Amigos do Fingidor

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Não deixe a lua dormir

 Pedro Lucas Lindoso 


As luzes da cidade desvirtuam a luz da Lua e a claridade romântica do luar. Já no interior é diferente. A lua é importante porque ela pode ajudar na previsão do tempo. Quando a Lua surge amarela e traz um círculo roxo, haverá tempestade, chuva grossa e raios.

A lida dos seringueiros começa às onze horas da noite, quando ele sai para cortar as seringueiras e colocar para coar o leite que produzirá a borracha. Com chuva e tempestade, o trabalho fica ainda mais penoso.

Mas o que mais atordoa o seringueiro é quando há eclipse total da Lua, o que é muito raro. O cientista Fred Espenak, do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA – Goddard Space Flight Center, é um dos responsáveis pela previsão de eclipses.

Na alvorada da sexta-feira, dia 19, véspera do feriado da Consciência Negra, houve um Eclipse Lunar Parcial. Nas cidades ninguém se importa com isso. Mesmo porque é importante notar que, para ver bem os eclipses, é preciso ter um céu sem nuvens e com pouca nebulosidade. E o mais importante é que o horizonte deve estar livre da interferência de prédios ou qualquer coisa que impeça a visualização. Sempre é mais fácil vê-los no interior e nos beiradões dos caudalosos rios amazônicos.

Nesse último eclipse de 19 de novembro, a Lua ficou quase cem por cento de sua superfície coberta pela sombra da Terra. E ainda ganhou uma aparência avermelhada. O fenômeno começou por volta das 3h20, horário de Manaus. Durou muito tempo. Mais de 3 horas. Chaguinhas, dono de um seringal no rio Madeira, me disse que foi o evento lunar mais duradouro dos últimos 500 anos.

Foi o bastante para assustar os seringueiros que a essa hora colhiam leite das seringueiras. Felizmente o apogeu do eclipse se deu por volta das cinco horas, mas não foi possível ver porque a Lua já estava abaixo do horizonte.

Segundo Manoel Silvino que já passou por outros eclipses, o pessoal que estava na mata se assustou. Como era de madrugada, as crianças e as mulheres não viram. Senão haveria gritaria e bater de panelas. Num eclipse total, havido há muitos anos, as mulheres gritavam “acorda, Lua”, enquanto batiam panelas e acalmavam a criançada aos berros.

Chaguinhas se comprometeu a verificar anualmente as previsões de Fred Espenak do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA. Assim, poderá informar seu pessoal da calha do Madeira, com antecedência.

Eles precisam saber quando a Lua vai deixar de aparecer e tirar um cochilo. A Lua não pode dormir assim. Silvino pediu a Chaguinhas para não deixar a Lua dormir tanto tempo assim, como ocorreu neste novembro ainda pandêmico.


domingo, 28 de novembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLIII

Vista aérea: em primeiro plano, o bairro de São Raimundo;
ao fundo, o Centro.

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Grotesco, fantástico, marginal: o anão em três contos de Márcia Antonelli


Clique sobre o quadro acima, para obter o 
acesso ao YouTube. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A poesia é necessária?

 A casa perscrutada – escrivaninha e biblioteca

Zemaria Pinto



Para ler os poemas, clique em:

. Escrivaninha

. Biblioteca

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Jetatura persiste na “fake news”

Pedro Lucas Lindoso


É fato que a mentira tem perna curta, mas o boato corre. E como corre. Hoje o boato se chama “fake news”, e sua velocidade, em especial pela internet e mídias eletrônicas, alcança exponenciais estratosféricos. 

Os boatos “fake news” voam destruindo reputações, espalhando ódios, destruindo famílias, abalando a bolsa de valores e a cotação do dólar. Podem ainda causar malefícios à saúde das pessoas, graves constrangimentos e muitas outras consequências trágicas. Ou simplesmente fazer rir alguns e causar choro em outros.

Os boatos e as “fake news” não são novidades. Antes do advento da internet e das mídias sociais havia as malsinadas cartas anônimas. Eram usadas para manchar a reputação, principalmente de políticos em épocas de eleição. Cartas dirigidas também às casas das vítimas. Eivadas de calúnias, difamação e inverdades, as cartas anônimas circulavam pelas cidades impunemente. Como circulam as postagens atuais. Algumas eram reproduzidas em mimeógrafos. Aparelhos anteriores às máquinas xerox, usados para reprodução de textos, provas e trabalhos escolares.

Como filho de político, minha família foi vítima de cartas anônimas. Elas atingiam não só o político, mas sua família, seus negócios, sua imagem e toda uma reputação.

Quando há interesse político, econômico, social ou financeiro esse expediente sórdido pode ser explicado pela ganância, cobiça ou desejo intenso de poder e fama. Além de ódio e vingança. E quando não há isso? Como explicar a fabricação de boatos e “fake news”?

