domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 3/6
Zemaria Pinto
Os contos
Faremos a seguir breves
comentários sobre cada um dos contos de Tigre
no Espelho. Recomendamos que a leitura desses comentários, aliada a tudo o
que já dissemos antes, seja sucedida pela leitura dos textos de Adrino Aragão,
posto que não pretendemos, de forma alguma, esgotar o assunto. O leitor deve
ter em mente que este resumo é apenas um facilitador, e que nada substitui a
leitura do texto original.
Tigre no espelho – A narrativa que dá título ao livro
mostra-nos o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), um dos escritores
fundamentais deste século, especialista em literatura fantástica. Borges,
acometido de cegueira desde os 55 anos, anda pela casa como se caminhasse por
um labirinto. Na biblioteca, ele encontra-se consigo mesmo, envelhecido. Adrino
Aragão serviu-se de dois contos de Borges para compor o seu. A esse processo,
os especialistas chamam de “intertextualidade” ou cruzamentos de textos. O
primeiro desses textos chama-se “O Outro” e tem rigorosamente o mesmo enredo,
só que invertido: o velho Borges encontra-se com um Borges jovem e cheio de
saúde e os dois entabulam uma conversa na qual não faltam humor e muita poesia.
O segundo texto borgeano no qual Aragão se baseou é “Borges e Eu”, do qual
transcrevemos a primeira frase:
Ao outro, a Borges, é a quem sucedem as coisas.
Compare com uma das falas
do Borges envelhecido. É rigorosamente a mesma, não? Mas Adrino Aragão não é
Jorge Luis Borges e a ótima idéia perde-se num emaranhado de citações, às vezes
gratuitas. Se em Borges o encontro é verossimilhante, em Aragão assume foros de
fantasmagoria, como a espera por De Quincey (escritor morto há 140 anos). Em
Borges nada é facilitado. O fecho de “Borges e Eu” é exemplar:
Não sei qual dos dois escreve esta página.
O Borges de Aragão,
infelizmente, saberia.
A Velha Remington – Jovem e desconhecido escritor
compra uma velha máquina de escrever, marca Remington, de um outro, consagrado,
escritor de contos eróticos e transforma-se, ele também, num sucesso do gênero.
Certa noite, os personagens sobre os quais escrevia, o velho careca e a mulher
de calcinha, tornam-se reais. Pensando estar louco, ele tira um período de
férias, mas, ao retornar, transforma-se em personagem do velho careca, que, por
sua vez, vira escritor.
Este texto, cujo narrador
é onisciente, está entrelaçado com outros do livro. Observe, leitor, que a mulher
de calcinha é a Olga de “Por que não matei Olga?” e o jovem escritor erótico é
o Avelar de “As tias”, que aqui “sonham com aventuras eróticas e orgasmos
impossíveis.”
Uma leitura mais
imediatista afirmaria que houve uma passagem de um estado de sanidade mental à
loucura. Mas o leitor deve evitar essa solução fácil, afinal a literatura é uma
recriação da realidade e não seu mero reflexo.
Você é testemunha,
Ulisses – Escrito
sob a forma de diálogo, porém com um interlocutor que não se manifesta (o gato
Ulisses), este conto é uma reflexão sobre o ofício do escritor. Para manter
acesa a chama, ele acredita que está sempre produzindo uma obra-prima. O escritor
alimenta-se de esperança. A “conversa” com o gato é uma metáfora da condição
solitária do escritor, um criador de mundos que tem na palavra o seu principal
instrumento de trabalho, mas que, se não consegue atingir o público, fica a
falar às paredes. Ou aos gatos.
Chamamos sua atenção para
a semelhança com “O contador de histórias”, sobre o qual falaremos mais adiante.
A situação é a mesma, apenas o enfoque é diferente: escritor apaixonado pelo
seu ofício, jornalista desempregado, abandonado pela mulher.
Marcadores:
Adrino Aragão,
Ensaios,
Jorge Luis Borges,
Tigre no espelho,
Zemaria Pinto
Natal: o mito primordial 2/2
João Bosco Botelho
Apesar de as concepções metafóricas do mundo ágrafo em
torno do simbolismo da terra cultivada não terem sido formuladas em linguagem
teórica, o mito e o rito expressando o elo entre os sistemas de valores foram
reproduzidos nos milênios seguintes com poucas mudanças.
É também por esta razão que as mentalidades refletem,
continuamente, por meio da memória historicamente acumulada, as ações já
vividas pelo outro. A vida social é, em grande parte, a repetição dos atos
passados, muito em torno dos mitos.
A concepção mítica da realidade parece ter função semelhante
aos instintos e pode refletir certo arranjo no equilíbrio da comunidade. Dessa
forma, o corpo mítico pode ser entendido como uma história de longa duração.
Desta forma é possível compreender porque a teologia tem
na construção teórica certos ritos, mitos e símbolos oriundos de uma origem
comum.
Infelizmente, nos poucos anos em que as pessoas conseguem
viver, só muito raramente existe o testemunho da passagem do banal em mito. Adquire
reprodução significativa na comunidade onde se desenvolve quando encontra
ressonância na utilidade coletiva.
