Amigos do Fingidor

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A poesia é necessária?



Quarenta anos
Clotilde Tavares

Para Allen Ginsberg


& eu
que uivei como um cão danado pelas esquinas da década de 60
& eu
que me encharquei de drogas & sexo & rock nos inferninhos da década de 70
& eu
que me banho de álcool & solidão nas páginas da década de 80

continuarei sendo aquela poetisa maldita meio beat meio louca
meio rock meio boba & tão necessária quanto uma garrafa
vazia de refrigerante ou um copo de papel usado?

continuarei derramando o meu sexo no asfalto das avenidas
ensopadas de sangue & vidros partidos?

continuarei dividindo o meu rosto nos retrovisores dos táxis
& xerocopiando o meu corpo em cada farmácia da esquina?

& se não tivesse feito tudo isso

& se não fizer tudo isso

vale a pena
ainda
estar viva?



quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria

Tribal Princess.
Mitch Foust.

domingo, 27 de outubro de 2019

sábado, 26 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Midsummer night's dream.
Juan Medina.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Walter Franco (06/01/1945 – 24/10/2019)


É uma dor canalha!

Tudo é uma questão de manter
a mente quieta
a espinha ereta
e o coração tranquilo
Viver é afinar o instrumento
de dentro pra fora
de fora pra dentro
a toda hora
a todo momento

O que é que tem nessa cabeça, irmão?

A poesia é necessária?



Psicografia
Ana Cristina Cesar (1952-1983)


Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube e digo
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Josephine Wall.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Dia das Crianças



Pedro Lucas Lindoso


Não me lembro de ganhar presentes no dia das crianças. Na Manaus de minha infância, curumim ganhava presente no aniversário e no Natal. E só. Não havia televisão. A meninada não era influenciada para perturbar os pais com essa avalanche de marketing e de consumo desenfreado.
O Google me informa que o dia da criança foi criado no Brasil por lei em 1924. Mas ficou esquecido por décadas. Até que uma multinacional e a famosa fábrica de brinquedos Estrela começaram uma campanha de marketing nos anos sessenta. Contudo, direcionada mais para os bebês.
Já meus filhos, brasilienses e criados com Xuxa, Angélica e companhia já festejavam e eram festejados como crianças merecedoras de passeios, festas, gincanas e brinquedos.
O fato é que o dia 12 de outubro virou tradição. E não adianta. Para quem é pai ou mãe a data toca o nosso lado emocional. E o presentear nossos filhos passa ser simbólico. É a concretização desse amor paternal. Demonstramos toda essa estima, esse carinho e desvelo que tanto caracteriza a paternidade responsável.
Nem todos os países comemoram as crianças no dia 12 de outubro.  A Organização das Nações Unidas reconhece o dia 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança. Em 1959 foi aprovada nesta mesma data a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Também nesse dia, em 1989, foi promulgada a Convenção dos Direitos da Criança, da qual o nosso país é signatário.
Na família que construí com Vera sempre se comemorou o dia das crianças com nossos filhos. É feriado por conta da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Passeios, brinquedos e festas são lembranças marcantes para todos nós.
Mas os filhos crescem e o dia perde a graça. Até que chega a primeira neta. Maria Luísa. De repente o dia 12 de outubro volta a aquecer os corações. Agora de avós.
A grande Rachel de Queiroz em seu conhecido texto “A Arte de Ser Avó”, explica que “netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu”.
Pura verdade. Viva o dia das crianças!

domingo, 20 de outubro de 2019

Manaus, amor e memória CDXLIII


Cruzamento da Constantino Nery com Álvaro Maia.
No alto, à esquerda, o Olímpico Clube.

sábado, 19 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Colin Staples.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

de boemia, etc.


Texto de L. Ruas, garimpado pelo "catador de papeis" Roberto Mendonça.

