Amigos do Fingidor

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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Lançamento de Neste Remoto Agora

 


Poetas participantes:

Para compra da Antologia, clique aqui: Lambrequim - loja virtual  Neste remoto agora


quarta-feira, 5 de março de 2025

Folia no Seringal – lançamento

Zemaria Pinto


Começo agradecendo a presença de todos: a família – esposa, filhas, netas e irmãs; os parceiros Mauri Mrq e Tenório Telles; o time da Valer – Isaac Maciel, Neiza Teixeira, Bruna Chagas; amigos velhos, ex-alunos, pessoas que estou conhecendo hoje... E destaco ainda a presença do mestre Marcos Frederico Krüger, e do nosso decano Elson Farias, em cujas personas cumprimento a todos os presentes. Num hipotético país parlamentarista das letras, o Marcos seria o primeiro ministro e o Elson, o presidente.

Vigésimo oitavo livro publicado, ainda não me acostumei com o estresse dos lançamentos, e às portas dos setenta anos, tomo o cuidado de trazer estas breves palavras pré-escritas, para não correr o risco de gaguejar ou de simplesmente esquecer – não só o que ia falar, mas o que estou mesmo fazendo aqui?...

E olha que setenta anos não é pra qualquer um, que o digam os meus amigos Antônio Paulo Graça, Anibal Beça, Sérgio Luiz Pereira... e Torquato Neto, Paulo Leminski, Ana Cristina César... e Glauber Rocha, Raul Seixas, Sergio Sampaio, Cazuza... e Jimi Hendrix, Janis Joplin, Amy Winehouse... Mas, de uma coisa fiquem certos: com a chegada da velhice, nós aprendemos que não sabemos nada do que pensávamos que sabíamos quando jovens. Por favor, não me cancelem, isto não é etarismo; é apenas uma autocrítica. Se não, vejam.

Professora Neiza Teixeira, que conduziu o evento.

Entre os 15 e os 17 anos, estudei o Científico, equivalente ao ensino médio de hoje, no Colégio Estadual (ou simplesmente Estadual). Ficava vendo de longe os componentes do Clube da Madrugada que frequentavam o Café do Pina, na praça em frente – a da Polícia. Moleques, eu e Geraldo dos Anjos ficávamos horas a falar mal dos “funcionários públicos da literatura amazonense”. Estúpidos, nós dois, não demoraria muito para tomarmos consciência dessa estupidez. Mas, a juventude, vocês sabem, não acaba aos 17 anos... É um processo. E de repente vem a artrose, a artrite, a arritmia, a glicose, as viroses a pressão alta, a pressão baixa, a falta de... sezão... E estamos irremediavelmente velhos.

Folia no seringal é um balanço da minha aventura como ensaísta, reunindo doze exemplares da minha produção no gênero, desde “Maranhão Sobrinho, o místico de Satã”, publicado em 1999, como prefácio de Papéis Velhos... roídos pela traça do Símbolo, na histórica Coleção Resgate, coordenada por esse mítico guerreiro das Letras amazônicas, Tenório Telles, até textos escritos nesta década, vinte e tantos anos passados. E tudo tendo como eixo o Clube da Madrugada, fundado em 1954. Com este livro, celebramos os 70 anos do Clube.

Folia no seringal faz um passeio pela trajetória do Clube, que é o caminho traçado pela literatura feita no Amazonas, mostrando que há um antes e um depois do Clube da Madrugada, sendo o durante a própria existência do Clube. Comecemos pelo princípio.

 

Mauri Mrq, músico e compositor.

