Amigos do Fingidor

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ruy Lins (03/03/1934-30/04/2010)










Faleceu na madrugada de hoje o membro da Academia Amazonense de Letras Ruy Alberto Costa Lins, economista e professor aposentado da UFAM.


Ruy ocupou diversos cargos públicos, destacando-se os de secretário de estado do Planejamento e da Administração. Foi superintente da SUFRAMA, entre 1979 e 1983.

Ruy Lins, polêmico por temperamento, deixou vários livros publicados na sua área de especialização.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Eu lhes digo: é necessário possuir um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante.
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(Friedrich Nietzsche, in Assim falava Zaratustra, tradução de Eduardo Nunes Fonseca)
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Friedrich Nietzsche (1844-1900), por Hans Olde.

A dança dos botos no Armando

A dança dos botos & outros mamíferos do poder, do jornalista Orlando Farias, será lançado amanhã no tradicional Bar do Armando, a partir das 8 da noite, especialmente para o pessoal que não conseguiu acordar no primeiro lançamento − um sábado, às 10 da manhã! O fundo musical ficará por conta dos cosmopolitas Pedro Cesar Ribeiro (ex-Pedrinho Ribeiro) e Adal, vindos diretamente de Paris, com breves escalas em Parintins e Coari. Parafraseando o Simão, quem não for é boy de padre. Até lá, então, porque cobra que não anda não engole sapo. No bom sentido, pois não?

Cardápio Poético

Processos históricos da ética médica (2/7)

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João Bosco Botelho


2. Evolução histórica dos códigos de ética médica

Ainda em torno das associações entre a ética e a moral, especificamente na compreensão ética das práticas médicas, existem algumas tentativas para conceituar a ética médica também integrando à virtude, independentes de a primeira estar pressuposta ao coletivo e a segunda, ao indivíduo.

Na tese de doutorado, defendida em Paris, em 1955, intitulada “A ética médica”, o professor Derrien, firmou relações conceituais da ética médica voltada ao benefício do homem e da mulher. Assim, o entendimento do professor Derrien da virtude kantiana, nas práticas médicas, obrigatoriamente, estaria ligada ao “bem”, ao “bom”, à praticidade, estreitando os vínculos das ações médicas, de modo geral, ao controle da dor e adiando os limites da vida. Dessa forma, é inadmissível pensar a Medicina como uma especialidade social para provar a dor ou a morte. Essa vertente ligando a ética médica aos resultados entendidos como “boas práticas”, gerando bem-estar ao doente, está presente na maior parte das abordagens teóricas referenciais.

Nesse sentido, é possível resgatar relações do conhecimento historicamente acumulado que ligam a ética médica à boa prática, entendidos pelo senso comum como bons resultados profissionais atadas às ações que devem, obrigatoriamente, trazer melhorias à vida pessoal e coletiva.

Parece razoável pressupor que o conhecimento historicamente acumulado, desde os primeiros registros do médico como personagem social, se ajustou na maior inclusão dos curadores (aqui compreendidos tanto os médicos, como representantes da medicina-oficial, aquela amparada pelo poder dominante, quanto os benzedores, erveiros, parteiras, sacerdotes, encantadores e muitos outros) que obtinham melhores resultados nos respectivos procedimentos de curas. Do outro lado, nos mesmos milhares de anos, os curadores que não conseguiam firmar o reconhecimento coletivo em torno da competência na solução dos problemas expostos pelos postulantes, não recebiam o reconhecimento coletivo.

Entre esses dois grupos, as organizações sociais, em diferentes instâncias, ao mesmo tempo em que reconheciam e nominavam a medicina e o médico, inclusive em algumas sociedades, também os especialistas, compondo parte do conjunto das profissões, procuraram refletir, identificar, coibir e punir a má-prática médica. De modo geral, essa má-prática está mais atada ao resultado desfavorável à saúde do doente, seja pessoal ou coletivo. Nenhum procedimento médico, no passado e no presente, tem sido aceito se provoca piora no estado de saúde do doente.

Esse conjunto normativo entre ética e moral culminou, na Grécia, com o aparecimento do conceito de deontologia (do grego déontos, “o que é obrigatório, necessário” + logia), que evoluiu para “o estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de moral”.

A palavra deontologia ligada à prática médica, em torno da ética e da moral, apareceu pela primeira vez, em 1845, no Congresso Médico de Paris, no trabalho do médico M. Simon, intitulado “Deontologia médica ou dever e direitos dos médicos no estado atual da civilização”.

De modo geral, os códigos de deontologia médica comportam três fundamentos estruturantes, reafirmando o indivíduo e não o coletivo como o mais importante valor da prática médica, maior parte das vezes, distribuídos entre os artigos:

– O médico deve estar sempre a serviço do indivíduo, respeitando a vida e sua dignidade, e da saúde pública;

– O médico deve exercer a profissão com liberdade de decidir, prescrever e indicar tratamento, ao mesmo tempo em que o doente deve manter a liberdade de escolher o médico para dirigir o tratamento. Essa plena liberdade dos médicos deve estar atada ao conjunto de explicações por meio dos “termos de consentimentos livres e esclarecidos” para que o doente tenha maior conhecimento da doença e do tratamento proposto;

– O médico é responsável pelos seus atos entendidos como valores de competência amparada na ciência.

Algumas das maiores dificuldades conceituais da ética médica têm sido estabelecer parâmetros para separar a má-prática dos maus resultados secundários aos incontáveis vetores de incertezas e variáveis que regem o funcionamento do corpo. Parece lógico pressupor que os conceitos que entendem e julgam as más-práticas e os maus resultados variam nos tempos e nas sociedades.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

White Angel.
Jason Chan.

drops de pimenta 60

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─ Podemos conversar?

─ Qual o personagem de hoje? O mocinho ou o bandido?


(Zemaria Pinto)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus ninhos – as atividades intimamente associadas ao tédio – já se extinguiram na cidade e estão em vias de extinção no campo. Com isso, desaparece o dom de ouvir, e desaparece a comunidade dos ouvintes. Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história.

(Walter Benjamin, in O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Trad: Sergio Paulo Rouanet)
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Walter Benjamin (1892-1940).

domingo, 25 de abril de 2010

Anisio Mello

Jorge Tufic


Anisio Mello, com seu atelier no porão da Rua Dr. Moreira (em frente ao Vaticano, de Evandro Carreira), era o ponto de encontro da turma formada por mim, Alencar e Silva, Farias de Carvalho e Antísthenes Pinto; isso, precisamente, ao longo dos anos 1949 a 52 do século XX, quando o artista decide casar-se e transferir residência para o estado de São Paulo. Ali, após uma estada no Jardim Paulista, muda-se definitivamente para o Rio Comprido, onde faz de sua ampla vivenda um abrigo permanente daqueles que o procuravam, ainda e sempre nós, os vates do porão, agora em busca dos ares inovadores da Semana de 22, da qual só restavam Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, que também nos recebera. O novo estúdio de Anísio, então bastante ampliado, já podia incluir um visual de instrumentos musicais, entre estes a flauta e o violão, uma invejável discoteca, além das telas que pintava, ao lado de esculturas de gente famosa, modeladas por ele. Retorna o poeta à sua terra natal em 1977, indo residir em nossa casa, à rua J. G. de Araújo, 94, enquanto se lançava numa arriscada aventura como seringalista, no Rio Juruá, dono que fora de uma gleba do tamanho de seu próprio sonho de empresário. E aproveita o espaço geográfico para criar uma pequena cidade, dando ao nome das ruas os nomes de seus amigos de Manaus.

Findo esse sonho, instala-se ele na avenida Joaquim Nabuco, 1254, casa de seu irmão Pedro Mello, onde passa a funcionar o Liceu Esther Mello, e, tempos após, o seletivo Chá do Armando, de conjurados, sim, contra a mesmice da burocracia literária, mas não de inconfidentes, daí seu ecletismo e o clima democrático que manteve durante quase dez anos. Homem probo, bom, cordato, sincero, culto, polimorfo e criativo, Anísio Mello está a merecer, agora, o justo reconhecimento e a justa homenagem de seus contemporâneos. Ele deixa saudades e acordes imemoriais de sua lira nascente!



