Tree of life with flowers. Margriet Seinen. |
sábado, 30 de setembro de 2017
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
Direito e a ética médica
João Bosco Botelho
O Direito construiu, ao longo de milhares de anos, a
estrutura sustentadora da credibilidade coletiva para nortear o bom, o certo, o
belo. Dessa forma, não é inconveniência argumentar que o desejo coletivo de
administrar os conflitos, que certamente estavam presentes tanto nos ancestrais
muito distantes quanto nos mais próximos, após o sedentarismo, moldaram
pensamentos e comportamentos.
Parece razoável pressupor que o conhecimento historicamente
acumulado, desde os primeiros registros do médico e do julgador como
personagens sociais, se ajustou na inclusão de curadores e julgadores como
agentes sociais para promover o bem, o justo:
– Agentes de práticas curadoras: tanto médicos, amparados
pelo poder dominante, quanto benzedores, parteiras, sacerdotes, encantadores.
– Agentes de práticas julgadoras: tanto os ligados ao poder
dominador quanto os que intermediavam os incontáveis conflitos que nunca
chegavam ao conhecimento do poder político dominante.
Nos mesmos milhares de anos, os curadores e julgadores que
não conseguiram firmar o reconhecimento coletivo em torno da competência na
solução dos problemas expostos pelos postulantes, não recebiam o reconhecimento
coletivo.
Entre esses dois grupos – os curadores com bons resultados e
os curadores que não satisfazem as demandas pessoais e coletivas –, as organizações
sociais reconheceram e nominaram o médico e o julgador, compondo parte do
conjunto das profissões, procuraram identificar, coibir e punir as más
práticas, estabelecendo critérios na edificação da ética do médico e do
julgador.
De modo geral, a má prática continua ligada ao resultado
desfavorável na Medicina e no Direito, o fracasso na busca da cura e a sentença
considerada injusta. Nenhum procedimento, na Medicina e no Direito, no passado
e no presente, tem sido aceito se provoca, respectivamente, piora de qualquer
natureza no enfermo ou a suspeição de não ter sido justa.
Esse esboço normativo ético-moral voltado aos bons
resultados, no movimento de secularização das práticas da Medicina e do Direito,
claramente exposto no Código de Hammurabi, no século 16 a.C., culminou com o
aparecimento na Grécia, no século 4 a.C., do conceito de deontologia (deontos,
“o que é obrigatório, necessário” + logia), que evoluiu para “o estudo dos
princípios, fundamentos e sistemas de moral”.
A palavra deontologia alcançou a maior parte das
especialidades sociais. Na Medicina, apareceu pela primeira vez em 1845, no
Congresso Médico de Paris, no trabalho do médico M. Simon, intitulado
“Deontologia médica ou deveres e direitos dos médicos no estado atual da
civilização”. No Direito, por meio dos escritos do filósofo inglês Jeremy
Benthan, considerado fundador do Utilitarismo.
Desse modo, os códigos de ética do médico e do julgador
comportam fundamentos estruturantes semelhantes: o médico e o julgador devem
estar sempre a serviço do indivíduo, mantendo a vida.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Complexo de macaco-prego
Pedro Lucas Lindoso
Os jornais e a televisão do sudeste falam do início da
primavera e convidam os brasileiros a plantar árvores. Só que o dia da árvore
na Amazônia é 21 de março. Plantar árvores em setembro aqui na região é
inadequado. Mas muita gente não sabe disso.
Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa são doutores
pesquisadores sobre a Amazônia. Ambos lançaram recentemente importantes
trabalhos sobre a Amazônia no IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas, onde somos confrades.
Eles criticam o fato de que “os mecanismos operacionais da
economia global(...) propugnam a prevalência do pensamento único, dificultando
a construção de soluções compartilhadas” (A
Sustentabilidade como paradigma. Editora Vozes, pág. 65).
Nós, amazônidas, não podemos agir nem pensar com unicidade
com o resto do país. Exemplifico: as grande férias escolares nos meses de
dezembro e janeiro são inadequadas para a Região Amazônica. É verão no sudeste
e lá a diversão é garantida. Com muita praia e sol. Americanos e europeus
frequentam as escolas em janeiro. Faz frio e neva por lá. Aqui o clima fica
mais ameno e chove. E muito. Não há praias em nossos rios, que estão na cheia.
Por que tirar férias nessa época?
A professora Marilene nos alerta que “a manutenção da ordem
nacional justificou a exclusão dos direitos de autodeterminação dos povos
amazônicos(...); permitiu que a ambição dos interesses administrassem, a seu
modo, a vida e a sociedade regional” (Amazônia,
passado, presente e futuro. Editora Juruá, pág.21).