Existe na cidade de Newgrange, na Irlanda, um túmulo que
serve de orientação climática para os agricultores da região. Na década de 1960,
os astrofísicos da Universidade de Dublin comprovaram que o local, construído
há mais de cinco mil anos, é o mais antigo alinhamento astronômico conhecido
(Jornal do Brasil, 08. 02. 89).
Essa sepultura pré‑histórica, construída por um povo
agrário desconhecido, contém uma abertura de vinte centímetros, no teto, por
onde, no solstício do inverno, a luz natural penetra e chega exatamente onde
deveria estar repousando o morto celebrado.
É particularmente expressiva a festa do nascimento do Sol
Invicto (Dies Solis Invicti Natalis),
comemorada na Roma, junto à saturnal. Quando o astro parecia se dirigir ao
Norte, os trabalhos eram interrompidos, as casas decoradas com árvores, os
parentes trocavam presentes e era intensificado o culto ao deus asiático Mitra
(Natalis Solis).
As religiões
monoteístas e politeístas mantiveram um substrato comum a esse respeito. O
vedismo (Bahagavad‑Gita 15, 6) tem ensinamentos equivalentes aos da tradição
judaico‑cristã (Is 40, 10‑11 e Jo 21, 15‑17).
O Cordeiro e o Sol são descritos nos livros sagrados com
a clara interdependência das duas fases da humanização. O primeiro, oriundo da
primitiva relação do homem com os outros animais, representa a unidade do
rebanho domável da divindade dominante; o segundo, herança do sedentarismo, é a
condição insubstituível da sobrevivência.
Existem evidências de que o cristianismo primitivo foi
confundido com o culto solar, tanto na elite como no povo iletrado. Os
maniqueístas afirmavam que Jesus Cristo era o próprio Sol. Dois dos mais
importantes ideólogos cristãos, Cirilo de Jerusalém e Teodoro, fizeram a mesma
associação.
Uma das estratégias de conversão está embutida na sedução
proporcionada pelo advento, isto é, a chegada da divindade como marco do novo
tempo de mudança.
Os doutores da Igreja Católica, durante vários séculos,
ficaram preocupados com a data do nascimento de Jesus Cristo. Em 194, Clemente
de Alexandria propôs o 19 de novembro do ano 3 a.C., enquanto Epifânio lutou
pelo dia 30 de maio. Na realidade, não existe qualquer comprovação de que
Cristo tenha nascido neste ou naquele dia.
Dionísio, em 525, encerrou a questão, fixando o advento
no dia 25 de dezembro de 754 depois da fundação de Roma (ab urbe condita). A rendição da alta hierarquia romana frente ao simbolismo
do solstício do inverno gerou protesto entre os católicos armênios e puritanos
ingleses. Ambos afirmaram ser heresia imperdoável associar o culto de Jesus à
adoração pagã.
A querela foi gradativamente vencida porque não existe
lugar para a historicidade factual na eclosão do pensamento religioso. A
metamorfose dos símbolos, expresso pelo pensamento, amparada pelo processo
social fincado nas ideias, assegura a perenidade da crença ao transformar o
invisível em visível com nova roupagem.
Inexoravelmente
marcada pelo passado remoto, a humanidade tem encontrado nas relações sociais
renovadas o espaço para comemorar o mito primordial – o Natal – oriundo da
marca essencial da natureza observável na memória coletiva, como mensagem de
bem aventurança.
Por outro
lado, pouco importam as construções das ideias para melhor entender a fé
religiosa por meio dos mecanismos neurobiológicos: Jesus Cristo, o Filho de
Deus, está presente no advento do Natal, irradiando bondade entre bilhões de
pessoas no planeta.
quarta-feira, 27 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
Márcia Perales eleita para a Academia Amazonense de Letras
Depois de muitas peripécias, a professora Márcia Perales foi eleita para a cadeira 21, de Tenreiro Aranha, da Academia Amazonense de Letras.
O último ocupante dessa cadeira foi o poeta Luiz Bacellar.
A professora certamente vai quebrar uma pedreira para escrever o seu dicurso de posse, onde, obrigatoriamente, deve analisar a obra dos dois poetas: o seu antecessor e o seu patrono.
Saiba mais:
1 - Carta aberta à professora Márcia Perales;
2 - Membros da AAL questionam;
3 - Claudio Chaves renuncia.
Marcadores:
Academia Amazonense de Letras,
Claudio Chaves,
Luiz Bacellar,
Marcia Perales
domingo, 24 de março de 2013
Manaus, amor e memória CI
sábado, 23 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 2/6
Zemaria Pinto
Unidade temática
Tigre no Espelho tem a literatura como referência em dez de suas doze narrativas.
As exceções são para “Antes que se apague”, onde não há qualquer menção à
literatura, e “As tias”, no qual o único relacionamento que se faz é com o fato
do personagem Avelar ser chamado de poeta. Mas essa classificação é simplista e
óbvia. Acima relacionamos os títulos com características metalinguísticas. Em
todos eles o leitor poderá observar que há uma preocupação explícita com o
fazer literário. Se a eles juntarmos o conto “Antes que se apague”, que mostra
um recorte da vida de um escultor, ampliaremos essa observação: teremos a
problematização do ato de criar, de fazer arte, e não apenas literatura. Esse é
o tema predominante do livro, presente em três quartos das narrativas: a
criação problematizada, posta em dúvida.