L. Ruas


Pra começo de conversa, faço questão de acentuar que sou do número daqueles que não aceitam boêmia com acento circunflexo em cima do “e”. Sei que, segundo os dicionários, não há boemia sem acento circunflexo, mas neste caso me insurjo contra os dicionários, contra a ortofonia, contra a ortografia. Para mim o negócio é boemia mesmo. Mia. Esta é que é a verdadeira boemia.
Outro dia me lembrei que, há tempos atrás, em um de nossos muitos e prolongados bate-papos ocorridos nessas andanças, naquelas nossas andanças de antes da Fundação Cultural, de antes da Secretaria de Educação, quando o tempo não lhe era ainda tão escasso ou ele ainda não precisaria se tornar tão avarento de tempo, no meio das nossas muitas conversas sobre tão muitos assuntos, dessas muitas conversas que acontecem toda vez que dois ou mais amigos se encontram para gastar a noite (já que o dia nos gasta e desgasta...), o poeta Elson Farias e eu, depois de divagarmos sobre o assunto, resolvemos que um dia haveríamos de escrever, não sei bem se um livro ou coisa parecida, sobre a boemia. Mas, pelo que eu vejo, livro mesmo é coisa difícil e, muito mais, sobre boemia. Por isso, resolvi, ao lembrar aquela conversa, transmiti-la, mais ou menos aos que me quiserem ler.
Não será necessário esclarecer que o esquecimento, isto é, a memória, já fez o seu costumeiro trabalho e, com sinceridade, não sei mais exatamente o que foi que eu disse, naquela ocasião, e o que foi que o Elson disse. Diante desta incerteza, deixo aqui um aviso aos meus leitores: as asnices que ocorrerem ficam por minha conta. E as outras asnices, por conta do Elson.
Mas, vamos à boemia.
De início me parece que boemia e poesia são muito parecidas, e não só por causa da rima. Pra mim, poeta e boêmio são irmãos gêmeos. Talvez sejam diferentes apenas em um aspecto: o boêmio é uma espécie de poeta existencial, vivencial. Ele traz para a vida aquele estado de espírito que é peculiar ao poeta. Isto explica porque nem todo boêmio é poeta no sentido estrito (que faz poesia) e nem todo poeta é boêmio, embora este último caso seja muito comum.
Diz um velho (é claro que velho) adágio latino que “poetae nascuntur”, o que em português quer dizer que os poetas já nascem poetas. Não adianta fazer força para ser poeta se se não tiver o dom da poesia. No fim dá em nada, para não dizer que dá em outra coisa mais concreta e viscosa. Naturalmente, há muitos que tiveram sua “fase poética”. Mas, ter “fase poética” não é ser poeta. O poeta é poeta sempre, mesmo quando não cria mais poesia escrita, revelada. Lembremos o caso de Rimbaud. Rimbaud sempre foi um poeta mesmo quando abandonou o ofício da poesia. Aliás, diga-se de passagem, aqui temos um caso excelente de poeta-boêmio: Rimbaud. Pois bem. O boêmio também é assim. Quase todo mundo teve sua “fase boêmia”. Fase que corresponde, mais ou menos, a já referida fase poética. Mas quem não é poeta assim como quem não é boêmio, passada aquela fase, mixa. E fica até com vergonha de ter tentado ser uma coisa ou outra.
A boemia como a poesia é um dom. Quem nasceu para ser boêmio pode virar do avesso que não deixa. Ou deixa. Mas aí é um frustrado.
Além de dom a boemia é também vocação. Há os boêmios frustrados do mesmo modo que há os outros frustrados. Aqueles que vivem uma vida que não cola com as suas aptidões. E que, portanto, não vivem vida nenhuma. Ninguém escolhe a boemia. Ela é que nos escolhe. Nisto está a verdadeira vocação. O vocacionado é aquele que não sabe explicar porque é que é isso ou aquilo. Pergunte, leitor, a um poeta verdadeiro porque ele é poeta. Duvido que você obtenha uma resposta exata, lógica. A vocação nos obriga e nos constrange. Não adianta fugir. Nessa história de vocação é como aquela história do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Não tem escapatória. E o verdadeiro poeta e o verdadeiro boêmio têm consciência disso, mesmo quando acontece como no caso do Poeta de Baudelaire:

Quando, por um decreto das potências supremas,
O Poeta aparece neste mundo de náuseas,
Sua mãe horrorizada e cheia de blasfêmias
Crispa seus punhos para Deus, que se compadece dela:
... “Maldita seja a noite dos prazeres efêmeros
Na qual concebi a minha expiação!...” etc. etc.

