Amigos do Fingidor

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Amazonidades: gesta das águas, de Marta Cortezão

  

  

Amazonidades: gesta das águas passa por um livro de poesia, mas é muito mais que isso: é um compêndio de Amazônia, uma súmula do imaginário dessa região que se espraia por nove países e, no Brasil, por nove estados, e agora, em domínios de Castela e Leão, funda um virtual território independente, representado pela poesia de Marta Cortezão.

Ler as trovas de Marta é como remexer uma biblioteca de sonhos, o imaginário amazônico, onde todo o conhecimento do “povo das doces águas” está reunido: os acesumes, as comilanças, as leseiras, as caboquices, os encantados – nossos mitos ancestrais. Marta inventa palavras e, como Drummond, torna outras mais belas: “Apeixono-me de escama / em noite de virar bicho”; “canoei todo um rio-mar”; “O que assaranha uma vida?”; “Sevava palavras cruas”; “e na cólera das horas”; “pois janeirava à tardinha”. São apenas amostras. O leitor poderá “caniçar” outras dezenas de exemplos brilhantes. 

Duas linhas de pensamento são recorrentes: a sensualidade e a metalinguagem. Às vezes, elas vêm juntas: “A traquinagem do verso / faz vaginar pensamentos; / então me entrego, de certo, / ao falo afoito do vento.”  As metáforas são sempre construídas com elementos do imaginário: “Pensamentos escamei, / aparei todas as abas, / as cicatrizes limpei / e salmourei as palavras.” E observem o domínio da métrica e das rimas – toantes, inclusive.

Senhora de seus elementos, Marta Cortezão revela-se, sobretudo, senhora de seu ofício.

Zemaria Pinto

 

(Orelha de Amazonidades: gesta das águas, de Marta Cortezão)

 Disponível para compra  na loja da Editora Penalux.


 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A poesia é necessária?

                   Todo corpo

Cândida Alves

 

Todo corpo

toda vida explica

nos seus rastros

sempre uma notícia

escrita nos seus traços

todos os anseios

no mover dos braços

 

todo corpo

traz um benefício

sobre suas curvas

e algum sacrifício

com lembranças turvas

marca suas dobras

 

todo corpo amado

ou desolado chora

toda sua virtude

e seu pecado aflora

 

todo corpo

mostra seus segredos

e encontra outros medos

quando abre os olhos

 

todo corpo

uma mente oculta

 

todo corpo é alma

enquanto vida pulsa



terça-feira, 28 de dezembro de 2021

O anão do açougue - em nova edição



 

Curumim Jesus

 Pedro Lucas Lindoso 


É Natal na floresta das chuvas. Aqui não há neve, mas chove. E muito. Nessa época do ano o rio começa a encher. Até junho as chuvas serão abundantes, como sempre.

Carlos fez sua casa longe do rio. Num barranco. Assim evita problemas com a cheia. Sua esposa Joana é professora da comunidade. Carlos, além de pescar, produz açaí e castanha. O casal tem dois filhos. Um curuminzinho de dois anos e uma linda cunhantã de cinco.

Joana fez uma bela árvore de Natal para alegrar as crianças. Sabiamente, enfeitou sua árvore com coisas da floresta. Pintou caroços de tucumã para fazer bolas. Fez enfeites com palha de açaí e ouriços de castanha. Ficou uma maravilha.

Carlos veio a Manaus comercializar seus produtos e fazer compras. Perguntou a sua esposa se ela queria algo especial. Joana pediu um presépio, se não fosse muito caro.

O presépio chegou numa caixa “made in China”. Provavelmente, os chinesinhos que produziram o presépio nunca ouviram falar de Jesus, Maria e José.

Joana adorou o presépio e decidiu montá-lo na escola. Queria compartilhar com seus alunos e a comunidade. Carlos que também é marceneiro caprichou na montagem. Areia do rio, palhas de açaizeiro e um lindo painel com lua, estrelas e o cometa que anunciava a chegada de Jesus, compunham, com singela beleza amazônica, o presépio vindo da China.

Quando ficou pronto Joana chamou os alunos e a comunidade para vê-lo. Um dos alunos pergunta:

– Quem é esse curumim?

Joana explica que o curumim é Jesus, que se faz curumim e nasce todo ano como Salvador do Mundo.

– E ele nasceu num tapiri?