O outro quarto
circunscreve-se à literatura como simples referência (“Você é testemunha,
Ulisses” e “A Condessa”, além do isolado “As tias”). Ocorre que “A Condessa”
foi “escrito” pelo personagem-narrador de “Aranha tece a teia” e “Meu contrato
milionário”, o que o coloca como parte integrante do processo metalinguístico
e, consequentemente, da problematização do ato de criar, aumentando, assim, o
número de narrativas sobre o tema para dez.
Podemos ainda anotar um
subtema, também de cunho metalinguístico, desenvolvido em três narrativas: a
busca do motivo para escrever. O leitor poderá observar isso em “Aranha tece a
teia”, “Anotações para um conto” e “Meu contrato milionário”.
Estilo
Pelo menos cinco das doze
narrativas de Tigre no Espelho são
facilmente classificáveis quanto ao estilo: “Tigre no espelho”, “A velha
Remington”, “A barata”, “Anotações para um conto”, e “Por que não matei Olga?”.
O leitor deve observar as situações inusitadas, nas quais a fábula invade a
realidade ou vice-versa. O motivo condutor desse procedimento está explícito no
mote “nada é mais real do que o sonho”, dito por um personagem de “Tigre no
espelho” e repetido por outro de “A barata”. A esse estilo, no qual os
acontecimentos contrariam a lógica e as mais elementares leis da física, e as
fronteiras entre o real e o imaginário desaparecem, convencionamos chamar de “realismo
fantástico”.
Marcadores:
Adrino Aragão,
Ensaios,
Tigre no espelho,
Zemaria Pinto
Adrino Aragão lança "Caderno do escritor" na AAL
Capa do novo livro de contos de Adrino Aragão. |
Será no próximo sábado, dia 23/03, às 10h, no Salão do Pensamento Amazônico da Academia Amazonense de Letras, o lançamento do mais novo livro de Adrino Aragão: Caderno do Escritor.
Na ocasião, será lançado também o livro O conto à meia luz, de Joaquim Branco, tese de pós-doutorado sobre a contística de Adrino Aragão.
A apresentação de ambos os livros, em forma de palestra, será feita pelo escritor Zemaria Pinto.
Autor de 12 livros de contos, Adrino Aragão é amazonense, radicado em Brasília. É membro correspondente da Academia Amazonense de Letras.
Capa do livro de Joaquim Branco sobre o autor amazonense. |
Marcadores:
Academia Amazonense de Letras,
Adrino Aragão,
Joaquim Branco,
Zemaria Pinto
Natal: o mito primordial 1/2
João Bosco Botelho
Cada vez que a roda do tempo – e especialmente a do tempo litúrgico –
traz de volta o advento, é sempre oportuno lembrar que essa expressão significa
a vinda de Jesus Cristo. É essa vinda que o tempus
adventus quer comemorar, ao preparar, durante quatro semanas, a festa do
Natal.
(Dom Lucas Moreira Neves)
A cultura material é, sem dúvida, muito mais
transformável do que a mentalidade. Esse pressuposto fica ainda mais claro
quando entendemos a estreita dependência entre elas. A primeira, ligada ao
conforto (aqui entendido como a fome e a sede saciadas e o abrigo contra as
intempéries), tem relação com a natureza, o homem e os produtos. A segunda,
muito mais complexa é fruto do intrincado mecanismo neurobiológico, ainda
desconhecido, da relação entre o ser e o objeto: o pensamento.
Após conhecer os fantásticos avanços da engenharia
genética, não temos como deixar de considerar a possibilidade de que as ideias,
mais antigas e significativas, relacionados com a sobrevivência, localizadas na
memória, tenham deixado marcas específicas no genoma (genes controladores da
herança genética) durante o processo evolutivo.
Parece lógico supor que a força do pensamento,
reproduzindo ideias muito antigas, mesmo que sob metamorfose, frente à cultura material,
reside exatamente na característica de reprodução: transmitida nas gerações
seguintes, sofrendo a influência decisiva do sistema sociocultural, de forma
semelhante às qualidades físicas.
Assim poderíamos explicar as agruras do poder político
para obter mudança revolucionária nas crenças e ideias religiosas. As
tentativas conhecidas foram acompanhadas de instransponível oposição coletiva frente
à autoridade.
O desmoronamento incrivelmente rápido do comunismo no
Leste europeu também mostrou de modo insofismável essa assertiva. O arcebispo
albanês Simon Jubani, encarcerado durante vinte e dois anos, pelo enfrentamento
ao ateísmo de Estado, decretado pelo ditador Enver Hoxha, celebrou a primeira
missa, após a morte do ditador, na capela do cemitério da cidade de Shkoder,
assistido por mais de cinco mil fiéis (Folha de São Paulo 17. 11. 90). Milhares
de albaneses, libertos das amarras implacáveis do patrulhamento ideológico,
retornaram aos templos, antes transformados em viveiros de patos e rãs, com a
fé renovada e tornada pública pela segurança física.
Aquele ato de fé também evidenciou que o pensamento
coletivo, ao longo da transformação sociocultural, tem mantido acesa a chama
dos ritos que celebram os ritmos cíclicos da natureza visível.
Podemos imaginar o que representou para as pessoas que viveram
em regiões com inverno rigoroso, há milhares de anos atrás, o aparecimento do
Sol resplandecente para aquecer os corpos e a terra.