Acima, retrato de Anisio Mello (21/06/1927-11/04/2010) por Afrânio Pires. Abaixo, tela abstrata, sem título, um dos últimos trabalhos de Anisio.

Manaus, amor e memória XII

Vista aérea de Manaus. Anos 50? Em primeiro plano a catedral. Ao fundo, à direita, o Teatro Amazonas e a praça, hoje largo..., de São Sebastião. Cortando a foto, a avenida Eduardo Ribeiro, com um solitário bonde. Os montinhos escuros ao longo da margem da avenida não são barracas de camelôs: são pés de fícus-benjamins...

sábado, 24 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

Andrzej Wronski.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A maldita intervenção do autor

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Consideremos uma árvore. Primeiro, Millet a pinta e depois a pinta Van Gogh. Resultam duas árvores diferentes, em virtude da "maldita intervenção do autor" (as aspas pertencem aos teóricos do objetivismo). Mas é precisamente essa inevitável irrupção do artista no objeto que torna a árvore de Van Gogh superior à de Millet e à de qualquer fotógrafo.


Mais ainda: essa árvore é o retrato da alma de Van Gogh.


(Ernesto Sabato, in O escritor e seus fantasmas, tradução de Pedro Maia Soares.)


Sem entrar no mérito do juízo de valor de Sabato, é fato que, entre 1888 e 1889, Vincent van Gogh (1853-1890) pintou uma série de quadros "inspirados" em  Jean-François Millet (1814-1875). Veja alguns exemplos e tire suas próprias conclusões.
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Ambos os quadros têm o mesmo título: Descanso ao meio-dia. Van Gogh, à direita, acrescentou um humilde parêntese ao seu: Depois de Millet.















Os quadros acima são de Van Gogh; ambos rendem homenagem ao trabalho mais conhecido de Millet, O semeador:
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O semeador, de 1850, está no Museum of Fine Arts, de Boston.

6 lançamentos com temática indígena

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A EDUA (Editora da Universidade Federal do Amazonas), convida para uma manhã de autógrafos de várias das suas edições sobre a temática indígena, com destaque para as seis edições lançadas no ano passado.

Onde: IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas)
Rua Bernardo Ramos (rua de pedras, ao lado do prédio da antiga prefeitura)
Quando: 24 de abril (sábado)
Horário: a partir das 10 horas da manhã

Entre as instituições que confirmaram participação no evento: AMARN, CIMI, COIAB, FUNAI, ISA, Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus, SECOYA e SEIND.

Os livros:
 

Lançamento: Apontamentos de Direito Internacional Público

Processos históricos da ética médica (1/7)

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João Bosco Botelho



1. Considerações gerais

O alfabeto grego possui duas letras “e” longo = eta e o “e”curto = épsilon. Dessa forma, êthos com a letra eta significa: característica, modo habitual de se comportar; éthos com a letra épsilon, corriqueiro, costume, usual. O processo histórico linguístico impôs semelhança etimológica entre os dois termos: ambos estão vinculados à virtude. Talvez também por essa razão, no cotidiano, a ética tem caminhado ao lado da moral.

A palavra “moral” é de origem latina, “mores” significa “costume”, mas não qualquer costume, e sim estritamente aderido à virtude. Assim, Kant de modo genial caracterizou a ação moral plena de virtude e realizada, exclusivamente, por dever legalista, em respeito às leis, em caráter universal.

Em muitas circunstâncias, essa característica universal da ação moral, citada por Kant, isso é, a busca incessante para que o comportamento humano estivesse sempre ao lado da virtude, independente do processo fiscalizador, ultrapassa as relações sociais em si mesmas. Não é impertinência pensar que esse desejo humano, desde um passado impossível de precisar, de valorizar a virtude, como antagonismo ao vicio, seja um processo gerado ao longo da humanização, ligado à sobrevivência do grupo humano.

Sem esforço, torna-se inevitável articular um pensamento teórico voltado à herança genética, para a existência de uma ou mais memórias-sócio-genéticas (MSGs) ligadas à valorização da virtude e ao desprezo ao vício, atadas aos mecanismos institucionais para valorizar a virtude e unir os vícios. Esse conjunto organizador social presente nas MSGs, vinculado à sobrevivência, – ética-moral –, presente na espécie humana, a única com neocórtex tão desenvolvido, desprezando o vício (aqui compreendido como oposição à virtude) também se manifesta socialmente por meio de outras categorias metamórficas, todas amparando a sobrevivência pessoal e coletiva: linguagem, ser-tempo (pessoas vistas e pensadas), ser-não-tempo (seres pensados impossíveis de serem vistos), relações médico-míticas (associação de deuses e deusas de muitos panteões, como a saúde a doença), dor-histórica (presentes nas MSGs, ao contrário da dor pessoal, tratada pelo agente da cura, funciona como alerta de um ou mais sofrimentos coletivos que impuseram mudanças socias) e a coesão social. A ética-moral ampara e mantém as MSGs.

É claro que, nos dias atuais, ainda não existem mecanismos na engenharia genética capazes de identificar essas MGSs, mas esse fato não invalida essa construção teórica.

É difícil atribuir a atávica busca da virtude somente às relações sociais. Em incontáveis ações humanas, sejam pessoas ou coletivas, em grupos sociais das mais diversas etnias, nos quatro cantos do planeta, existem fortes indicativos de que esse encanto coletivo pela virtude seja motivado por impulsos que transcendem o exclusivamente social.

Desse modo, sob essa perspectiva, os significantes da ética ligada a moral, oriundos da escrita grega, com o “e” longo, o eta, ou com o “e”curto, o épsilon, reproduzem importantes e indispensáveis mecanismos sócio-genéticos da sobrevivência da espécie humana, materializados nos códigos de ética de muitas atividades, nas quais a ética médica é um deles.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

Boris Vallejo.

drops de pimenta 59

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─ Chorando?

─ Cebola...

─ ...

─ Por que a pergunta? Remorso?


(Zemaria Pinto)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Manaus, amor e memória XI

Comparada com a ponte Manaus-Iranduba, a velha Ponte de Ferro é moeda enferrujada.

domingo, 18 de abril de 2010

Entrevista com Zemaria Pinto

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Quais as suas outras atividades, além de escrever?

R= Trabalho, há 35 anos, na PRODAM, empresa estadual de Tecnologia da Informação. Aliás, por formação, sou economista e analista de sistemas. Nessa empresa, ocupei vários cargos, inclusive o de diretor técnico. Hoje sou consultor. Além disso, por 11 anos, de 1989 a 2000, dei aulas de literatura na UFAM, pois também sou especialista em Literatura Brasileira. Atualmente, além da PRODAM, divido meu tempo com o mestrado em Estudos Literários, na própria UFAM, pois pretendo dedicar-me integralmente à literatura.

Como surgiu seu interesse literário?

R= Ainda criança lia muito, sem nenhum método. E escrevia, também. Mas só depois de adulto, ali pelos 30 anos, comecei a sistematizar leituras e também a escritura. Mas posso dizer, sem medo de estar sendo pernóstico, que a literatura despertou em mim junto com minha consciência de ser.

Quantos e quais os seus livros publicados, dentro e fora do país?

R= São 8 livros publicados: Corpoenigma (haicais – 1994), Fragmentos de silêncio (poesia – 1996), Música para surdos (poesia – 2001), Nós, Medéia (teatro – 2003), Dabacuri (haicais – 2004), Texto nu (teoria literária – 2008). Além destes, dois de Análise literária das obras do vestibular (2000 e 2001), em parceria com o professor Marcos Frederico Krüger.

Participei de mais de uma dezena de antologias, com destaque para Haïku sans Frontière: Une Anthologie Mondiale, publicada no Canadá, em 1998.

