Dance with Iron Fans. Sandra Chang. |
quarta-feira, 31 de julho de 2019
terça-feira, 30 de julho de 2019
Schadenfreude
Pedro
Lucas Lindoso
Schadenfreude é um termo alemão que não tem um
correspondente preciso em Português. Significa a satisfação de alguém com o
infortúnio alheio. Não deixa de ser um prazer perverso.
Não
sou grande conhecedor do idioma alemão. Segundo um amigo brasiliense que visita
Munique com frequência, a palavra “schaden” quer dizer “dano, prejuízo” e “freude”
significa “alegria, prazer”.
Explicou-me
ainda que existe a schadenfreude discreta. É quando esse sentimento, de
certa forma ruim e malvado, restringe-se ao foro íntimo e pessoal. Já a schadenfreude
pública é compreendida como aquele em que o sujeito se expressa abertamente.
Parece
que nós brasileiros estamos vendo isso com certa frequência. Há muita gente
demostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um
terceiro.
Ouve-se
com muita frequência alguém dizer “bem feito”. “Bem merecido”.
Há
um provérbio que diz que “a vingança é um prato que se come frio”. Penso que é
uma situação um pouco distinta do sentimento de “schadenfreude”. Parece-me que
neste caso não há, por parte de quem expressa tal sentimento, a necessidade de
se vingar, mas o prazer no infortúnio do outro.
Conversando
sobre o assunto com meu amigo Dr. Chaguinhas, ele me disse que a vingança não é
um prato que se come frio. Ao contrário, e me explica:
–
Não entendo a vingança como um prato que se come frio. Para mim a vingança
também não tem gosto de prato requentado. A vingança é para ser sorvida como um
delicioso vinho. Servida na melhor taça de cristal da Boêmia. Vinho para ser
engarrafado na data do desafeto. A ser guardado em nossa adega de rancores. E
quando chegar o grande dia, o dia da desgraça alheia, estouramos a rolha. E,
obviamente, antes de beber, podemos nos banhar com parte do vinho, lavando a
alma.
Discordo
do meu amigo Chaguinhas. Como cristãos, devemos exercer o perdão. Mas às vezes
é difícil esquecer. Os franceses dizem:
“Pardonner on pardonne, mais oublier jamais”. Realmente, perdoar se perdoa, mas
esquecer é impossível. Quanto ao “schadenfreude”, só mesmo o povo alemão para
criar uma palavra com essa precisão linguística.
domingo, 28 de julho de 2019
sábado, 27 de julho de 2019
quinta-feira, 25 de julho de 2019
A poesia é necessária?
Paulo Leminski (1944-1989)
en la lucha de clases
todas las armas son
buenas
piedras
noches
poemas
quarta-feira, 24 de julho de 2019
terça-feira, 23 de julho de 2019
Juruti – waku sese
Pedro
Lucas Lindoso
Quando a Amazônia se
chamava Grão-Pará, havia três cidades importantes na enorme região: Belém, situada
no litoral, era a grande capital. Santarém, na região do rio Tapajós, e nossa
Manaus, capitaneando o majestoso rio Negro.
Fomos elevados à
categoria de província e hoje Manaus é a grande capital do Amazonas.
Infelizmente, nossos irmãos do Tapajós até hoje não conseguiram ficar independentes
do Pará. Jamais faltou vontade e houve várias tentativas.
Santarém tornou-se
muito conhecida ultimamente por conta de Alter do Chão. Mas o que muita gente
não sabe é que na região do Tapajós tem uma cidade que se prepara para ficar
tão ou mais famosa que Parintins. Não faltam por lá guerreiros valentes e belas
cunhãs porangas. Falo da mimosa e centenária Juruti.
Se você curte um
sambódromo e um bumbódromo, com certeza vai curtir o tribódromo de Juruti.
É no tribódromo de
Juruti que acontece o TRIBAL - Festival de tribos de Juruti. É sempre no final
do mês de julho, para não atrapalhar o festival de Parintins que é em junho. Esse
ano o festival terá sua 25ª Edição, de 26 a 28 de julho.
