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domingo, 8 de junho de 2025
quinta-feira, 5 de junho de 2025
A poesia é necessária?
Três haicais de primavera
Gracinete Felinto
Na estação das flores,
belas manhãs de setembro.
Borboletas dançam.
Nas paredes, flores
descem enfeitando o prédio,
início da estação.
No vaso, uma flor
dedicada à estação.
Lá fora, perfume.
terça-feira, 3 de junho de 2025
Como se tornar amazonense
Pedro Lucas Lindoso
Uma
jovem me pediu uma mentoria. Achei aquilo inusitado. O que seria uma mentoria?
Então você quer que eu lhe dê conselhos? Ela me disse que sim. Gostaria que eu
a ensinasse a ser amazonense. Estranho isso. Perguntei-lhe o motivo. Ela disse
que preferia não contar. Mas que aguardava ansiosa por meus conselhos. Minha
mentoria. Disse-lhe que de fato era amazonense e filho de amazonenses. Mas que
havia vivido por mais de trinta anos em Brasília. Talvez estivesse um pouco
descaracterizado. Ela me disse que justamente por isso eu faria uma boa
mentoria. Por ter sido exposto a outras vivências.
Disse-lhe
então que poderia lhe dar algumas dicas. Não seria nem mentor nem conselheiro.
Teríamos um prazeroso bate-papo. E comecei dizendo que deveria gostar de
tacacá, de farinha do Uarini, pimenta murupi e caldeirada de peixe. Sim,
deveria saber ticar um peixe. Informou que já gosta de peixe, tacacá e
pimenta. Mas não sabia ticar peixe.
Ficou de aprender com a sua cozinheira já no dia seguinte.
Pareceu-me
bem determinada. Já sabia o básico. Deveria ir ao centro, merendar ovo coberto
com suco de maracujá. Pedir do vendedor uma coxinha de massa de mandioca e
recusar a coxinha de trigo. Não chamar bombom de bala. Bala só de cupuaçu ou
castanha. Chamar cabide de cruzeta, menino de curumim e menina de cunhatã. Se
você não souber o nome do porteiro ou do zelador, pode chamá-lo de “seu
menino”. Se no Sul fala-se vigiar o carro, aqui é reparar. A gente repara
crianças também. E repara também outras coisas. O que deve e o que não deve.
Pode-se usar a expressão “telezo” entre
amigos. Mas acusar alguém de leseira baré pode ser constrangedor. Amazonense
gosta de tomar banho de chuva quando criança. Mas quando adulto, se chove
muito, chama a chuva de toró, nunca tempestade. E fica em casa. Não sai nem
para ser enterrado. Deixa para o dia seguinte.
Tem que
torcer por um boi. Se for Garantido, evitar vestir a cor azul e nem pronunciar
o nome do Caprichoso. Dizer que é o boi contrário. Gostar mais de toada de boi
do que samba, gostar de praia de rio e banho de igarapé.
Ser
amazonense raiz é mais do que nascer na maior floresta tropical do mundo. É
mergulhar de cabeça na essência de uma cultura riquíssima. É preciso aprender a
respeitar e valorizar a floresta. Não basta admirar sua beleza de longe; é
preciso entender seu ritmo, sua riqueza e diversidade.
Um
verdadeiro amazonense se orgulha de sua história. Conhece as lendas indígenas,
as histórias dos seringais, o valor da floresta para a sobrevivência de todos.
Sabe receber as pessoas com um sorriso, dividir um peixe assado na beira do
rio.
Ser
amazonense raiz também implica em estar conectado com a natureza de maneira
consciente. Valorizar os rios, as matas, os animais. Defender a floresta e seus
povos, porque ela é nossa fonte de vida e identidade.
É preciso amar esta terra de verdade — com
orgulho, com coragem, com esperança. Porque ser amazonense é muito mais do que
uma origem; é uma atitude de amor. E assim, quem abraça essa essência, vive e
respira a alma do caboclo, torna-se, de fato, um verdadeiro amazonense.
domingo, 1 de junho de 2025
quinta-feira, 29 de maio de 2025
A poesia é necessária?
A mão do vento na savana
João Maria Vilanova (1933-2005)
Que voz perpassa
em teu dorso quando
a noite
passos-de-onça
se aproxima?
Memória de areais
Negras falésias?