Um livro de que muito me orgulho, não é de minha autoria, apenas organizei e fiz o estudo introdutório: A Uiara & outros poemas, de 2007, de Octavio Sarmento, um poeta falecido em 1926, sem nenhum livro publicado. A Uiara passou a ser um marco da literatura amazonense, com 80 anos de atraso.

Além destes, tenho uma meia dúzia de inéditos. Este ano, eu espero publicar pelo menos uns três...

Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura?

R= Acredito na força da transpiração se sobrepondo à inspiração. É claro que sossego ambiental e paz de espírito ajudam, mas o principal mesmo é aquele dobermann no calcanhar, como alguém já metaforizou o compromisso profissional.

Quais os escritores que você admira?

R= Qualquer lista é subjetiva, depende muito do momento. Neste agora, eu diria que os primeiros espantos do adolescente leitor persistem ainda depois dos 50: Dante, Drummond, João Cabral e Augusto dos Anjos, na poesia; Graciliano Ramos, Borges, Kafka e Clarice Lispector, na prosa. Mas é uma lista incompleta: adulto, descobri a prosa de Machado e de Guimarães Rosa, a poesia de Camões, de Pessoa, de Borges e de Cruz e Sousa, o teatro de Nelson Rodrigues... E tem os meus “parentes” também: Bacellar, Tufic, Thiago... As admirações são tantas que eu ocuparia todo o espaço da entrevista só com elas...

Qual mensagem de incentivo você daria para os novos escritores?

R= É preciso entender o nexo do presente com a tradição. Conhecer o passado literário – sem pretender imitá-lo – é fundamental. Tanto quanto conhecer as tendências contemporâneas, tendo a humildade de não procurar inventar nada. Se o sujeito tiver talento, ele brotará dessa conjunção. Em síntese: leiam, leiam, leiam, leiam.

 
Publicada originalmente no blog 1ª ANTOLOGIA POÉTICA MOMENTO LÍTERO CULTURAL, mantido pelo escritor Selmo Vasconcellos. 

Soneto para Dona Ivete e Armando de Menezes

Jorge Tufic



Bem recebidos pela Dona Ivete
e o nosso Armando, grande irmão/confrade,
fomos felizes como pode e há-de
ser possível à luz que nos reflete.

Nunca é demais dizer (não é confete!)
que existe, sim, nos auges da amizade,
um toque a mais que o tempo, velho frade,
santifica nos brindes que repete.

Da varanda fraterna, da paisagem,
nos chegam fotos, pousam nesta mesa
com a letra azul do afeto e da mensagem.

São momentos eternos de um só um dia,
nos quais outros momentos de grandeza
plantam sorrisos, jarros de alegria.

Manaus, 27 de março de 2010

Armando de Menezes e Jorge Tufic, em encontro recente.
Ambos são membros da Academia Amazonense de Letras.

sábado, 17 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

Bruce Pennington.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Reino do Amanhã recomeça neste sábado

O Projeto Cultural Reino do Amanhã, realizado pela Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, estará reiniciando suas atividades, versão 2010, neste sábado, 17 de abril, a partir das 09 horas.

O reinício, será marcado por uma pequena solenidade com um café da manhã, a presença de vários convidados e uma mostra dos resultados de anos anteriores do Projeto, que já existe há 27 anos. O público-alvo são crianças do Morro da Liberdade e demais bairros da zona sul de Manaus, que passam as manhãs dos sábados na quadra de ensaios da escola para participar de palestras sobre violência doméstica, drogas, saúde, educação (todo mês é verificado o boletim escolar), trânsito, samba e outras atividades, como jogos teatrais etc.

No quesito samba, são realizados ensaios com aprendizagem rítmica, com o uso dos instrumentos de percussão da Escola e aulas de mestres-salas e porta-bandeiras mirins, para quando o futuro chegar.

Este projeto é uma criação de Jairo de Paula Beira-Mar, fundador da escola, ex-mestre de bateria e atual presidente da agremiação.

Há dois anos o Projeto Reino do Amanhã é presidido pela 1ª Porta-Bandeira da Escola Anik Sena, que também é pedagoga, e conta com apoio de outras voluntárias, dentre elas Layana Pampolha, Rainha de Bateria da agremiação.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Manaus, amor e memória X

Theatro Alcazar, início do XX. A partir de 1938 passou a se chamar Cine-Theatro Guarany, na Floriano Peixoto, esquina com a 7 de Setembro.
Hoje é uma porcaria de uma agência bancária, cheia de falsos mármores e falsos cristais, metáfora da depredação insustentável promovida pelo capital.

Jesuítas: a medicina como instrumento de conquista

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João Bosco Botelho

A assistência médica foi uma das mais poderosas armas com que contou o jesuíta para o trabalho da catequese. Por meio dela os padres captaram as simpatias dos indígenas, confundiram os ardilosos pajés e redimiram milhares de moribundos.
(Lycurgo Santos Filho)


Os jesuítas comemoraram, a cada dia 27 de setembro, os mais de 460 anos de atividades catequéticas. A fundação da Companhia de Jesus, consolidada no papado de Paulo III, atendeu à proposta de Inácio de Loyola (1491 1550).

Inácio nasceu na cidade de Castela, na Espanha, filho de família nobre e militar, foi ferido gravemente em combate. Após ser transportado para um monastério nas proximidades da batalha, recebeu os tratamentos dos muitos padres que exerciam a Medicina entre os muros das igrejas, abadias e mosteiros. É possível que esse período tenha exercido forte influência na mudança dos rumos da vida pessoal de Inácio de Loyola, porque após a convalescência, se dedicou exclusivamente à religião, tendo escrito "Os Exercícios Espirituais" nos meses seguintes.

A Ordem inaciana sempre se distinguiu das outras congêneres. Os rigores impostos aos membros (hierarquia de caserna, castidade, pobreza e obediência ao Papa) e os treze anos de estudos obrigatórios, contribuíram para os inacianos construírem, na cristandade do medievo, um dos importantes esteios da Contra Reforma.

As transformações sociopolíticas seguidas à decomposição da sociedade feudal infligiram conflitos internos no cristianismo e afrouxaram os antigos laços de dependência entre a Igreja e as estruturas laicas de poder. Esse processo também esteve ligado ao movimento reformista que alcançou, em poucos anos, vários países da Europa por meio dos chamamentos de Martinho Lutero (1483 1546), Ulrich Zwingli (1484 1531) e João Calvino (1509 1564).

O luteranismo sustentava que Deus não precisava de intermediários para alcançar os homens; repudiava o culto das imagens e dos santos, a genuflexão, o sinal da cruz, o altar, o purgatório e, principalmente, admitia o lucro como graça divina. Esses pontos questionados pelos luteranos desfrutavam de muita importância à sustentação dogmática cristã romana.

A resposta da alta hierarquia da Igreja veio com a Contrarreforma. Uma das mudanças impostas pelas autoridades eclesiásticas estava centrada na renovação interna da Igreja, para fazer frente às mudanças sociais em curso e manter a supremacia do poder do papa. Dessa forma, no processo de adaptação que se seguiu, grande parte dos instrumentos legais para combater o protestantismo se originou no Concílio de Trento, quando os cardeais reafirmaram a condenação dos seguidores de Lutero como heréticos e o papa como a suprema autoridade em matéria de fé.

O processo renovador imposto pelas pressões sociais contribuiu para a rápida aprovação, em 1540, do regulamento da Companhia de Jesus. O ideário da ação catequética, proposto por Loyola, se acoplou ao conjunto das decisões políticas emanadas de Roma contra o protestantismo emergente.

Ao contrário das outras ordens religiosas, do século 16, optantes da clausura protegida dos mosteiros e abadias, os jesuítas foram enviados às novas terras recém descobertas das Américas, da Ásia e da África, por essa razão denominados "Novum militantis ecclesiae subsidium".

Objetivando a catequese, a estratégia dos militantes eclesiásticos valorizou, especificamente, duas vertentes para se comunicarem com os grupos sociais no Novo Mundo: a Medicina e o ensino.