Antes – o ensaio de abertura, “A paisagem na literatura de viajantes e nativos”, começa com Frei Gaspar de Carvajal, que escreveu, no seu relato, Descobrimento do rio de Orellana, a nossa certidão de nascimento; e faz um breve inventário dos viajantes e nativos que tomaram a paisagem como personagem: Cristóbal de Acuña (Novo descobrimento do grande rio das Amazonas), Henrique João Wilkens, o poeta do genocídio (Muraida), Julio Verne (A jangada, 800 léguas pelo Amazonas), Conan Doyle (O mundo perdido), Raul Pompeia, autor de O Ateneu, escreveu Uma tragédia no Amazonas, com 17 anos; Euclides da Cunha (que estava escrevendo Um paraíso perdido quando foi parado pela bala de um desafeto); Ferreira de Castro (e o superestimado A selva); e os amazonenses Octavio Sarmento (A Uiara) e Violeta Branca (Ritmos de inquieta alegria).

Destaco, no já citado “Maranhão Sobrinho, o místico de Satã”, o poeta que, vivendo em Manaus, na minha Cachoeirinha, e aqui morrendo, foi o autor que logrou maior reconhecimento nacional na era pré-Madrugada. Nenhuma antologia séria do Simbolismo brasileiro o ignora.

O terceiro ensaio, fechando esse grupo, diz ao que veio já no título: “Romancistas e contistas: a literatura de ficção na Academia Amazonense de Letras”. Porque sempre tem um incomodado a reclamar que a Academia tem escritores de menos. E é verdade, mas isso não chega a ser nenhuma catástrofe, porque os escritores da AAL dominam outros saberes, além da literatura de ficção. Vejam. Em cem anos de existência, 1918-2018, contam-se 15 ficcionistas, em um total de 148 acadêmicos; 10%, portanto; o que significa que os outros 90% dominam outros saberes. E escrevem livros sobre eles.

 

Tenório Telles, escritor e crítico literário.

Clube da Madrugada – o ensaio que abre este capítulo não se isenta de polêmica, em três frentes; duas afirmações e uma pergunta. Primeira afirmação: o Clube da Madrugada não se constituiu como um movimento, uma vez que não tinha um programa estético, e sim político. Segunda afirmação: o Clube da Madrugada não foi o Modernismo no Amazonas. E a pergunta: até onde vai, cronologicamente, o Clube da Madrugada? Costuma-se dizer, eu mesmo já o disse várias vezes, que o Clube da Madrugada foi fruto de uma geração excepcional. Na verdade, foram pelo menos três gerações.

Na sequência, quatro ensaios sobre quatro autores emblemáticos do Clube: Luiz Bacellar (Frauta de barro), Astrid Cabral (Alameda), Elson Farias (Memórias literárias) e Ernesto Penafort (uma visão geral de sua obra, mostrando que havia muita poesia além do azul). Esses quatro autores representam as mais de duas dezenas de autores que gravitaram em torno do Clube.

Eu lembro que, há exatos 10 anos, em um 9 de março, Eu e o Mauri, juntamente com o Tenório, o Marcos Frederico, o Alisson, a Nícia e outros amigos, lançávamos na sede da Academia o livro-objeto Lira da Madrugada, homenagem aos 60 anos do Clube – aliás, não fomos eu e o Mauri, mas sim o Mauri e eu. O Mauri cantou, tocou, fotografou, produziu, deu palpite em tudo. Eu só desorganizei as ideias poéticas, para dar um toque de não sei quê. Parece que faz tanto tempo: até o conceito de livro-objeto, nestes tempos virtuais, fica difícil de entender. Vou tentar: eram dois livros e um CD. O CD era um disquinho compacto, um compact disk... É melhor parar por aqui...

 

Depois – reunindo três ensaios de autores que surgiram após o auge do Clube da Madrugada, comenta-se a dramaturgia amazônica de Marcio Souza – A paixão de Ajuricaba, Jurupari, a guerra dos sexos, A maravilhosa história do Sapo Tarô-Bequê, As Folias do Látex, Tem piranha no pirarucu e muitas outras; o romance histórico de Rogel Samuel, O amante das Amazonas; e três títulos da escritora Márcia Antonelli, que tem a figura de um adulto portador de nanismo como protagonista e como isso se desenvolve entre o grotesco, o fantástico e o marginal: são eles O enterro do anão, O anão do açougue e O anão trompetista. De novo, quero deixar bem claro que isso não é capacitismo, até porque os anões de Márcia, além de protagonistas, são personagens com uma carga trágica muito forte. E foi isso o que me encantou neles, além da já conhecida capacidade da autora de engendrar tramas fantásticas. Antonelli representa, no livro, a literatura produzida no Amazonas neste século 21. É, portanto, o que há de mais novo em nossa literatura.   