– Não há tapiri em Belém da Judéia. Ele nasceu numa gruta. Pobrezinho. Esses pastores o reconheceram como o Salvador. Esses reis vieram visitá-lo e trouxeram presentes, explicou a professora Joana.

– Pensei que Deus fosse gente grande! Exclamou uma cunhatã muito sabida.

Deus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, explica Joana. Esse curumim é Deus. É o curumim Jesus.

 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

domingo, 26 de dezembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLVII

 

Praça do Congresso, vista da escadaria do IEA.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O penico de Richelieu

Zemaria Pinto

 

Os três tomos escurecidos, com cerca de 40 centímetros de altura e 20 de largura, dominavam o centro da pequena estante, tomada por outros livros – amarelados, raquíticos, esfarrapados. Herdados de seu pai, aqueles três volumes, editados em Lisboa, mas impressos em Paris, eram sagrados para Armando: a biografia de Armand Jean du Plessis, primeiro-ministro de Luís XIII, duque de Richelieu e Fronsac, cardeal de Richelieu, a mente diabólica por trás do conceito de absolutismo, em que um ser humano, frágil e falível – e, invariavelmente, canalha –, detém poderes que só aos deuses é permitido acumular. Mas era exatamente essa ousadia, capaz de seduzir o rei da nação mais poderosa da época, que atraía pessoas simplórias como Armando e, antes, seu pai, o rábula Diogo Silva. O nome do menino, claro, não era mera coincidência.

Desde adolescente, Armando, um orador vibrante, mas de um palavreado vazio e desconexo, que não articulava um pensamento completo, tinha comportamentos esquisitos, como andar imitando o que seria conhecido, muito tempo depois, como o “passo do ganso”: a perna levantada, jogada para frente, e o braço correspondente, em movimento assimétrico, jogado para trás. Não demorou muito para que os moleques começassem a molestá-lo, atirando pedras e taxando-o de doido. Minto, o processo foi lento, pois Armando alternava lucidez e estranheza. Os anos foram passando e Armando ficou conhecido como o “doidinho” da cidade. Um deles, na verdade, pois outros havia, inclusive o famoso Andaluz.

A cidade, Vila Bela da Imperatriz, que já fora Vila Nova da Rainha, era pouco menos que um ponto nos mapas da nova Província, com algumas centenas de almas, dispersas em duas ou três ruas e dezenas de sítios, espalhados não só pela ilha, mas também na extensão rural que ia do Paraná do Ramos até o Nhamundá.

Armando começou a inspirar cuidados de doente mental perigoso quando recebeu uma encomenda da Corte: um penico esmaltado, ricamente trabalhado por um fino artesão francês. A curiosidade geral perguntava o que ele iria fazer com aquela obra. A resposta foi imediata: Armando passou a exibir o belo penico, para cima e para baixo. Com seu andar idiota, o braço esquerdo agora ficava em estado de permanente tensão, carregando, em riste, o rico vaso. Ele explicava no seu estranho linguajar: “próximo do coração, o penico guarda com meu peito uma relação metonímica.” Perguntado sobre o que o penico representava, Armando dizia, com os olhos marejados, que aquela joia pertencera ao Cardeal de Richelieu. Nele, a “inteligência suprema da humanidade” escarrou, urinou e, com um pouco de sorte, até “defecou fezes luzentes, inefáveis e indizíveis” no pequeno receptáculo cardinalício e ducal.

– Aberrações em forma humana, vocês deveriam ajoelhar-se diante deste pequeno milagre da “art de France”!

Foi quando Armando desandou a falar francês. De início, algumas palavras ou frases curtas. Em pouco tempo, já estava discursando em francês, o que não fazia diferença nenhuma já que ninguém o entendia em português. Armando atribuía sua “évolution” a “le pot de chambre miraculeux de Richelieu”.        

Conhecido na Vila e arredores como “Le Petit Richê” ou simplesmente “Richê” – num lugar que ganharia fama futura por apelidar até os apelidos –, Armando foi eleito vereador e só não chegou à presidência da Câmara, o que equivalia a ser o alcaide do lugar, porque um juiz de maus bofes, desses que vivem nas sombras, vindo de um paraná das redondezas, declarou-o relativamente incapaz. “Moi, relativement incapable?”, perguntava-se Richê, denunciando ao Baixo Amazonas e ao mundo a injustiça de que fora vítima. “Le peuple a perdu!”