Os acontecimentos seguidos ao sedentarismo dos caçadores‑coletores,
no final do Neolítico, estão contidos no mesmo contexto de memorização. O laço
anterior com os outros animais foi substituído, pouco a pouco, pela nova
intimidade com a terra cultivada. A ocra, pintada nos ossos descarnados, como
marca do sangue, símbolo da vida, achada em numerosos esqueletos pré-históricos,
foi deslocada pela semente e pelo esperma. A mãe‑terra, sulcada pelo arado e
fertilizada pelos raios solares, continua festejada.
O alimento, indispensável à vida, sempre representou mais
do que a coisa material; era a comunhão do homem com essa terra arada, produtora
do pão, que sacia a fome, e do vinho, fonte dos sonhos acalentados.
As celebrações religiosas, como a missa cristã, milhares
de anos depois continuam guardando lugar de destaque para as refeições, onde o
pão e o vinho, ambos filhos da mãe‑terra, estão sempre presentes.
Os incas do altiplano boliviano, sobreviventes de uma das
mais brutais conquistas que o mundo conheceu, depois de quase quinhentos anos
de humilhações, continuam resistindo e rendendo graças à bondade da Pachamama,
a imemorial mãe‑terra da cultura andina.
Os estudos arqueológicos atestam, com larga margem de
segurança, que os símbolos que festejam a terra cultivada, compõem parte da
cultura dos povos agrários desde as suas origens.
terça-feira, 19 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
Angelim-pedra
David Almeida
Os povos, a sociedade, as cidades, o mundo,
giram em torno das tendências criadas pela tal globalização, que favorece com
os seus temperos, mais ainda, o ilusionismo capitalista, que cada vez mais
robotiza a humanidade.
Sob a batuta das tendências os mais espertos
manipulam a massa, e amassam a massa, e, espremem a massa, até a massa ficar
massa.
Agora as tendências, dentre outras, é a
preservação da natureza, tendência essa que não sai do papel e dos discursos inflamado
dos criadores das ONGS – não são todas, claro - e aí, muito dinheiro é
preservado nos bolsos de quem levanta essa bandeira.
A gente olha pra todos os lados e não vê
preservação, os nossos igarapés estão todos poluídos, as margens do rio Negro
também. Mas nem tudo está perdido, se tivermos vontade mudamos esse cenário e o
mundo. Contido desse tema fui fazer uma visita à Reserva Adolpho Duque.
Dentre
muitas coisas boas existentes lá, uma chamou-me mais atenção: em uma de suas
trilhas deparei-me com uma árvore imensa, frondosa, bonita, que nunca tinha
visto. Só conhecia por nome. Fiquei maravilhado com tanta beleza. Pus-me a seus
pés, e olhei para cima, tive a sensação de estar na terra dos gigantes. Seus
galhos em performance perfeita pareciam entrelaçarem-se, alongando-se no céu azul.
Sob
tamanha grandeza, vivendo em um mundo onde a violência está em todo lugar, me
senti por momentos protegido; seguro, e, sob sua sombra pensei: aqui ninguém me
toca! Mas, a realidade me tocou, e lembrei que a ganância do homem em busca de
riqueza e ostentação o cega, passando por cima da própria vida.
Quantas
e quantas arvores dessas, já não viraram cinza, fumaça, carvão ou um (i)móvel
frio e quadrado dentro de uma morada humana? Simplesmente adornando vaidades,
que sadicamente sorriem de orgulho e satisfação dizendo: “olha, é de madeira de
lei”.
Depois
percebi que eu estava em uma área protegida; a Reserva Adolpho Duke. Aí
respirei fundo, mas voltei a pensar: até quando essa reserva vai ser reserva?
Quem vai impedir o tal progresso ditado por um capitalismo selvagem, que
transforma tudo em produto, e, como um rolo compressor passa por cima de
qualquer coisa, na famigerada corrida por lucro e poder? Bem, preferi curtir
aquele momento tão cheio de amor pela vida, que fez minha emoção abraçar aquela
arvore imensa, majestosa, bela, e ter certeza da minha razão de viver, e lutar
pela vida; da certeza que o homem é a própria natureza que toma consciência de
si próprio e por si só pode destruir-se.
Amar a
vida é cuidar da natureza para garantir o futuro da nossa existência. Derrubar
uma arvore é plantar a escassez de vida nesse planeta ainda azul. Preservar uma
arvore é manter a sombra pelos caminhos da vida; é cuidar da fonte, onde a água
rega a vida, para povoar rios, selvas, terras e mares.
Debaixo
dessa arvore a reflexão bateu como um relâmpago, reativando meu cérebro,
iluminando o pensamento, clareando o que a modernidade, o progresso, a correria
em busca por “dias melhores” tinha quase apagado. E várias cenas na minha
lembrança vieram à tona, coisas que vi, que fiz e que poderia intervir para não
acontecer, mas deixei passar, por simples desconhecimento da importância, que
é, para todos nós, para o futuro da humanidade, o cuidar do meio ambiente. Nas
escolas por onde passei nunca tocaram no assunto. Eu a olhei de novo com um ar
de desculpas, mas, como se fosse minha irmã, minha mãe, meu pai, minha família,
relutei em deixá-la, contudo, antes de me despedir, quis saber do seu nome, e
alguém me falou que era um angelim-pedra, com mais ou menos 400 anos, e, uns 45
metros de altura.
domingo, 17 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
quinta-feira, 14 de março de 2013
Tigre no Espelho – Análise da obra 1/6
Zemaria Pinto
O gênero
Tigre no Espelho constitui-se de doze narrativas curtas, classificáveis no
gênero conto.