Pois é assim. O verdadeiro boêmio, por cima de paus e pedras, não nega a sua raça... Isto é, sua vocação.
Mas em que consiste o verdadeiro boêmio?
Bem. Devo dizer que não me arriscarei a cair na asnice de definir o poeta ou o boêmio. Diz o Jorge Tufic que o poeta é transparente. A gente não sabe o que é ser poeta. Mas se ninguém sabe o que é o poeta, diz ainda o Tufic, todos sentem o poeta.  Aliás, isso não ocorre só com o poeta. Lembro-me, agora, de um artigo de Roberto Alvim Corrêa sobre o Pe. Clérrissac. Roberto Alvim Corrêa, que, por sinal, publicou um belíssimo trabalho sobre François Mauriac no Jornal do Brasil, dizia que quem se aproximasse do Pe. Clérrissac sentia que estava perto de um santo. Pela simples presença, pela simples aproximação. Isso ocorre com quem possui alguma coisa a mais (que não é aquele mais que a Shell lhe dá). Este é o caso do poeta. É o caso do boêmio. Ninguém pode definir um boêmio, mas todos sentem o boêmio. Como definir o indefinível?
Contudo, se não me arrisco a escorregar nesta asnice (conscientemente eu não escorrego, não) de dar uma definição didática tal como a gente encontra em compêndios sobre arte, do poeta e do boêmio, pra que depois qualquer imbecil saia dizendo por aí que sabe o que é um poeta ou um boêmio, atrevo-me a destacar uma característica que me parece indispensável e essencial a todo boêmio.
Parodiando Euclides da Cunha: o boêmio é, antes de tudo, um rebelde.
Calma. Não se apresse. Não se trata de rebeldia subversiva. Nada disso. O boêmio é rebelde no sentido, talvez, da rebeldia do “homem rebelde” de Albert Camus. Se a palavra, porém, pode parecer digna  de qualquer suspeição, digamos, em vez de rebelde, insatisfeito ou, melhor, chateado. É isso mesmo. O boêmio é um sujeito chateado. Naturalmente a maioria dos indivíduos não é chateada. É chata, mas não chateada. A maioria é conformada. Nivelada. São sujeitos comuns. Sujeitos substantivos comuns. Mas, comuns mesmo. Tão comuns que não passam de sujeitos sem qualquer predicado que lhes dê qualquer relevo. E não só são comuns por uma questão de organização ou vocação fisiológica, mas fazem questão de ser comuns. Diga-se de passagem, que nisto são um exemplo para os boêmios.  Os boêmios deviam fazer como os sujeitos-substantivos-comuns: fazer força para ser boêmios de verdade. Não conciliar. Pois, como eu estava dizendo, os sujeitos-substantivos-comuns são conformados. Não querem mais nada. Aceitam tudo como está. Tudo como acontece. Mas, também, como vão querer se não sabem, nem podem (é uma questão de determinismo fisiológico, me parece) querer ser outra coisa se são comuns? Isto é, indivíduos que vivem unicamente para comer, beber, dormir, ejacular e produzir novos membros do imenso rebanho de sujeitos-substantivos-comuns. Não falo em trabalho. Ninguém gosta de trabalhar. Nem mesmo os sujeitos-substantivos-comuns, que se o fazem, é simplesmente para poderem fazer aquelas outras coisas acima enumeradas.  O boêmio é o antípoda (também por um determinismo fisiológico) do sujeito-substantivo-comum. É alguém que não aceita a chatice do estabelecido e do pronto. Do que está feito. Do que está bitolado. Do dia-a-dia, da rotina, do lugar comum. O boêmio ama o novo, o diferente, o que se renova, a descoberta, o desconhecido, a aventura.