Em não raros momentos, Armando declarava seu sonho de fundar uma Academia, “avoir l'académie française comme modèle”. Mas, naquele fim de mundo, como encontrar intelectuais a sua altura? “Ici, la médiocrité règne. Je suis seul.”

Passaram-se os anos, Armando foi definhando a olhos vistos. Abandonou o passo de ganso e passou a usar o penico como chapéu. Numa tarde de setembro, ele assistia ao pôr-do-sol – em tons de laranja e azul, dignos de Renoir – do alto de um barranco. Foi a última vez que o viram. Ninguém explica o que aconteceu, embora não faltem teorias: foi atraído e levado pela Mãe-d’água, foi abduzido por selenitas, metamorfoseou-se em cágado... A verdade, entretanto, é uma só: Armando Silva, conhecido como Le Petit Richê, sumiu, desapareceu, escafedeu-se, deixando como única prova de sua passagem por este mundo o penico de Richelieu, àquelas alturas já bastante deteriorado – pelo que ficou ao léu, e, sem que ninguém atinasse ao seu valor histórico-sentimental, foi anulado da memória da Vila.

Mas, Armando não foi de todo esquecido: há pesquisadores – na UFAM, na UEA e até na UFOPA – que defendem a tese de que as cores de dois famosos bois-bumbás da região o homenageiam, usando as cores de França. Como diria Richê, “le bleu et le rouge, unis par le blanc.”

 

PS1: esta história me foi contada por uma aluna, em janeiro de 1989, quando estive, por três semanas, em Parintins, dando aulas de Teoria Literária. Pelo lado materno, essa aluna descendia dos Tupinambás; pelo lado paterno, da família do patriarca Diogo Silva. Mas, o assunto em casa era tabu, pois acreditavam que a loucura é hereditária. Por isso não revelo seu nome – mas, guardo em mim a lembrança de uma lua cheia refletida em seus infinitos olhos negros.

PS2: quase vinte anos depois – não por acaso, em uma noite de lua cheia –, numa memorável sessão do Chá do Armando, o velho Sumaúma, que era parintinense e exímio contador de causos, narrou, com riqueza de detalhes, a mesmíssima história, ouvida por vários amigos presentes, alguns dos quais ainda vivos.

 

Aos dois – à moça Tupinambá e ao Armando Sumaúma de Menezes  

ofereço, dedico e consagro.

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A poesia é necessária?

                  A noite dos magos

Cláudio Fonseca

                                                            

Para Luiz Bacellar

 

Por que um deus já não marca,

como outrora, a fronte dos homens,

nem distingue, com o seu sinal,

o que foi escolhido?

Friedrich Hölderlin 

 

Ele sentava ali,

na eternidade.

Não mais que um porão cheio de ratos,

atlas, adagas, moedas antigas,

bengalas, gravuras, discos, relíquias...

 

Livros e livros.

Obras de arte,

recortes, aranhas, ...monte de trastes.

 

Ele ali –

...na eternidade.

 

Eu, escondido, na madrugada,

à hora em que a sala se transmutava.

 

Primeiro – acordes na flauta de Pã.

E entrava, alegre,

uma rã.

 

À mesa enorme, arturiana,

chegavam secretos, senhores, damas...

A luz vinha em tochas, em vidros azuis.

Dentro, profano – um luar cigano,

um cego chorava e cantava blues.

 

Depois, entre si trocavam grinaldas

de cobras, com escamas de esmeraldas.

 

Seus rostos e nomes mudavam constante.

Iam à estante, sumiam em livros.

Outros, medonhos, migravam em mitos.

 

Velhas estátuas tomavam vida

e voltavam em busca da forma antiga.

Cada relíquia que era tocada

gritava em dor. Pela escada

desciam, subiam, e sumiam fadas.

 

As velhas paredes viravam planos

de outras visões e arcanos.

 

Viam-se torres. Em suas janelas

passava cortejo e uma donzela.

Sóis penetravam, lentos, nos rios,

deixando fagulhas de ouros frios.

Vi caravanas em dunas gigantes.

Tribos Masais logo adiante.

Celtas forjando bronzes e lendas.

Keats passando... todo poemas.

 

(Um dia, na sala, quase alvorada,

um galeão espanhol saiu das águas.)