O leitor pode achar
ociosa a pergunta, mas, afinal, o que é conto? Como ele se distingue, por
exemplo, do romance, da fábula ou da crônica? Bem, o espaço não é apropriado
para digressões teóricas comparativas, por isso, sejamos objetivos. Comparando
com o romance, que é formado por diversas tramas, digamos que o conto seja um
recorte, uma amostra, um pedaço do romance, com algumas características
peculiares: o conto, ordinariamente, mostra uma história, revelando um conflito
(nem sempre solucionado), passado em um determinado lugar, num lapso de tempo
restrito.
Traduzindo: o conto deve
ter unidade de ação, de espaço e de tempo. Acrescente-se a estas a unidade de
tom, observada na fluência da narrativa, que deve ser econômica e direta.
Outras características ainda podem ser apontadas no conto: linguagem concisa,
poucas personagens, predominância do diálogo sobre a narração.
Feitas essas observações,
propomos a leitura atenta de Tigre no
Espelho. Observe que o autor, Adrino Aragão, mantém-se fiel às regras
clássicas do conto, cuja origem, aliás, confunde-se com a própria origem da
humanidade: contar histórias é uma atividade lúdica que começa, com toda
certeza, antes mesmo do estabelecimento da linguagem escrita, através do que se
convencionou chamar de tradição oral. Algumas passagens da Bíblia, por exemplo,
especialmente no Velho Testamento, guardam essas qualidades.
Linguagem e Metalinguagem
Tigre no Espelho não se caracteriza pelo uso de uma linguagem invulgar. O
autor optou pela objetividade e pela simplicidade de expressão, sem que isso
lhe seja depreciativo. Repetimos: foi uma opção. Salta aos olhos, entretanto, o
uso recorrente da metalinguagem, que consiste em revelar ao leitor as entranhas
da própria obra, sua construção, seus elementos estruturais ou mesmo as
obsessões temáticas do autor. A metalinguagem literária mostra a literatura
desmistificando a si mesma. Observe, como exemplo, o seguinte fragmento,
extraído de “Anotações para um conto”:
Que diabo! Um escritor não pode ficar tanto tempo sem
escrever. Por mais que me esforce não consigo escrever nada. Nem um conto
sequer. O último trabalho como que me sugou totalmente. Decidi não ficar
esperando pela inspiração e tentei desenvolver algumas idéias mas não deu
certo. Só consigo escrever impulsionado por uma força interior me sufocando,
gritando para sair.
Ora, o narrador (não
confunda com o autor) está lamentando que não consegue escrever, entretanto, já
está escrevendo. O seu tema, podemos assim simplificar, é a própria falta de
ânimo para escrever.
Além do citado, há pelo menos
outros sete contos classificáveis como metalinguísticos: “Tigre no espelho”, “A
velha Remington”, “Aranha tece a teia”, “A barata”, “Meu contrato milionário”, “O
contador de histórias” e “Por que não matei Olga?”. Ao fazermos a análise
individual de cada narrativa, o leitor compreenderá melhor o uso da
metalinguagem como recurso literário.
Obs: publicado no livro Análise Literária das Obras do Vestibular 2000 (Manaus: EDUA, 1999).
Marcadores:
Adrino Aragão,
Ensaios,
Tigre no espelho,
Zemaria Pinto
quarta-feira, 13 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
Platônica VI
Francisca de Lourdes Souza Louro
Muitas lembranças são frustrantes e muitas dores desperdiçadas. Algumas são revividas e rapidamente postas de lado, enquanto outras, recebem a permissão de se dilatarem e encherem muitas páginas. Assim é lembrado o Amigo Bacellar se assim o posso considerar. Falar dele fez-me evocar sentimentos ao lembrar a figura miúda em que a velhice o transformou.
De volta ao “muito tempo atrás”, quando se joga a rede no passado, a memória faz uma seleção estreita, arbitrária do que relatar, mas, em se falando de Bacellar, o prazer será invocar, mais que descrever. Tenho em mente que, após certo ponto, quando os esforços de uma pessoa redundaram em uma obra, o escritor experimenta a si mesmo como o Dr. Frankenstein e também como o monstro. Bacellar sabia que o ato de escrever era por a si mesmo em julgamento. Porém, lembrarei o homem, somente.
O primeiro contato com o homem Bacellar foi no Colégio D. Pedro II (Colégio Estadual do Amazonas), ele, professor, eu, aluna, não dele, mas o conheci por causa de um fato inusitado que ocorreu com o mesmo, no Cine Polytheama. Ainda lembro-me do filme e do ator, era o mexicano Cantinflas.
Já com o poeta (ele odiava essa palavra) foi através dos livros em tempos de estudante do curso de Letras na UFAM. Por seus textos logo se vê um escritor com características próprias, de uma verve que deixa os leitores em plena magia e encantamento, pela especialidade e transformação que dá à palavra.