Os seguidores de Inácio de Loyola enviados para o Brasil partiram de Portugal, no dia 29 de março de 1544, junto com Mem de Sá. O superior do grupo, Manoel da Nóbrega, estava acompanhado dos padres João Azpilcueta (linguísta), Leonardo Nunes (sem profissão), Antônio Pires (arquiteto), Diogo Jacome (carpinteiro) e Vicente Rodrigues (professor). Poucos meses após a chegada, fundaram os primeiros colégios do Brasil Colônia, nas cidades de Salvador e São Vicente (São Paulo).

A maior ação transformadora inaciana está ligada ao padre José de Anchieta. Com admirável conhecimento filosófico e teológico, traçou as diretrizes dos jesuítas no Brasil, impôs uma Medicina a serviço da catequese e elaborou a primeira gramática tupi guarani, fundamental na futura substituição das muitas línguas indígenas ao nheengatu.

A Companhia de Jesus se multiplicou no Brasil Colônia. Atuou em diferentes regiões, mas foi no Sul que os objetivos foram alcançados em grande escala. Os padres reuniram diferentes nações indígenas guaranis nas aldeias (pueblos) e com disciplina férrea introduziram o modo de produção despótico comunitário.

Alguns grupos de índios resistiram fugindo para áreas de difícil acesso. Outros, liderados pelos pajés, possivelmente, reunindo milhares de pessoas, fugiram em direção ao Leste, na busca da mítica terra sem mal, onde encontrariam a paz da vida eterna e abundância de alimentos.

Os estudos mais recentes do universo mítico guarani revelam que as migrações não estavam contidas só na compreensão espacial material da recompensa. Na realidade, a mola propulsora era o anseio coletivo de mudanças radicais que impunham inclusive, a dissolução da sociedade anterior. Para alcançar a terra sem mal não bastava só querer; viajar significava aceitar a proposta da existência da terra sem mal.

Os cainguás (= gente da floresta), como eram denominados os que conseguiram escapar, retardaram a destruiçâo vinda com os brancos. Os apapocuvas, descendentes dos cainguás, foram estudados por Nimuendaju no início do século. Naquela época eram pouco mais de três mil indivíduos.

A área da influência jesuítica distribuída em terras do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, no século 18, reuniu mais de cento e trinta mil índios. Só o padre Antonio Muniz Montoya, o mais conhecido evangelista dos guaranis, fundou onze reduções em sete anos. O aldeamento forçado permaneceu até 1759, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal.

Os sacerdotes perceberam que a principal barreira à conversão era o pajé. O caminho encontrado para superar o obstáculo, no primeiro momento, foi a obrigatoriedade para que todas as aldeias dispusessem de enfermarias para tratar os índios doentes, as quais também serviram como unidades de repressão mítica e simbólica.

Graças à organização dos arquivos, o estudo das cartas enviadas aos provinciais europeus evidenciou parte das doenças mais comuns naquelas áreas, nos dois primeiros séculos da colonização. As epidemias de varíola, sarampo, sífilis, tuberculose, gastrenterites e outras doenças infecciosas, trazidas pelo elemento colonizador, foram descritas com detalhes. Por outro lado, essa correspondência também mostrou o empenho dos jesuítas para destruir o principal agente de coesão da sociedade indígena: o pajé.

No livro "Conquista espiritual", Montoya colocou a questão no mesmo nível da luta entre Deus e o demônio. O verdadeiro Deus era o inspirador dos padres curadores, e os pajés, símbolos vivos de Satanás.

O pajé, guardião e executor do conhecimento historicamente acumulado, não estava preparado para enfrentar as novas enfermidades trazidas pelo elemento colonizador. O poder milenar do pajé como principal elemento de coesão social, em poucas dezenas de anos, sucumbiu frente ao grande número de mortes causadas pelas novas doenças. O pajé não mais respondia aos anseios pessoais e coletivos.

Entre os séculos 16 e 17, os padres curadores jesuítas ocuparam os espaços surgidos com a desmoralização do pajé e reproduziram a prática médica hipocrático galênica, em voga na Europa setecentista, das sangrias e vomitórios.

A uso da Medicina como instrumento de conquista está transparente nos relatos do padre José de Anchieta:

"Já não ousas agora servir te de teus artifícios, perverso feiticeiro, entre povos que seguem a doutrina de Cristo: já não podes com mãos mentirosas esfregar membros doentes, nem, com lábios imundos chupar as partes do corpo que os frios terríveis enregelam, nem as vísceras que ardem de febre... Lobos raivosos e traiçoeiros. Se te prender algum dia a mão dos guardas, gemerás em vingadora fogueira ou pagarás em sujo cárcere o merecido castigo."

Em fevereiro de 1990, os poucos guaranis sobreviventes na serra da Jureia, a 150 quilômetros de São Paulo, talvez descendentes dos que migraram na busca da "terra sem mal", conseguiram, no mesmo ano em que a Companhia de Jesus festejava 460 anos de existência, o reconhecimento legal da demarcação da reserva, com exíguos mil hectares.

O velho cacique Antonio Branco, com 90 anos, é a testemunha viva da longa agonia proporcionada, em grande parte, pela catequese de conquista: "Passei a vida inteira correndo atrás da legalização dessa terra".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

Luis Royo.

drops de pimenta 58

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─ Eu imagino a gente, velhinhos...

─ ...

─ Eu sinto uma ternura... O que você imagina?

─ Artrite, senilidade, pressão alta, pressão baixa e muita muita muita broxa...


(Zemaria Pinto)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A leitura e o princípio do prazer

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Zemaria Pinto


Não há nada mais chato que ler um livro por obrigação. Espero que não seja este o seu caso. Aliás, tudo o que fazemos forçados é inconvenientemente doloroso. É preciso ter prazer naquilo que se faz.

Com a leitura não é diferente. Além do mais, o tempo dedicado a um livro é relativamente maior que a qualquer outro tipo de fruição intelectual. Aí vem sempre aquela velha desculpa: já não tenho tempo para ler livros. Mas o sujeito tem tempo para ir ao cinema, surfar na Internet, jogar conversa fora com os amigos e outros passatempos que lhe dão prazer.

Por isso, se você gosta de ler mas não tem tempo, ou então você, que está começando agora, e não consegue encontrar um livro que não seja chato, um conselho: experimente a leitura por duas, três, quatro páginas. Se não lhe der prazer, tesón, como dizem os hispanos, esqueça: esse livro não lhe merece. Ou vice-versa.

Porque um livro só é verdadeiramente um livro quando encontra um leitor. Livros que enfeitam estantes são tão inúteis quanto uma roda quadrada. O leitor deve interagir com o livro, deve vivê-lo plenamente, mas sem esquecer que o tempo de fruição é mais elástico que o de outras atividades.

Literatura não é cinema, que é consumido numa única sessão de, em média, duas horas. A leitura de um bom livro exige muitas horas e vários dias de dedicação. E se o prazer se mantém, se multiplica, quem ganha é o leitor.

Uma das mais interessantes teorias sobre a interpretação da obra literária é a estética da recepção, que procura analisar a obra literária em função dos inúmeros tipos de leitor que ela pode ter. Aliás, a verdadeira obra de arte traz consigo inúmeras possibilidades de interpretação.

Ao contrário da pose passiva que se esperaria de um leitor em contato com o livro − o livro como um repositório de informações, o leitor como destinatário −, cada leitor se posicionará em relação ao livro de maneira ativa, interagindo com ele de acordo com o seu nível de conhecimento − escolaridade, meio social, religião, profissão, enfim, o seu ambiente.

Se dois leitores de dois ambientes diferentes lerem o mesmo livro, sem dúvida nenhuma produzirão pelo menos duas leituras diferentes.

A Bíblia, por exemplo, que é uma verdadeira floresta de símbolos, terá variadas interpretações se lida sob a luz das várias teologias, e outras tantas ainda quando lida pelo homem comum ou por um intelectual anarquista.

