Amigos do Fingidor

terça-feira, 30 de julho de 2024

Dia dos avós

 Pedro Lucas Lindoso

 

Dia 26 de julho é dia dos avós. Consagrado aos avós do Menino Deus, São Joaquim e Sant’Ana. Ano passado, nesta data, encontrei-me com três colegas no shopping. Um vestia uma camiseta com os dizeres: “Você não manda em mim. Não é minha neta”. Outro orgulhosamente usava uma camiseta com a estampa do neto dizendo “Eu (coraçãozinho) meu vovô”. Na minha estava escrito “Melhor vovô do mundo”.

Três velhos babões. Mas, como disse Rachel de Queiroz: “netos são como herança. Você os ganha sem merecer”. E nos sentamos para um café e animada conversa sobre netos. Todos com celulares em punho. Vídeos e fotos sendo efusivamente compartilhados.

Vera e eu temos quatro netinhas. Maria Luísa, Maria Helena, Catarina e Isadora. Nós nos achamos no direito de amá-las com toda a extravagância do mundo. Eu pessoalmente não digo não para elas. Os pais que as eduquem!

Um dos vovôs relatou uma história engraçadíssima. Vovôs vivem pagando mico. Imaginem um circunspecto senhorzinho, vestido com jaleco de médico, de quatro, em frente à sua porta, latindo feito um cachorrinho!

Toda vez que visitava o neto, louco por cachorros, nosso amigo tocava a campainha e se agachava, latindo desenfreadamente. Nesse dia o elevador parou no andar errado. O distraído vovô, conhecido médico na cidade, constrangido, quase não soube como se explicar. A vizinha de cima, espantadíssima, não sabia como reagir e nem imaginar que maluquice era aquela.

O outro vovô se especializou em fazer mágicas para os netos. A especialidade não durou muito tempo. Foi desbancado por um profissional. Após ir a uma festa em que havia um mágico de verdade, o netinho recomendou sem cerimonias: “Vovô o senhor precisa conversar com o tio da cartola. Ele é bem melhor”.

Eu costumo falar ao telefone com uns amigos imaginários. Utilizo-me de um anacrônico e de pouca serventia telefone fixo que ainda temos. Falo com a prima bolha, o nuvenzinha e o Gasparzinho. Minha neta fica olhando, pensativa. E exclama:

– Esse meu vovô!

Quando ouço elas pronunciarem a palavra vovô, meu coração estala de alegria e felicidade.

Estamos comemorando por esses dias o dia dos avós. Desejo aos meus amigos vovôs babões e a todos os avôs e avós do mundo muitas alegrias junto a esses pequenos tesouros os quais chamamos, com tanto carinho, de netinhos.

 

 

domingo, 28 de julho de 2024

Manaus, amor e memória DCLXXXI


Da revista Redempção, de outubro de 1925.

 

quinta-feira, 25 de julho de 2024

A poesia é necessária?


Fragmentos poéticos

Conceição Lima

 

I

Após o ardor da reconquista

não caíram manás sobre os nossos campos

 

E na dura travessia do deserto

aprendemos que a terra prometida era aqui

 

Ainda aqui e sempre aqui.

Duas ilhas indómitas a desbravar.

O padrão a ser erguido

pela nudez insepulta dos nossos punhos.

 

Emergiremos do canto

como do chão emerge o milho jovem

e nus, inteiros recuperaremos

a transparência do tempo inicial

Puros reabitaremos o poema e a claridade

para que a palavra amanheça e o sonho não se perca.

 

II

 

Transitório é este tempo que te divide

sem o saberes

transitórias as águas, os tambores quebrados

transitória a noite que à noite sucede

sem te veres

 

Transitória a pálida bruma a

ocultar-te de ti

transitório o silêncio ocupando espaços

além da tua boca

 

transitórias as pedras amargas desaguando

sem licença no litoral da aurora, transitória

a angústia das palavras ensanguentadas em tuas mãos.

Obstinado peregrino quem te acompanha além de ti?

Emissário de rios esquecidos quem te ouve?