Colega de Ginásio, ao qual chamarei pelo codinome de Jetatura,  era contumaz espalhador de boatos. Na entrada de nosso colégio, se formava uma fila para entrega das carteiras de controle de assiduidade dos alunos. Sem o carimbo de presença, significava que havíamos “matado” aula. Servia para controle da direção e dos pais. Pois bem, Jetatura aproveitava esse momento de aglomeração para espalhar boatos.

Uma vez, inventou que um famosíssimo cantor romântico brasileiro havia falecido em desastre de carro. A celebridade, já idoso, é vivo até hoje, graças a Deus. Mas Jetatura se comprazia quando, na hora do recreio, o boato retornava a ele. Dava uma grande gargalhada de mórbido prazer.

Jetatura se superou ao espalhar que uma temida professora de Matemática havia contraído câncer e não retornaria para a escola. A licença médica da professora, de três dias, era para curar uma simples faringite.

Não fui e nem quis ser amigo de Jetatura. Machado de Assis disse que “o menino é o pai do homem”. Dizem que ele persiste nos dias de hoje, criando e espalhando “fake news” pela internet.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

domingo, 21 de novembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLII

Consulado de Portugal, na Av. Joaquim Nabuco,
onde hoje funciona a Escola Estadual Barão do Rio Branco.

 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Zemaria Pinto no “Literatura da Gente”


Clique sobre a figura, para obter acesso ao YouTube.
 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A poesia é necessária?

Soneto autobiográfico III

L. Ruas (1931-2000)

 

A égua caminhava a passos largos

Por entre a lama espessa, mal cheirosa,

A égua que nasceu de barro e sopro,

Pesada e, ao mesmo tempo, vaporosa.

 

A égua percorreu todo o passado:

É lenda, é mito, é sombra luminosa;

Galopa semeando vida e morte,

É frágil como a flor e belicosa.

 

Tem alma muito embora no seu ventre

Aninhe fauna imunda e tenebrosa

De serpes e batráquios peçonhentos.

 

A égua chega sempre. Chora, às vezes.

Às vezes, come fezes. Eu a vi

Comendo, em céu de estrelas, uma rosa. 


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Feriados de novembro: viva a República!

Pedro Lucas Lindoso

 

Novembro já é um mês curto. É de 30 dias. Iniciou-se com um megaferiadão de finados. Com origem ainda em outubro, pelo dia do servidor.

Temos ainda o dia 15 de novembro, que para alegria de muitos, cai numa segunda-feira. Outro feriadão. Aqui em Manaus celebramos o dia da Consciência Negra. Neste ano, cai num sábado. Para tristeza dos que trabalham somente de segunda a sexta. Porém, para muitos sábado é dia de trabalho. Alguns vão ganhar hora extra de feriado. O que sempre é bom. Principalmente nestes tempos bicudos.

Há lugares em que é feriado dia 30, declarado o dia do Evangélico. É o caso de Brasília, nossa capital federal. Este ano, cai numa terça-feira. Será que os brasilienses vão emendar a segunda? Se isso acontecer, o mês de novembro terá apenas 17 dias úteis no Distrito Federal. Ou seja, dos 30 dias do mês de novembro, estudantes e funcionários públicos ficarão de folga 13 dias. Quase a metade do Mês.

Nos Estados Unidos a quarta quinta-feira de novembro é dia de Ação de Graças. É o maior dos feriados por lá. Tão importante quanto o Natal. Os americanos cruzam o país visitando seus pais, retornando ao local onde nasceram. É um feriado de família. E na sexta eles tem a tal da Black Friday.

Como tudo no Brasil, há sempre uma lei para regulamentar. Umas pegam, outras não. A mais importante sobre feriados é possivelmente a lei nº 9093/95. Em seu artigo primeiro estipula que são feriados civis os declarados em lei federal (aqueles a que chamamos de feriados nacionais); a data magna do Estado fixada em lei estadual (o nosso 5 de setembro); a fundação do município (aniversário de Manaus).

Quanto aos feriados religiosos, a lei estipula que os dias de guarda, serão declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, incluída a Sexta-Feira da Paixão. O dia do evangélico foi instituído feriado em Brasília porque descobriu-se que a cidade ainda poderia ter um feriado, de acordo com esta cota de quatro, destinada aos municípios por essa lei.

Para meu amigo Chaguinhas, que é monarquista, deviam revogar o feriado do dia 15 de novembro. A República foi um golpe. A família real foi levada ao cais do porto para embarcar, exilada, com a população aos prantos. Deveriam ter instituído uma monarquia constitucional, como a do Reino Unido, Suécia, Japão, Espanha, Países Baixos, Bélgica, Noruega, Dinamarca. Todos eles países desenvolvidos.