Livro magnífico que é, a leitura da Bíblia não se esgotará jamais, e as divergências ajudarão a iluminá-la com a serena vela da dúvida e a torturante chama da paixão.

Porque essa é a essência da relação leitor/livro: se cada ser humano é único na imensidão do universo, cada livro será, para cada leitor, uma experiência singular, intransferível.

Escrito em meados dos 90, para reflexão com as turmas de Teoria da Literatura I.

domingo, 11 de abril de 2010

Anisio Mello (21/06/1927-11/04/2010)

Faleceu no início desta tarde o artista plástico e escritor Anisio Mello, membro da Academia Amazonense de Letras.
O corpo de Anisio está sendo velado na própria Academia, à Rua Ramos Ferreira, esquina com Tapajós.

Jorge Tufic, cidadão do Amazonas

Jorge Tufic*



Meus primeiros agradecimentos desta honrosa investidura, que sejam para os generosos confrades da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas , constituída por Gaitano Antonaccio, Urias Freitas, Orígenes Martins, José Coelho Maciel, Manoel Bessa Filho, Bernardo Cabral (Honorário), Francisco Ritta Bernardino, Eliana Mendonça de Souza, Eurípedes Lins, dentre outros, tendo à frente o primeiro da lista, cuja demanda, hoje vitoriosa ao me ser conferido o título de Cidadão do Amazonas, foi trazida a esta Assembléia Legislativa pelas mãos do Deputado Sinésio Campos, o qual, por sua vez, encontrara aqui o desejado apoio e a unanimidade que tanto me engrandece.

Gostaria, também, de consignar palavras de gratidão a todos quantos votaram a favor desse projeto, de tal forma que quando chegara ao Poder Executivo, o Senhor Governador Eduardo Braga, segundo me informaram, não hesitou em sancioná-lo e dar-lhe a textura definitiva da Lei de número 3.447, de 21 de outubro de 2009, publicada no DO do Estado de número 31.698. Obrigado, pois, a Sua Excelência o Governador do Estado do Amazonas, com quem estive recentemente na festa de reinauguração da Academia Amazonense de Letras e a quem já não via há mais de dezessete anos.

Dirigindo-me agora ao povo do Amazonas, que ele me indulte pela mudança apenas de endereço, mais do que de praia ou de naturalidade, posto que fui obrigado a fazê-lo motivado por fatores diversos, a começar pelo nosso clima e os problemas de saúde. Mas ficara em Manaus uma parte considerável da família, a exemplo do filho, sobrinhos e sobrinhas, primos e primas, netos e bisnetas, vários dessa tribo numerosa exercendo cargos no serviço público e empresas particulares. Raízes fenícias do coração brasileiro.

2- UM RESUMO DE MEUS NOVOS INÍCIOS LONGE DO AMAZONAS

Já em Fortaleza, tão logo me acomodara com a família, não antes de mourejar nas periferias da urbe em crescimento, fui convidado para a solenidade festiva dos cem anos da Academia Cearense de Letras, encontrando ali velhos e novos conhecidos, com destaque para Ciro Gomes, então Governador do Estado e uma semana depois, Ministro da Fazenda, Rachel de Queiroz, Caio Porfírio Carneiro, Josué Montello, José Helder de Souza, além de inúmeros escritores e poetas oriundos dos demais estados nordestinos. No dia seguinte era sábado e fui chamado, por telefone, a tomar parte de uma reunião do grupo formado por Luciano e Virgílio Maia, Carlos Augusto Viana, José Telles, Pedro Henrique Saraiva Leão, Carlos Emílio Correia Lima, entre vários outros da equipe encarregada de publicar um famoso tablóide de literatura e arte, denominado "O Pão". Juntei-me a eles e a partir desse momento os principais jornais do Ceará começam a receber colaborações minhas, do soneto à crônica, da crônica ao ensaio, do ensaio à resenha de livros.

Vendo isso, Gaitano Antonaccio, apoiado pela sua Academia, me concede o título de Embaixador da Cultura Amazônica para todo o nordeste brasileiro. Numa sequência inusitada, recebo o diploma de Mérito Cultural da Academia Cearense de Letras, sou eleito e recebido pela Academia Acreana de Letras, em solenidade realizada no auditório da Assembléia Legislativa do Estado, com a presença do Governador Jorge Viana. Em 1999 conquisto o primeiro lugar do Prêmio Nordeste de Poesia, realizado em Pernambuco, com meu livro "A Insônia dos Grilos"; ganho também em primeiro lugar o Prêmio Nacional de Ensaio, concurso promovido pela Academia Mineira de Letras, em 2003, com meu livro intitulado "Arte Poética", bem como os prêmios de poesia em concursos realizados pelo Ideal Clube de Fortaleza, nos anos 2004 e 2006. Sou membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da Academia do Sonho, do Clube do Bode... Mercê do diálogo fraterno, tem-me sido fácil a convivência, o afeto, a solidariedade humana. Onde quer que esteja.

Senhoras e senhores:

Na verdade, minha ausência física de Manaus, antes das razões expostas, terá sido uma conseqüência natural de quem vai se dando conta da tragédia biológica que se arrastava, já, desde os anos setenta, com a morte, prematura ou não, de tantos companheiros do Clube da Madrugada e confrades da Academia Amazonense de Letras: o vazio que ficava em nós, a solidão crescente de nossos dias maduros. Some-se a isto um tipo de sucateamento de nossos valores ainda na plenitude de sua força criadora, uma espécie de ostracismo gratuito à vista de cargos passageiros e remunerações pífias. Quanto a mim, eu não precisei do Estado do Amazonas para me aposentar, embora tenha sido funcionário da CERA (Comissão de Estradas de Rodagem), Fundação Cultural do Amazonas e Conselho Estadual de Cultura. Como Jornalista Profissional, renunciei, do mesmo modo, aos direitos que me assistiam diante das controvérsias acerca da ética e do bom senso. Por outro lado, conquistei, sim, prêmios vultosos em Concursos de extensão nacional, dentre estes o que foi instituído para escolha da letra do Hino do Amazonas.

Em 1990, fui convidado a disputar as eleições para o Senado Federal, uma única vaga. A chapa de então, pela ordem: Amazonino Mendes, Jorge Tufic, Jefferson Péres e Marlene, do PT. Amazonino venceu. Palmas pra ele. Dessa aventura restaram dezenas de artigos estampados nos quatro jornais de Manaus, e, à guisa de manifesto, cinco ou seis itens de programa em defesa do Estado, inclusive o intuito que me animava em propor a extinção do próprio Senado, uma réplica tupiniquim dos EEUU da América do Norte.

3- QUE SOU EU, AFINAL, SENÃO ESTE UMBIGO DA TERRA?

A gente faz o que pode. No ciclo amazônico de minha poesia, sobressai o livro que intitulo de "Quando as noites voavam", uma súmula que pulsa em minha vida sem quando nem onde, uma sorte de estalo a que dei o máximo para atingir o mínimo, a calcular pelas dimensões do projeto sonhado ao longo desses últimos quinze anos,quando o mesmo aparece com o nome de "Boléka, a onça invisível do universo", e, em segunda edição ("Quando as noites voavam"), acrescido de mais três livros; e agora, outra vez aumentado, compõe-se de uma quarta parte sob o título de "Contam Contam". É o presente que tenho para ofertar ao povo amazonense. Trata-se da vivência interiorana, homenagem aos primeiros índios que conheci em minha infância, empregados de meu pai. Ao me encontrar perdido nas matas, lembrei-me de sua "cartilha", seguindo as margens dos igarapés, já sabendo escolher as árvores para me abrigar, orientado pelos raios do sol e o primeiro cheiro de fumaça, cuja origem, um tapiri de carvoeiro, salvou-me das onças, da fome e do frio.

Com estas lições eu pude chegar, anos em marcha, ao planalto de onde os antigos vedas sondavam o passado e previam o futuro. Mas este, senhoras e senhores, só a Deus pertence.