Oh, surdas são as ondas deste mar

suspenso

entre os teus dedos e o teu sonho

 

III

 

Mas quem és sobre as horas caminhando?

Quem és lançando fúrias no deserto?

Quem és sobre a morte morrendo?

Sobre a morte erguendo quem és?

 

IV

 

Pássaro de penas rotas e cintilantes

libertando na noite o tempo cativo

revolves as horas os magros celeiros

fustigas tremente o rosto dos meses

a cólera é teu argumento

o porvir teu fundamento.

À força de viver

na vida entraste

à força de sonhar criaste o sonho

tu és a voz do próprio sonho

lavrador teimoso de um tempo sem pomar

(... ...)

Moldar os dias dos frutos maduros

este é teu projecto iniciado e longo

o barro da razão que te forjou

a substância pura que te ligou à vida

 

quando aprendeste os segredos da noite

e penetraste as trevas como espada fulgurante

 

Tuas mãos tingem já de púrpura a noite

o crepúsculo é o instante supremo a claridade

 

Quem fará recuar o tempo anunciado

por tambores e águas

noite a noite sem cessar?

 

  

terça-feira, 23 de julho de 2024

Arapucas para assombração

Pedro Lucas Lindoso

 

Confesso que fui um menino medroso. Com o tempo perdi o medo de muitas coisas. Mas adquiri outros. Quando garoto tinha medo de assombração. De alma penada. De visagem, com diz o caboclo. Tinha muito medo de um tal bicho folharal. A coisa aparecia à noite, pelos fundos do quintal da casa de minha avó. Na chácara, havia muitas árvores frutíferas. Especialmente mangas. Gostava de ir para lá. Apesar do bicho folharal. Eu também tinha medo de mucura. E de visagem, claro.

Irmãos mais velhos costumam meter medo aos menores. Ruídos estranhos começaram a ser ouvidos na nossa casa, da Rua Henrique Martins. Havia uma escada bem pitoresca naquela casa. A escada dava para uma espécie de sótão que chamávamos inadequadamente de porão.  Sótão pode ser sinônimo de porão. Mas parece que o inverso não se aplica. Coisas do rico léxico de nossa língua portuguesa. O fato é que aquele porão ficava na parte de cima. Por lá havia um quarto onde dormiam as empregadas. Havia ainda um laboratório, suspeitíssimo, administrado por meu irmão mais velho. Eu não ia até lá sozinho. Havia uma proibição implícita. E um medo explícito. Principalmente depois que ouvi que os ruídos poderiam ser de alguém subindo as escadas. A malsinada escada começava com degraus sólidos de alvenaria. Depois se transformavam em estreitos degraus de madeira. E rangiam. Davam pequenos estalidos, ou chiados, breves e intermitentes.

Os tais ruídos, os tais estalidos, eram ouvidos na calada da noite. Quando todos estavam dormindo. Acontecia quando o gerador de energia era desligado. Havia um ensurdecedor gerador de energia em nossa casa. Manaus não tinha luz no início dos anos de 1960. O gerador parava. Alívio por um lado. Medo por outro. Tudo escuro. Lamparina apagada. E os ruídos. Passos na escada. Chiados. Breves e intermitentes.

Meu pai sempre foi aberto ao diálogo. Então resolvi levar o assunto a ele. Autoridade máxima da casa.  Ele delegava ou compartilhava essa autoridade com minha mãe. Que estendia tal poder a minha avó e à Darinha. Que tomavam conta da gente.

Resolvi levar o assunto a todos eles. E desabafei:

– Vocês me dizem sempre que visagem não existe. Que eu não preciso ter medo. Então quero saber o que se passa na escada que dá para o porão.

Meu pai se comprometeu solenemente a averiguar e tomar as medidas cabíveis e necessárias.

Dito e feito. Foram compradas meia dúzia de potentes ratoeiras na loja de ferragens JG de Araújo. Todas alocadas estrategicamente nos degraus da tal escada. Armaram arapucas e as visagens sumiram. Graças a Deus.