Se te escutando
paciente é o trabalhar
de onda.
Eflúvios frémito
um deus muíla que subisse
monandengue
só da raiz do sangue.
– Ah inteiro é teu dorso ó ngana
inteiro é teu dorso
para meus sentidos.
terça-feira, 27 de maio de 2025
Paz no trânsito
Pedro Lucas Lindoso
Chico
Buarque dramaticamente relata em sua música “Construção” a morte de um operário
na contramão, atrapalhando possivelmente o trânsito e literalmente o
“sábado”. O Maio Amarelo foi criado pela
ONU com a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de
mortos e feridos no trânsito em todo o mundo.
Nossa
Manaus, diferente da floresta que nos cerca, tem o ritmo frenético das cidades
grandes. Estar em qualquer das grandes avenidas da cidade é sempre uma corrida
contra o tempo. As avenidas e ruas manauaras são sempre campos de batalha
silenciosos entre o desejo de chegar rápido e a necessidade de preservar vidas
— a nossa e a do próximo.
E então
as tragédias acontecem. Batidas de toda sorte, capotamentos e atropelamentos.
Causando mortes ou vítimas com sequelas graves. No Brasil, temos a Rede
Hospitalar Sarah. Fundada por dona Sara Kubitschek, esposa de JK, um dos
melhores presidentes que tivemos. A rede Sarah é referência em atendimentos em
ortopedia e reabilitação do aparelho locomotor.
Penso
que essa expertise se desenvolveu, não por acaso, num país com tantas vítimas
de trânsito. Posso estar enganado. Mas muitos que chegam à Rede Sarah são
acidentados nesse nosso trânsito caótico e perigoso.
Mas
agora, convido o leitor a imaginar uma Manaus onde a paz reina nas ruas, onde
motoristas e pedestres trocam olhares de compreensão, ao invés de olhares de
desafio ou impaciência. Eu nasci e vivi a infância nessa Manaus. Uma cidade
onde havia menos mortes nas ruas e avenidas, menos perdas irreparáveis. Claro
que a quantidade de automóveis era infinitamente menor. A cidade era pequena.
Andava-se à pé. O lugar mais longe do Centro era o Japiim.
Hoje a realidade é outra. Cada vida que se vai
é uma história interrompida, um sonho que fica pelo caminho. E se, ao invés de
acelerarmos nossos carros, acelerássemos também a nossa consciência? Respeitar
os limites, usar o cinto, não dirigir sob efeito de álcool ou drogas. Educação
no volante, fiscalização justa, campanhas de conscientização – tudo isso é o
caminho para uma mudança real. Para que o som das sirenes não seja mais uma
rotina, mas uma lembrança de que vidas valem mais do que pressa.
Que
possamos desejar, de coração, um trânsito mais pacífico. Menos mortes, mais
esperança. Pois, no final, todos queremos chegar bem ao nosso destino. E essa
paz no trânsito começa dentro de cada um de nós.
domingo, 25 de maio de 2025
quinta-feira, 22 de maio de 2025
A poesia é necessária?
O ópio do povo
Henrique Duarte Neto
No passado, o ópio do povo
era a igreja.
Agora, em tempos mais etílicos,
é a cerveja.
No passado, o ópio do povo
era o capital minimamente disseminado.
Agora, em tempos mais lúgubres,
é o capital exclusivo, privado.
No passado, o ópio do povo
era o bom futebol.
Agora, em tempos mais frívolos,
é reality show, besteirol.
No passado, o ópio do povo
era a ideia do paraíso.
Agora, em tempos mais mercadológicos,
é lucrar, desdenhando o último juízo.
terça-feira, 20 de maio de 2025
O debut transformador
Pedro Lucas Lindoso
A Casa
Mamãe Margarida localiza-se na Rua Edmundo Soares nº 27, Bairro São José II,
Manaus-AM, CEP: 69086-011. É uma instituição não governamental. Este mês é o
Maio Laranja. Dedicado a conscientizar a população sobre o abuso e a exploração
sexual de crianças e adolescentes. As moças abrigadas na Casa geralmente chegam
lá com a autoestima, a inocência, e quiçá até a beleza juvenil diminuídas.