Depois, tive encontros casuais com o já“velho” homem Bacelar, sempre acompanhado de Tainá/Giele e Zemaria Pinto, os escudeiros amigos, inseparáveis, com os quais sempre pôde contar nesta fase da vida. Assim, é mais fácil definir o homem, pois o poeta só o encontro nas páginas dos livros, em poesia. Essa é a magia da existência de todos que nascem humanos e se tornam poetas.
Encontrei Bacellar em diversos momentos bons de sua vida avançada. No Shopping Manauara podia encontrá-lo sempre às tardes, escolhia um livro, sentava em uma das poltronas e lia-o, até terminar (claro, sem pagar). Isso foi ele mesmo quem me confessou, e sugeriu-me a fazer o mesmo. Nessas tardes de leituras, uma paradinha na lanchonete para um chá, isso eu vivi, foi mágico receber o convite e participar daquele momento. No encontro o risinho maroto, pegava a mão e com mesura de Dom Juan, beijava-a, um carinho desnecessário, mas que dava asas à imaginação. Um Lord..
Ter Bacellar num sábado para o almoço, foi a oportunidade que tive de estar mais perto e saborear, não só os sabores do prato servido, bacalhau acompanhado de um bom vinho, isso ele apreciava muito, mas também das conversas, esse era o momento que aproveitava para exibir a cultura, falando em francês, japonês e, se sabia de verdade, isso ele levou. Chegava de bengala, jaqueta e chapéu, mais parecia um Dândi. Fomos ao restaurante Pina, na Joaquim Nabuco, para encontrar os amigos, os encontros com o Zemaria e Tainá/Giele eram para comemorar a amizade, saudar a vida.
Em outras oportunidades, foi na Livraria Valer, pela manhã onde há encontro de intelectuais para lançamentos de obras, e neste, especialmente foi o relançamento de 50 anos do Frauta de Barro, nona edição, onde reuniu pessoas para o congraçamento poético do irônico Bacellar. Intimamente ele era um homem azedo, introspectivo, calado, mas observador, talvez pela vida solitária que levava e assim se tenha transformado, não gostava de adulações, exortava os bajuladores da vida acadêmica. Embora se comportasse com delicadeza, porém, com esses, ficava evidente em suas respostas a fúria contida em si.
Na doença, vi um homem debilitado no corpo, mas também, nunca o vi mais forte, porém era como um Hércules, e sua força era a palavra. No fim, sucumbiu ao sono eterno, a morte da carne, pois o espírito permanece despojado, irreverente como o pomar poético que deixou a todos nós.
Bacellar era avesso às atitudes mesquinhas do ser, mas em ocasiões oportunas pude perceber que não contemplava alguns outros do mesmo ofício, e eu me questionava: despeito? Nunca; Inveja? Jamais. Bacellar não quis ser Estrela, não quis o Céu, mas, talvez esteja lá fazendo graça, e rindo, mesmo com um risinho sinistro, fechando os olhinhos miúdos, para os que ficaram por aqui a querer exaltá-lo.
Não ria de mim, POETA, pois, ao pronunciar-me diante destas lembranças, tive em mente, somente, a satisfação da rememoração afetiva que o convívio contigo me deixou. Ou melhor, ainda me acompanha no prazer de te ler, de ter-te ouvido, olhado, te contemplado em exposições poéticas e, um dia, até me ajoelhado no chão à procura do que dizias ter perdido (um relógio) que não encontrei. Isso foi na morada provisória antes da morte do escritor. Não perdeste nada, ganhaste na memória dos que aqui estão o propósito de ainda permanecer vivo na lembrança, na saudade que os teus poemas nos proporcionam, não só de ti, mas da cidade que neles contém, pois te despojas em mansidão, porém, franco no desejo de proporcionar sabor do grande drama que é ser Poeta. E por ti, para ti, viva o Poeta, ele não morreu.
quinta-feira, 7 de março de 2013
A vingança do carapanã atômico
Zemaria
Pinto
É
uma lei universal consuetudinária: todo texto teatral voltado ao público
infantil tem duas finalidade intrínsecas: a primeira, de caráter lúdico,
resulta na farra que a garotada apronta ao longo da encenação (e que,
normalmente, prossegue no pós-espetáculo); a segunda, tem caráter propedêutico,
visando fornecer ao pequeno espectador amostras éticas, separando, de modo
claro e indubitável, o bem do mal, o trigo do joio, a macaxeira da mandioca
etc.
(Macunaíma,
que, mal-educadamente, como todo bom herói tropical, me lê por sobre os ombros,
reclama que não está entendendo nada! Consuetudinário? Intrínseco? Lúdico?
Propedêutico? Indubitável? Que língua é essa, afinal? Chita, enxerida como
sempre, garante que não é inglês. Tento simplificar: embora isso não esteja
escrito em lugar nenhum, toda história infantil, ao mesmo tempo em que procura
divertir, busca também passar uma lição. Depois de um duplo “ah, bom, tou
entendendo...”, os dois saem porta afora, cochichando e rindo. Acho que ouvi
algo como “leseira”, mas deixa pra lá... É difícil mesmo escrever para
crianças.)