Ano passado, os Mundurukus
convidaram os povos da Amazônia, do Brasil e do mundo a reverenciar e retomar o
ponto onde tudo começou. Já os Muirapinima, que perderam por dois pontos (uma
provável injustiça), reverenciaram a essência da vida dos povos satarê-mawé. Os
sateré-mawé jamais se afeiçoaram aos portugueses. Davam ordens às suas mulheres
que não aprendessem a nossa língua. Participaram ativamente da Cabanagem. Foram
eles que transformaram o guaraná em arbusto cultivado, com o plantio e o
beneficiamento dos frutos.
O tema deste ano é
“Resistência Indígena no Coração do Brasil”. Segundo os organizadores, o
fomento à resistência dos indígenas é o principal objetivo. Além da valorização
da cultura e da História local.
Os saterê-mawé praticam
o ritual da tucandeira. É o conhecido e assustador ritual de iniciação para a
vida adulta. Ao enfiar as mãos em uma luva cheia de formigas, durante
aproximadamente vinte minutos, o menino não apenas demonstra estar apto para
vida, mas também ganha respeito e admiração.
Há quem diga que esses
povos guerreiros de grande resignação e audácia tem alguma descendência dos
incas e vieram do Altiplano andino até a Região do Tapajós, hoje também
conhecida como Baixo Amazonas.
Já me considero
torcedor da tribo dos Muirapinima, que parece ser a tribo do povão. Estou indo
conhecer o festival de Juruti. Deve ser mesmo waku sese, que significa muito
bom, em sateré-mawé.
domingo, 21 de julho de 2019
sábado, 20 de julho de 2019
quinta-feira, 18 de julho de 2019
A poesia é necessária?
Noturno
Antísthenes Pinto (1929-2000)
Há um luar azul
percorrendo o meu corpo.
Todas as aves brancas
construíram ninhos no meu coração
e seus cânticos são de
uma tristeza inenarrável.
Vou absorvendo o orvalho
noturno
com a mesma quietude da
árvore curvada no barranco.
Meu maior alimento é o
silêncio
e o deslizar do rio
comumente tranquilo.
A outra metade de mim
vive no espelho
que deforma a minha paz.
Tantas ruas
cruzam-se em meus pés,
tumultuosas, salpicadas de pranto
e seios de todas as cores
e vícios e viços.
As auroras e os
crepúsculos das cidades,
o ar plúmbeo, cinzento
das cidades
arrancaram todo o humor
que eu tinha pelos homens.
(No entanto o sangue
corre nas minhas veias frias).
Ah se a memória se
limitasse ao presente,
todavia, o passado me inunda
a alma
e cicatrizes das mais
torpes
se espalham nos meus
ossos, nos meus nervos,
na minha sombra
espectral, estática sombra roxa.
Meu maior alimento é o
silêncio
e o deslizar do rio,
comumente tranquilo.
quarta-feira, 17 de julho de 2019
terça-feira, 16 de julho de 2019
Desejos de consumo
Pedro Lucas Lindoso
Um vaso chinês comprado em Pequim. Ir a Oktoberfest, em
Munique. Passar o Natal em Nova Iorque e o Ano Novo em Paris. Um quimono
japonês legítimo, comprado em Tóquio. Ou simplesmente ter um papagaio em casa.
As pessoas têm os mais variados desejos de consumo. O meu era
comprar um relógio cuco “Made in Germany”, na própria Alemanha. E fui!
A passagem promocional da TAP RIO-FRANKFURT-RIO, com escala
estendida em Lisboa, estava mais barata que MANAUS-RIO-MANAUS. Não é à toa que
Manaus recebe uma quantidade de turistas bem aquém do que poderia e
desejaríamos. O turismo é uma indústria sem chaminés! E muito lucrativa. O
turismo interno é caro. Por essa razão, muitos amazonenses e brasileiros em
geral, viajam para o exterior.
A Alemanha é um país extraordinário. E a terra dos relógios
cuco. Em especial os relógios cuco Kammerer, fabricados na região da Floresta
Negra, desde 1938, pela família Kammerer.
Esses anos todos de experiência e amor pelo produto que
fabricam se refletem em todo o processo de produção e no resultado final dos
magníficos cucos, produzidos de maneira artesanal e únicos, posto que feitos à
mão até hoje.