A Casa
trabalha em várias frentes para restaurar e devolver o viço e o amor próprio
dessas garotas. Desenvolve atividades socioeducativas e de complementação
alimentar em um ambiente saudável e acolhedor, através de ações Educacionais,
Psicossociais, Esportivas, Lúdicas, Culturais e de Inclusão Social.
Um dos
projetos que encanta as moças e encanta quem colabora e participa é o Baile de
Debutantes. O evento não é apenas uma festa. É, sobretudo, um momento de
resgate, de esperança e de alegria genuína para moças que, por muito tempo,
tiveram suas vidas marcadas pela vulnerabilidade social.
As
jovens, com vestidos que mesclam cores vibrantes e tecidos que, apesar das
limitações, brilham com a luz da esperança. Esses eventos, planejados com
carinho por uma equipe de voluntários e apoiadores, têm uma missão maior do que
a simples celebração de uma passagem. Simbolizam o reconhecimento de cada uma
delas como protagonistas de suas próprias histórias.
O debut,
tradicionalmente conhecido como a entrada na vida adulta, aqui ganha um
significado especial. É o momento de mostrar que, apesar das dificuldades, elas
podem sonhar, sorrir e acreditar em dias melhores. Emocionamo-nos com risos
espontâneos, olhares de admiração e abraços sinceros. O ambiente é criado em atmosfera de
cumplicidade e esperança renovada.
A
alegria dessas moças não está apenas na festa, mas na sensação de serem vistas,
valorizadas e celebradas — como jovens que merecem amor, cuidado e
oportunidades. A função do debut, nesse contexto, transcende o rito
social. Ele se torna uma ponte de inclusão, um momento de afirmação de que
todas merecem brilhar, independentemente de sua origem ou situação social. Gratidão por ver essas jovens se descobrindo,
sorrindo e acreditando que o mundo ainda lhes reserva muitas surpresas boas. E,
naquele instante, ficou claro: o verdadeiro brilho dessas debutantes não estava
apenas nas roupas ou nos sorrisos, mas na força que elas carregam para
transformar suas vidas.
PS – doações
para próximos eventos: pix
04.566.352/0001-60.
domingo, 18 de maio de 2025
sexta-feira, 16 de maio de 2025
quinta-feira, 15 de maio de 2025
A poesia é necessária?
Ode ao burguês
Mário de Andrade (1893-1945)
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro,
italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques
zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o
francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das
tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
– Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem
arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burgês!...
terça-feira, 13 de maio de 2025
Priorizar o amor e a ação
Pedro
Lucas Lindoso
Nota-se
que houve alguma mudança na Missa. Após a Consagração, o padre dizia: “Eis o
mistério da Fé”. Agora se diz: “Mistério da Fé e do Amor”. Foi suprimido o
advérbio “eis”. Achei bom. É pouco usado. Soa um pouco pedante. É
desnecessário. Trata-se de um advérbio que significa “aqui está”, “olhe”, “veja”
ou “aqui tens”. É usado para apresentar algo ou alguém, geralmente presente ou
próximo do interlocutor.
Porém,
o mais importante foi acrescentar a palavra Amor. A Fé sem amor, sem caridade,
sem ação é vazia. Inócua. Com certeza essa mudança no missal atende às
diretrizes do já saudoso Papa Francisco.
Dentre
as virtudes teologais — Fé, Esperança e Amor – não resta dúvida de que a maior
de todas é o Amor. As três virtudes que iluminam o caminho do homem: Fé,
Esperança e Amor. São presentes divinos que nos guiam, fortalecem e elevam
nossa alma. O Amor resplandece com uma luz especial. Foi o maior ensinamento do
Cristo. Engloba todos os mandamentos. Quem ama não rouba, não mata, não trai,
não corrompe. Honra pai e mãe.
Sem dúvida
que a Fé é o primeiro passo. É a confiança inabalável na presença de Deus,
mesmo quando tudo parece escuro e incerto. É acreditar sem ver, é o farol que
ilumina a jornada nas noites mais densas. Sem fé, a esperança perde seu
sentido, e o amor, sua raiz.
A
Esperança nos mantém de pé, mesmo diante das adversidades. É a certeza de que
algo melhor ainda está por vir, uma âncora que nos impede de naufragar na
desesperança. Ela nos impulsiona a seguir, a lutar, a acreditar que o amanhã
pode ser mais justo e misericordioso.