 

domingo, 21 de julho de 2024

Manaus, amor e memória DCLXXX


Centenário da Comuna de Manaus (1924-2024)

O movimento, sob a liderança do Tenente Ribeiro Junior (1887-1938),
tomou de assalto a sede do governo, o Palácio Rio Negro, na noite de 23 de
julho de 1924, resistindo até 28 de agosto do mesmo ano.
Era a terceira revolta tenentista, desde os 18 do Forte de Copacabana, em 1922.
  


Para maiores detalhes, recomendo a leitura de A Rebelião de 1924 em Manaus,
de Eloína Monteiro dos Santos (4ª ed. Manaus: Valer, 2022). 





 

quinta-feira, 18 de julho de 2024

A poesia é necessária?

 

O Último Poema

Manuel Bandeira (1886-1868)

 

Assim eu quereria o meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.



terça-feira, 16 de julho de 2024

Dar a bênção

 Pedro Lucas Lindoso

 

As crianças brasileiras são ensinadas a pedir a bênção dos pais, avós, tios e padrinhos. O costume é mais arraigado no norte e nordeste. Nas cidades grandes e nas classes mais altas da população a tradição tem perdido força.

Eu fui ensinado a pedir a benção quando criança. Lembro-me de pedir a benção às minhas avós. Meus avôs faleceram antes de meu nascimento.

Com o tempo, nos tornarmos jovens adultos e a prática foi esquecida. Não era compulsório. Se alguém pedisse a benção obviamente seria abençoado em nome de Deus Pai. E ainda teria a proteção de Nossa Senhora.

Eu sempre pedi a bênção aos meus pais. Fui criticado. Chamado de piegas. Sempre achei um privilégio. Feliz aquele que tem os pais vivos para abençoá-lo.

Segundo tia Idalina, a benção de uma mãe é algo poderosíssimo. A oração de uma mãe direcionada a um filho ou filha é um antidoto ultra eficaz contra as piores maldades perpetradas por terceiros. Uma Salve Rainha rezada por uma mãe em intenção de um filho é capaz de anular as piores invejas e o mau olhado mais danoso do mundo.

Durante muitos anos, guardei para mim algo que agora vou compartilhar com meus poucos e fiéis leitores. Acontecia, às vezes, quando pedia a bênção de minha mãe, já idosa, e eu casado e com filhos. Ela simplesmente respondia. Deus te abençoe.

Não raro uma sensação de frescor e paz invadia meu corpo. Como se fosse ungido com um óleo divinal. Geralmente acontecia quando estava sozinho com ela. Acontecia também por telefone. Eu morando em Manaus e ela em Brasília.

Lembro-me de quando menino, ao tomar a bênção de minhas avós, sentir grande alegria em ser abençoado por elas.

Há gestos de afeto que não têm preço. Experiências que podem tocar o coração inexoravelmente e fazer toda a diferença nas nossas vidas. Um abraço, um gesto de apoio, uma oração, uma cruzinha na testa, uma bênção.

Por fim um conselho. Não deixem de abençoar seus entes queridos. Mesmo que eles não peçam. Não tenham acanhamento de pedir uma benção aos seus pais. Tios e padrinhos. Vale também para irmãos e cônjuges. Corações aos altos. É só dar e receber uma benção.

 

 

domingo, 14 de julho de 2024

Manaus, amor e memória DCLXXIX

Da revista Redempção, outubro de 1925.

 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A poesia é necessária?


Angolares

Alda do Espírito Santo (1926-2010)

 

Canoa frágil, à beira da praia,

panos presos na cintura,

uma vela a flutuar…

Calema, mar em fora

canoa flutuando por sobre as procelas das águas,

lá vai o barquinho da fome.

Rostos duros de angolares

na luta com o gandu

por sobre a procela das ondas

remando, remando

no mar dos tubarões

p’la fome de cada dia.

Lá longe, na praia,

na orla dos coqueiros

quissandas em fila,

abrigando cubatas,

izaquente cozido

em panela de barro.