Deixe de besteira, Chaguinhas. Viva a República!



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Almoçando com Lucchesi

 

O presidente da Academia Brasileira de Letras, escritor Marco Lucchesi, cujo mandato termina no próximo mês – “não vejo a hora!”, ele diz –, passou este final de semana em Manaus, em compromissos diversos. No sábado, atendendo a um convite do amigo Tenório Telles, presidente do Concultura, Lucchesi almoçou com artistas e escritores. As fotos registram o encontro.

Marco Lucchesi promoveu uma verdadeira revolução na ABL, tanto do ponto de vista administrativo quanto acadêmico – injetando, sobretudo, qualidade na instituição.   


Lucchesi, Zemaria Pinto e Tenório Telles.

Da esquerda para a direita: escritor Thiago Roney; Alonso Oliveira, presidente da ManausCult; artista plástico João Bosco Ricochote; Marco Lucchesi e os escritores Tenório Telles, Marcos Frederico Krüger, Zemaria Pinto e Tainá Vieira. 
Fotos: Marcely Gomes.

Lucchesi, ladeado pela artista plástica Monik Ventilari e as escritoras Neiza Teixeira, Leyla Leong e Tainá Vieira.
Foto: Zemaria Pinto.


domingo, 14 de novembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLI

Praça Antônio Bittencourt ou Praça do Congresso,
com o Teatro Amazonas ao fundo.

 

sábado, 13 de novembro de 2021

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

A poesia é necessária?

 

Enquanto a lua for calada e branca

Ernesto Penafort (1936-1992)

 

enquanto a lua for calada e branca

eu serei sempre o mesmo, este esquisito,

este invisível vulto, apenas visto

quando o vento, de leve açoita as folhas.

enquanto a lua for calada e branca

eu serei sempre o mesmo, apenas visto

quando um raio de sol morre na lágrima

que se despede de uma folha verde.

eu serei sempre assim, apenas sombra,

apenas visto quando a voz de um gesto

colhe no bosque alguma flor azul.

apenas visto quando em fundo azul

voar a garça (o meu adeus ao mundo?),

enquanto a lua for calada e branca.


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

XXXVI Feira de Livros do SESC/AM


O evento será realizado no Centro de Convenções Vasco Vasques, de 11 a 14/novembro.



terça-feira, 9 de novembro de 2021

Saci-Pererê ou Jack-o’-lantern?

Pedro Lucas Lindoso

 

Estamos no mês de novembro. O Halloween desse outubro ainda pandêmico teve comemorações cada vez mais animadas pelo país afora. 

Mas a tradição definitivamente não é vista com bons olhos por todos. Muitos evangélicos acreditam que comemorar o Halloween beneficia e faz apologia a bruxarias e magia negra. Há pedagogos ortodoxos que acreditam que esses festejos violam a inocência e a integridade psicológica de crianças, em especial aquelas abaixo de seis anos de idade.

Há ainda os que se apegam ao Direito. Durante o Halloween há muitos filmes de terror na TV e no cinema. Assim, evoca-se o art. 221 da CF, o qual remete ao “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”.

Culturalmente, a reação mais interessante ao Halloween foi a instituição do 31 de outubro como “dia do Saci-Pererê”. A data, criada em 2003, objetiva resgatar e valorizar o folclore do nosso país, promover a cultura nacional e tradições brasileiras.

Como sabemos, o Saci é um ser baixinho, negro, possui apenas uma perna, usa um capuz vermelho e se locomove com rapidez. É brincalhão, agitado e travesso. Na minha opinião, uma simpatia só.

Já o Jack-o’-lantern é uma abóbora iluminada, feita como enfeite. É a figura central do Halloween. A origem está no folclore irlandês. O tal Jack, que era miserável, convidou o capeta para tomar um drink. Negociou para que o Cão se transformasse em moeda. Ao final o capeta não ficou com sua alma. Contudo, fez Jack ficar vagando com uma única queima de carvão, dentro de uma abóbora, especialmente no Halloween.

 O que acontece é que o Saci-Pererê perdeu para o Jack-o’-lantern. A influência dos Estados Unidos no Brasil e no mundo é marcante. E muito ajudada por Hollywood.

      Não concordo com as razões pedagógicas, religiosas ou jurídicas para ser contra tanto com a figura do Saci-Pererê quanto ao Jack-o’-lantern. Afinal, tudo é folclore. São expressões culturais, costumes e tradições preservadas e passadas de uma geração para outra. O mundo seria muito chato sem o folclore e sem festas. Meu voto é para o Saci-Pererê.