Muito obrigado.

(*)Discurso pronunciado por Jorge Tufic, ao receber o título de Cidadão do Amazonas, no último 23 de março.

sábado, 10 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria


They Only Come Out At Night.
Jim Warren.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Assis Brasil e a Poesia Brasileira no Século XX

Zemaria Pinto


O primeiro espanto que tive com Assis Brasil deu-se há exatos 20 anos, através do romance Os Que Bebem Como Cães. Impregnado, então, pelas leituras adolescentes de Kafka e Dostoievski, e, principalmente, tomado pelo terror cotidiano imposto pela ditadura (cotidiano que eu não vivenciava diretamente), aquela narrativa lenta, angustiante e monocórdia (a cela, o pátio, o grito, repetidos à exaustão) transformou-se para mim em paradoxal alegria – a de ter “descoberto” um novo autor. Bobagem. Publicando desde 1953 (Verdes Mares Bravios), Assis Brasil vencera, entre outros, o prêmio nacional Walmap, de 1965, com Beira Rio Beira Vida, inaugurando o que ele convencionou chamar de Tetralogia Piauiense. Os Que Bebem Como Cães começava, em verdade, uma nova tetralogia, convenientemente chamada de Ciclo do Terror, completada com O Aprendizado da Morte (1976), Deus O Sol Shakespeare (1978) e Os Crocodilos (1980), todos devidamente consumidos, mas já sem nenhum espanto.

Assis Brasil, é preciso ainda que se diga, é uma figura rara de escritor profissional. Nascido em Parnaíba, no Piauí, em 1932, crítico literário militante, do Jornal do Brasil (1956/61) à Tribuna da Imprensa (atualmente), tem dezenas de livros publicados, estudos que variam de Joyce a Graciliano Ramos, de Faulkner a Drummond, de Guimarães Rosa a João Cabral, romances históricos, novelas, contos, narrativas infanto-juvenis, além de livros didáticos e paradidáticos.

O segundo espanto com Assis Brasil ocorreu-me ao tomar conhecimento de seu hiperprojeto, que consiste em produzir antologias da poesia brasileira deste século, organizadas por Estados. O primeiro volume, A Poesia Maranhense No Século XX, saiu, em verdade, em 1994. Em 95, saiu o volume dedicado à poesia do Piauí. Ano passado, saiu A Poesia Cearense No Século XX. Há poucos dias, recebi a Poesia Goiana. Os livros, de excelente acabamento, são editados pela Imago, do Rio de Janeiro. E quem paga a conta?, você deve estar me perguntando. Eu diria que o próprio autor, se não, vejamos: na introdução ao primeiro volume publicado, Assis Brasil lembra da importância que a “economia invisível”, o comércio clandestino e marginal dos camelôs e afins, tem na manutenção do que resta de equilíbrio social neste país, equilíbrio que impede ou adia a explosão das massas, aviltadas por uma abusiva concentração de renda e sem nenhuma perspectiva de participação no sistema neoliberal de produção de riquezas, que ignora, por definição, a existência dessas massas (abra o jornal, leitor, para saber do que estou falando: sem-terra, sem-teto, sem-previdência, desempregado, esse é o perfil da massa). Partindo do princípio de que há, então, uma “literatura invisível”, formada fora do eixo Rio/São Paulo, o autor partiu para o levantamento da produção poética em cada Estado, contando com inúmeros contatos, amigos de tantos anos, considerando que “apesar da tecnologia gráfica avançada, tudo se faz precariamente, em meio a províncias (o Brasil inteiro) que se conservam isoladas, com feudos culturais, e os seus escritores, quase envergonhadamente, produzem uma ‘literatura invisível’, com o mesmo sentimento de sobrevivência (e de perseguição) e de tábua de salvação dos camelôs brasileiros”.

Impossível é não lembrar de Octavio Paz, ele que não deveria nunca ser esquecido, ao perguntar em um de seus instigantes ensaios: quantos e quem são os que lêem livros de poemas? E a resposta, ele mesmo a dá: uma imensa minoria! É essa minoria que mantém viva a poesia como uma forma de manter viva a língua e a arte. Uma Temporada No Inferno, de Rimbaud, teve uma tiragem inicial de 500 exemplares, pagos pelo próprio autor. As Flores do Mal, de Baudelaire, não teve mais que 1.100 exemplares na primeira edição. Os quatro ou cinco primeiros livros de Manuel Bandeira não tiveram mais que 500 exemplares por edição. São números que mostram que a camelotagem da poesia é mais antiga que a poesia amazonense. Não basta, entretanto, publicar: há que ir à luta, brigar por espaço na mídia, impor respeito. E aí muita gente se perde, ou por não ter paciência, ou porque prefere esperar que o “descobrimento” aconteça como num conto de fadas.

Para esta coleção, que poderia se chamar A Poesia Brasileira No Século XX, Assis Brasil aposta na parceria com o Estado, mas não espera a garantia do pagamento para começar a trabalhar. Pelo contrário, leva o projeto pronto à apreciação dos possíveis patrocinadores e fica esperando só pelo sinal verde para que a editora Imago possa por as impressoras para funcionar. Assim, há mais de um ano, ele espera pelo “sim” das autoridades amazonenses para mandar imprimir a nossa Poesia Amazonense no Século XX. O projeto já deu entrada pelos trâmites burocráticos, passou por vários secretários, mas tem sofrido de falta de “verba orçamentária”. Pelo que o Assis me conta, o projeto agora está na Secretaria de Cultura, Esporte e Estudos Amazônicos, onde deveria estar desde o início, sob os cuidados do secretário Robério Braga. Oxalá, agora saia, para o bem de todos e a felicidade geral da nação poética baré.

Agora deixa eu falar um pouquinho dos quatro livros publicados. Em primeiro lugar, do prazer de reencontrar velhos conhecidos, como Maranhão Sobrinho, Taumaturgo Vaz, Jonas da Silva e Quintino Cunha, que viveram boa parte de suas vidas no Amazonas e por isso poderiam integrar “nossa” Antologia. Depois é preciso dizer de como é bom rever nomes nacionalmente consagrados, como Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado, Mário Faustino, Torquato Neto, José Alcides Pinto e Francisco Carvalho, ao lado de nomes emergentes como Luís Augusto Cassas, Rubervan du Nascimento, Pedro Lyra, Adriano Espínola, Luciano e Virgílio Maia, estes, meus companheiros de geração, ou quase. Outros jovens poetas se expõem, expostos pela vitrine mágica das antologias. Por fim, constato, com espanto renovado, quantos poetas-camelôs ficaram pelo meio do caminho e agora são resgatados pelo trabalho, belíssimo trabalho, de Assis Brasil. Não fora por tudo o que se disse antes, só isso já teria valido a pena.

Obs1: artigo publicado no jornal Amazonas em tempo, na enchente de 1997.
Obs2: o livro A Poesia Amazonense no Século XX foi publicado em 1998, numa estranha parceria entre a editora Imago, a Fundação Biblioteca Nacional e Universidade de Mogi das Cruzes!...
Obs3: No ano seguinte, o livro reapareceu com uma tarja preta na capa (veja acima), cobrindo as logos dos primeiros patrocinadores, informando que a edição era do governo do Amazonas.
Obs4: para não esquecer: governador, Amazonino Mendes; secretário de cultura, o sempiterno Robério Braga. 

A dança dos botos & outros mamíferos do poder

A ideia de organizar em livro um roteiro minimamente elucidativo sobre as eleições no Amazonas surgiu quando Orlando Farias viu alguns fatos dos quais foi testemunha, como repórter, serem deformados propositalmente e utilizados com fins escusos e deploráveis. O autor não apenas usou sua memória e anotações de repórter, como fez questão de reconstituir o período republicano do voto universal, com base na memória de jornalistas ilustres e de jornais antigos e recentes.