 

Os magos, sinceros em seus ofícios,

brindavam às vezes, com o suicídio –  

quando perdiam o fervor à Arte

ardiam em piras – círios de mártires!

(Suas origens teriam sido

de linhas puras

de infinito.)

 

Eu ansiava, noites e dias,

ser o jogral dessa confraria.

Lorca, Pessoa, Rilke... enfim,

que um dia tocassem meu pobre Mim.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Não esqueça sua rede

Pedro Lucas Lindoso

 

Época de Natal e final de ano. Muitas pessoas viajando para passar as festas em família. É possível que mais da metade da população manauara não tenha nascido na cidade. Muitos são do interior do estado. Há milhares que são brasileiros de outras unidades da federação. Além dos muitos estrangeiros.

Boa parte desse pessoal sai da cidade por via aérea. Mas há muitos amazonenses que vão visitar seus parentes no interior do estado viajando nos famosos barcos chamados de motor de linha. Viajar de “motor” precisa ser caboclo raiz. Os barcos levam horas e até dias para chegar ao destino. Além de gostar de “bolacha de motor”, o caboclo tem que ter know-how em viagens pelos nossos rios.

Tenho um amigo, o qual chamarei de Messias, para evitar constrangimentos. Pois bem, quando jovem, o repórter Messias foi escalado para cobrir o Festival de Parintins. Recebeu um “voucher” do jornal. Viajaria num “motor de linha”. Era sua chance de deslanchar na carreira de repórter. O barco sairia às seis horas de Manaus com destino a Ilha Tupinambarana. Messias chega para embarcar por volta das cinco e meia. Entra no barco, achando que era o mesmo sistema de avião de carreira e pergunta:

– Qual o número de minha rede?

O comandante, um prático que havia sido fuzileiro naval e agora era armador, mas não de redes, estranhando a pergunta, respondeu logo:

– Tu não tens rede? Messias assustado, respondeu:

– Pensei que vocês forneciam. Então vou correndo comprar uma.

– Não vai dar tempo, o barco sai daqui a quinze minutos.

Messias pensou rápido e resolveu ficar. Mesmo sem rede. Não poderia perder aquela oportunidade profissional. Cobrir o festival. Se não fosse, o que diria na redação? Que explicação daria para o editor chefe do jornal? Não havia mais vaga em nenhum outro barco. Era ir ou ir. E ele foi.

Para relaxar foi logo para o bar do “motor” tomar uma cervejinha. O fotógrafo que o acompanhava não parava de rir do pobre Messias. Sentia muito, mas não iria dividir a rede com ele. Nem Messias queria. Ambos grandes e fortes, Messias era recém casado. Tinha uma esposa linda. Mesmo assim se engraçou por uma caboquinha com olhar assustado e de peixe morto. Resolveu pagar uma cerveja para ela. E engataram um namoro de viagem.

Ao chegar em Parintins, o fotógrafo foi logo comentando.

– Rapaz, tu arrumaste uma caboquinha bem feia, mano velho.

– Feia, mas tinha rede, retrucou Messias.

Atenção, se você for viajar de motor de linha neste final de ano, não esqueça sua rede.

  

domingo, 19 de dezembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLVI

Hotel Amazonas.

 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A poesia é necessária?

                   Hão de chorar por ela os cinamomos

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

 


Hão de chorar por ela os cinamomos,

Murchando as flores ao tombar do dia.

Dos laranjais hão de cair os pomos,

lembrando-se daquela que os colhia.

 

As estrelas dirão: – “Ai! nada somos,

Pois ela se morreu silente e fria...

E pondo os olhos nela como pomos,

Hão de chorar a irmã que lhe sorria.

 

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,

Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la

Entre lírios e pétalas de rosa.

 

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,

Pensando em mim: – “Por que não vieram juntos?”


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Salve a Rainha

 

Pedro Lucas Lindoso

 

É Natal. A figura do Menino Jesus é sempre reverenciada, posto que Ele renasce todo Natal para renovar nossas esperanças e fé. Mas não podemos esquecer Nossa Senhora, a Virgem de Nazaré. Ela, que deu à luz numa gruta, junto com animais. E depositou o Menino Deus numa manjedoura.

Desde sempre, em especial os católicos, suplicam a proteção de Maria. Que se tornou não só a Mãe de Jesus, mas também nossa Mãe.

O poder de Maria, dado por Deus, é tão grande e magnânimo, que já se manifestou em vários lugares e em diversas circunstâncias.