Aos cronistas e ficcionistas cabe opinar, falar, comentar e
até inventar. Aos pesquisadores, a cientificidade! Aos cronistas, o eventual
deboche!
O grande escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que nós
brasileiros temos complexo de vira-latas e explicava: “a inferioridade em que o
brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
Parece que nós aqui na Amazônia temos o complexo de
macaco-prego. Somos inteligentes e muito espertos. O macaco-prego é o gênio da
selva. Mas vive no topo das árvores, onde passa a maior parte do tempo. Só desce
ao chão para beber água ou para comer.
Precisamos nos unir e lutar pelos nossos interesses. Vamos
descer do topo das árvores para reivindicar direitos e exigir respeito.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
domingo, 24 de setembro de 2017
sábado, 23 de setembro de 2017
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
exercício nº 7
Zemaria Pinto
palavras são pedras frias à margem
da estrada que atravessa o automóvel
são peixes mortos de dominga feira
cavalos pastando plástico e aço
palavras são carcaças na corrente
lavada em mercúrio e lama são galos
sem manhã cachorros atropelados
espelhos estilhaçados disparos
dispersos cabe ao poeta cuidar
que o lixo em transubstância invente
a dura geometria do poema
e o barulho o mau cheiro a porcaria
sobrepairem no éter sublimados
em cor ritmo imagem e harmonia
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Construções da ética na prática médica
João Bosco Botelho
Teorizando em torno da associação entre o ético-moral –
gerando o bem, o bom, o certo, antepondo-se ao vício – ligado ao mal, ao mau, ao
errado, é interessante assinalar um ensaio teórico para apreender a ética
médica integrada à virtude.
É possível entender a virtude kantiana nas práticas médicas,
obrigatoriamente, ligada ao “bem”, ao “bom”, no qual o médico controla a dor e
adia os limites da vida, sempre festejado pelo doente. Dessa forma, seria
inadmissível pensar a Medicina como uma especialidade social para provocar a
dor ou a morte. Essa vertente ligando a ética médica aos bons resultados
entendidos como “boas práticas”, gerando bem-estar ao doente, está presente na
historicidade e na maior parte das atuais abordagens teóricas referenciais.
Nesse sentido, é possível resgatar relações dos saberes
historicamente acumulados atando a ética médica à boa prática, entendida pelo
senso comum como aquela que oferece bons resultados às demandas da clientela
por meio de ações que deveriam, obrigatoriamente, trazer melhorias à vida
pessoal e coletiva.
A historicidade dos códigos de ética da Medicina foi
construída entendendo os médicos e outros curadores como especialistas sociais
que devem saber controlar a dor e aumentar os limites da vida.
Heródoto, no seu extraordinário livro “História”, descreveu
um dia de festa, numa praça, na Mesopotâmia, quando doentes e curadores se
encontravam, para buscar as curas das doenças nos exemplos de doentes que
tiveram algo semelhante e se curaram fazendo ou bebendo isso ou aquilo. Ao
cruzarem com alguém que apresentava sinais e sintomas de alguma doença que
sabiam como curar, os curadores paravam para orientar, oferecer o tratamento.
A Medicina é muitíssimo mais recente em relações às milenares
práticas de curas anteriores, sem ensinamento formal. Nas culturas que se
organizaram e prosperaram, no segundo milênio a.C., os processos dos
aprendizados, amparados pelos poderes dominantes, na formação do médico, como o
principal agente da Medicina, estavam dentro dos templos mais importantes.
Essa Medicina, ligada à Ciência, é a única que construiu,
desconstruiu e continua reconstruindo propostas teóricas para desvendar a
origem das doenças nas dimensões cada vez menores da matéria e tem vencido as
barreiras para diminuir a abstração e aumentar a materialidade das doenças.
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
terça-feira, 19 de setembro de 2017
O problema está na rima
Pedro Lucas Lindoso
Seria trágico se não fosse cômico. Veio consultar-me, como
advogado, uma humilde senhorinha, muito simpática. Sua sobrinha, moradora da
periferia de Manaus, está muito triste e revoltada.
A moça é musa de uma equipe de futebol do Peladão. Como se
sabe o Peladão de Manaus é o maior campeonato de peladas do mundo. Reúne três
coisas que o homem médio brasileiro muito aprecia: mulheres, futebol e uma boa
cerveja.
Pois bem, cada time elege uma musa. Há mais de quatrocentos
times inscritos no campeonato deste ano. Houve a primeira eliminatória com a
escolha de cem moças. Cada uma representando seu time na qualidade de musa. A
moça em questão ficou fora dessa primeira grande repescagem. Ou seja, ficou
fora das cem primeiras classificadas.
