Pedro Lucas
Lindoso
QUARTO ATO
O Cacique está sentado à mesinha, pensativo. O
Fotógrafo entra portando um notebook. Senta-se perto do cacique e abre o
notebook.
FOTÓGRAFO: E aí, chefe. Vamos começar. Temos
muitas fotos.
CACIQUE: Eu imagino. Você cansou o pessoal.
Fez cócegas nas almas do meu povo a dar com pau. (risos)
FOTÓGRAFO: Desculpe eu ter dito a ele que esse
negócio de cócegas na alma era mentira. Traí sua confiança. Mas é que eu perdi
a cabeça com ele.
CACIQUE: Tudo bem. É capaz dele falsificar a
pet. Eu soube que ele levou um bocado de flecha. E nem um arco para disfarçar.
Isso era vai pegar uma pet, cravar de flecha e contar um longa e mentirosa
estória.
FOTÓGRAFO: E ainda vai escrever um artigo
científico e ficar famoso.
CACIQUE: Ele não é tão mau assim. Ele elogiou
o nosso projeto de manejo de pirarucu. Eu ia até contar uma lenda para ele. O
professor adora lendas. Fica babando feito criança. Mas com a confusão que ele
criou acabou indo embora sem ouvir a lenda do pirarucu.
FOTÓGRAFO: Me conte aí, chefe.
CACIQUE: Os antigos diziam que o pirarucu era
gente. Por isso muitas tribos não pescam o bichão. Essa lenda na verdade não é
do meu povo. Somos muitas etnias, com costumes e fala diferentes. Hoje estamos
mais unidos contra as atrocidades de vocês, ditos civilizados. Para esse povo,
que vive mais a oeste daqui, como eu disse, o pirarucu era gente. E tinha uma
irmã, a juriti. Você sabe que a juriti é um passarinho né? Eles chamam de
Mizumi. Pois bem, houve uma grande epidemia. Bem pior que essa última da Covid,
do corona vírus. Então todos os parentes do pirarucu, que esse povo chama de
Ve’e morreram. Em consequência da epidemia. Então o pirarucu, que esse povo
chama de Ve’e soprou um rapé. Deu para os mortos. Depois tirou a palmeira da
pupunha e deu para eles. E todo mundo
ressuscitou. Só que eles voltaram em forma de macaco.
FOTÓGRAFO: Que tipo de macaco?
CACIQUE: Eu não me lembro bem, porque essa
estória não é bem do meu povo. Mas parece que era macaco caiara.
FOTÓGRAFO: E o que aconteceu depois?
CACIQUE: No dia seguinte, pirarucu e juruti
então embarcaram numa canoa junto com Idikum, que é o mesmo mutum. Remaram
muito, rio abaixo. Idikum saia o tempo todo da canoa. Voava e voltava. Aquilo
começou a irritar Ve’e, o pirarucu.
FOTÓGRAFO: Às vezes as pessoas se irritam
mesmo. Perdem a paciência. Mas continue, cacique. Essa lenda está muito
interessante.
CACIQUE: Então o Mutum voava e voltava.
Irritando Ve’e, o pirarucu. Como o professor às vezes, fica me irritando por
aqui. Até que ele perdeu a paciência e o matou.
FOTÓGRAFO: Nossa, quanta violência, chefe!
CACIQUE: Pois é. Sua irmã, Mizumi, não gostou da
atitude dele. E se transformou no pássaro juriti. E saiu voando. Ve’e, o
pirarucu, saiu chamando a sua irmã. Chamou, chamou, várias vezes. Mas ela não
voltava. Ela se pintou com breu. Virou uma juriti. Esse passarinho que parece
uma pombinha. E Ve’e se pintou com urucum. E virou peixe. Se transformou em
pirarucu.
FOTÓGRAFO: Muito interessante a lenda do
pirarucu e da juriti.
CACIQUE:
E hoje, quando a juriti canta na mata o pirarucu sobe até a superfície
do rio, para ver a sua irmã.
FOTÓGRAFO:
E o seu projeto de manejo de pirarucu?