Em Fátima, Portugal, apareceu para três crianças que brincavam em um campo. Francisco, Jacinta e Lúcia, conhecidos como os três pastorzinhos. 

Em Lourdes, na França, Nossa Senhora se manifestou para a jovem menina Bernadette Soubirous, em fevereiro de 1858, na gruta Massabielle.

No Brasil, a sua imagem em terracota foi encontrada em outubro de 1717, por três pescadores, no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo. Os relatos de milagres da imagem de Nossa Senhora foram tão grandes que em pouco tempo o local se transformou em uma cidade: Aparecida do Norte. E Ela se tronou a Padroeira do Brasil, festejada em 12 de outubro.

Neste domingo, precisamente 12 de dezembro, se comemora uma das mais espetaculares manifestações de Nossa Senhora. Aconteceu no México. Nossa Senhora de Guadalupe apareceu pela primeira vez ao índio asteca Juan Diego. Na língua asteca, o nome Guadalupe significa Perfeitíssima Virgem. Juan rezava por seu tio quando teve a visão de uma mulher com seu manto todo reluzente. As autoridades eclesiásticas não acreditaram no jovem indígena mexicano. Exigiram-lhe uma prova.

Nossa Senhora então pediu a Juan Diego que subisse ao monte e enchesse seu poncho com flores. Era inverno. Ao mostrar as rosas à comunidade, sanaram-se as dúvidas. Uma das coisas mais belas dessa manifestação foi o fato de Nossa Senhora, em um ato de delicadeza, aparecer vestida como uma índia, morena, bem latino-americana e grávida.

Tornou-se a padroeira não só do México, mas de toda a América Latina. E manifestou-se grávida. Na mesma santa condição em que chegou àquela gruta de Belém, onde deu à luz o Salvador do Mundo.

Feliz Natal, com a proteção de Jesus e as bençãos de Nossa Senhora. Salve a Rainha, Santa Mãe de Deus.

 

domingo, 12 de dezembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLV

Cine Guarany, à esquerda.

 

sábado, 11 de dezembro de 2021

Monarco (17/8/1933 – 11/12/2021)

Monarco, maduro, visto por Denis.
 
Monarco, boêmio, na pena de Lan.

Monarco e o tempo, por Ulisses.

Monarco em Manaus, com Pinheiro: encontro de mestres.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A poesia é necessária?

                  6 haicais inéditos

Luiz Bacellar (1928-2012)

 

Luar de agosto.

No alheio telhado ao lado

concerto de gatos.

 

Búfalos na estrada.

A lua viaja nos

lombos da manada.

 

Noite de piracema.

A lua indiscreta mostra

a rota do cardume.

 

A araponga bate

na bigorna do tempo

estilhaços de luz.

 

O gato interroga

com o olhar malandro

o voo da libélula.

 

O peixe cospe

pra fora do lago

uma bolha d'água.


OBS: Continuam inéditos em livro, mas foram publicados, 

pela primeira vez, no blog o fingidor, em 19/02/2009.


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Dar nome aos bois

Pedro Lucas Lindoso

 

Temos aí uma nova variante do coronavírus batizada de ÔMICRON. Estão utilizando o alfabeto grego para dar nome às terríveis e temidas variantes do corona.

Há vinte e quatro letras gregas. ÔMICRON é a décima-quinta. A DELTA é a quarta. Antes dela temos as conhecidas ALFA, BETA e GAMA. Entre a DELTA e essa ÔMICRON há dez letras. Será que houve outras dez variantes e os nomes ficaram escondidos entre os cientistas? Ou não foram nomeadas. O fato é que a última conhecida variante foi a DELTA. Inclusive, famosa entre nós, amazonenses. Foi detectada por aqui.

Entre a ÔMICRON e a última letra, a também conhecida ÔMEGA, há nove letras. Espera-se que não tenhamos mais tantas variantes. Sabemos que a OMS – Organização Mundial de Saúde está dando os nomes às variantes.

A humanidade é ainda obrigada a enfrentar os também terríveis e temíveis furacões. Amedrontam as populações tanto ou mais que as pandemias. E também recebem nomes. Os nomes para os furacões são escolhidos pela OMM - Organização Meteorológica Mundial, com sede em Genebra, na Suíça. Usam-se nomes de homens e mulheres alternadamente.