O boêmio é um aventureiro no melhor e no mais largo, no mais dilatado sentido da palavra. É um faminto e um sedento do diferente, do desconhecido, do exótico. Eis o motivo porque ele sempre foi olhado com espanto e com um certo escândalo. Criticam seu modo de vida pelo simples fato de ser um modo de vida diferente do dos demais. Por ele procurar fazer coisas que os outros não fazem ou não sabem ou não podem fazer. Por isso, acham que ele é um errado, um louco.  Um visionário. Na verdade, ele não é acomodado. E todos os que não se acomodam, incomodam os acomodados. Mas isto é uma questão de modo de ver as coisas. É uma questão de perspectiva. A visão dos indivíduos comuns vê o mundo com alguma coisa bem arrumada, com cada coisa em seu lugar. Que me perdoe o Manuel Bandeira. Nisso o boêmio é parecido também com o artista. O artista é alguém que, fundamentalmente, não acredita na arrumação deste mundo. Para o artista o mundo, o universo, é alguma coisa que está exigindo uma arrumação profunda. E o artista está certo. Na verdade, como dizia um amigo meu, por sinal, uma verdadeira vocação de boêmio, Deus foi um grande esbanjador. Esbanjou beleza. O meu amigo falava assim a respeito das mulheres. Mas, acredito que sua ideia pode ser estendida ao resto do [ilegível]. E, nisto, não concordo com Platão. O filosofo grego dizia que Deus foi um grande geômetra: geometrizou o céu e a terra. Qual o quê! Na criação não há nada arrumado nem muito menos geometrizado. Tudo está por ser feito. A criação está apenas começando. O que Deus fez foi pegar uma infinitude de coisas e aí chamou o homem e disse:
– Eu lhe dei inteligência, força e coragem para que você agora continue o trabalho que comecei.
Nisto andam certos e concordes, o boêmio, o artista e o escritor sagrado. É preciso se convencer de que ainda é preciso arrumar o mundo e não pensar como os de visão bitolada, que tudo está bem arrumadinho.
É claro que a ciência e a técnica também querem arrumar o mundo. Mas, a arrumação da ciência e da técnica é diferente da arrumação do artista e do boêmio. Aquela é uma arrumação cartesiana, lógica, fria, racional. Há alguma coisa mais lógica no mundo do que a máquina? Talvez a mente de um louco. A arrumação do artista e do boêmio escapa à lógica, ao racional, ao calculado. Se quisermos, é uma arrumação onírica, intuitiva, humana, cheia de calor humano e afetivo. A arte sempre foi irmã do sonho. E o sonho é o que há de mais em nós mesmos. A razão nos enlouquece. O sonho pode nos surpreender e angustiar. Mas é o que está mais perto da nossa realidade profunda. Por isso acredito que a técnica só não desumanizará o homem se andar de mãos dadas com a arte.
Geralmente, quando se fala em boemia, se pensa em alguém em serenata noite a dentro, em música, em mulher, em amor. E, de fato, isso também é boemia. E da boa. Este, porém, é só um tipo ou um dos modos de manifestação da boemia. Se há o boêmio das noites, da lua, das mesas de bar, da música, do amor que lhe dá sempre um ar de cavaleiro andante, é justamente porque ele não concorda com o mundo arrumado dos sujeitos-substantivos-comuns, dos silogismos, das coisas bem arrumadas. Boemia é, antes de tudo, um estado de espírito. De inconformação, de aventura, de libertação de tudo que possa limitar, aprisionar, encurralar o homem. Para mim a boemia talvez comece, na sua fase mais simples, digamos assim, nas serestas, na bebida, na noctivagação. Mas não se esgota aí e, sim, alcança em suas formas mais sublimes as grandes aventuras do espírito humano que se exprimem através das lendas, dos mitos e se realizam na vida e na obra daqueles que foram capazes de romper as barreiras para levar o homem aos seus mais altos momentos de grandeza humana: Prometeu foi um boêmio divino; Francisco de Assis, o foi. Colombo foi um boêmio; Rimbaud foi um boêmio; Van Gogh, o foi; os astronautas são boêmios (a terra é azul...); Cristo não terá sido um boêmio?...