CACIQUE: Estamos sem fazer pesca do
bichão. Nessa etapa é essencial fazer a
vigilância dos lagos. Quando eles sobem à superfície, as juritis cantam.
Acontece mesmo. Assim, temos que protegê-los. É preciso fazer a contagem deles.
Acho que devemos esperar mais. Talvez cinco anos seja pouco. Um rapaz do Ibama
que esteve por aqui disse que o ideal são oito anos, para fazer o monitoramento
populacional dos pirarucus. A paciência é uma virtude. Enquanto isso, vamos
ouvindo o canto das juritis.
FOTÓGRAFO: Uma das coisas bacanas de sua
cultura, chefe, são essas relações estabelecidas entre os seres. Tanto os
humanos quanto os não humanos. E eu não canso de fotografar esses rituais
fantásticos, as suas festas. As atividades de caça, pesca, coleta e
agricultura.
CACIQUE: O fato é que nós devemos continuar
recriando e alimentando nossas práticas. O professor fica fascinado quando
considera essas relações com o sagrado. E ele tem razão. A riqueza delas está
no sagrado. Por isso vocês as consideram tão ricas. Os que tem consideração com
a gente, obviamente.
FOTÓGRAFO: Mas vamos às fotos. Veja essa aqui
(mostra ao cacique fotos no tablet). Apesar da árvore estar morta, caída,
repartida, quebrada, provavelmente por um raio, a morte é natural. Mesmo morta,
continua harmônica com suas raízes expostas, em contato com a água do rio.
Muito linda.
CACIQUE: Pois é; mesmo morta, essa árvore é
bonita. Porque não foi violentada.
FOTÓGRAFO: Veja essa aqui.
CACIQUE: É uma garota linda. Mas ela está com
medo de você. Medo do desconhecido. Veja o olhar dela. Um olhar de incerteza,
de dúvida, de apreensão. Essa foto é importante para você?
FOTÓGRAFO: Eu gostei muito. O senhor vai
cortar?
CACIQUE: Não. Vamos adiante. Mostra mais uma.
O que você quis dizer ao fotografar esse cacho de banana? Muito estranho.
FOTÓGRAFO: Eu achei interessante a maneira
como o seu povo amadurece as bananas. Os brancos conservam as bananas nas
palmas. Retiram uma por uma, quando vão consumir. O modo de vocês amadurecerem as bananas. Vão
enfiando num cordão de palha, uma por uma. Formando um grande cacho de banana,
que não é a penca original. Muito interessante. Uma pergunta. Essa técnica
amadurece a banana mais rápido? Conserva mais o sabor?
CACIQUE: Não sei. Não sei como se faz na sua
casa. Aqui é assim. A banana é uma fruta muito boa e gostosa. Mostra outra.
FOTÓGRAFO: Veja essa foto noturna. Temos um
luar maravilhoso.
CACIQUE: Nosso povo gosta de se reunir com lua
cheia. Principalmente nós, os homens. Essa conversa de noite, sob a lua cheia,
costuma ser bastante proveitosa. Trocamos ideias, nos entendemos. E também a
gente se diverte.
FOTÓGRAFO: Essa aqui é de um igapó, mais
acima. O que o senhor acha?
CACIQUE: Os igapós são locais muito familiares
para o nosso povo. Entramos neles com frequência e com a maior tranquilidade e
segurança. Enquanto vocês, brancos, parece que têm medo. Eu acho graça. O
professor fica apreensivo, se alguém não vai com ele floresta a dentro. Acho
que tem medo de se perder. É um cagão.
FOTÓGRAFO: Essa foto é sua. Gostou?
CACIQUE: Corta. Estou muito feio e gordo.
FOTÓGRAFO: Ok. (fotógrafo pisca para a
plateia, dando a entender que vai publicar a foto do cacique)
CACIQUE: Essa foto está descaracterizada. Não
gosto. Já disse para as mulheres que o uso de sombrinha é pavulagem. Acho
estranho quando nossas mulheres usam sombrinha. Corta essa.
FOTÓGRAFO: Essa aqui é um início de dia. O sol
vai nascendo. Eu gostei muito dela. Demonstra-me paz, tranquilidade.
Serenidade. A beleza da mata ao alvorecer.