Em A dança dos botos & outros mamíferos do poder, Orlando Farias tece a crônica da saga de um político pela conquista e conservação da sua hegemonia no poder e a formação de seus continuadores. Escrito em uma linguagem clara e objetiva, o livro revela episódios das disputas políticas no Amazonas. Nele, o autor faz uma descrição dos bastidores da luta entre os principais protagonistas do jogo pelo poder em âmbito regional.

Na eleição de 1976, Orlando Farias já era repórter do jornal A Notícia e passou, assim, a acompanhar as eleições no Amazonas de uma forma privilegiada, sobretudo nos últimos 20 anos, período em que atuou nas esferas políticas. Seja como correspondente do Jornal do Brasil, redator da coluna “Sim & Não”, do jornal A Crítica, e redator da Coluna “Encontro das Águas”, do jornal Correio Amazonense. Dessa forma, Orlando Farias acabou compreendendo que tinha a responsabilidade de deixar documentado o volume de fatos, registros e acontecimentos sobre a vida política do Amazonas. E não apenas porque tornou-se aquilo que os jornalistas mais detestam, em função do perigo que representa: um verdadeiro arquivo vivo daqueles acontecimentos.

Sobre o autor

Orlando Farias é jornalista, autor de grandes reportagens na imprensa nacional e regional. Foi editor de colunas de opinião e atuou como correspondente do Jornal do Brasil. Recebeu prêmios de jornalismo, como dois Esso-Norte e Imprensa Embratel. Orlando é também um dos coordenadores do Blog da Floresta, site que se dedica a todos os assuntos de interesse da região amazônica, inclusive os da política, desde que se constituam notícias.

Arqueologia da doença e a teoria do caos (2/2)

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João Bosco Botelho



Atuais competências e incompetências da Medicina

Como consequência das incontáveis dúvidas, fica mais fácil entender os níveis de competência da medicina-oficial e, nessa relação direta, a maior ou menor presença do chamamento à medicina-divina e à medicina-empírica:

– Competência da medicina-oficial com pouco ou nenhum chamamento da medicina-oficial e medicina-empírica: doenças não traumáticas em pacientes com imunidade normal, portadores de doenças infecciosas causadas por fungos e bactérias;

– Incompetência da medicina-oficial com muito chamamento da medicina-oficial e medicina-empírica: doenças não traumáticas em pacientes com imunidade normal, portadores de doenças infecciosas causadas por vírus;

– Incompetência da medicina-oficial com muito chamamento da medicina-oficial e medicina-empírica: doenças não traumáticas em pacientes imunodeprimidos, portadores de doenças infecciosas causadas por bactérias, fungos e vírus;

Entre as muitas circunstâncias que envolvem incompetência da medicina-oficial, podem ser citadas:

– como aparece a primeira célula do câncer;

– previsão do infarto do miocárdio;

– como ocorrem as doenças imunomoduladas;

– alteração da forma do sistema nervoso central nas psicoses;

– diferentes manifestações da mesma doença.

A partir dessa certeza, de a medicina-oficial desconhecer em qual dimensão da matéria o normal se transforma em doença, parece ser possível ensaiar outra abordagem teórica da arqueologia da doença tomando como parâmetros o caos — instabilidade que persiste.

Apesar dos avanços tecnológicos alcançados, principalmente, com a mecanização automação interferindo cada vez mais no domínio da natureza, persistem muitas dúvidas estruturais para compreender melhor a coisa em si (referida ao conceito kantiano). Por outro lado, deve ficar clara que essa abordagem está voltada à certeza do resolutório patrocinado pelo processo histórico do conhecimento, como ponte para transformar a coisa em si em coisa para nós.

A busca da arqueologia da doença é, certamente, uma das dúvidas que persistem.

O caos está presente em toda a natureza e pode se manifestar quando um objeto é submetido ao efeito de mais de uma força, gerando situações impossíveis de previsibilidade, com os atuais conhecimentos. Os exemplos mais banais vão desde a ten-tativa de prever o próximo movimento de uma folha que corre livre ao sabor da corrente das águas de um rio, uma bactéria que sobrevive na corrente sanguínea até as previ-sões climáticas. Nesses exemplos, ainda não é possível saber o que poderá acontecer à folha, à bactéria e se terá ou não tempestade em Manaus num determinado dia, mesmo utilizando os mais complexos sistemas de cálculos.

A maior dificuldade reside em separar a supremacia do caos à aparente estabilidade das coisas visíveis aos olhos desarmados. A nossa visão apreende o conjunto circundante como se tudo apresentasse o mesmo ritmo uniforme e eterno: a noite, o dia, as estações do ano, as estrelas e o movimento dos planetas.

Sob essa aparente e enganosa simplicidade rítmica, o homem tem acumulado saberes e, em especial, construiu compreensões estáticas da saúde e da doença, predominando um divisor de águas entre o homem doente, como sinônimo da morte, e o sadio, como afirmação da vida.

Nada na natureza circundante se passa desse modo. O matemático francês Henri Poincaré (1854-1912) demonstrou a instabilidade mesmo em sistemas simples. Esse pensador acabou ficando conhecido também pela defesa da existência de uma “comodidade da ciência”, onde as teorias científicas traduziriam a arbitrariedade da razão com o objetivo de tornar inteligível um conjunto de fatos observados.

A atual compreensão de instabilidade regendo o conjunto que mantém a vida no planeta é absolutamente fantástica, porque obriga todos a mergulharem na incerteza angustiante ao acabar com as certezas acabadas.

O estudo do caos inseriu a matemática nos sentidos do homem onde a capacidade humana de abstrair as formas espaciais foi incorporada a outra geometria muito diferente da euclidiana. Reforçando essa fantástica capacidade de avançar para procurar respostas, homens geniais imaginaram a projeção espacial da molécula de ADN, abrindo o caminho para desvendar o genoma.

Sob esse prisma, decompondo as estruturas lineares e estáticas, na certeza de que a coisa em si passa gradual e inexoravelmente à coisa para nós, isto é, o noumeno cedendo lugar ao conhecido, é razoável pressupor que, no futuro, a doença será compreendida como fenômeno dinâmico fora do espaço euclidiano.

O possível caminho envolvendo a arqueologia da doença à caoslogia, isto é, outra compreensão do “normal” e da “doença” fora do espaço euclidiano, foi iniciado pelo pesquisador Susumi Tonegawa, o ganhador do Nobel de 1987, com o indicativo de certos fatores sociais causarem alterações genéticas, demonstráveis em laboratório por meio:

– Ocorrência de variações na ordem dos aminoácidos dos anticorpos produzidos nos linfócitos B;

– Segmentos do material genético são selecionados e misturados para formar novos genes;

– Originaram muitas sequências variadas de aminoácidos, que seriam capazes de efetuar com competência a defesa do corpo humano contra as agressões nas dimensões micro e macroscópica.

Nessas condições, as conhecidas alterações orgânicas produzidos por certos tipos de estresses repetitivos, teriam sido induzidas geneticamente no passado remoto, com a função de manter a vida:

– Redução temporária do número de linfócitos;

– Aumento de neutrófilos e das células natural killer no sangue;

– Migração dos linfócitos para a medula óssea e pele;

– Ativação rápida das glândulas do sistema hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando grandes quantidades do hormônio cortisol, na glândula suprarrenal.

Nada impede de considerar como legítimo o pensamento inverso: se as adaptações genéticas foram competentes para gerar respostas endógenas repetitivas para manter a vida, existiriam outras circunstâncias, nas quais não teria ocorrido a mesma competência, resultando em muitas doenças. Com a liberdade requerida pelos que anseiam respostas (como ponte para transformar a coisa em si em coisa para nós), sem as tê-las, quem sabe, em alguma parte da matéria viva, estariam os encontros entre as medicina-divina, medicina-empírica e medicina-oficial, que justificaria a im-pressionante reprodução na crença dos milagres nos quatro cantos do planeta. Esse caminho possibilitaria desvendar a arqueologia da doença até nas menores dimensões da matéria, onde o normal se transforma em doença.

