Pedro Lucas Lindoso
Há muito tempo não ouvia a palavra
bisbilhotar. Minha avó usava muito
esse vocábulo. Detestava pessoas que andavam em mexericos e intrigas. Dizia que
não devemos bisbilhotar a vida dos outros.
Almir Coimbra, meu professor do antigo
ginásio em Brasília, gostava de usar a palavra mexericar. Achava eu que era um termo bem brasileiro. Mas não!
Professor Coimbra quando queria fazer uma fofoca
citava Eça de Queirós em O Primo Basílio:
“A vizinhança já se punha a mexericar,
a comentar. Um escândalo!” E então contava seu mexerico. Uma figura, o
professor Coimbra! Era professor de Desenho. Fizeram uma reforma educacional e
acabaram com a disciplina. Foi introduzida Educação Moral e Cívica. O professor
desgostoso aposentou-se e foi mexericar
no Rio de Janeiro.
Em Portugal, além de mexericar, usa-se muito a expressão coscuvilhar. Raramente os portugueses
usam a palavra fofoca. Essa
sim, é definitivamente uma palavra
brasileira. Fuxico também é palavra nossa.
Nas cidades pequenas, nos burgos
medievais, a fofoca corria solta.
Todos davam conta da vida alheia. Hoje, na era da informática, do weakleaks e
do facebook, nada mudou. Todos continuam dando conta da vida dos outros.
Na verdade, não existe sigilo. Nem
telefônico, nem fiscal, nem bancário. Na época das locadoras, foram bisbilhotar que tipo de filme um
candidato à Suprema Corte dos Estados Unidos costumava locar. Um escândalo.
Sobre o assunto, meu colega de
fórum Dr. Chaguinhas sempre me ensina que só existe segredo entre duas pessoas.
Se um terceiro fica sabendo deixa de ser segredo!
O fato é que foram bisbilhotar o celular da primeira-dama
Marcela Temer. A Justiça determinou aos jornais Folha de S.Paulo e O Globo
a não veicular textos que tratam do roubo do celular
e das contas de e-mail da primeira-dama Marcela Temer. O juiz de
primeira instância em Brasília que deu a liminar andou mal. O Egrégio Tribunal
de Justiça do DF revogou a medida. O desembargador que cassou a liminar
explicou que “não há como consentir que um órgão estatal defina o que a
imprensa irá publicar”. Disse ainda que “as relações de imprensa prevalecem
sobre as relações de vida privada”.
Para o sábio Dr. Chaguinhas, ao
analisar o imbróglio e sempre contra
qualquer tipo de censura foi curto e grosso:
– Quem está na chuva é para se
molhar.