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A poesia é necessária?



cogito
Torquato Neto (1944-1972)


eu sou como sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem grandes secretos dentes
nesta hora

eu sou como sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim



quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Shane Braithwaite.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

Bernardo, Frei José, Casimiro e Carolina



Pedro Lucas Lindoso


Uma das ruas mais icônicas do Centro Histórico de Manaus é a de Bernardo Ramos. Lá está situado o IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas do qual eu tenho a honra e privilégio de ser membro efetivo. A rua já se chamou Rua de São Vicente, nome também da antiga ilha que denominava o local.
Todavia, Bernardo Ramos merece a homenagem. Arqueólogo, poliglota e numismata foi Intendente Municipal em Manaus e criador do IGHA.
Na Rua Bernardo Ramos temos ainda o prédio da primeira Loja Maçônica do Amazonas. A Esperança e Porvir, fundada em 1872. Além da Loja Rio Negro outra pioneira da maçonaria amazonense.  No final da rua fica a sede do Nono Distrito Naval. No início dela fica o Arquivo Público e a 29ª Circunscrição do Serviço Militar. A rua abriga ainda o BAHSERIKOWI – Centro de Medicina Indígena e o Instituto Amazônia.
Paralela à Rua Bernardo Ramos temos a também famosa Rua Frei José dos Inocentes. Outrora chamada de Rua do Trem. O que é um mistério porque nunca houve trens em Manaus. Houve bondes. Famosos e democráticos, os bondes eram administrados e operados por conceituada empresa britânica. Também é justa homenagem ao Frei José dos Inocentes, paraense que viveu em Manaus na segunda metade do Século 18, onde exerceu a função de Vigário Geral.
Paralela a ambas temos o início da Avenida Sete de Setembro, que nasce na beira do rio Negro e se chamou Rua Municipal. E por falar na data, já é hora de lembrar e planejar os 200 anos da independência em 2022.
Mais abaixo temos a Rua Visconde de Mauá que homenageia o comerciante, industrial e banqueiro do Segundo Reinado. Mauá foi o grande responsável pela industrialização do Brasil no período do Império.
Para ligação entre a Rua Bernardo Ramos e a Frei José dos Inocentes temos o Beco Casimiro. Quem teria sido esse Casimiro?
Para se ter acesso a Avenida Sete de Setembro pela Bernardo Ramos é preciso tomar a Travessa Carolina. Não há endereços na Travessa Carolina. Apenas os muros dos casarões, que vão de uma rua a outra.
Eu também me pergunto: quem teria sido Carolina, que leva o nome da travessa que liga ruas tão importantes? Alguém que foi homenageada numa pequena travessa onde não mora ninguém.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Nos ouçam...



David Almeida


Enquanto houver energia o silêncio da voz não impedirá o grito pela vida, nem a falta dos pés no chão atrapalhará a caminhada de quem corre atrás da sua existência; de quem sente a terra fértil, querendo fecundar o amor. E o olhar, sob a moldura da janela da alma, vê, como é curta a distância, onde as mãos poderiam se entrelaçar, onde a raça humana estaria livre dos preconceitos, onde a palavra de sustentação da vida poderia ser ouvida apenas com um simples gesto de leves movimentos de um corpo. Nos ouçam...
A vida é só uma. As diferenças de viver dentro de uma sociedade desigual é que atropelam as relações entre os viventes, e até o silencio de quem já viveu.
 Nos ouçam, nos toquem, nos sintam! Somos vidas, somos gente, somos como as flores!  Somos como as águas cristalinas das fontes; somos a resistência. Não desistimos do mundo porque somos luz, somos sombras também, somos os ventos que alegram as velas e animam a solidão das jangadas na imensidão dos mares, somos as brisas que calmamente acariciam a relva verde.
Somos as pedras do caminho; asas de passarinho, somos parte um dos outros, somos nós e vós, portanto, fazemos parte do mesmo planeta, ainda azul! A vida sem nós é só um pedaço, somos tudo pra vida, somos tudo pra todos. Nos ouçam...
Somos o sol, a chuva, a claridade das manhãs e o cinza das tardes. Somos a noite, o brilho das estrelas na lua cheia de vida. Tudo na vida é preciso, mas viver é a razão de quem vive pra poder até navegar, voar, ou patinar na geleira azul da solidão.
Quer me ver, me tocar? Então, olhe para você mesmo diante do espelho, a imagem refletida é a da vida, embora não fale, não cheire, não resmungue só se movimente, mas é a tua vida, são os gestos, os movimentos que podem dizer muita coisa, até salvar uma vida. Até curar tua ferida, e, até dizer que te ama. Somos parte de uma construção, somos parte de um todo, e a razão de se emocionar quando a vida aparece como uma luz no final do túnel e clareia nosso caminho de esperança. Nos ouçam!!!  