  

domingo, 7 de novembro de 2021

Manaus, amor e memória DXL

O porto de Manaus, antes do Roadway.

sábado, 6 de novembro de 2021

Basta! A tribo está cansada 4/4

 Pedro Lucas Lindoso

 

QUARTO ATO

 

O Cacique está sentado à mesinha, pensativo. O Fotógrafo entra portando um notebook. Senta-se perto do cacique e abre o notebook.

 

FOTÓGRAFO: E aí, chefe. Vamos começar. Temos muitas fotos.

CACIQUE: Eu imagino. Você cansou o pessoal. Fez cócegas nas almas do meu povo a dar com pau. (risos)

FOTÓGRAFO: Desculpe eu ter dito a ele que esse negócio de cócegas na alma era mentira. Traí sua confiança. Mas é que eu perdi a cabeça com ele.

CACIQUE: Tudo bem. É capaz dele falsificar a pet. Eu soube que ele levou um bocado de flecha. E nem um arco para disfarçar. Isso era vai pegar uma pet, cravar de flecha e contar um longa e mentirosa estória.

FOTÓGRAFO: E ainda vai escrever um artigo científico e ficar famoso.

CACIQUE: Ele não é tão mau assim. Ele elogiou o nosso projeto de manejo de pirarucu. Eu ia até contar uma lenda para ele. O professor adora lendas. Fica babando feito criança. Mas com a confusão que ele criou acabou indo embora sem ouvir a lenda do pirarucu.

FOTÓGRAFO: Me conte aí, chefe.

CACIQUE: Os antigos diziam que o pirarucu era gente. Por isso muitas tribos não pescam o bichão. Essa lenda na verdade não é do meu povo. Somos muitas etnias, com costumes e fala diferentes. Hoje estamos mais unidos contra as atrocidades de vocês, ditos civilizados. Para esse povo, que vive mais a oeste daqui, como eu disse, o pirarucu era gente. E tinha uma irmã, a juriti. Você sabe que a juriti é um passarinho né? Eles chamam de Mizumi. Pois bem, houve uma grande epidemia. Bem pior que essa última da Covid, do corona vírus. Então todos os parentes do pirarucu, que esse povo chama de Ve’e morreram. Em consequência da epidemia. Então o pirarucu, que esse povo chama de Ve’e soprou um rapé. Deu para os mortos. Depois tirou a palmeira da pupunha e deu para eles.  E todo mundo ressuscitou. Só que eles voltaram em forma de macaco.

FOTÓGRAFO: Que tipo de macaco?

CACIQUE: Eu não me lembro bem, porque essa estória não é bem do meu povo. Mas parece que era macaco caiara.

FOTÓGRAFO: E o que aconteceu depois?

CACIQUE: No dia seguinte, pirarucu e juruti então embarcaram numa canoa junto com Idikum, que é o mesmo mutum. Remaram muito, rio abaixo. Idikum saia o tempo todo da canoa. Voava e voltava. Aquilo começou a irritar Ve’e, o pirarucu.

FOTÓGRAFO: Às vezes as pessoas se irritam mesmo. Perdem a paciência. Mas continue, cacique. Essa lenda está muito interessante.

CACIQUE: Então o Mutum voava e voltava. Irritando Ve’e, o pirarucu. Como o professor às vezes, fica me irritando por aqui. Até que ele perdeu a paciência e o matou.

FOTÓGRAFO: Nossa, quanta violência, chefe!

CACIQUE: Pois é. Sua irmã, Mizumi, não gostou da atitude dele. E se transformou no pássaro juriti. E saiu voando. Ve’e, o pirarucu, saiu chamando a sua irmã. Chamou, chamou, várias vezes. Mas ela não voltava. Ela se pintou com breu. Virou uma juriti. Esse passarinho que parece uma pombinha. E Ve’e se pintou com urucum. E virou peixe. Se transformou em pirarucu.

FOTÓGRAFO: Muito interessante a lenda do pirarucu e da juriti.

CACIQUE:  E hoje, quando a juriti canta na mata o pirarucu sobe até a superfície do rio, para ver a sua irmã.

FOTÓGRAFO:  E o seu projeto de manejo de pirarucu?

CACIQUE: Estamos sem fazer pesca do bichão.  Nessa etapa é essencial fazer a vigilância dos lagos. Quando eles sobem à superfície, as juritis cantam. Acontece mesmo. Assim, temos que protegê-los. É preciso fazer a contagem deles. Acho que devemos esperar mais. Talvez cinco anos seja pouco. Um rapaz do Ibama que esteve por aqui disse que o ideal são oito anos, para fazer o monitoramento populacional dos pirarucus. A paciência é uma virtude. Enquanto isso, vamos ouvindo o canto das juritis. 