CACIQUE: Muito bonita. Parabéns.
FOTÓGRAFO: Essa aqui já é no pôr do sol.
Aliás, o sol já se pôs. A beleza natural é a mesma daquela do alvorecer. Só que
a tonalidade é diferente. Parece que a natureza reage diferente. Os sons da
mata também mudam.
CACIQUE: Outra bela foto. Gostei muito.
FOTÓGRAFO: Olha essa menina. Peço sua
autorização. Quero mostrar as pinturas. As brancas usam produtos
industrializados para se maquilar. Olha só que bonita que ficou essa cunhatã.
Toda enfeitada com produtos da floresta. O senhor pode me explicar quando é
permitido as moças se maquilar?
CACIQUE: Aqui na nossa tribo, as meninas são
autorizadas a se pintar a partir dos 11 anos. E começam a participar de alguns
dos rituais de dança próprios para as meninas e mulheres.
FOTÓGRAFO: Veja essa senhora. As mulheres mais
velhas parece que se ocupam muito das cestarias.
CACIQUE: É verdade. Mas o artesanato e a
confecção de cestas, balaios e esteiras é feita por todas elas. E começam desde
bem novinhas. O ensinamento é atribuição das mulheres mais velhas.
FOTÓGRAFO: Veja essa foto. Também de igapó. Eu
acho lindo essa integração de seu povo com a natureza. Vocês se integram a ela.
Sem querer ser dono das dádivas de Deus. Muito lindo.
CACIQUE: Essa ideia de se apropriar das coisas
que Deus nos dá é de vocês brancos. Vejam os madeireiros, os grileiros. Eles veem
as coisas como se pudessem ser apropriadas, como se tornassem propriedade
privada deles. Isso é um absurdo.
FOTÓGRAFO:
Ah! Se o homem dito civilizado pudesse aprender com vocês a desfrutar
dessa harmonia.
CACIQUE: Tudo na natureza deve ser harmonioso.
O conceito de animal. Vegetal e mineral, são de vocês. Para nós, os elementos
da natureza são os bichos, as pedras, o ar, a água, a terra, a floresta, o
fogo, o vento.
FOTÓGRAFO: Sim, veja essa foto. Parece que o
vento está falando com a mata. (mostrando mais uma foto)
CACIQUE: Essa aqui expressa a harmonia que
falamos. A harmonia entre a água e a floresta.
FOTÓGRAFO:
E essas pedras também. Gostou dessa, cacique?
CACIQUE: Maravilha.
FOTÓGRAFO: Essa foto do guerreiro caçando eu
acho emblemática. Conversei com ele. Ele disse que caçava apenas para
sobreviver. Ah! A caça é escolhida. Não se matam fêmeas que estejam prenhas.
Achei muito bonito.
CACIQUE: Diferente de alguns de vocês que caçam
exclusivamente por prazer, isso aqui, praticamente não existe. Já vi homem
branco caçar, matar a presa e abandonar. Isso não se faz aqui. Matar por
prazer.
FOTÓGRAFO: veja essas fotos. Fabricação de
farinha. Há fotos desde a extração da mandioca até a torrefação da farinha.
Essa tecnologia vocês nos legaram. O amazônida e o brasileiro em geral adora
uma farinha.
CACIQUE: Não sei se você sabe. Eu dei essa
informação ao professor. Aqui nós temos três variedades de macaxeira: a
Peruana, Pão e Mutum. Temos ainda dez variedades de mandioca: Socó, Jaboti,
Camarão, Samaúma, Mineve, Joaquim Grande, Cobiçada, Janauacá, Flecha amarela,
Marrecão. Somos muito bons no processamento da macaxeira.
FOTÓGRAFO: Isso eu não tenho a menor dúvida.
CACIQUE: Essa foto aqui está muito boa. Gostei
muito. Mostra minha filha cuidando dos meus netos.
FOTÓGRAFO: Está evidente o cuidado e muita
afeição que sua filha tem pelas crianças.
CACIQUE: Gostei dessa foto. Veja que os
meninos mais jovens acompanham os mais velhos. Tudo é transmitido de geração
para geração, desde muito cedo. A gente se preocupa com o respeito e pela
preservação da natureza.