Porém,
entre todas as virtudes, o Amor brilha com luz própria e que, na essência, é a
culminação de todas as demais: o Amor não é um sentimento passageiro, mas uma
força transformadora. Amor que perdoa, que aceita, que se doa sem reservas. É o
amor que une, que cura, que nos torna verdadeiramente humanos. Sem Amor, Fé e
Esperança perdem seu sentido mais profundo. Pois a Fé sem Amor torna-se rígida,
a Esperança sem Amor é vazia. O Amor é o ápice, o ápice do relacionamento com
Deus e com o próximo. É a virtude que revela a verdadeira essência do ser
humano.
Por
isso, podemos afirmar que, embora a Fé e a Esperança sejam essenciais, o Amor é
o maior de todos. Que nossas vidas sejam permeadas pelo Amor, porque, afinal, é
nele que encontramos a plenitude de nossa existência. E, como disse São Paulo,
“o maior de tudo é o Amor”. Que o próximo papa siga os passos de Francisco.
Priorizando o Amor, a caridade, a ação. Como cantam os Beatles, “all we need is
love”. Tudo que precisamos é o amor.
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Academia Amazonense de Letras elege dois novos membros
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Lourenço dos Santos Pereira Braga, advogado, primeiro Reitor da UEA, ocupou inúmeros cargos públicos. Foi eleito para a Cadeira 5, antes ocupada pelo poeta e prosador Almir Diniz. |
domingo, 11 de maio de 2025
quinta-feira, 8 de maio de 2025
A poesia é necessária?
Emissário do ridículo
Diego Mendes Sousa
Todas as cartas de amor são
ridículas.
Fernando Pessoa
A poesia é a máxima expressão do ridículo
e o poeta é um ser
excêntrico e risível.
O ridículo torna-se íntimo das palavras
e o poema
é a peça orgânica
que viabiliza
o estranhamento da linguagem.
É no poema que o poeta expõe
as suas dores
e as suas mazelas,
a operar a desprezível história pessoal,
a revelar
a sua exótica humanidade.
A poesia é assim,
a insanidade a rir de si mesma.
Prefiro ser ridículo
a ter que perder as paredes testemunhais
dos meus sentimentos
e sofrimentos.
Reencontro a minha infância,
porque é na inocência
(ou ainda no amor ausente ou na urgência da paixão)
que reside toda alma
devota ao ridículo.
terça-feira, 6 de maio de 2025
O trabalhador sustenta o presente e constrói o amanhã
Pedro
Lucas Lindoso
O
primeiro de maio no hemisfério norte é o auge da primavera. A natureza se
renova e as flores mostram sua exuberância e beleza. No norte do planeta, onde
estão a maioria das nações mais ricas e poderosas, também se celebra o Dia do
Trabalhador. Exceto nos Estados Unidos que comemoram o Trabalho em setembro.
Nesse
dia devemos celebrar o trabalhador. Inclusive suas conquistas e promoção e
defesa de seus direitos. A historiadora Dhyene Vieira dos Santos foi
recentemente empossada como membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico
do Amazonas – IGHA. Em seu livro Trabalho & vida urbana[1],
sobre motoristas e condutores de bonde da Manaus do início de século 20, ela nos
ensina que: “O mês de maio em Manaus não se limitava ao dia 1° para as
mobilizações dos condutores. As mobilizações ocorreram em várias datas, como 1°
de maio de 1902, 31 de maio de 1910, 14 a 20 de maio de 1919 e 21 e 28 de maio
de 1927”.
Neste
maio é preciso celebrar a força daqueles que, dia após dia, constroem, cuidam,
criam e lutam por um amanhã melhor. Celebrar aqueles cujas mãos não cansam de
transformar sonhos em realidade. Um reconhecimento silencioso e vibrante de que
o progresso de uma nação está nas mãos de quem trabalha. É uma celebração da
dignidade do trabalho, do suor, da esperança, da perseverança. Cada profissão,
cada atividade, por mais simples que pareça, tem seu valor e seu papel na
grande engrenagem social.