Segundo regras do campeonato, a classificação das moças eleva
a pontuação dos times. Entendo que não se classificar em uma eliminatória, em
que são escolhidas uma centena de moças, deve ser um baque terrível em qualquer
autoestima. Afinal, cem é um número bastante expressivo.
Sou de opinião de que não existe moça jovem feia. A juventude
em si é sinônimo de beleza e vigor.
Disse-me a tia que a menina estaria se sentindo injustiçada
porque não tem um nome da moda. Ela gostaria de ter um nome americano. Ou pelo
menos que tivesse y, k ou uma letra dobrada. Que fosse um nome de princesa, de
menina rica.
Perguntei o nome da garota. Chama-se Raimunda. A tia explicou
que a família veio do Alto Acre e são vizinhos da Amazônia peruana. Santa
Raimunda do Bom Sucesso é uma devoção popular para o povo da região. Incluindo
também os países vizinhos Peru e Bolívia.
Argumentei que conheci e conheço várias Raimundas. Todas
carinhosamente chamadas de Rai. Todas ótimas pessoas. Mas a garota não quer
mais o prenome e a consulta é se é possível mudar.
As decisões judiciais têm sido favoráveis pela alteração do
prenome, quando da exposição ao ridículo. Há muitos anos o Tribunal de Justiça
de São Paulo permitiu a alteração do nome de Kumio Tanaka para Jorge Tanaka. A
pronúncia “Cumi o Tanaka” ridicularizava o cidadão.
A menina deseja mudar o nome para KRYSLAYNNY, com k, y e n
dobrado. Só assim, acredita, conseguirá ser rainha do Peladão.
A garota desabafou dizendo que o nome a expõe ao ridículo. O
problema do nome Raimunda é a rima.
domingo, 17 de setembro de 2017
sábado, 16 de setembro de 2017
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
buritis silvestres
Zemaria Pinto
o meu primeiro poema
foi escrito sob a sombra
dos buritizais em flor
não tinha papel nem lápis
apenas as mãos nervosas
e a boca ressecada
buscando tuas mãos
geladas
e teu hálito de rosas
as palmas alvoroçadas
acenando contra o vento
da tarde o vasto silêncio
teciam a cada assobio
a melopeia do tempo
no chão de areia gravado
meu poema era um navio
de amarras soltas no
mundo
à procura da ventura
de navegar outros rios
caía uma chuva fina
de frágeis cristais de
luz
e buritis amarelos
Câncer: a partitura desarmônica da vida
João Bosco Botelho
O mundo continua, com justa razão, alerta contra o câncer
como a mais importante doença da atualidade. A razão é contundente: a medicina
não oferece, na maior parte dos casos, respostas convincentes.
É importante assinalar que existem milhares de tipos de cânceres
e não é privilégio dos humanos: pode ocorrer em qualquer animal e vegetal
multicelular.
É provável que os cânceres sejam provocados por múltiplos
fatores internos e externos à célula. Os
determinantes internos seriam representados pelo código genético específicos
para cada tipo de câncer, na estrutura do genoma (como o teclado de um piano) e
os externos pelos incontáveis fatores físicos, químicos e biológicos que
poderiam estimular a chave genética (atuando no teclado, produzindo sons
desafinados) resultando nos cânceres.
A construção metafórica seria assim: cada ser humano teria o
seu próprio teclado de informações genéticas produzindo partituras harmoniosas
em equilíbrio dinâmico com a vida social. Em determinado momento, o teclado, ao
ser tocado de forma incorreta, por influência de um ou mais fatores
extrínsecos, forneceria um som estranho à partitura, na organização da vida,
dando como resultado o câncer.
O aparecimento do câncer deve acontecer muito mais vezes do
que supomos. É pouco provável que milhões de combinações moleculares efetuadas
de uma só vez, a cada minuto, no genoma não comportem erros. Certamente, estamos submetidos continuamente,
durante a vida, ao processo canceroso.
Entre muitas dúvidas é saber por que as defesas imunológicas do corpo
conseguem bloquear a maior parte dos cânceres e perde a capacidade para
outros.
Respeitados cancerologistas, como o francês Dominique Stehelin,
um dos responsáveis pela descoberta do oncogene (o fator intrínseco contido no
teclado do piano) afirma que o câncer é a doença mais complicada do homem.