FOTÓGRAFO: Uma das coisas bacanas de sua cultura, chefe, são essas relações estabelecidas entre os seres. Tanto os humanos quanto os não humanos. E eu não canso de fotografar esses rituais fantásticos, as suas festas. As atividades de caça, pesca, coleta e agricultura.

CACIQUE: O fato é que nós devemos continuar recriando e alimentando nossas práticas. O professor fica fascinado quando considera essas relações com o sagrado. E ele tem razão. A riqueza delas está no sagrado. Por isso vocês as consideram tão ricas. Os que tem consideração com a gente, obviamente.

FOTÓGRAFO: Mas vamos às fotos. Veja essa aqui (mostra ao cacique fotos no tablet). Apesar da árvore estar morta, caída, repartida, quebrada, provavelmente por um raio, a morte é natural. Mesmo morta, continua harmônica com suas raízes expostas, em contato com a água do rio. Muito linda.

CACIQUE: Pois é; mesmo morta, essa árvore é bonita. Porque não foi violentada.

FOTÓGRAFO: Veja essa aqui.

CACIQUE: É uma garota linda. Mas ela está com medo de você. Medo do desconhecido. Veja o olhar dela. Um olhar de incerteza, de dúvida, de apreensão. Essa foto é importante para você?

FOTÓGRAFO: Eu gostei muito. O senhor vai cortar?

CACIQUE: Não. Vamos adiante. Mostra mais uma. O que você quis dizer ao fotografar esse cacho de banana? Muito estranho.

FOTÓGRAFO: Eu achei interessante a maneira como o seu povo amadurece as bananas. Os brancos conservam as bananas nas palmas. Retiram uma por uma, quando vão consumir.  O modo de vocês amadurecerem as bananas. Vão enfiando num cordão de palha, uma por uma. Formando um grande cacho de banana, que não é a penca original. Muito interessante. Uma pergunta. Essa técnica amadurece a banana mais rápido? Conserva mais o sabor?

CACIQUE: Não sei. Não sei como se faz na sua casa. Aqui é assim. A banana é uma fruta muito boa e gostosa. Mostra outra.

FOTÓGRAFO: Veja essa foto noturna. Temos um luar maravilhoso.

CACIQUE: Nosso povo gosta de se reunir com lua cheia. Principalmente nós, os homens. Essa conversa de noite, sob a lua cheia, costuma ser bastante proveitosa. Trocamos ideias, nos entendemos. E também a gente se diverte.

FOTÓGRAFO: Essa aqui é de um igapó, mais acima. O que o senhor acha?

CACIQUE: Os igapós são locais muito familiares para o nosso povo. Entramos neles com frequência e com a maior tranquilidade e segurança. Enquanto vocês, brancos, parece que têm medo. Eu acho graça. O professor fica apreensivo, se alguém não vai com ele floresta a dentro. Acho que tem medo de se perder. É um cagão.

FOTÓGRAFO: Essa foto é sua. Gostou?

CACIQUE: Corta. Estou muito feio e gordo.

FOTÓGRAFO: Ok. (fotógrafo pisca para a plateia, dando a entender que vai publicar a foto do cacique)

CACIQUE: Essa foto está descaracterizada. Não gosto. Já disse para as mulheres que o uso de sombrinha é pavulagem. Acho estranho quando nossas mulheres usam sombrinha. Corta essa.

FOTÓGRAFO: Essa aqui é um início de dia. O sol vai nascendo. Eu gostei muito dela. Demonstra-me paz, tranquilidade. Serenidade. A beleza da mata ao alvorecer.

CACIQUE: Muito bonita. Parabéns.

FOTÓGRAFO: Essa aqui já é no pôr do sol. Aliás, o sol já se pôs. A beleza natural é a mesma daquela do alvorecer. Só que a tonalidade é diferente. Parece que a natureza reage diferente. Os sons da mata também mudam.

CACIQUE: Outra bela foto. Gostei muito.

FOTÓGRAFO: Olha essa menina. Peço sua autorização. Quero mostrar as pinturas. As brancas usam produtos industrializados para se maquilar. Olha só que bonita que ficou essa cunhatã. Toda enfeitada com produtos da floresta. O senhor pode me explicar quando é permitido as moças se maquilar?

CACIQUE: Aqui na nossa tribo, as meninas são autorizadas a se pintar a partir dos 11 anos. E começam a participar de alguns dos rituais de dança próprios para as meninas e mulheres.

FOTÓGRAFO: Veja essa senhora. As mulheres mais velhas parece que se ocupam muito das cestarias.

CACIQUE: É verdade. Mas o artesanato e a confecção de cestas, balaios e esteiras é feita por todas elas. E começam desde bem novinhas. O ensinamento é atribuição das mulheres mais velhas.

