
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
Torcedora bissexta
Pedro Lucas Lindoso
Perguntei a Tia Idalina se ela vai continuar torcendo pelo
Flamengo nesse ano.
– Depende, ela me disse.
Se o Flamengo continuar ganhando, Idalina vai continuar
torcendo. Se começar a perder, ela vira a casaca para o time que estiver com
chances de ser campeão.
Sempre foi assim, com relação ao futebol. Ela se justifica
dizendo que não entende nada do assunto. Mas gosta de participar das polêmicas.
Idalina tem vários sobrinhos e parentes com torcidas diversas. Prefere ficar
com quem está vencendo. Evita sofrimentos desnecessários.
Só é fiel para a seleção brasileira. Torce de verdade somente
em ano de Copa do Mundo. Idalina diz que é torcedora bissexta. Só torce de
verdade de quatro em quatro anos.
Expliquei a titia que os anos de Copa do Mundo não são
bissextos. Esse ano de 2020 é bissexto e teremos as Olimpíadas. Caio Silva é
professor de Educação Física em Brasília. Fanático por Atletismo e esportes
olímpicos em geral. Foi ele quem me alertou. Ano bissexto é ano de Olimpíadas.
Já Teresa Cristina, amiga professora de Matemática, me
ensinou que ano bissexto é todo ano cuja expressão numérica é divisível por
quatro.
Ano bissexto acontece de quatro em quatro anos. Fevereiro tem
29 dias. Acontece porque ano é o tempo que a Terra faz o movimento de
translação em volta do Sol. Na verdade, não leva somente 365 dias. O tempo
exato é de 365 dias e seis horas (ou um quarto de dia).
O Google me ensina que Sosígenes de Alexandria foi quem
estabeleceu que o ano comum teria 365 dias três vezes consecutivas. E, na
quarta vez, 366 dias, acrescentando-se um dia no mês de fevereiro. Assim, fevereiro tem 29 dias de quatro em
quatro anos.
Disse a tia Idalina que ela pode ser torcedora
verdadeiramente bissexta torcendo para a seleção sub-23, a seleção de juniores
que disputa as Olimpíadas.
Idalina ficou contente que só. Vai torcer para a seleção
brasileira, com certeza.
domingo, 19 de janeiro de 2020
sábado, 18 de janeiro de 2020
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
A poesia é necessária?
A Teoria de se Fazer
Amor
Inácio Oliveira
O amor, para fazê-lo
É preciso muito, muito
tempo;
Pouca, quase nenhuma
pressa
E uma certa habilidade
mística.
É preciso ter mãos leves
e lésbias
Pousadas feito pássaro
Sobre o verão da carne
E ousar um determinado
voo.
É necessário um
divertimento
Dos ossos e dos músculos,
Algo como uma partida de
futebol
Ao entardecer da vida.
É preciso uma certa
displicência,
Um completo
desprendimento
De todas as coisas;
Que nada no mundo
interfira no amor.
É preciso um completo
silêncio,
Um silêncio vegetal
anterior às palavras,
Um silêncio de dois
antigos olhares que se entrecruzam
Ouvindo o sangue nas
veias correr.
É preciso redescobrir
aquela antiga
Prática perdida pelos
homens
De fazer uma rosa se abrir
Dentro dos olhos de uma
mulher.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Excludente de ilicitude
Pedro Lucas Lindoso
Quando eu era menino e fazia danação, minha mãe puxava minhas
orelhas e dizia:
– Francamente! Não sou tua pareceira! Já para o castigo.
O pior mesmo era levar umas palmadas. Sou de uma geração em
que se apanhava soletrando:
– Já-te-fa-lei-pa-ra-não-fa-zer-mais-is-so. Doze sílabas.
Doze palmadas.
Ora, lembrei-me dessas coisas observando o comportamento de
dois meninos danados. Era domingo. Estávamos almoçando em conceituado
restaurante da cidade. Os garotos não paravam de pinotear.
Um colega paulistano me informou que em São Paulo há um
restaurante que proíbe a entrada de crianças com menos de 14 anos. Questionado,
o gerente explicou que “o espaço não está adaptado para recebê-las”.
Pessoalmente, entendo que a proibição é aceitável. Desde que
os consumidores sejam previamente informados. Não se pode e não se deve causar
constrangimentos. Nem aos pequenos, nem às famílias.
Por outro lado, há quem seja contra essas restrições. De
fato, a Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei. Há um
artigo específico que trata as crianças e adolescentes com absoluta prioridade.
Um casal de Brasília me relatou que quando seu primeiro filho
era bebezinho arriscaram uma ida a uma pizzaria. O neném chorava com cólica.
Fazia muito calor. Os donos da pizzaria sugeriram que a família fosse comer a
pizza em casa. O casal ficou traumatizado.
Nesse caso específico, acho que o casal tem razão. Nós,
adultos, temos que entender que o mundo não é só nosso. Choro de criança
incomoda. Mas também há adultos que são um incômodo total.
Temos que ter paciência com os bebês. Aprender a conviver com
as crianças e entender suas necessidades.
Agora, menino danado precisa ter limites. E os dois do
restaurante não tinham nenhum. E os pais devem saber que umas boas palmadas,
inclusive soletrando, está no rol de excludentes de ilicitude.
domingo, 12 de janeiro de 2020
sábado, 11 de janeiro de 2020
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
A poesia é necessária?