Lembramos
que o trabalhador não é apenas alguém que troca seu tempo por um salário. É o
artesão que molda o futuro, o professor que alimenta mentes, o enfermeiro que
cuida da vida, o agricultor que alimenta a nação, o operário que constrói
sonhos de concreto e esperança. Cada um, à sua maneira, merece reconhecimento,
respeito e gratidão. Ao celebrarmos o trabalhador, também refletimos sobre as
desigualdades, os desafios e as batalhas diárias. Que essa data seja um
lembrete de que o trabalho digno é um direito, uma causa a ser fortalecida, uma
ponte para a justiça social.
É
preciso também renovar nosso compromisso com a valorização do trabalhador, com
a busca por condições mais justas, e com a esperança de um futuro onde o
esforço de cada um seja reconhecido e recompensado com dignidade, respeito e
oportunidades.
Os
trabalhadores são os que fazem a história, sustentam o presente e constroem o
amanhã.
[1]
SANTOS, Dhyene Vieira dos. Trabalho & vida urbana: motoristas e condutores
de bondes em Manaus (1899-1930). Manaus: EDUA; São Paulo: Alexa Cultural, 2024.
domingo, 4 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
A poesia é necessária?
desvãos
Marta Cortezão
Quem ri quando goza / é poesia/ até
quando é prosa
(Alice Ruiz)
meu silêncio lambe tua orelha
e se arvora feito cobra
para infiltrar-te o veneno
meu silêncio se espicha
pelas frestas feito lagartixa
para roubar-te a fala
meu silêncio aflora
e ri que goza
quando lambe
quando cobra
quando se larga e atiça
para confundir-te as horas
e de olhos nos olhos
alimentar-te a prosa
com íntima poesia
terça-feira, 29 de abril de 2025
Em paz, na alegria de Jesus
Pedro
Lucas Lindoso
Papa
Francisco foi ao encontro do Senhor. Um papa alegre, misericordioso. Pregava a
paz e preocupava-se com os pobres e oprimidos. Para homenageá-lo escolho uma
música a qual gosto de ouvir. “Jesus Alegria dos Homens”, de Johann Sebastian
Bach.
“Jesus,
Alegria dos Homens” é uma cantata escrita por Bach, composta em 1723. Bach
compôs essa maravilha de cantata frequentemente associada ao tema da alegria e
da celebração da fé cristã. Coisa que muito agradava ao Papa Chico. Alegria e
bom humor eram fundamentais, dizia ele.
A
música é particularmente conhecida por seu movimento mais famoso, o “Jesu, Joy
of Man's Desiring”, que é frequentemente tocado em diversas cerimônias
religiosas, além de concertos clássicos. Sua melodia suave e harmoniosa,
combinada com letras que falam sobre a alegria que Jesus traz à vida, contribui
para o seu apelo emocional.
A razão
pela qual a música toca o coração e aquece a alma pode estar ligada à sua
beleza melódica, à profundidade espiritual da mensagem e ao contexto em que é
frequentemente apresentada. Muitas pessoas a ouvem em momentos de reflexão. É o
meu caso. Quando uma parte mais materialista de minha personalidade quer
aflorar e me levar ao agnosticismo. Mas logo me questiono e volto a discordar
daqueles que consideram vã qualquer metafísica e qualquer ideologia religiosa,
uma vez que alguns desses preceitos ou ideologias não podem ser comprovados
empiricamente. O Papa Francisco me dava um certo orgulho e alegria em ser
católico.
A obra é um exemplo do estilo barroco,
caracterizado por polifonia rica e ornamentação. A música barroca
frequentemente utilizava contrastes dinâmicos e emocionais, algo que Bach
dominou. As cantatas eram frequentemente utilizadas servindo como uma forma de
educação e reflexão espiritual. Bach era um compositor profundamente religioso
e sua música sacra, incluindo cantatas, oratórios e missas, reflete sua fé. Ele
acreditava que a música poderia comunicar verdades espirituais de maneira
poderosa e emocional. Bach tinha a habilidade de combinar texto e música.
Parece-me que o original em alemão é mais forte e preciso. Mas essa tradução
para o português me agrada e me consola por não dominar o alemão. Vejamos: “É
Jesus minha alegria, /Meu prazer, consolo e paz; /Ele as dores alivia, /E minha
alma satisfaz. /É Jesus meu sol fulgente, /Meu tesouro permanente; /Eu, por
isso, o seguirei, /E jamais o deixarei”. Francisco com certeza gostaria de
ouvir algo alegre e não o mais belo réquiem. Certamente está aliviado e em paz,
na alegria de Jesus.
domingo, 27 de abril de 2025
quinta-feira, 24 de abril de 2025
A poesia é necessária?