 

Hoje, amanhã e todos os dias

espreita a canoa andante

por sobre a procela das águas.

A canoa é vida

a praia é extensa

areal, areal sem fim.

Nas canoas amarradas

aos coqueiros da praia.

O mar é vida.

P’ra além as terras do cacau

nada dizem ao angolar

“Terras tem seu dono”.

 

E o angolar na faina do mar,

tem a orla da praia

as cubatas de quissandas,

as gibas pestilentas

mas não tem terras.

 

P’ra ele, a luta das ondas,

a luta com o gandu,

as canoas balouçando no mar

e a orla imensa da praia.

 

Notas:

Angolar: grupo étnico são-tomense. Segundo a tradição portuguesa, sem confirmação científica, teria naufragado, em frente ao extremo sul da Ilha de São Tomé, um barco transportando cativos (1550). Estes, logrando alcançar a costa, teriam dado origem ao Povo Angolar. Admite-se, todavia, que os angolares tenham alcançado a Ilha por seus próprios meios, provenientes do continente africano;

Calema: ondulação forte do mar;

Gandu: tubarão;

Quissanda: tapumes feitos com folhas de palmeira;

Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético.




terça-feira, 9 de julho de 2024

Cucaracha censurada

  Pedro Lucas Lindoso


Para se aprender uma língua estrangeira é necessário estudá-la diariamente.  E ter, no mínimo, três aulas por semana. Ou seja, 180 minutos de aulas. Pelo menos, durante dois anos.

Nas escolas públicas regulares, e mesmo nas privadas, a língua estrangeira aparece, na grade horária, geralmente, duas vezes por semana. Aulas de 50 minutos. 10 minutos para chamada e 10 para acalmar, no mínimo, 30 adolescentes cheio de hormônios e bagunceiros. Ou seja, temos meia hora de aula.

Com somente uma hora líquida por semana e sem estímulo para estudá-la não se aprende inglês, nem francês ou espanhol.

Na década de 1970, a Professora Nilce Galante, então coordenadora de Línguas Estrangeiras da Rede Pública de Brasília, montou o pioneiro Centro Interescolar de Línguas do Distrito Federal. A Professora Nilce teve todo e pleno apoio do então Secretário de Educação e Cultura de Brasília, Embaixador Wladimir Murtinho.

O projeto foi exitoso. Há centros de línguas públicos em todo o Distrito Federal. O DF é a unidade federativa onde há o maior índice de brasileiros bilíngues, segundo o IBGE.

Participei desse projeto como jovem professor de inglês. Ensinava-se também francês e espanhol. Toda sexta havia 15 minutos de música, geralmente sugeridas pelos alunos.

Cansados de boleros e tangos, uma turma de Espanhol ensaiava a conhecida canção “La Cucaracha” (“A barata”) . Trata-se de tradicional canção folclórica, do gênero corrido, bastante popular no México. O refrão é bem conhecido: “La cucaracha, la cucaracha / Ya no puede caminhar /  Porque no tiene, porque le falta / Una pata para andar”.

Nos anos de 1970 não havia internet. Portanto, não havia a expressão “viralizar”. Mas as coisas se espalhavam boca a boca, em festas, reuniões e encontros. Uma paródia inconveniente para a severa censura vigente e oficial modificava o recorrente refrão para: “La cucaracha, la cucaracha / Ya no puede caminhar / Porque no tiene, porque le falta / marijuana que fumar”.

Mesmo a direção e os professores de Espanhol explicando que só ensinavam e cantavam a versão original, com patas e patitas, a música foi proibida na escola. Não foi pelo STF. Foi pelo DPF. Departamento de Policia Federal.

Com a liberação de até 40 gramas de porte da cannabis, inclusive para cucarachas, seria a paródia censurada nos dias atuais? Naquela época, censurava-se até as patas da barata.

 

domingo, 7 de julho de 2024

Manaus, amor e memória DCLXXVIII


Rua Jonathas Pedrosa.
Acervo: Frank Lima.

 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

A poesia é necessária?