Galáxias (fragmento)
Haroldo de Campos (1929-2003)
circuladô de fulô ao deus ao
demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen e feito
apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no
pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque
não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não
tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da
mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um
ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso
retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol enquanto
vendem por magros cruzeiros aquelas cuias onde a boa forma é magreza fina da matéria
mofina forma de fome o barro malcozido no choco do desgosto até que os outros
vomitem os seus pratos plásticos de bordados rebordos estilo império para a
megera miséria pois isto é popular para os patronos do povo mas o povo cria mas
o povo engenha mas o povo cavila o povo é o inventalínguas na malícia da
mestria no matreiro da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
azeitava o eixo do sol pois não tinha serventia metáfora pura ou quase o povo é
o melhor artífice no seu martelo galopado no crivo do impossível no vivo do
inviável no crisol do incrível do seu galope martelado e azeite e eixo do sol
mas aquele fio aquele fio aquele gumefio azucrinado dentedoendo como um fio
demente plangendo seu viúvo desacorde num ruivo brasa de uivo esfaima circuladô
de fulô circuladô de fulô circulado de fulôôô porque eu não posso guiá veja
este livro material de consumo este aodeus aodemodarálivro que eu arrumo e desarrumo
que eu uno e desuno vagagem de vagamundo na virada do mundo que deus que demo
te guie então porque eu não posso não ouso não pouso não troço não toco não
troco senão nos meus miúdos nos meus réis nos meus anéis nos meus dez nos meus
menos nos meus nadas nas minhas penas nas antenas nas galenas nessas ninhas
mais pequenas chamadas de ninharias como veremos verbenas açúcares açucenas ou
circunstâncias somenas tudo isso eu sei não conta tudo isso desaponta não sei
mas ouça como canta louva como conta prova como dança e não peça que eu te guie
não peça despeça que eu te guie desguie que eu te peça promessa que eu te fie
me deixe me esqueça me larga me desamarga que no fim eu acerto que no fim eu
reverto que no fim eu conserto e para o fim me reservo e se verá que estou
certo e se verá que tem jeito e se verá que está feito que pelo torto fiz
direito que quem faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que
me ensinou já não dá ensinamento bagagem de miramundo na miragem do segundo que
pelo avesso fui dextro sendo avesso pelo sestro não guio porque não guio porque
não posso guiá e não me peça memento mas more no meu momento desmande meu
mandamento e não fie desafie e não confie desfie que pelo sim pelo não para mim
prefiro o não no senão do sim ponha o não no im de mim ponha o não o não será
tua demão
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Memória nem só olfativa e gustativa
Pedro Lucas Lindoso
Nas festas de Natal e Ano Novo sempre nos dá vontade de comer
algo específico. Considerando os cinco sentidos: audição, visão, tato, olfato e
paladar. Não só estes dois últimos se referem às comidas. Mesmo antes de provar
um alimento, nossos outros sentidos, como a visão e a audição, são acionados.
Quando ouvimos a fritura de um alimento ou quando avistamos a placa de um
restaurante famoso.
Obviamente há muitos outros fatores que condicionam essa
experiência. De fato, o ato de comer é uma experiência sensorial. Em especial
nas festas de final de ano.
A memória gustativa em particular é um sentimento saudosista
de tudo que nos traz boas lembranças que provocam a consciência de um sabor que
remete ao passado.
Na casa de meus sogros, o queijo bola, o famoso queijo do
reino, era disputadíssimo no Natal. Além das famosas rabanadas.
Muitos brasileiros, principalmente os descendentes de
portugueses, não abrem mão dos bolinhos de bacalhau. Há ainda as deliciosas
castanhas portuguesas. As nozes, os queijos e também as nossas frutas
regionais.
Em nossa família era costume matar um leitão e mandar assar
na padaria da família Grosso, na Sete de Setembro. Costumes de uma Manaus que
não existe mais.
Meus filhos pedem sempre o tender. E, principalmente, um
certo bolo de chocolate. Um delicioso bolo impregnado de uma gostosa e suave
calda, cuja receita pernambucana é uma das especialidades de minha mulher.
Bacalhoada, pernil, frutas cristalizadas, saladas especiais,
fricassés e arroz de lentilhas. Arroz à grega e à piemontesa. Os regionais
patos no tucupi, pirarucu de casaca, vatapá e caruru.
O peru é o prato mais tradicional, tendo sido usado desde o
século 16 na Europa. Recentemente, no Brasil, o pernil de porco e o frango
passaram a estar muito próximos do peru na ceia de Natal.
Ah! E a nossa farofa. Jamais poderíamos esquecê-la. Tem a
farofa básica, a farofa doce e a farofa de ovo.
Nada supera a rabanada. Ou fatias paridas. Receita
tradicional nas ceias de Natal. Muito popular em Portugal e no Brasil.
Não me conformo de só comer rabanadas nesta época. As
rabanadas são servidas no Natal e remetem a lembranças não só gustativas e
olfativas, mas principalmente aquelas do fundo do coração.
domingo, 5 de janeiro de 2020
sábado, 4 de janeiro de 2020
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
A poesia é necessária?
Primeiros anos
Ferreira Gullar (1930-2016)
Para uma vida de merda
nasci em 1930
na Rua dos Prazeres
Nas tábuas velhas do
assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas formigas
carregando espadas
caranguejeiras
que nada me ensinaram
exceto o terror
Em frente ao muro negro
no quintal
as galinhas ciscavam, o
girassol
gritava asfixiado
longe longe do mar
(longe do amor)
E no entanto o mar jazia
perto
detrás de mirantes e
palmeiras
embrulhado em seu barulho
azul
E as tardes sonoras
rolavam claras sobre
nossos telhados
sobre nossas vidas.
E do meu quarto
eu ouvia o século XX
farfalhando nas árvores
lá fora.
Depois me suspenderam
pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os culhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma
na mão.
B. Aires, 1975
quarta-feira, 1 de janeiro de 2020
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