FOTÓGRAFO: Veja essa foto. Também de igapó. Eu acho lindo essa integração de seu povo com a natureza. Vocês se integram a ela. Sem querer ser dono das dádivas de Deus. Muito lindo.

CACIQUE: Essa ideia de se apropriar das coisas que Deus nos dá é de vocês brancos. Vejam os madeireiros, os grileiros. Eles veem as coisas como se pudessem ser apropriadas, como se tornassem propriedade privada deles. Isso é um absurdo.

FOTÓGRAFO:  Ah! Se o homem dito civilizado pudesse aprender com vocês a desfrutar dessa harmonia.

CACIQUE: Tudo na natureza deve ser harmonioso. O conceito de animal. Vegetal e mineral, são de vocês. Para nós, os elementos da natureza são os bichos, as pedras, o ar, a água, a terra, a floresta, o fogo, o vento.

FOTÓGRAFO: Sim, veja essa foto. Parece que o vento está falando com a mata. (mostrando mais uma foto)

CACIQUE: Essa aqui expressa a harmonia que falamos. A harmonia entre a água e a floresta.

FOTÓGRAFO:  E essas pedras também. Gostou dessa, cacique?

CACIQUE: Maravilha.

FOTÓGRAFO: Essa foto do guerreiro caçando eu acho emblemática. Conversei com ele. Ele disse que caçava apenas para sobreviver. Ah! A caça é escolhida. Não se matam fêmeas que estejam prenhas. Achei muito bonito.

CACIQUE: Diferente de alguns de vocês que caçam exclusivamente por prazer, isso aqui, praticamente não existe. Já vi homem branco caçar, matar a presa e abandonar. Isso não se faz aqui. Matar por prazer.

FOTÓGRAFO: veja essas fotos. Fabricação de farinha. Há fotos desde a extração da mandioca até a torrefação da farinha. Essa tecnologia vocês nos legaram. O amazônida e o brasileiro em geral adora uma farinha.

CACIQUE: Não sei se você sabe. Eu dei essa informação ao professor. Aqui nós temos três variedades de macaxeira: a Peruana, Pão e Mutum. Temos ainda dez variedades de mandioca: Socó, Jaboti, Camarão, Samaúma, Mineve, Joaquim Grande, Cobiçada, Janauacá, Flecha amarela, Marrecão. Somos muito bons no processamento da macaxeira.

FOTÓGRAFO: Isso eu não tenho a menor dúvida.

CACIQUE: Essa foto aqui está muito boa. Gostei muito. Mostra minha filha cuidando dos meus netos.

FOTÓGRAFO: Está evidente o cuidado e muita afeição que sua filha tem pelas crianças.

CACIQUE: Gostei dessa foto. Veja que os meninos mais jovens acompanham os mais velhos. Tudo é transmitido de geração para geração, desde muito cedo. A gente se preocupa com o respeito e pela preservação da natureza.

FOTÓGRAFO: essas fotos mostram com clareza a importância das palmeiras. Nesse contexto de manejo da floresta, as palmeiras ocuparam um lugar privilegiado. Aqui eu destaco o babaçu, a pupunha, o açaí, o buriti e o tucumã.

CACIQUE:  Temos ainda muitas outras. Acho que você não fotografou porque não as conhece. E também porque não temos por aqui por perto, o urucuri, o patauá e a bacaba. 

FOTÓGRAFO: Veja só que maravilha. O guerreiro subindo nessa palmeira. Foto maravilhosa. E nessa o guerreiro demonstra gratidão pelos bons frutos colhidos. Que coisa boa.

CACIQUE: Com certeza. É a retribuição que recebemos da natureza. É a resposta que ela nos dá pelo cuidado, pelo respeito e pela preservação. Aprendam isso. Leve essa mensagem para os brancos.

FOTÓGRAFO: É isso aí. Ao destruir a natureza, não teremos frutos para colher. Simples assim.

CACIQUE: Respeitamos as árvores como se fossem sagradas. Nós aprendemos a contemplá-las.

FOTÓGRAFO: Interessante. Nessa foto o jovem guerreiro está tirando a casca da árvore.

CACIQUE: Sim. Usamos as cascas para usos diversos. As palmeiras, além do alimento, nos dão abrigo. As paredes podem ser feitas de cascas  ou palhas trançadas. Delas ainda usamos, para fins alimentares, tanto o fruto quanto o palmito.

FOTÓGRAFO: Acho muito importante essa prática do manejo. Como o senhor está fazendo com o pirarucu.

CACIQUE: Nossos povos foram disseminados por toda a Amazônia.  e tivemos que sobreviver. Fomos compelidos a manter nossos espaços. E então estamos fazendo pelo manejo e exploração de vários ambientes da floresta.

FOTÓGRAFO: Perfeito. Temos aqui fotos da várzea, do igapó e da terra firme.