 

Dona doida

Adélia Prado

 

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso

com trovoada e clarões, exatamente como chove agora.

Quando se pôde abrir as janelas,

as poças tremiam com os últimos pingos.

Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,

decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.

Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,

trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.

A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,

com sombrinha infantil e coxas à mostra.

Meus filhos me repudiaram envergonhados,

meu marido ficou triste até a morte,

eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.

 

terça-feira, 2 de julho de 2024

Onomástico

 Pedro Lucas Lindoso


Todo dia 29 de junho, meu pai, logo cedo, me cumprimentava dizendo:

– Parabéns, Pedro. Hoje é dia do teu onomástico.

Eu não sabia muito bem o que significava onomástico. Sem querer decepcionar meu pai, não tinha coragem de perguntar o que significava aquele nome diferente, esquisito e que ninguém sabia o que significava. Parecia que somente meu pai sabia o que era aquilo.

Minha mãe também sabia. Depois dos parabéns dados por meu pai, ela complementava:

– É mesmo filho. Parabéns. Vamos fazer um tacacá, bolo podre, banana frita. Um bolo de macaxeira. Vou fazer um bolo tentador que é o preferido do teu pai.

Mesmo sem saber o que era onomástico, de uma coisa eu tinha certeza. Eu gostava muito desse dia. Era dia de comida gostosa. As mesmas que se fazia nos dias de São João. Menino guloso que sempre fui. Simplesmente adorava esse tal de onomástico. Seria ele meu padrinho?  Seria o tal de onomástico uma pessoa?

Perguntei à Darinha se ela sabia o que era. Não sabia. Darinha trabalhava e morava em nossa casa desde que eu era bem pequeno. Sempre me dizia isso. Eu gostava muito dela. Darinha me explicava muitas coisas. Mas ela não sabia o que era onomástico. Parecia que só mesmo meu pai e minha mãe sabiam. Mas eu tinha acanhamento de perguntar. Afinal, eu recebia os parabéns pelo meu onomástico. Seria vergonhoso não saber. Fui perguntar ao meu irmão mais velho se ele sabia o que era onomástico. Ele riu e disse:

– Pedro, tu és pedra. E sobre esta pedra eu ainda vou pensar o que vou fazer! E gargalhava.

O pior é que ele parecia saber o que era onomástico. Mas não me explicava. E ainda dizia que eu seria uma pedra. Então eu me imaginava uma pedra bem grande. Não seria uma pedra qualquer. Dessas que se acha na rua e serve para jogar na janela de dona Iaiá e sair correndo. Seria uma pedra grande. Uma pedra onomástica.

Naquele ano resolvi que alguém teria que me explicar o que seria onomástico. Enchi-me de coragem e perguntei ao meu pai:

– O senhor tem onomástico? No que ele respondeu:

– Claro que tenho. Meu onomástico é dia 19 de marco.

Conclui que onomástico não seria dia de aniversário. Meu pai fazia aniversário em agosto. Eu, em maio. O onomástico dele é em 19 de março. O meu em 29 de junho. Deveria ser algo relacionado ao número nove.

Voltei novamente a consultar a Darinha. Agora já tinha uma informação importante. Meu pai também tinha onomástico. O dele era 19 de março. Darinha deu um suspiro e sorriu:

– Já sei. Dia 19 de março é dia de São José. Teu pai se chama José. Hoje é dia de São Pedro. Tu és Pedro. Essa palavra aí significa o dia do santo!

Já grande, aprendi que onomástico é uma expressão grega que significa “do seu nome”. Por conseguinte, “Santo Onomástico” significa o “Santo do seu nome”. Ao longo dos séculos a Tradição da Igreja sempre valorizou o Santo Onomástico por duas razões: O Santo Onomástico de cada pessoa deve ser tido como padroeiro e protetor especial.

Sendo São Pedro meu protetor ou não, o fato é que dia 29 de junho tem mesmo tacacá, bolo podre, banana frita e bolo de macaxeira. E uma linda procissão na baía do Rio Negro. Parabéns aos milhares de Pedros pelo nosso onomástico.