FOTÓGRAFO: essas fotos mostram com clareza a
importância das palmeiras. Nesse contexto de manejo da floresta, as palmeiras
ocuparam um lugar privilegiado. Aqui eu destaco o babaçu, a pupunha, o açaí, o buriti
e o tucumã.
CACIQUE:
Temos ainda muitas outras. Acho que você não fotografou porque não as
conhece. E também porque não temos por aqui por perto, o urucuri, o patauá e a
bacaba.
FOTÓGRAFO: Veja só que maravilha. O guerreiro
subindo nessa palmeira. Foto maravilhosa. E nessa o guerreiro demonstra
gratidão pelos bons frutos colhidos. Que coisa boa.
CACIQUE: Com certeza. É a retribuição que
recebemos da natureza. É a resposta que ela nos dá pelo cuidado, pelo respeito
e pela preservação. Aprendam isso. Leve essa mensagem para os brancos.
FOTÓGRAFO: É isso aí. Ao destruir a natureza,
não teremos frutos para colher. Simples assim.
CACIQUE: Respeitamos as árvores como se fossem
sagradas. Nós aprendemos a contemplá-las.
FOTÓGRAFO: Interessante. Nessa foto o jovem
guerreiro está tirando a casca da árvore.
CACIQUE: Sim. Usamos as cascas para usos
diversos. As palmeiras, além do alimento, nos dão abrigo. As paredes podem ser
feitas de cascas ou palhas trançadas.
Delas ainda usamos, para fins alimentares, tanto o fruto quanto o palmito.
FOTÓGRAFO: Acho muito importante essa prática
do manejo. Como o senhor está fazendo com o pirarucu.
CACIQUE: Nossos povos foram disseminados por
toda a Amazônia. e tivemos que
sobreviver. Fomos compelidos a manter nossos espaços. E então estamos fazendo
pelo manejo e exploração de vários ambientes da floresta.
FOTÓGRAFO: Perfeito. Temos aqui fotos da
várzea, do igapó e da terra firme.
CACIQUE: Não gosto muito do modelo de cortar a
floresta, queimar e fazer o roçado. Sempre incentivei a coleta. Nossa
biodiversidade é grande. Nós temos uma diversidade grande de peixes.
FOTÓGRAFO: E os bichos de casco. O que o
professor chama de quelônio. Aquele chato.
CACIQUE: Buscamos não apenas os frutos que dão
de época em época. Buscamos também todo tipo de vegetal de que se possa fazer
produtos que acompanham os de origem animal. Os animais que caçamos, pescamos e
também os bichos de casco.
FOTÓGRAFO: Eu vi e fotografei. Uma grande
abundância de coisas e produtos que vocês tiram dos rios, das várzeas e das
florestas. Fico encantado com tudo isso.
CACIQUE: Os povos vizinhos que moram no outro
lado do rio cultivam tanto em ambientes de terra firme quanto nas várzeas e
praias. Na terra firme, plantam ariá, inhame, cará, abacaxi, certos tipos de
banana, tabaco e coca, e nas praias cultivam o feijão, a melancia e algumas
variedades de jerimum. Trocamos muitas coisas com eles. São bons comerciantes.
FOTÓGRAFO: Mas o cacique deles é meio arisco.
Tentei contato com eles.
CACIQUE: Mas são nossos amigos. Eles têm uma
técnica interessante para extrair veneno das plantas. E fazem bem alguns
instrumentos importantes para a nossa técnica.
FOTÓGRAFO: A que tipo de instrumento o senhor
está se referindo?
CACIQUE: Eles fazem raladores, espremedores
que nós chamamos de tipiti, e vocês incorporaram na sua língua. Fazem cestos de
palha. Mas os nossos são melhores e mais bonitos. Fazem também recipientes de
barro. Outra coisa que fazem também, mas o nosso é bem melhor, é o pão. Que
vocês chamam de pão de índio. O também biju.
FOTÓGRAFO: Vocês ainda fazem muitas trocas com
outros povos?
CACIQUE: Sim.