O exemplo mais marcante e socialmente importante é a relação
entre o hábito de fumar cigarros e o câncer do pulmão. As pesquisas realizadas pelo Instituto de
Câncer de Amsterdã mostraram o mesmo defeito no gene K Ras em trinta e nove
pacientes fumantes. Contudo, uma pessoa pode fumar a vida inteira e não morrer
de câncer. Como se o seu teclado, por mais que seja estimulado, não forneça o
som desarmônico.
Como ainda não dispomos de tratamento eficaz para a maior
parte dos cânceres, são válidas as campanhas de alertas contra os fatores
externos – como a do tabagismo –, que tocam erradamente o teclado, relacionados
com o aparecimento dos cânceres de pulmão, laringe, boca e bexiga.
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
terça-feira, 12 de setembro de 2017
O estereótipo acaba de chegar
Pedro Lucas Lindoso
Feriadão em Manaus. No mercadinho do bairro um senhor
esbaforido, com cara de dono do negócio, reclama da vida:
– É sempre assim. Esse pessoal não tem responsabilidade. Não
tem palavra. Fiz uma escala de trabalho nos dias de feriado. Estou pagando hora
extra a 100 por cento. Tudo combinado. Tudo dentro da lei. Não adiantou nada.
Faltaram dois.
Chovia. Argumentei que quando chove é assim mesmo. O caboclo
tem medo de temporal. Veja como está ventando. Isso é uma tempestade tropical.
Ninguém sai de casa. É até perigoso mesmo. No que ele complementou:
– Quando chove, o
caboclo amazonense não vai nem para o enterro dele. Deixa para morrer no dia
seguinte. Depois da chuva. O senhor não é amazonense, eu presumo.
Disse-lhe que era amazonense e filho de amazonenses.
– Não parece, tem cara de gente do sul. O caboclo é muito
preguiçoso. Dizem que o baiano é preguiçoso. Lá na Bahia eles usam a palavra
malemolência. Mas pelo menos o baiano é mais responsável. Aliás, o brasileiro
em geral é preguiçoso. Lembro-me que há muitos anos vi um filme com o finado
Grande Otelo. Macunaíma. Dizem que
ele representava o povo brasileiro. No filme, o personagem Macunaíma dizia o
tempo todo:
“Ai, que preguiça...”
Agora eu faço a pergunta. O senhor é amazonense? Respondeu-me
que era paulista. Mas estava aqui já há alguns anos e já se considerava
amazonense.
– Manaus é uma terra muito boa. Eu gosto daqui, me disse
sorrindo.
Eu lhe disse que sua visão do caboclo é um estereótipo. O
paulista, que parecia ser bom comerciante, mas de poucas letras, argumentou:
– Estereótipo, que nada. É preguiça, meu senhor. Mas o que é
estereótipo mesmo?
Disse-lhe que estereótipo é essa visão generalizada. Uma
imagem preconcebida, depreciativa e sem fundamento que ele demonstrou do
amazonense, do baiano e do brasileiro em geral.
Nesse momento chega um caboclo forte, simpático e sorridente.
Todo molhado. Pediu desculpas pelo atraso. Chovia muito e havia poucos ônibus.
– O senhor tem razão, me disse. O estereótipo acabou de
chegar!
domingo, 10 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Momento
Zemaria Pinto
não sou anjo nem mulher
apenas sou esse sopro
de carne e sal e espuma
sobre uma concha de vento
ou um lençol de cetim
nem menina nem mulher
apenas esse perfume
entre almíscar e alfazema
e um leve cheiro marinho
entre o mênstruo e o
mureru
nem poeta nem mulher
apenas essa menina
enredada na tristeza
que toma conta de mim
olhando correr o rio
anjo menina mulher
apenas sou esse gesto
forjado pelo desejo
tatuado em fogo e beijo
em meu peito de poeta
Construções da ética médica grega
João Bosco Botelho
No século 4 a.C., na ilha de Cós, sob a liderança de
Hipócrates, organizou-se o marco da nova e fundamental etapa da Medicina na
construção dos procedimentos éticos atados à busca da materialidade da doença.
Apesar de saber-se, pelos indicativos etimólogos e linguísticos,
que das 72 obras contidas no “Corpo Hipocrático”, conjunto de textos produzidos
na ilha de Cós, somente 12 foram reconhecidamente escritos por Hipócrates. Esse
conjunto filosófico-médico iniciou o processo da separação da Medicina das ideias
e crenças religiosas.
Nesse contexto, num dos livros mais importantes, “Da Medicina
Antiga”, escrito por Políbio, genro de Hipócrates, está elaborada a teoria dos
Quatro Humores, a primeira estrutura edificada com o objetivo de explicar a
saúde e as doenças fora das ideias e crenças religiosas. O processo teórico
explicita o corpo humano constituído de quatro humores: fleuma, bile amarele, sangue e bile preta A saúde
seria consequência do equilíbrio dos humores e a doença apareceria após o
desequilíbrio, isto é, a predominância de um sobre os outros.
