Pedro Lucas Lindoso
Depois de um profícuo e
prazeroso exílio de mais de trinta anos em Brasília, retornei a Manaus, onde
reatei amizades, laços e muitos contatos. O último que fiz, em pequena incursão
pela floresta, foi com o famoso Curupira. Sim, caros leitores, eventualmente,
tenho contatos com o um dos garotos mais astutos que conheço.
O Curupira tem seus pés
virados para trás e monta nos caititus com um cachimbo na boca.
É o sujeito mais ecologista
que conheço. Um verdadeiro ecochato. Protege como ninguém a floresta, os
animais e as plantações. Se alguém ou um caçador quer fazer algo que possa
prejudicar o meio ambiente ele procura enganar o criminoso ambiental. Faz a
pessoa se perder na mata.
Outro dia mostrou-me seu
machado, feito de casco de jabuti. Mas nunca foi usado para destruir ou cortar
árvores. O Curupira fica especialmente zangado quando alguém destrói um ninho
de passarinho ou mata filhote de animal.
Conhece todos os bichos da
floresta e deles me dá notícia. A onça pintada é nosso maior felino. Como não
há leão por aqui, disputa com a suçuarana a coroa de rei (ou rainha) da
floresta.
Parece que há alvoroço não
só nas cidades. Aqui pela floresta, a coisa está complicada, segundo me disse o
curupira. Muita conspiração entre os macacos. Existem os de vários tipos: o
prego, o preto, o de cheiro, o da noite. Parece que eles andam se
desentendendo. Até a preguiça, sempre solitária, manteve conversa com o quati.
Enquanto o caititu e a capivara, com as antas e tamanduás, andaram se encontrando
às escondidas.
Os tucanos, como se sabe,
não tem muita resistência de voo. Tem o bico comprido e ao atravessar um rio
muito caudaloso, muitas vezes caem antes de alcançar a outra margem.
Até entre os domésticos a
coisa está complicada. No vilarejo perto de sua jurisdição, abateram muito pato
para fazer ao tucupi. Colocaram galinha para chocar ovo de pata. É um perigo.
Quando nascem os patinhos, eles correm para o lago. A galinha, que não sabe
nadar, quer ir atrás dos filhotes. Fica atarantada, de um lado por outro, na
beira do lago.
Aprendi uma grande lição com
meu amigo Curupira. Ele me disse:
– Galinha que se mete com pato ou fica doida ou morre afogada.