domingo, 13 de outubro de 2019

sábado, 12 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Arantza Sestayo.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A poesia é necessária?



Marília de Dirceu
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1809)

35

Esprema a vil calúnia muito embora,
entre as mãos denegridas e insolentes,
os venenos das plantas
e das bravas serpentes;

Chovam raios e raios, no meu rosto
não hás de ver, Marília, o medo escrito,
e medo perturbado,
que infunde o vil delito.

Podem muito, conheço, podem muito,
as fúrias infernais, que Pluto move;
mas pode mais que todas
um dedo só de Jove.

Este Deus converteu em flor mimosa,
a quem seu nome dera, a Narciso;
fez de muitos os astros,
qu’inda no Céu diviso.

Ele pode livrar-me das injúrias
do néscio, do atrevido, ingrato povo;
em nova flor mudar-me,
mudar-me em astro novo.

Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
em tão tirano mal me não socorrem,
verás então que os sábios,
bem como vivem, morrem.

Eu tenho um coração maior que o mundo,
tu, formosa Marília, bem o sabes:
um coração, e basta,
onde tu mesma cabes.



quarta-feira, 9 de outubro de 2019

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Pasta 007 versus celular



Pedro Lucas Lindoso


Encontrei meu amigo Dr. Chaguinhas no fórum. Portava um potente celular de última geração. Estávamos no balcão de uma das varas analisando um processo ainda “físico”, pendente de digitalização. Pedi ao Chaguinhas uma caneta emprestada.  
– Não uso mais caneta. Escrevo tudo no celular ou bato foto. Uso celular para tudo, explicou-me.
De fato, o celular substituiu muitos itens como a própria caneta, a calculadora, o calendário, a agenda e o bloco de notas. Incrível.
Chaguinhas também não usa mais relógio de pulso nem despertador. Disse-me que durante anos usou um despertador alemão da marca EUROPA, em metal dourado. Herança de seu pai. Tem o formato de livro com função de relicário, com duplo mostrador em madrepérola. Está guardado em seu escritório junto com sua caneta “Mont Blanc”, uma calculadora de bateria solar, relógios diversos e outras relíquias pessoais.
Lembrei-me que usei um rádio-relógio durante anos como despertador. Atualmente, também uso o celular para despertar ou lembrar compromissos.
Chaguinhas adotou de vez o mundo digital e virtual. E tickets, título de eleitor, e tudo mais que possa caber nesse fantástico aparelhinho de bolso que os gringos chamam de “mobile”. Além do útil e necessário aplicativo de bancos.
Sua famosa pasta 007 também foi aposentada. Disse-me que uma das coisas que mais pesava, além dos processos, era o dicionário.
– Sempre tive um dicionário por perto. Mania de dicionários. Afinal trabalhamos com palavras. Nós, advogados, somos todos escritores em potencial.
 Chaguinhas mostrou-me um excelente aplicativo que fornece tudo sobre os vocábulos. Significado, morfologia, principais sinônimos, separação silábica, antônimos, palavras com a mesma terminação, a etimologia das palavras e pasmem, a palavra escrita ao contrário. Já até baixei no meu celular e estou usando muito.
 Para muitos advogados, e não só para o Chaguinhas, a pasta de couro ou a famosa 007 virou coisa do passado. As maletas com trava e alças curtas simplesmente já não se encaixam no moderno estilo de vida. À medida que o mundo acolhe o ambiente eletrônico em detrimento dos documentos de papel.
Na famosa maleta 007 de Chaguinhas tinha relógio, calculadora, calendário, agenda, bloco de notas, dicionário, livros e processos. Tudo isso hoje cabe no seu celular top de linha.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Zemaria Pinto lança 3.ª edição de O Texto Nu