O objetivo de se dar nomes é de evitar confusão e fazer com que seja mais fácil lembrar para se divulgar alertas e orientações. Penso que o mesmo critério serve tanto para os furacões quanto para denominar as variantes do vírus.

Nomear coisas e pessoas faz parte da condição humana. O filósofo Nietzsche, na obra A Gaia Ciência, nos ensina que cabe a nós humanos, geralmente usando de arte e engenho, “ver algo que ainda não tem nome, não pode ser mencionado, embora se ache diante de todos. Os originais foram, quase sempre, os que deram nomes”.

Shakespeare, na tragédia de Romeu e Julieta, deu ao mundo a frase: “O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem?”

No Espírito Santo, um recém-nascido foi registrado com o nome de Alquingel. De acordo com a notícia, os pais, com muito custo, conseguiram registrar o bebê. Comprovaram que um outro filho se chamava Influenza.

É preciso dar nome aos bois, às variantes de vírus, aos furacões. E claro aos inocentes bebês. Podemos ser originais, mas sempre responsáveis. A expressão “dar nome aos bois” é geralmente usada para denunciar. Dizer os nomes das pessoas envolvidas em determinada situação.

 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

domingo, 5 de dezembro de 2021

Manaus, amor e memória DXLIV

Igarapé dos Educandos, com o bairro ao fundo - na época das catraias.

 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

A poesia é necessária?

 

haicróstico

João Sebastião

 

Tece a tarde um fio

oculto pelos outeiros:

medram o sonho e o som

(dezembro/1994)


terça-feira, 30 de novembro de 2021

Não deixe a lua dormir

 Pedro Lucas Lindoso 


As luzes da cidade desvirtuam a luz da Lua e a claridade romântica do luar. Já no interior é diferente. A lua é importante porque ela pode ajudar na previsão do tempo. Quando a Lua surge amarela e traz um círculo roxo, haverá tempestade, chuva grossa e raios.

A lida dos seringueiros começa às onze horas da noite, quando ele sai para cortar as seringueiras e colocar para coar o leite que produzirá a borracha. Com chuva e tempestade, o trabalho fica ainda mais penoso.

Mas o que mais atordoa o seringueiro é quando há eclipse total da Lua, o que é muito raro. O cientista Fred Espenak, do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA – Goddard Space Flight Center, é um dos responsáveis pela previsão de eclipses.

Na alvorada da sexta-feira, dia 19, véspera do feriado da Consciência Negra, houve um Eclipse Lunar Parcial. Nas cidades ninguém se importa com isso. Mesmo porque é importante notar que, para ver bem os eclipses, é preciso ter um céu sem nuvens e com pouca nebulosidade. E o mais importante é que o horizonte deve estar livre da interferência de prédios ou qualquer coisa que impeça a visualização. Sempre é mais fácil vê-los no interior e nos beiradões dos caudalosos rios amazônicos.

Nesse último eclipse de 19 de novembro, a Lua ficou quase cem por cento de sua superfície coberta pela sombra da Terra. E ainda ganhou uma aparência avermelhada. O fenômeno começou por volta das 3h20, horário de Manaus. Durou muito tempo. Mais de 3 horas. Chaguinhas, dono de um seringal no rio Madeira, me disse que foi o evento lunar mais duradouro dos últimos 500 anos.

Foi o bastante para assustar os seringueiros que a essa hora colhiam leite das seringueiras. Felizmente o apogeu do eclipse se deu por volta das cinco horas, mas não foi possível ver porque a Lua já estava abaixo do horizonte.

Segundo Manoel Silvino que já passou por outros eclipses, o pessoal que estava na mata se assustou. Como era de madrugada, as crianças e as mulheres não viram. Senão haveria gritaria e bater de panelas. Num eclipse total, havido há muitos anos, as mulheres gritavam “acorda, Lua”, enquanto batiam panelas e acalmavam a criançada aos berros.

Chaguinhas se comprometeu a verificar anualmente as previsões de Fred Espenak do GSFC – Centro Espacial Goddard da NASA. Assim, poderá informar seu pessoal da calha do Madeira, com antecedência.

Eles precisam saber quando a Lua vai deixar de aparecer e tirar um cochilo. A Lua não pode dormir assim. Silvino pediu a Chaguinhas para não deixar a Lua dormir tanto tempo assim, como ocorreu neste novembro ainda pandêmico.