Agora,
falando sério. A vingança do carapanã
atômico, de Ediney Azancoth, publicado pela primeira vem em 1976, e
encenado em diversas ocasiões, mantém-se atual porque traz em sua substância
aquelas duas finalidades universais a que nos referimos lá em cima: é, a um só
tempo, engraçado e reflexivo. Para efeito didático, poderíamos separar uma
coisa e outra. Mas isto é apenas uma orelha e orelhas não precisam parecer mais
do que são: orelhas. Por isso, vamos refletir sobre o engraçado.
A
floresta invadida por estrangeiros, que querem construir nela uma estrada de
ferro, por onde passará o trem azul, é uma ideia engraçada, porque sabemos que
esta não é a vocação da nossa floresta, entrecortada de rios navegáveis. A
reação dos nativos, liderados pelo “herói” Macunaíma, é pela afirmação da
soberania – não são contrários apenas ao trem, não importa sua cor, mas à
presença invasiva do estrangeiro. E aqui, mais uma ideia muito engraçada: Chita
e Tarzan, heróis dos quadrinhos, representam o suprassumo do imperialismo de
exportação; vindos da África, eles deviam entender muito de florestas... Mas
não contavam com a nossa astúcia: a floresta tem a protegê-la um Gênio, além da
Noite e do... Carapanã, que, tal um D. Quixote dos trópicos, enfrenta qualquer
parada.
A
reedição deste clássico do nosso teatro deve proporcionar novas encenações, que
devem, por sua vez, trazer a reflexão à ordem do dia. Crianças não são os seres
alienados a quem se destina boa parte dos espetáculos ditos infantis. Ao
contrário, dar às crianças textos do nível de A vingança do carapanã atômico é contribuir para que, num futuro
não muito distante, elas exijam e consumam teatro de boa qualidade. E não se
limitem apenas à dramaturgia pasteurizada e de gosto duvidoso oferecida, em
troca da publicidade massificadora, pela televisão.
Obs: orelha do livro A vingança do carapanã atômico, de Ediney Azancoth (Manaus: Valer, 2003).
Marcadores:
Apresentações e orelhas,
Ediney Azancoth,
Ensaios ligeiros,
Zemaria Pinto
Práticas de medicina na pré-história
João
Bosco Botelho
As
análises arqueológicas e paleopatológicas
estabeleceram algumas relações das
práticas de curas na pré-história. Como as comunidades
ágrafas objetivavam a sobrevivência, as relações
vida-morte e saúde-doença deveriam estar entre as fundamentais, já
que interferiam na segurança
pessoal e coletiva .
Nesta
fase , quando
o homem primitivo
começou a tentar modificar
o processo vida-morte e saúde-doença – fez-se curador!
A
comprovada ação intencional do homem sobre o homem com intenção de mudar o
curso da morte data de 25.000, com o achado do osso do braço de um neanderthal
que foi submetido à amputação. A cirurgia foi bem sucedida e o homem viveu
muito tempo após a intervenção cirúrgica.
Sem
dúvida , as doenças
existiam muito antes do aparecimento do Homo sapiens; a maior questão
é tentar saber como as sociedades
primitivas se relacionavam com as doenças , na luta pela
sobrevivência .
O
estudo dos fósseis mostra que o homem pré-histórico estava a sujeito
algumas doenças semelhantes as que nós continuamos enfrentando nos
dias atuais .
A fratura traumática, no neolítico, foi a doença mais
frequente, com sinais evidentes de infecção do osso , a osteomielite , semelhante
a que se encontra
nos hospitais
de hoje .
Também
se tornou possível estabelecer a existência de doenças
sistêmicas, não traumáticas, como a denominada gota
das cavernas , uma espécie
de reumatismo do homem
pré-histórico, e várias bactérias
pré-históricas fossilizadas. O pólen de Nenúfar , designação de diversas plantas
da família das ninfeáceas, capazes de determinar reação alérgica
no homem atual, existe desde o pleistoceno médio ,
isto é, há mais
de 100.000 anos .
Certos
autores , especializados em História da Medicina , arriscam responder em comparação com o comportamento
de outros animais , quando
estão feridos ou doentes :
lambem os ferimentos , fazem limpeza mútua e comem
plantas eméticas.
É
provável que
o homem primitivo
tivesse se comportado da mesma maneira , sugando a área
ferida com sangramento e pressionando o local ferido para parar a hemorragia.
Perdura
a questão da existência
do ritual mítico-religioso ligado à busca
das causas e curas das doenças . Na gruta
de Trois Fréres, nos Pirineus franceses, é intrigante a pintura
do personagem em
movimento de dança ,
datando com mais
de 10.000 anos A.C., travestido de cervo,
em atitude
sugerindo espécie de ritual, semelhante em tudo ao ritual
da dança dos bisões ,
praticado pelos índios
do norte dos Estados
Unidos, durante cerimônia
simbolizando o poder animal
na cura das doenças.
quarta-feira, 6 de março de 2013
terça-feira, 5 de março de 2013
Aquela noite no Porto
Marco Adolfs
Uma noite
extremamente fria havia invadido o Porto naquela noite. Eu havia descido para
comer alguma coisa e tomar uns tragos do famoso vinho. Ah!... E ficar olhando o
rio, as barcas e as pontes, enquanto esquentava as minhas tripas. Foi quando o
amigo que me acompanhava, um famoso escritor português, disse:
– A cidade do Porto é conhecida como a Cidade
Invicta. É a cidade que deu o nome a Portugal; e isso em 200 a.C., quando era
chamada de Portus Cale. Mas vamos às “Tripas
à moda do Porto”... (ele é de uma confraria especialmente dedicada a este prato
típico)... Pois foi por isso que o pessoal daqui ganhou a alcunha de
"tripeiros", uma expressão carinhosa.