A fábrica de relógios Helmut Kammmerer, conhecida pela
abreviatura HEKAS, possui sua própria e especializada carpintaria, com mestres
carpinteiros exclusivos. O material usado é totalmente regional. Os cucos são
feitos de árvores que conhecemos como tílias e, claro, os famosos pinheiros, as
conhecidas coníferas originais e endêmicas na Floresta Negra.
A vendedora me falou, em Inglês fluente, mas com leve sotaque
alemão, que todos os relógios da HEKAS são testados e pendurados de 12 a 24
horas em testes de produção. Só após isso é que os genuínos relógios cuco
Kammmerer deixam a fábrica para seu destino de peça original, da Floresta Negra
para o mundo.
Foi uma alegria comprar o meu cuco, já devidamente instalado
na minha sala de estar. Qual o seu desejo de consumo, ou mesmo o seu objeto
premente de desejo?
segunda-feira, 15 de julho de 2019
domingo, 14 de julho de 2019
sábado, 13 de julho de 2019
quinta-feira, 11 de julho de 2019
A poesia é necessária?
Os poemas que não tenho escrito
Affonso Romano de Sant’Anna
Os poemas que não tenho
escrito
porque
trabalhando num banco me
interrompiam a toda hora
ou tinha que ir à venda e
à horta
– quando o poema batia à porta,
os poemas que não tenho
escrito
por temer
descer mais fundo no
escuro de minhas grotas
e preferir os jogos
florais
de uma verdade que brota inócua,
os poemas que não tenho
escrito
porque
meu dia está repleto de
alô como vai volte sempre obrigado
e eu tenho que explicar
na escola o verso alheio
quando era a mim próprio
que eu me devia explicado,
os poemas que não tenho
escrito
porque gritam
ou cochicham ao meu lado
ligam máquinas tocam discos e
ambulâncias
passam carros de bombeiro
e aniversários de criança
e até mesmo a natureza solerte
se infiltra entre o papel
e o lápis
inutilizando com sua presença viva
minha escrita natimorta,
os poemas que não tenho
escrito
porque
na hora do sexo jogo tudo
para o alto
e quando volto ao papel
encontro telefonemas e prantos
e exigência de afetos,
planos e reencontros
me deixando lasso o pênis
e um remorso brando no lápis
esses poemas que não
tenho escrito
como um ladrão escapando
pelas frestas
ou covarde devorado por
seus medos
e persas
esses poemas que não
tenho escrito
esses poemas
estão lá dentro
me espreitando
alguns já ressacados
outros ressuscitando
outros me acudindo
muitos me acenando
batendo à porta
– me arrombando
me invadindo a sala
com falas corretoras
enciclopédias e planos
esses poemas estão lá
dentro
latentes
me apertando
atando
sufocando
e qualquer dia me
encontrarão
roxo e acuado
senão boiando e afogado
– numa sangria de versos
desatada.
quarta-feira, 10 de julho de 2019
terça-feira, 9 de julho de 2019
Evangelizar – modus in rebus
Pedro Lucas Lindoso
Euclides da Cunha não escreveu somente Os sertões. Em
palestra no IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, o Professor Dr.
Leopoldo Bernucci nos ensina que Euclides da Cunha escreveu vários ensaios,
desde os dezessete anos até sua morte, em 1909.
Chamou-me atenção o interessante texto “Regatão Sagrado”,
manuscrito do autor de Os Sertões, em
que narra o plano de Dom Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará nomeado pelo
Papa em 1860, em construir o Cristóforo. Seria um navio-igreja para singrar nos
rios da Amazônia. Uma grande basílica fluvial, com campanários, púlpitos,
batistérios e altar.
Segundo Euclides da Cunha, a ideia não se efetivou e ele
ironicamente disse ter sido “uma pena”. Vejam a conclusão de Euclides da Cunha,
retirada do livro Ensaios e inéditos,
cujo um dos coordenadores é o próprio Leopoldo Bernucci, professor de Davis,
Universidade da Califórnia:
Imagine-se a cena: um arraial
longínquo, adormecendo ao cerrar da noite; e despertando na antemanhã seguinte
com uma catedral ao lado. No alto da barranca, despertas pelos sinos, as gentes
surpreendidas, em massa, vistas pasmadas, já não reconhecem o próprio chão onde
nasceram.