Não somos bons em fazer tecidos por exemplo. Tem um povo que sempre
viaja entre as tribos vendendo redes, saias, cobertores. São produtos muito bem
feitos. E essenciais.
FOTÓGRAFO: O senhor me contou. São aqueles que
fazem flechas maravilhosas. Eles viajam para cima e para baixo nos rios.
CACIQUE: Exatamente.
FOTÓGRAFO: ah! Antes que eu me esqueça. Desde
a outra vez eu queria saber sobre essa história de macaxeira e mandioca. É a
mesma coisa?
CACIQUE: Nós sempre conhecíamos a mandioca
mansa, e sempre a chamamos de macaxeira. Daí chegou a tal da mandioca amarga.
Como plantas elas são idênticas. A macaxeira é idêntica à mandioca do tipo
amargo. Muita gente se enganou e se engana entre um tipo e outro da espécie.
FOTÓGRAFO: Houve morte no consumo errado das
macaxeiras?
CACIQUE: Sim. Infelizmente. Meu avô
dizia: planta eu conheço. Se não conheço
não como. Porque se come planta ou coisa
errada morre mesmo. Cará é bom, não mata não. Batata não mata. Mandioca mata.
FOTÓGRAFO: O que se pode comer sem medo?
CACIQUE: Cará é bom. Pode comer sem susto. Não
mata não. Batata também não mata. Agora,
mandioca, a macaxeira tem que saber. Mandioca mata.
FOTÓGRAFO: a covid matou muita gente por aqui?
CACIQUE: Nós fizemos um isolamento e ficamos
livres. Mas houve outras epidemias no passado. Soube de uma tribo distante que
se mudaram por causa da covid. Muitas tribos se mudam e se movimentam muito.
FOTÓGRAFO: Por que essa movimentação?
CACIQUE: São os conflitos com os brancos. Há
ainda as mortes. E também alguns conflitos, por falta de liderança, em virtude
dos casamentos e até mortes que provocam desentendimentos. Isso é lamentável.
Nosso povo tem tradição pacífica. Mas as brigas aconteceram. Em muitos povos,
muitas vezes, devido a vingança e feitiçaria. E disputas entre pajés.
FOTÓGRAFO: e também pelas epidemias, eu
suponho.
CACIQUE: Eu sempre digo. Sempre que existir
uma epidemia, como essa da covid, ou qualquer dominação por alguém que vem de
fora, vai causar desconfiança. E podem causar fugas e movimentações. É muito
triste. Soube que em algumas tribos, as pessoas falecidas foram enterradas nos
caminhos ou perto das casas abandonadas. Ficaram assim, a fim de serem esquecidas.
Os povos da floresta vivem se movimentando. Nessas viagens, mesmo que curtas,
nós trazemos para a aldeia tudo que adquirimos na viagem. Produtos,
conhecimentos, informações e poderes. O mesmo acontece nas viagens xamânicas de
pajés, que procuram a força e a sabedoria de outros seres. Só que nessa tribo
aconteceu uma viagem diferente. Eles abandonaram tudo. Inclusive seus mortos. A
epidemia foi uma desgraça para eles.
FOTÓGRAFO: Isso tem que ter um basta. Essa
falta de respeito com quem cuida da floresta.
CACIQUE: Exatamente. Basta, a tribo está
cansada.
FOTÓGRAFO: Concordo chefe. Basta! A tribo está
cansada. (Dirigindo-se à plateia) Vocês não concordam? A tribo está cansada. A
tribo está cansada. A tribo está cansada. (Incitando a plateia a gritar) A
tribo está cansada. A tribo está cansada.
Nesse momento entra todo o elenco, inclusive o
professor, a pessoa que fez a voz da câmera (com uma grande câmera fotográfica
de papel no pescoço). Todos os participantes do espetáculo podem entrar,
incluindo direção, técnicos etc. Poderão portar cartazes com dizeres tais como:
“abaixo a grilagem de terra” “respeitem os indígenas” “pela preservação das
matas e rios” “Salve a natureza”. “Paz e vida para os índios” “Respeito aos
povos tradicionais” etc. etc.
Todos gritando: A tribo está cansada. A tribo
está cansada. A tribo está cansada.
FIM