Do alto dos seus 21 livros já publicados, 11 dos quais pela Editora Valer, Zemaria Pinto vai autografar, no dia 8, terça-feira, às 19h, na Livraria Leitura (av. Djalma Batista), a terceira edição de O Texto Nu: teoria da literatura – gênero, conceito, aplicação.
O Texto Nu, por ser um livro bem resolvido na proposta de apresentar aos iniciados e iniciantes os fundamentos e conceitos da Teoria Literária, conquistou, principalmente, a aprovação de professores e alunos de Língua Portuguesa do Ensino Médio e acadêmico de graduação e pós-graduação em Letras.
É um livro que também capta os debates e estudos da Teoria Literária, apresentando-os na sua dinamicidade, atualizada e não fechada às novas possibilidades de conhecimento. “Seu livro é daqueles que já nascem clássicos”, enfatiza o professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rogel Samuel, na orelha da obra.
Zemaria Pinto afirma que O Texto Nu é recomendado nos cursos de Letras das universidades do Amazonas, mas são muitos os leitores de outros ambientes intelectuais. “O Texto Nu é um livro que traça um panorama da Teoria Literária, sem complicações”, define o autor. O livro apresenta diagramas e fotografias de autores e obras de arte que colocam o leitor no contexto dos temas abordados.
No capítulo Fundamentos da Teoria da Literatura, por exemplo, os subtemas são: “Texto-obra x Texto-objeto”, “Forma x Conteúdo”, “Análise Sincrônica x Análise Diacrônica”, “Aristóteles e alguns conceitos fundamentais”, “A gênese dos gêneros literários” e “Os gêneros hoje”.
Ou como no capítulo Prosa de Ficção, com os itens: “Narrativa”, “Plano da enunciação”, “Plano do enunciado”, “Outras espécies de prosa de ficção”, “As formas da narrativa” e “Três formas (muito) especiais de narrativas”.
A professora do Curso de Letras da UEA/Parintins Dilce Pio adota o texto em suas aulas e destaca suas qualidades: “Excelente para o ensino da Teoria Literária. Destrincha os assuntos para o leitor, tornando-os mais acessíveis, e apresenta várias possibilidades de análise e interpretação. Eu sempre recomendo O Texto Nu aos meus alunos”.
A também professora de Letras UEA/Parintins Delma Pacheco Sicsú tem o livro como referência para suas aulas e pesquisas. “O autor [Zemaria] consegue ser didático sem que isso implique na perda da profundidade que os temas abordados exigem”, disse a professora.
Ela lembra que conceitos considerados de difícil compreensão, como Verossimilhança e Mimese, com o auxílio de O Texto Nu, ficam mais palatáveis e “isso facilita a aprendizagem”. Zemaria, para Delma, é mais uma prova de que o Amazonas tem autores – desde teóricos a poetas – que precisam ser valorizados nas escolas e nas universidades. 
  “São poucos os livros que alcançam três edições em tão pouco tempo”, explica o editor Isaac Maciel, referindo-se a um período de três anos. A tendência de O Texto Nu, salienta Isaac, é conquistar cada vez mais leitores, principalmente a partir de agora, com o acervo da editora disponível em várias plataformas virtuais.