O Sínodo sobre a Amazônia, que será realizado em outubro no
Vaticano, discutirá a possibilidade de ordenar homens casados e mulheres para
atuarem na nossa região.
Trata-se de uma abertura sem precedentes na história da
Igreja. Na verdade, o Papa Francisco quer dar uma resposta ao que ele chama de
ecologia integral: “o grito da terra e dos pobres”. Nos parece que o Papa
convocou o Sínodo a fim de proteger os povos da Amazônia, que é considerada o
pulmão do planeta.
A nossa Marinha possui navios para prestar assistência
médico-sanitária às populações ribeirinhas, com o propósito de contribuir para
a melhoria das condições de saúde existentes na região amazônica. Será que o
Sínodo pretende resgatar a ideia de dom Macedo Costa e implantar um
navio-igreja, feito o Cristóforo, de que tratou Euclides da Cunha?
Como católico, não sou contra a evangelização. Só que deve
ser feita modus in rebus. Para tudo
deve ter moderação.
segunda-feira, 8 de julho de 2019
domingo, 7 de julho de 2019
sábado, 6 de julho de 2019
quinta-feira, 4 de julho de 2019
A poesia é necessária?
Congresso Internacional do Medo
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso
companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos
desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo
das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois
da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores
amarelas e medrosas.
quarta-feira, 3 de julho de 2019
terça-feira, 2 de julho de 2019
Brahma ou Antarctica?
Pedro Lucas Lindoso
O assunto é cerveja. Não é minha especialidade. Aliás,
prefiro um bom vinho. Ou mesmo o famoso destilado escocês. Mas a cerveja tem
sua hora e vez em nosso calor amazônico, desde que bebida com moderação,
obviamente.
Sou do tempo em que só havia duas opções. Brahma ou Antarctica.
Hoje a quantidade de marcas e tipos diferentes de cerveja fez surgir a
especialidade sommelier de cerveja
concorrendo com os sommeliers de
vinhos.
Outra coisa que tem mudado com o tempo é a maneira de beber a
cerveja e como ela é comercializada. Na minha juventude, como já dito,
tomávamos Brahma ou Antarctica, em garrafas tradicionais de “casco escuro”. As
famílias festeiras tinham sempre engradados em casa. Era preciso ter os
“cascos” para comprar sem o custo adicional do vasilhame. E tinha que ser
“casco escuro”.
Depois veio a Skol em
lata. As latinhas vieram para ficar. Mas sempre preferíamos a cerveja servida
nas garrafas tradicionais, de 750 ml. Sempre Brahma ou Antarctica. Waldomiro,
folclórico jogador do Internacional de Porto Alegre, certa vez agradeceu na TV
o patrocínio da Antarctica, pelas “brahmas” que recebeu em casa!
E tomávamos as cervejas em copos de vidro ou tulipas. Hoje
vejo o pessoal jovem tomar a maneira dos americanos. Garrafas pequenas “long
neck”, sorvidas diretamente da garrafa, sem uso de copos. Ou mesmo usando copos
descartáveis. Na minha época isso era uma heresia. Os alemães, principalmente
na oktoberfest, não abrem mão de tomar a cerveja naquela famosa canequinha, a
tradicional “Masskrug”, que comporta nada menos que 1 litro de muita cerveja.
Fiquei impressionado
com a fila para ver o museu da Heineken, em Amsterdam, na Holanda. A famosa
Heineken Experience. Mas as mais importantes cervejarias do mundo estão mesmo
em Munique, no estado alemão da Bavária. Lá onde acontece a famosa e original
Oktoberfest. As seis grandes cervejarias de Munique – Hofbräuhaus, Augustiner,
Paulaner, Hacker-Pschorr, Spaten e Löwenbrau – não estão presentes apenas na
Oktoberfest ou supermercados, estão abertas diariamente aos seus apreciadores,
bem no coração da cidade.
Mas tenho saudades mesmo da minha juventude, quando tive que
escolher pela Antarctica. Bem gelada e servida na tradicional garrafa de casco
escuro. Bons tempos.
segunda-feira, 1 de julho de 2019
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