Zemaria Pinto.

Fechando o capítulo, um ensaio – “Miniconto, microconto, nanoconto, contos são?” – onde se discute uma tendência minimalista do conto contemporâneo, que chega a usar os muros da cidade como veículos para o texto, lembrando a Poesia de Muro, teorizada pelo poeta madrugadense Jorge Tufic.

Por fim, sempre me têm perguntado “por que Folia no seringal”? Talvez estranhando um súbito relaxamento na sisudez com que se trata a literatura sobre a época. Lembro o amigo Márcio Souza, a quem presto todas as reverências que um discípulo deve ao mestre: a peça As folias do látex, encenada pela primeira vez em 1976, me deu a senha. Então, eu li o lírico romance do amigo Rogel Samuel como se fora um desfile carnavalesco, trocando o circunspecto Bakhtin, teórico da carnavalização, por um glamoroso e feliz Joãosinho Trinta. Evoé!   

O livro é de vocês! 

          

 Fotos: diversos autores; obrigado a todos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Em ‘Folia no Seringal’, Zemaria Pinto expande narrativa sobre o Clube da Madrugada


O livro “Folia no Seringal: ensaios sobre a literatura do Amazonas – antes, durante e depois do Clube da Madrugada” (Valer), do escritor e crítico literário Zemaria Pinto, acrescenta dados à narrativa conhecida sobre o movimento que marcou a literatura.

A obra, que já está nas livrarias virtuais e também disponível a partir deste domingo, 8, na Valer Teatro, terá lançamento oficial em Manaus em breve.

Com o novo livro, Zemaria coloca o Clube da Madrugada, movimento literário amazonense de 1954, fora do discurso que o caracteriza como uma repercussão tardia da Semana de 1922.

Clique aqui para saber mais...



 

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

A lança de Anhangá


Vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus, em 2022, na categoria Conto.

 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Os que andam com os mortos



 

Os que andam com os mortos, primeiro livro “oficial” de contos adultos de Zemaria Pinto, é uma provocação. A começar pelo subtítulo, que pulveriza os substantivos “fábulas” e “estórias” – este, uma provocação, em si mesmo – amalgamando-os com os adjetivos “cruéis” e “más”, e resultando uma poeira que, nos olhos do leitor, desafia os limites quadradinhos do gênero.

Invocando Mário de Andrade – “é conto tudo aquilo que o autor chamar de conto” – e Machado de Assis – “sobre o gênero, não sei o que diga que não seja inútil” –, Zemaria Pinto constrói em Os que andam com os mortos trinta narrativas entre a intertextualidade, a metalinguagem e a criação mais original: “desconforto é a palavra-chave para definir o sentimento que se quer incutir no leitor”, diz o autor na apresentação que, não à toa, tem por título um dissimulado “Apenas um livro de contos”.

Assassinatos, manifestações de loucura mansa até o mais agudo desvario, delírios, pesadelos, metamorfoses – físicas e mentais –, ais de amor, uivos de dor e outras mágoas supuradas: no universo do demiurgo não sobra espaço para a vidinha banal, a tal da áurea mediocridade de que falavam os antigos. Pulsa nessas trinta narrativas o mundo como vontade e representação, num encontro clandestino entre a poesia e a filosofia.   

Como já se insinuou, os textos emulam gêneros diversos que vão do conto convencional ao roteiro de cinema; da fábula à Esopo ao ensaio acadêmico; do texto teatral à entrevista; de falsas crônicas a memórias falsas. Conto com nota de rodapé? Relaxa, leitor/a: faz parte da tática narrativa. Do caldeirão resultante sobressai-se um humor ácido, que, se inibe a gargalhada, deixa um travo amargo na boca. Os quatro últimos textos, entretanto, enformam uma memória da pandemia – e podem causar um indesejável nó na garganta.