CACIQUE: Não gosto muito do modelo de cortar a floresta, queimar e fazer o roçado. Sempre incentivei a coleta. Nossa biodiversidade é grande. Nós temos uma diversidade grande de peixes.

FOTÓGRAFO: E os bichos de casco. O que o professor chama de quelônio. Aquele chato.

CACIQUE: Buscamos não apenas os frutos que dão de época em época. Buscamos também todo tipo de vegetal de que se possa fazer produtos que acompanham os de origem animal. Os animais que caçamos, pescamos e também os bichos de casco.

FOTÓGRAFO: Eu vi e fotografei. Uma grande abundância de coisas e produtos que vocês tiram dos rios, das várzeas e das florestas. Fico encantado com tudo isso.

CACIQUE: Os povos vizinhos que moram no outro lado do rio cultivam tanto em ambientes de terra firme quanto nas várzeas e praias. Na terra firme, plantam ariá, inhame, cará, abacaxi, certos tipos de banana, tabaco e coca, e nas praias cultivam o feijão, a melancia e algumas variedades de jerimum. Trocamos muitas coisas com eles. São bons comerciantes.

FOTÓGRAFO: Mas o cacique deles é meio arisco. Tentei contato com eles.

CACIQUE: Mas são nossos amigos. Eles têm uma técnica interessante para extrair veneno das plantas. E fazem bem alguns instrumentos importantes para a nossa técnica.

FOTÓGRAFO: A que tipo de instrumento o senhor está se referindo?

CACIQUE: Eles fazem raladores, espremedores que nós chamamos de tipiti, e vocês incorporaram na sua língua. Fazem cestos de palha. Mas os nossos são melhores e mais bonitos. Fazem também recipientes de barro. Outra coisa que fazem também, mas o nosso é bem melhor, é o pão. Que vocês chamam de pão de índio. O também biju.

FOTÓGRAFO: Vocês ainda fazem muitas trocas com outros povos?

CACIQUE: Sim.  Não somos bons em fazer tecidos por exemplo. Tem um povo que sempre viaja entre as tribos vendendo redes, saias, cobertores. São produtos muito bem feitos. E essenciais.

FOTÓGRAFO: O senhor me contou. São aqueles que fazem flechas maravilhosas. Eles viajam para cima e para baixo nos rios.

CACIQUE: Exatamente.

FOTÓGRAFO: ah! Antes que eu me esqueça. Desde a outra vez eu queria saber sobre essa história de macaxeira e mandioca. É a mesma coisa?

CACIQUE: Nós sempre conhecíamos a mandioca mansa, e sempre a chamamos de macaxeira. Daí chegou a tal da mandioca amarga. Como plantas elas são idênticas. A macaxeira é idêntica à mandioca do tipo amargo. Muita gente se enganou e se engana entre um tipo e outro da espécie.

FOTÓGRAFO: Houve morte no consumo errado das macaxeiras?

CACIQUE: Sim. Infelizmente. Meu avô dizia:  planta eu conheço. Se não conheço não como.  Porque se come planta ou coisa errada morre mesmo. Cará é bom, não mata não. Batata não mata. Mandioca mata.

FOTÓGRAFO: O que se pode comer sem medo?

CACIQUE: Cará é bom. Pode comer sem susto. Não mata não. Batata também não mata.  Agora, mandioca, a macaxeira tem que saber. Mandioca mata.

FOTÓGRAFO: a covid matou muita gente por aqui?

CACIQUE: Nós fizemos um isolamento e ficamos livres. Mas houve outras epidemias no passado. Soube de uma tribo distante que se mudaram por causa da covid. Muitas tribos se mudam e se movimentam muito.

FOTÓGRAFO: Por que essa movimentação?

CACIQUE: São os conflitos com os brancos. Há ainda as mortes. E também alguns conflitos, por falta de liderança, em virtude dos casamentos e até mortes que provocam desentendimentos. Isso é lamentável. Nosso povo tem tradição pacífica. Mas as brigas aconteceram. Em muitos povos, muitas vezes, devido a vingança e feitiçaria. E disputas entre pajés.

FOTÓGRAFO: e também pelas epidemias, eu suponho.

CACIQUE: Eu sempre digo. Sempre que existir uma epidemia, como essa da covid, ou qualquer dominação por alguém que vem de fora, vai causar desconfiança. E podem causar fugas e movimentações. É muito triste. Soube que em algumas tribos, as pessoas falecidas foram enterradas nos caminhos ou perto das casas abandonadas. Ficaram assim, a fim de serem esquecidas. Os povos da floresta vivem se movimentando. Nessas viagens, mesmo que curtas, nós trazemos para a aldeia tudo que adquirimos na viagem. Produtos, conhecimentos, informações e poderes. O mesmo acontece nas viagens xamânicas de pajés, que procuram a força e a sabedoria de outros seres. Só que nessa tribo aconteceu uma viagem diferente. Eles abandonaram tudo. Inclusive seus mortos. A epidemia foi uma desgraça para eles.

