Marco Neves, linguista e filólogo português, ensina pela
Internet que há palavras em outras línguas que não têm equivalência na nossa. E
citou a palavra “merak”, do servo-croata. Significa o prazer em fazer coisas
simples. Como reunir amigos para “petiscar”, tomar uns drinques e conversar.
O saudoso Armando de Menezes, sentindo um formidável “merak”,
reunia académicos e amigos para encontros, sempre às sextas, na antessala da
biblioteca da Academia Amazonense de Letras.
Certa vez, Max Carphentier lembrou aos confrades que na outra
sexta seria feriado. Portanto não haveria o “chá do Armando”. Foi obviamente
uma alusão sarcástica ao famoso chá das quintas entre os acadêmicos da ABL.
Academia Brasileira de Letras. O chá da ABL teve início como um gesto de
cordialidade do fundador Rodrigo Octavio. O chá das quintas-feiras se tornou um
rito da ABL para confraternização exclusiva dos acadêmicos.
O nome “pegou”. O chá do Armando saiu dos muros da Academia
Amazonense e democratizou-se. Patrocinado pelo inesquecível Armando de Menezes,
o chá aconteceu na residência de Anísio Mello, no Sebão Antônio Diniz, no
antigo conservatório de música da Joaquim Nabuco e no Ideal Clube. Além de
outros locais menos cotados.
Participar do chá do Armando sempre foi um “merak” tanto para
Armando quanto para os intelectuais, músicos, artistas, escritores, poetas e
académicos que se agregaram a confraria. Democrática e aberta a todos e todas.
Fábio Augusto, doutorando em História, frequenta o chá desde seus 16 anos. Dos
membros da Academia Amazonense que efetivamente tornaram-se assíduos e
“militantes chazistas”, além do próprio Armando, o Almir Diniz e o Zemaria
Pinto.
O chá das cinco é uma instituição inglesa, como o Big Ben e a
pontualidade britânica. No nosso país, chá ficou sinônimo de encontro entre
senhoras da sociedade para coscuvilhice e planejamento de alguma ação para os
mais necessitados. O da ABL é restrito aos membros da ABL.
Já aqui em Manaus o chá tornou-se sinônimo de reunião entre
amigos e amigas que gostam de conversar sobre livros, música, cinema e artes em
geral. Ou simplesmente exercer o “merak”, esse prazer simples e fundamental.
Reunir-se com amigos para comer, beber e conversar. Um merak.
Com o falecimento de Armando de Menezes e do Almir Diniz
alguns chazistas eméritos decretaram o fim do chá. Então foi criado o chá do
Diniz. Outros criaram confrarias cujo patrono é o Armando. Há o chá do João
Pinto. Há o chá que se tornou simplesmente “o chá”. Com objetivo e composição
bem diversa do “chá de madames” do sudeste. E você, querido leitor ou leitora.
Qual tipo de chá você exerce seu merak?