Acostumado aos embates das análises críticas, o professor Zemaria Pinto fica muito à vontade no papel de contista, enfeixando em um volume de desafiadora e prazerosa leitura textos que poderiam ilustrar suas aulas de Teoria da Literatura ou seus livros de ensaios. Evoé!

 

Clara Nihil, poeta e matemática, 

na “orelha” do livro.   


segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Literaencontro: escritoras do Amazonas no Casarão de Ideias


Nesta quinta-feira, 24 de agosto, a partir das 18h, acontecerá um grande encontro de escritoras amazonenses, no Casarão de Ideias. Além de lançarem suas obras, as autoras conversarão sobre o fazer literário contemporâneo no Amazonas. Entrada franca. 



segunda-feira, 14 de agosto de 2023

segunda-feira, 8 de maio de 2023

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Novo livro de Marta Cortezão: uma poética cartografia de silêncios e seus diálogos


Marta Cortezão lança meu silêncio lambe tua orelha.


Marta Cortezão está com o seu terceiro livro de poemas, meu silêncio lambe tua orelha (Editora Toma Aí Um Poema/PR) em pré-venda pelo site de financiamento coletivo Benfeitoria e pode ser acessado pelo endereço https://benfeitoria.com/projeto/lambe. A campanha vai até o próximo 1º de maio.

meu silêncio lambe tua orelha revela uma poética cartografia de silêncios que suscita infindos diálogos entre as inúmeras vozes que se desviam, mas que, ao mesmo tempo, se encontram no corpo nu, flexível e dinâmico da linguagem.  Diálogos que fogem à lógica e transcendem sua corporalidade semântica bem como a essência das coisas e seus ruidosos silêncios, mas que não se esgotam, pedem mais e mais interação. Do ponto de vista literário, o livro traz uma abordagem poético-contemporânea sobre a escrita de autoria feminina e seu devir criativo, mas não somente.



A escritora Vania Clares (SP), que assina a orelha do livro, opina que meu silêncio lambe tua orelha “nitidamente nos remete ao universo feminino numa dimensão diversificada e vasta. A poeta parte das citações de outras escritoras e embrenha-se com maestria em cada palavra para escrever o poema, não só acatando o sentido na sua interpretação, mas criando um corpo que complementa as premissas. (...) Muito mais que isso, a elasticidade dos silêncios devora o corpo desde as entranhas até a alma, quando escancara a sua compreensão de mundo, vivência esta que exercita freneticamente.” 

Uma amostra da poesia de Marta Cortezão:

 

Eu não nasci rodeada de livros, e sim rodeada de palavras.

{Conceição Evaristo}

 

geossintaxe

 

com passos indecisos

percorro as sentenças

da língua que me devora

 

reviro os escaninhos

dos verbos obtusos

cuja geometria

adensa os advérbios

que florescem das pedras

 

meus sapatos sujos de pausas

deixam todas as pegadas

órfãs de sintaxe-delírio

 

onde guardei a palavra exata

com gosto de chuva? 

 

onde minha língua

se entrelaçará na tua

para cópula ardente

de neologismos?

 

quando o sexo verbal

gozará metonímias

em teu corpo metáfora

afro afrodisíaco

Afrodite de palavras?

 

A poeta, escritora e professora Lucila Bonina, ao ler o poema “geossintaxe” que compõe o terceiro poemário de Marta Cortezão, afirma o seguinte: “‘geossintaxe’ é um poema sussurrado por voz afrodisíaca: interroga, induzindo a resposta; oculta, sugerindo onde encontrar; provoca a memória silenciada a vislumbrar um futuro sonoro. Cai na alma como escudo e inspiração. É assim que me toca o poema de Marta. A força que emerge da voz poética feminina que sabe de si e de outras, da língua e do mundo, da luta e do amor.”

