Pedro
Lucas Lindoso
Do
alto de seus cento e dezoito anos de idade o majestoso Teatro Amazonas
contempla a sua amada e suntuosa Arena da Amazônia. Enamorado do novo ícone,
rival em beleza e importância para os manauaras, a famosa Casa de Óperas
declara-se para o recém-inaugurado postal da cidade:
“Assim
como eu, você foi criticada durante toda a construção. Muitos foram contra. Não
nos queriam em pé. Alguns a favor. E naturalmente, todos se beneficiaram. Eu
sou do ciclo da borracha. Você é do ciclo Zona Franca. Na minha época, como
agora, Manaus se apresentava ao mundo como um centro urbano cosmopolita. Foi
criada uma universidade, que, dizem, seria hoje a federal do Amazonas. Há
controvérsias. Nesses novos tempos criou-se também mais uma: a universidade do
Estado do Amazonas. Nem tudo está perdido. Mas, querida arena, você está nos
seus dias de glória. Todavia, não se engane. Você não será somente palco de
jogos internacionais. Como eu não fui só de óperas italianas e memoráveis
espetáculos teatrais. Não. Servi também para sórdidos espetáculos de vaudeville, comédias de baixo calão,
regabofes, banquetes inconfessáveis, e pasmem! Depósito de borracha in natura! E você, querida arena, vai
receber o papai Noel de helicóptero, vai ser palco do peladão e muito show tão contestável
como alguns espetáculos de atores canastrões que por aqui passaram. E claro, como
eu, você será desvirtuada, vilipendiada, reformada, restaurada, usada e
abusada. Eu fui concebido nos tempos em que os republicanos precisavam mostrar
força e pujança. Não é a toa que minha cúpula é verde e amarela. Viva a
República, minha querida. Agora você é o suprassumo da era dos ecologistas e da
sustentabilidade. Com seu jeitinho charmoso de cesto com motivo tribal, você
ficou linda! Reflete totalmente, a nossa identidade. Assim como eu, você foi projetada
longe daqui da floresta. Claro, seu projeto atendeu exigências ambientais. A
água da chuva é armazenada e a luz solar, abundante por aqui, gera energia
limpa e renovável. O uso de tais tecnologias foram concebidas por uma empresa
da Alemanha que andou fazendo outras arenas pelo país, segundo me informaram. Já
o meu projeto arquitetônico foi feito pelo Gabinete de Engenharia e Arquitetura
de Lisboa e me orgulho muito da minha decoração interna, sob a responsabilidade
de Crispim do Amaral, e, claro, do meu luxuoso Salão Nobre, entregue ao famoso
artista italiano Domenico de Angelis. Não ligue para essa ponte sobre o rio
Negro, que se diz também cartão postal. Nós somos do espetáculo, da diversão,
da alegria, do fausto, da festa e do riso. A ponte só leva e trás. Ah! Vou te
contar um segredo: Caruso jamais cantou no meu palco. Isso é lenda. Mas não
conte para ninguém. Você também terá seus mitos e mistérios. Mas de uma coisa
ninguém poderá negar. Apesar do fiasco português, o atacante Cristiano Ronaldo,
tido como o melhor do mundo, jogou no seu gramado durante a maior copa que o
Brasil já viu. Que o povo de Manaus nos conserve e nos use com dignidade,
sempre. Um beijo amazônico para você, querida ARENA DA AMAZÔNIA!”