Comi, bebi
e esquentei as minhas tripas, goela abaixo. Quando amanheceu, o porto, ali
perto, fazia jus ao nome do antigo lugar... Portus Cale... Quente... Muito
quente.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Cláudio Chaves renuncia à Secretaria Geral da AAL, por não concordar com manipulação
O acadêmico Cláudio Chaves divulgou hoje entre seus pares uma
carta datada de 31 de janeiro último, onde pede demissão, “em caráter
irrevogável e irretratável”, do cargo de Secretário Geral da Academia
Amazonense de Letras. Como, passado mais de um mês, não obteve resposta, o
acadêmico resolveu tornar pública sua decisão, especialmente porque a mesma
está ligada aos fatos envolvendo a sucessão de Luiz Bacellar, na cadeira de
número 21, fartamente divulgados na semana passada.
Textualmente, Chaves diz que a ata de 29/01/2013 foi
manipulada para incluir um assunto não tratado naquele evento: a publicação, em
25/01, do Edital 01/2013, que antecipa as inscrições para a cadeira 21,
divulgadas antes para março.
Para saber mais:
Marcadores:
Academia Amazonense de Letras,
Claudio Chaves,
Luiz Bacellar
“Filma nóis aí”
David Almeida
A TV faz parte da nossa vida, já está
inserida no dia-a-dia da nossa sociedade, como uma instituição de extrema
importância na ligação da existência do ser humano com o planeta.
A internet, hoje, é o meio de
comunicação mais importante do mundo, pela convergência de mídias que encorpa,
mas ainda não atingiu a praticidade e a popularidade da Televisão em todos os
níveis da sociedade.
Quem não chega em casa e vai logo
ligando a TV? Principalmente quando ela divide o quarto, fazendo parte das
emoções e até dos momentos mais íntimos, entre quatro paredes. Há pouco tempo
ela era o centro de todas as atenções nas salas do chamado “lar doce lar”, e
era costume as pessoas ao final do dia, reunirem-se para a sua apreciação, era
um objeto de aglutinação familiar. Hoje, pra quem tem bala na agulha, em cada
quarto é obrigatório uma TV para alimentar cada gosto por programações. Como outra
dimensão, exige-se essa janela aberta para o mundo, que queremos ver, embora
haja distinção de padrão social a imagem é a mesma em qualquer lugar; num
casebre no meio do “Bodozal da Sapolândia”, ou numa mansão no“Jardim das
Américas”. A diferença é só a realidade de cada “lar doce lar”.
Liga-se a TV como quem liga as luzes
de uma casa ao entrar. Pela TV acendem-se vários caminhos que poderemos ou não
seguir. Como, por exemplo: há oportunistas, que em nome do “senhor,” armam suas
teias através de programas assistencialistas, com cenas dos dramas vividos
diariamente pelo povo; discursos demagógicos, justamente para impressionar e
tirar proveito das situações, iludindo o telespectador, fazendo-o acreditar que
é o salvador da pátria, usando essa telinha linda, colorida e maravilhosa como trampolim
para a sua chegada ao poder.
Acordamos, tomamos café, almoçamos,
merendamos, jantamos e vamos dormir com a TV. E, se duvidar, até sonhamos com
ela. Somos fiéis telespectadores; compramos,
vendemos, nos vestimos e nos comportamos como a mestra mandar. Ela dita todos
os passos de nossos caminhos contemporâneos, e é, portanto, responsável pela
construção de nossa nova identidade: a cibernética.
Essa telinha que pensamos ser um
caminho para as soluções dos nossos problemas, que nos traz entretenimento de
uma forma prazerosa pode nos levar também a um mundo que não conhecemos. A
ilusão que nos faz adorá-la e interagir com o mundo de uma forma rápida e
eficiente pode nos levar a resultados não esperados, e aí, o ao vivo e em cores
pode nos conduzir a uma sociedade alienada, trôpega turva e torpe, desprovida
de pensamentos.
Mas, ela é fascinante, e exerce um
domínio sobre nossas vidas, como se a própria vida em nosso planeta girasse ao
seu redor. E é verdade! O fascínio é tanto que às vezes, hipnotizados com suas
luzes, cores, performances, e a rapidez de nos transpor a outros cenários,
outras culturas; a olhamos, a assimilamos, e não sabemos de nada do que
acabamos de ver. Eis a questão.
Aquele quadrado – agora retangular –
de altíssima tecnologia é a janela da nossa própria vida, ou a vida que
queríamos ter, e diante dela ficamos felizes ao ver a banda passar, ou quando o
“Aerolula” cruzou o céu do planeta levando o nosso ex-presidente, para abraçar
Mahmoud Ahmadinejad. Vimos Dilma receber a faixa presidencial e tantas outras
coisas que nos chocaram ou nos deixaram felizes E diante dela choramos,
sorrimos, julgamos, condenamos tudo porque pensamos que temos seu controle em
nossas mãos. E quando pensamos que ela está ao nosso alcance, gritamos: “Filma
nóis aí.”
Assinar:
Postagens (Atom)