Entrevista com o autor

O que significa, para o senhor, ver seu livro conquistar a terceira edição?
O Texto Nu nasceu da percepção de que não havia, para o ensino da Teoria da Literatura, um livro que abrangesse, pelo menos de modo introdutório, todos os assuntos da matéria. Assim, ao longo de cinco anos, com várias interrupções, eu o fui escrevendo. Vê-lo chegar à terceira edição, ainda que em tiragens modestas, é o reconhecimento de que nossa visão – do Paulo Graça, do Tenório Telles e minha – estava certa. Por algum tempo, eu penso, esse livro ainda será útil aos estudantes de Teoria da Literatura e mesmo àqueles que, sem estudar Letras, se interessam pelo fazer literário. 

Houve acréscimo de conteúdo?
Pouca coisa. Acatei algumas sugestões do professor Marcos Frederico Krüger, que o utiliza com seus alunos da UEA. Mas o livro é adotado em outras universidades.

Há sempre queixa sobre a falte de leitores para o livro impresso. O senhor engrossa esse coro?
O livro impresso é apenas um suporte – e, como tal, tende a ser substituído por suportes mais modernos. Acho fantástico, num tablet, carregar toda uma biblioteca, e poder consultar qualquer volume, a qualquer momento, em qualquer lugar. O cerne da questão é outro: o livro, esse não vai desaparecer jamais, porque ele, em papel ou digital, é o veículo do conhecimento humano, de todas as áreas do conhecimento.

O senhor tem outros livros publicados pela Valer. Fale-nos sobre eles.
Tenho muitos. (rsrsrs) Tenho poesia (Música para surdos), teatro (Nós, Medeia), ensaios (O conto no Amazonas e A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos), ficção juvenil (A cidade perdida dos meninos-peixes e O beija-flor e o gavião), infantil (O urubu albino e Viagens na casa do meu avô), além de dois didáticos, sobre criação de textos, para o ensino fundamental. Dos meus 21 livros já publicados, 11 foram pela Valer. Fico feliz de perceber que a Editora está se revitalizando. A Valer tem um papel histórico da maior relevância na cultura do Amazonas.

Seria possível traçar o perfil dos seus leitores?
Pelos gêneros acima relacionados, vê-se que os meus livros são direcionados aos mais jovens, que podem continuar me lendo, começando com os infantis e indo até aos ensaios para a universidade. Isso não quer dizer que não interessem aos mais velhos, mas a preponderância é para o público jovem, em geral. 

Há alguma nova obra a caminho dos leitores?
Tenho dois juvenis na gaveta: Curupira moleque e A dama e o Cachorrinho. E, já no prelo, dois trabalhos que eu organizei: Águas do dia e da noite, uma seleção de estudos sobre a obra de Elson Farias, que sairá pela AAL [Academia Amazonense de Letras]; e A poesia expressionista de Augusto dos Anjos, uma antologia crítica dos poemas expressionistas daquele autor, que sairá em edição independente.

Serviço
O livro O Texto Nu já está disponível para venda na Livraria Leitura no Amazonas Shopping, nos sites da Editora Valer:
https://www.submarino.com.br; das Lojas Americanas:
https://www.shoptime.com.br; e, em Manaus, na loja física da editora, na rua Rio Mar, 63, bairro Nossa Senhora das Graças.
Nos mesmos endereços podem ser encontradas outras obras publicadas pela Editora Valer, a maioria sobre temas amazônicos.

(Release da Editora Valer)


domingo, 6 de outubro de 2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Laurie Cooper.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Academia de Portas Abertas: palestra, poesia e música



A poesia é necessária?


Hoje não

Anne Lucy
  

Hoje não quero fazer nada!
Tirem-me daqui as convenções
O costume e a moral
Hoje quero ser eu em estado vegetal!

Quero não pensar demais
Não ter preocupações
Sair do convencional
Tirar-me as ocupações

Buscar apenas a felicidade
Com muito ócio e banalidades
Uma vida dionisíaca
Ser de Baco uma amiga

Hoje me quero vazia!
Estou cansada de transbordar
Diversos sentimentos
Em risos e lágrimas me acabar

Quero ser niilista, egoísta
Narcisista, vigarista, masoquista
Rotulem-me, decifrem-me
Quem poderá me absorver?

Hoje é dia de feira das emoções
Quem pagará por um sentimento?
Eu transformo tudo em canções
E escapo de qualquer julgamento.