A sombra
Isaac Melo
sobre
coisas e gentes,
o
seu sangue escuro,
a
noite derrama
corta
o vazio, o silêncio da palavra
úmido
de corpos, incógnitas
um
cachorro louco
ladra
no vazio das almas
é
noite, os olhos grávidos
dão
luz às sombras
que
habitam a nossa madrugada
das
ontológicas mãos escapam
as
vísceras das horas
nas
entranhas, deuses e demônios,
plasmam
o todo aos pedaços
catar
sentido nos escombros
perdidos
universos paralelos,
luta,
destemida e vã, trava
contra
toda penumbra
até,
por fim, solitário, sucumbir
abraçado
à própria sombra
terça-feira, 22 de abril de 2025
Rei dos Reis
Pedro Lucas Lindoso
No
Domingo de Ramos celebramos a chegada de Jesus a Jerusalém. Foi aclamado pelo
povo com ramos de palmeiras e panos estendidos no chão. Uma chegada triunfal. Porém sem pompas e
circunstâncias. Ao contrário. Estava montado num jumentinho. Mesmo assim foi
aclamado pelo povo como rei. Mas houve
uma conspiração. O golpe foi dado por Judas. E quem estava no poder terreno
continuou. A conspiração deu certo. E Jesus foi julgado pelo Sinédrio.
O
Sinédrio, na época de Jesus, era o conselho religioso e judicial dos judeus em
Jerusalém, responsável por questões religiosas e algumas questões civis. O
processo que levou à condenação de Jesus, conforme os Evangelhos, teve várias
irregularidades, como a falta de um julgamento justo, a apresentação de
testemunhos contraditórios e a pressa em julgar. Sem qualquer observância ao devido processo
legal. Se considerarmos o contexto jurídico moderno, é possível argumentar que,
em um tribunal democrático de nossos dias, Jesus teria direito a um julgamento
mais justo, com defesa adequada, contraditório e ampla defesa.
Essa
comparação é interessante e ressalta como os sistemas de justiça evoluíram ao
longo do tempo e como a proteção dos direitos individuais é uma preocupação
central nas democracias contemporâneas. Se considerarmos a traição de Judas sob
a perspectiva do sistema jurídico contemporâneo, a análise seria bastante
complexa. A traição, conforme entendida no contexto bíblico, refere-se ao ato
de Judas Iscariotes entregar Jesus às autoridades, o que levou à crucificação.
No
Brasil, a traição em si não é um crime tipificado como tal, mas Judas poderia
ser acusado de crimes relacionados, como conspiração ou até mesmo homicídio,
dependendo das circunstâncias. No entanto, a análise jurídica não se restringe
apenas ao ato em si, mas também ao contexto, às intenções e às consequências.
Um
tribunal moderno consideraria diversos fatores, como a real motivação de Judas.
Se teria Judas sido coagido ou manipulado e o real impacto de suas ações. Se
foi o responsável direto pela morte de Jesus ou se foi apenas um facilitador.
Judas teria o direito a um julgamento justo e a se defender das acusações.
Dessa
forma, embora Judas pudesse enfrentar acusações graves, o resultado dependeria
de muitos fatores, incluindo a interpretação das leis, o contexto e a defesa
apresentada. É uma discussão interessante sobre moralidade, ética e justiça ao
longo da história.
Todavia,
Judas nunca foi julgado. Ele mesmo tirou sua vida. Enforcou-se. Por remorso ou
arrependimento? Eis a questão. Jesus foi injustamente julgado, condenado e
crucificado. Ressuscitou e tornou-se para sempre Rei dos Reis.
domingo, 20 de abril de 2025
quinta-feira, 17 de abril de 2025
A poesia é necessária?
Não fosse o ‘se’
Nívea Chagas
Não fosse medo,
Eu era pássaro.
Não fosse escuridão,
Eu era astro.
Não fosse distância,
Eu era a certeza.
Não fosse abismo,
Eu era o pecado.
Não fosse a ausência,
Eu era o beijo.
Não fosse desequilíbrio,
Eu era palmas.
Não fosse morte,
Eu era o riso.
Não fosse não,
Não fosse o ‘se’.