Nas palavras de Marta Cortezão, o livro surge “de um silêncio ancestral, social, histórico e político (...). É um compêndio de sonhos repleto de um silêncio eloquente que pede revoada, exige o movimento, o grito, a voz, o canto, a alma, o corpo com todos os seus sentidos, a dança, a liberdade para conjugar o verbo existir em toda sua amplitude, essência e intensidade (...), porque a linguagem que se (re)move em “distraído silêncio” é pássaro indomável, flana livre, foge e se desata mundo afora em busca do “fero desejo de pássaros” a esticar infinitos.” A proposta da autora é de que o livro possa ampliar o diálogo com outros olhos leitores, dedilhando outras silentes notas que, por sua vez, romperão a barragem de outros desconhecidos silêncios, “deixando seu rastro / azul de céu / no mar das coisas / inomináveis”, porque a poesia é correnteza de águas fluindo linguagens.

Os silêncios são o adubo para escrita da autora e ganham, dentro de sua textura volátil e paradoxal, liquidez e profundidade linguístico-poéticas. Para Cortezão, há silêncios que gritam, outros que sugerem, outros que cantam, outros que libertam, outros que aprisionam... Há tanta vida nos silêncios que se solidificam em nós, também nas memórias não vividas que herdamos pela linguagem... Há uma solidão sonora, fria muitas vezes, que brota das pedras, do vento, das águas, de lugares impensáveis para não dizer, mas sempre dizendo do inominável... É preciso afinar os sentidos! Há sempre tanto para essa condição real e humana de sermos tão pouco ou nada no mundo! Eis aqui o que há: silêncios, aqueles no quais nos converteremos quando tudo chegar a ser nada.

 

Sobre a autora

Marta Cortezão (@martacortezaopoeta) nasceu em Tefé, no Amazonas. É escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: Banzeiro manso (Porto de Lenha Editora, 2017), Amazonidades: gesta das águas (Penalux, 2021), Zine Aljavas para Cupido (2022). meu silêncio lambe tua orelha (TAUP, 2023) é seu terceiro livro de poesia. Colunista da Revista Literária Voo Livre. É idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021) e do blog Feminário Conexões (https://feminarioconexoes.blogspot.com/).

 

Serviço

meu silêncio lambe tua orelha (poesia, 87 p.; editora Toma Aí Um Poema/TAUP). R$ 40,00.

Pré-venda: https://benfeitoria.com/projeto/lambe

  

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Lançamento: Entre marços e janelas, de Letícia Pinto de Cardoso

 



Entre marços e janelas é o primeiro livro solo de Letícia Pinto Cardoso, o que não quer dizer que ela seja uma principiante. Organizadora da série Te conto em contos, em três volumes, Letícia espalhou contos seus e de outras autoras – mulheres do mundo! – nas nuvens do ciberespaço. De certa forma, este livro continua a série, com apenas uma autora, mas a mesma diversidade de vozes: multiplicadas vozes de inumeráveis eus, pintando, com incômodo realismo, tragédias e dramas cotidianos nos bairros distantes e na zona rural de uma cidade qualquer, mas tão familiar...

Esse cotidiano resume-se em “um hábito dentro de uma rotina toda cheia de outros hábitos”: algo entre as cores de Hopper e sombras expressionistas. E aí os arquétipos se multiplicam na mesma proporção das vozes: desde a mulher abandonada com os filhos pequenos (“uma vida que vale por quatro”), passando pela mancha no teto a arder no estômago, a casa de subúrbio feita personagem, a velhice no exílio da realidade, o amor proibido e a morte antecipada – até a suprema interdição, dita num quase sussurro: “cresci numa casa em que era proibido ter criatividade”. O horror. O horror.

Entre marços e janelas é uma antologia do banal cotidiano, que se anima de nossa solidão, nossos incômodos, tédios, repulsas e medos – e eles estão aqui, presentes, representados, à espreita, prontos para o assalto fatal, presas indefesas que somos.

O cotidiano é o horror – com ele, Letícia Pinto Cardoso doma o sortilégio da escrita e domina a alma de suas/seus leitoras/leitores. 

Zemaria Pinto,

na orelha