Paulo
Sérgio Medeiros
Coisa boa é mulher que
madruga pelo nosso bem-estar, lava, passa, cuida da casa, dos filhos, faz
almoço, janta e café.
Coisa boa é mulher que
soma, divide, multiplica, se anula, nos bajula, é moderna, antiquada, espirituosa,
emburrada, é do jeito que o homem quiser.
Coisa boa é mulher que
até nos dias de cólica atura nossas noites alcoólicas. E quer prova maior de
generosidade? Experimenta ficar bêbado e você será servido de um revigorante
caldo da caridade.
Coisa boa é mulher que
nas noites de frio nos aquece a alma arrepiando até os mais recônditos pelos,
e, ainda entretidos pelo cigarro, recebemos aquele cafuné.
Coisa boa é mulher que
quando o bicho pega pro nosso lado ainda está ali tal qual Madre Teresa de Calcutá,
prenhe de fé, pronta pro que der e vier!
Coisa boa é mulher que à
la Joana D'arc vai à luta, entra na guerra, morre queimada, mas não arreda o
pé!
Coisa boa é mulher que uma
vez emancipada é capaz de cometer suicídio para não mais voltar ao regime
escravocrata, a exemplo de Dandara, esposa do Zumbi dos Palmares.
Coisa boa é mulher que
suaviza a aspereza masculina, dá curvas a linhas retas, perfuma nossos dias,
rima poema no jeito de andar em nossas calçadas despoetizadas.
Coisa boa é mulher que é
colírio, bálsamo, morfina, música, ópio, irmã, filha, tia, madrinha, esposa,
amante, MÃE, sublime criação da natureza.
Coisa boa é mulher que é
paradoxo, para-raios, para-lama, para-choque, paraquedas, para-brisa, para
trânsito!
Coisa boa é mulher que
nos aceita na doença, na tristeza, com dinheiro ou sem dinheiro, contanto que
tenhamos o bicho de pé!
Então, ilustre poeta Thiago
de Mello, peço-te a gentileza de reescrever os Estatutos do Homem e faça-me o favor de incluir o décimo quarto
parágrafo, que será: Fica decretado a partir de hoje que coisa boa é mulher!