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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A poesia é necessária?

 

Hino ao crítico

Vladimir Maiakovski (1893-1930)


Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
Tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.

O pai, recordando sua progenitura,
Vivia a contestar os maternais direitos.
Com tais boas maneiras e tal compostura
Defendia o menino do pendor à sarjeta.

Assim como o vigia cantava a cozinheira,
A mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira
E a arte de penetrar fácil e sem sabão.

Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
Sardas na cara como um prato de cogumelos,
Lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
À rua, para tornar-se um cidadão.

Será preciso muito para ele sair da fralda?
Um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
Ele cheirou o céu afável do jornal.

E em certa propriedade um certo magnata
Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
E logo o crítico, da teta das palavras
Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.

Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso
Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.

Mas se se infiltra na rede jornalística
Algo sobre a grandeza de Púchkin ou Dante,
Parece que apodrece ante a nossa vista
Um enorme lacaio, balofo e bajulante.

Quando, por fim, no jubileu do centenário,
Acordares em meio ao fumo funerário,
Verás brilhar na cigarreira-souvenir o
Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.

Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa branca nos artigos?

 

(Trad. Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)

 

 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A poesia é necessária?


No caminho, com Maiakovski
                                                   Eduardo Alves da Costa
                                                    

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!



segunda-feira, 15 de abril de 2013

Marmitão Seboso e a poesia proletária


João Sebastião

O proletário é o sujeito explorado financeiramente pelos patrões e literariamente pelos poetas engajados. 

(Mário Quintana)


Para Marmitão Seboso, o último stalinista, Mário Quintana era apenas um poeta neoliberal, vendido ao capitalismo gaúcho.  

Marmitão Seboso não é um poeta engajado – é muito mais: é um crítico engajado.  

Sua análise crítica da poesia perscruta os ritmos proletários, as imagens industriais, as metáforas florestais da poesia, que devem, sim, portar uma mensagem libertária e conscientizadora, que eduque a classe trabalhadora. 

Para Marmitão Seboso, Maiakovski foi apenas um títere a serviço do capital internacional, com sua poesia de metáforas assexuadas: eu sou uma nuvem de calças! 

Para exercitar sua verve crítica, o último dos stalinistas cerca-se de jovens poetas iletrados, analfabetos funcionais, drogados eventuais – que jamais leram um livro, para não se deixarem influenciar pela hidra poética capitalista, de ritmos dissolutos, em suas folias metafísicas.  

Marmitão Seboso, não suportando mais a vida neste Brasil varonil, onde nem o grande poeta Ferreira Gullar, que já foi stalinista e hoje é apenas maranhense, se leva a sério, resolveu pedir asilo à Coreia do Norte, onde o pequeno timoneiro Kim Yong-nam estuda como aproveitar o seu cérebro privilegiado.