É importante ressaltar que Políbio estratificou a teoria dos
Quatro Humores atada à teoria dos Quatro Elementos de Empédocles. Esse genial
médico e filósofo pré-socrático, tentando entender o mundo, também fora das ideias
e crenças religiosas, explicou o mundo visível por meio da combinação de quatro
elementos fundamentais: ar, água, fogo e terra.
Desse modo, para cada elemento de Empédocles, existiria uma
categoria denominada "humor": ar – fleuma; água – bile amarela; fogo –
sangue; terra – bile preta.
Com imediata resposta à genialidade de Políbio, duas
transformações mudariam a Medicina no Ocidente:
– As terapêuticas ficaram mais livres da presença dos deuses
e deusas curadoras e firmaram propósito para retirar do corpo o excesso do(s)
humor(es) desequilibrado(s), por meio das sangrias, suadouros, diarreias,
vômitos e diurese.
– O primeiro código de ética médica – Juramento de Hipócrates
– com admirável avanço, indicou, simultaneamente, a necessidade de os bons
resultados estarem unidos ao respeito à dignidade do doente.
Por essa razão, usando a linguagem do filósofo francês Gaston
Bachelard (1884-1962), é possível considerar esse acontecimento – a teoria dos
Quatro Humores – como o primeiro corte epistemológico da Medicina oficial.
A historicidade do Juramento de Hipócrates assinala pontos
marcantes:
– Boas práticas, bons resultados atados à autonomia do
doente;
– Competência, sigilo e responsabilidade profissional.
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Égua é égua, égua!
Pedro Lucas Lindoso
Recentemente, estive no Sudeste. A conversa de boteco, entre
amigos de lá, girava em torno da atual novela das oito, da Globo. O assunto era
a formosa Isis Valverde no papel de uma sereia amazônica. Há outras personagens
de nossa região, inclusive a Fafá de Belém, única legítima paraense. Já
descaracterizada, é verdade, em razão de ser figura global e internacionalmente
conhecida.
Perguntaram se as moças daqui eram belas como a Ritinha da
novela. Eu disse que sim. Aqui há belas moças de olhos sedutores e corpo de
sereia, de longos cabelos negros e lisos. São as nossas cunhãs porangas.
Sempre perguntam sobre o calor amazônico. Eu lhes disse que
nessa época de vazante, em que as águas dos rios baixam, as praias são bastante
convidativas. Há o feriadão de setembro com a elevação do Amazonas à Província
embolado com o feriado da Independência. Ótima oportunidade para ficar de
bubuia numa praia do rio Negro.
Logo veio a pergunta sobre o significado de bubuia. Ora,
bubuiar todo amazonense sabe – é ficar boiando, flutuando no rio. Aí veio a
primeira provocação.
– Dejetos também ficam de bubuia? Claro que não, respondi.
Dejetos ficam no remanso. Às vezes girando. Não afundam nem vão para frente.
Candiru não come. Ficam ali na água, de leseira, como algumas pessoas. De fato,
alguns lesos vivem como dejetos no remanso. Eu conheço alguns, inclusive aqui,
do Sul maravilha.
Mas ficar de bubuia é prerrogativa de humanos, na minha
concepção.
Finalmente me perguntaram sobre o uso da palavra égua. Eu vi
alguns personagens da novela usando a expressão. Achei forçado. Fora de
contexto. Em especial pelo tal de Zeca, primeiro namorado da Ritinha.
Mas e aí, o que significa égua? Insistiram.
Eu lhes disse que certa vez perguntei a um mineiro o
significado da palavra UAI. E havia dois mineiros na conversa. A resposta que
tive foi:
– Uai é uai, uai!
Risada geral.
Égua é égua, égua!
domingo, 3 de setembro de 2017
sábado, 2 de setembro de 2017
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
Canção do exílio agora
Zemaria Pinto
Olhando o marimenso à
minha frente
e a multidão que sob o
sol passeia,
minha lembrança voa muito
longe,
além da geografia, além
do tempo.
Vejo o teu rosto, então,
multiplicado
em cada rosto que me
passa rente,
e o espanto inicial,
grito abafado,
desliza de meus olhos
lentamente.
Guardado há tanto para o
reencontro,
de minha boca parte um
beijopássaro
em busca do teu
corpocontinente.
Na areia fina escrevo
estas palavras,
embora desejasse
eternizá-las
nos movimentos
dos ventos e das águas.
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