FOTÓGRAFO: Isso tem que ter um basta. Essa falta de respeito com quem cuida da floresta.

CACIQUE: Exatamente. Basta, a tribo está cansada.

FOTÓGRAFO: Concordo chefe. Basta! A tribo está cansada. (Dirigindo-se à plateia) Vocês não concordam? A tribo está cansada. A tribo está cansada. A tribo está cansada. (Incitando a plateia a gritar) A tribo está cansada. A tribo está cansada. 


Nesse momento entra todo o elenco, inclusive o professor, a pessoa que fez a voz da câmera (com uma grande câmera fotográfica de papel no pescoço). Todos os participantes do espetáculo podem entrar, incluindo direção, técnicos etc. Poderão portar cartazes com dizeres tais como: “abaixo a grilagem de terra” “respeitem os indígenas” “pela preservação das matas e rios” “Salve a natureza”. “Paz e vida para os índios” “Respeito aos povos tradicionais” etc. etc.

Todos gritando: A tribo está cansada. A tribo está cansada. A tribo está cansada. 

 

FIM


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A poesia é necessária?

                                                        I

                      Antísthenes Pinto (1929-2000)

 

Antecipo minhas rugas no espelho.

A sombra hirta que foi vejo curvada.

Piso fundo no chão que silencia

E vou contar estrelas na vidraça.

 

A ave do desejo pousa em livro.

(Não há no vácuo acústica às palavras)

Liberto já do sonho que não tive

Fujo de mim e só de mim fugindo

 

Sem dar um passo além do que pensara

Quando fui velho sem chegar a ser.

O meu patético olhar engole o longe:

 

– Escuro limitando com escuro

E quanto ao perto: cinza no cinzeiro

E o negro cão do tempo me mordendo.

 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Luto eterno

Pedro Lucas Lindoso

 

Em tempos de pandemia, perdemos muitos amigos, conhecidos e parentes. Dia de finados. A tradição é visitar os túmulos dos entes queridos nos cemitérios. O historiador Fábio Augusto Carvalho pesquisa nossa história entre os túmulos do São João Batista. Explica que: “Construir imensos e caros túmulos era uma forma não só de perpetuar a memória de quem ali estava enterrado, mas mostrar status social”.

 No cemitério Campo da Esperança, em Brasília, cuja cidade tem concepção socialista, não se permite a construção de mausoléus. Os túmulos devem obedecer a certa padronização. Mesmo assim, há aqueles revestidos de mármore, com detalhes em bronze. Há obviamente aqueles sem revestimentos ou com acabamentos simples. Atualmente, os enterros são feitos em gramados onde se permite somente uma placa de identificação.

Os velórios aqui em Manaus normalmente acontecem nas funerárias. Já em Brasília onde a legislação da Nova Capital proibia esse comércio, os velórios são feitos nas diversas capelas dentro do Cemitério da Esperança. Durante muitos anos, foi monopólio de uma fundação pública cuidar dos enterramentos. Hoje, o cemitério está privatizado. Há funerárias e, conforme o desejo dos familiares, os preços variam de acordo com os diversos e diferentes gastos. 

Penso que os cemitérios se tornarão somente museus no futuro. Muitas pessoas estão expressando o desejo de ser cremadas. Os “experts” em meio ambiente recomendam e propagam a cremação. Para muitos, cemitérios não são ambientalmente saudáveis para as cidades e seus habitantes. Na Índia, por exemplo, a prática é milenar e feita a céu aberto.

     Independente de como se enterram os nossos mortos, temos necessidade de mostrar aos outros nossa dor e nosso luto. Durante a pandemia, os velórios foram proibidos. Para muitos, foi desolador. Hoje está comum expressar o luto pelas redes sociais, como Facebook. Inclusive usadas também como meio de dar as condolências. Antigamente, usava-se muito os telegramas.

As mulheres quando enlutadas usavam vestidos pretos. Hoje esse costume está extinto. Algumas usam preto no enterro e nas exéquias. Em Portugal o costume ainda persiste, principalmente nas aldeias, vilas e pequenas cidades. Um amigo português me disse que sua tia estava sempre vestida de preto. Primeiro morreu seu pai. Vestiu preto por um ano. Depois perdeu o irmão. No ano seguinte, ficou viúva. Quando pensava em tirar o luto, morreu o filho em trágico acidente. Desgostosa, continuou de luto. Até morrer. Foi enterrada de vestido preto. Luto eterno.