Bóson de Higgs

A imprensa mundial divulgou, no dia 31 de março próximo passado, o espetacu-lar acontecimento científico ocorrido no Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês): o encontro de dois feixes de partículas subatômicas com a velocidade próxima à da luz, possibilitando a descoberta de outras partículas subatômicas e, talvez, de outras dimensões.

Do mesmo modo, também poderá significar o início do caminho para a ciência entender em qual dimensão da matéria o tecido normal se transforma em doença.

Sob essa magnífica realidade, igualmente, é possível teorizar que o quarto corte epistemológico da Medicina esteja em curso: a busca da materialidade da doença na dimensão atômica-subatômica.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Fantasy Art – Galeria

Luis Royo.

drops de pimenta 57

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Joca, deixa de bobagem. Me atende. Você sabe que nada daquilo que eu disse é verdade. Não é aquilo que eu sinto, Joca. Mas você me chateia, poxa. Perdoa, vai... Liga pra mim...


(Zemaria Pinto)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Apenas uma história policial

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Marco Adolfs



Meu nome é Mário Rodrigues. Sejam bem-vindos ao meu inferno particular. Tenho cinquenta e dois anos de idade e sou investigador de polícia. Se me perguntam por que resolvi ser investigador de polícia, eu digo que é para ficar mais perto de Deus. Muitos se espantam com essa minha resposta. Mas eu explico melhor citando um velho chavão batido, o de que Deus escreve certo por linhas tortas.

Portanto, o que penso e vejo – no meio dessa marginalidade cruel de uma vida, não só de crimes, mas de situações psicológicas de desespero –, é uma parte desse meu inferno. Não sou nenhum masoquista ou sádico, mas percebo que é aqui, nesta condição marginal, o momento onde Deus exerce o seu domínio. Ou através da culpa que cada um carrega, ou através da punição. Uma luta eterna onde ele tenta apascentar essas ovelhas negras no escuro. Meu inferno particular, afirmo com convicção.

Naquela noite não consegui pegar no sono antes das três da madrugada. Fiquei fumando um longo charuto cubano, enquanto pensava nos possíveis caminhos para a solução daquele crime esquisito. E logo com um pastor da Igreja Cósmica do Reino de Deus. Esse homem deveria ter muitos segredos a revelar, pensei. Por isso havia sido morto. Mas, nada era certo, pois histórias estranhas de crimes absurdos acontecem quase todos os dias. Brotam nas esquinas, sob o signo do desespero dos humanos. E esse era mais um.

No outro dia, quando entrei na delegacia, um investigador amigo meu me chamou a um canto e falou:

– Tenho uma coisa para lhe dizer sobre ele.

– O quê?

– Uma mulher ligou de um orelhão e disse que sabia quem havia feito aquilo com o pastor.

Olhei para os olhos do investigador Parreira e esperei. Parreira tossiu um pouco e então continuou:

–...Ela não quis se identificar, mas disse que ligaria amanhã para marcar um encontro com a polícia em um local a ser definido – disse. – Mas ainda tem mais uma coisa que ela me disse – continuou Parreira.

– O quê? – perguntei ansioso.

– Que esse sujeito que morreu não era um pastor sério.

– Por que crimes desse tipo não são logo arquivados? – resmunguei contrariado, enquanto saía de perto do Parreira.

Mas tudo foi resolvido da forma mais simples do que eu imaginava que fosse resolvido. Após o encontro marcado com a tal mulher, ela nos revelou que o tal pastor, “não era pastor coisa nenhuma” e que não passava de um bandido que devia muito dinheiro para um traficante do morro onde morava. Um traficante de nome Jesus.

Enquanto tratava do caso, não pude deixar de pensar em quantos bandidos fogem de seus algozes e vidas pregressas assim..., em nome de Jesus.

domingo, 4 de abril de 2010

Sophia de Mello Breyner Andresen na Quarta Literária

Prêmio Ferreira de Castro de crítica literária

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A Universidade do Estado do Amazonas (Cátedra Amazonense de Estudos Literários) e o Instituto Camões (Centro Cultural em Brasília) anunciam as regras para candidatura ao Prêmio Ferreira de Castro de crítica literária, que engloba premiação em dinheiro e publicação dos melhores ensaios/artigos, no âmbito das comemorações em torno dos 80 anos de publicação do romance A selva.


Quando? Candidaturas até 30 de abril de 2010.

Como? Inscrição via internet (ou Correios, se contactado previamente com a Comissão).

Quem pode? Alunos de graduação que estejam sob orientação direta de docente (sobretudo Iniciação Científica), alunos de pós-graduação de todos os níveis e professores universitários.

Tema? Abordagens críticas, interpretativas e teóricas sobre a narrativa do escritor luso-brasileiro Ferreira de Castro, abordando quaisquer de suas obras, isolada ou comparativamente, com destaque para A selva, nos seus 80 anos de publicação (1930-2010), mas não somente.

Prêmio? Valor em dinheiro (R$ 1 mil, R$ 600,00 e R$ 400,00 aos três primeiros lugares, respectivamente) e a publicação de ensaio em revista especializada (ContraCorrente, volume 2).

Mais informações e edital completo (incluindo o adendo que alterou o edital e a ficha de inscrição) em http://www.pos.uea.edu.br/catedra

Manaus, amor e memória IX

Av. Eduardo Ribeiro. Anos 50? Reparem na paz do solitário automóvel...
Hoje, para cada pé de benjamim, há pelo menos 10 barracas de camelôs...

sábado, 3 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Paulinho da Viola – melancolia, humor e paixão

.Zemaria Pinto

Ele não tem o glamour cosmopolita de um Tom Jobim, nem o charme intelectual de um Chico Buarque, tampouco a têmpera histérico-polêmica de um Caetano Veloso, muito menos a ginga histriônico-política de um Gilberto Gil. Paulinho da Viola, ao contrário, move-se no etéreo: suas referências mais próximas são Noel Rosa, Pixinguinha, Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho e Cartola, todos devidamente canonizados.

E o que esses santos têm em comum? Com certeza, uma paradoxal tradição revolucionária. Cada um deles produziu, em algum momento dos últimos setenta anos, “estranhamentos” diversos, que enriqueceram sobremaneira essa coisa frágil que é a música brasileira, submetida aos caprichos da indústria fonográfica, que só dá valor ao “clube do milhão”, rendoso negócio de milhões em dólares. E dane-se a qualidade.

Paulinho da Viola continua, e estende, essa tradição: sem grande alarde, constrói, há 30 anos, uma obra cuja perenidade não deixa nenhuma dúvida, porque paira acima de modismos e jogadas de marketing. Calcado no tripé melancolia (uma tristeza indefinida, feito canto de pássaro), humor e paixão pelo samba, Paulinho cria tanto canções para animar uma quadra ávida por um agito carnavalesco quanto impossíveis peças que só se permitem a audição silenciosa e devota. É assim desde o primeiro disco, com “Sem ela eu não vou” e a obra-prima “Coisas do mundo, minha nega”, nunca ouvidas, por certo, por esses pagodeiros paulistas, tão em moda. Aliás, pagode mesmo é coisa séria, como não cansa de repetir o meu amigo Edvaldo Pagodinho.

Mas em Paulinho da Viola o conceito de obra-prima só se realiza no plural, como a Manaus cantada pelo Aldisio Filgueiras. No capítulo das invenções, por exemplo, além da citada “Coisas do mundo...”, é imprescindível lembrar, em ordem cronológica, “Sinal Fechado”, “Para ver as meninas”, “Dança da solidão”, “Comprimido”, “Roendo as unhas”, “Zumbido”. A estas, junta-se agora “Bebadosamba”, que empresta o nome ao mais recente disco de Paulinho, uma homenagem àqueles que fizeram do samba a música brasileira por excelência: “chama que o samba semeia / a luz de sua chama / a paixão vertendo ondas / velhos mantras de Aruanda”. E segue um desfile de santos, além daqueles citados no primeiro parágrafo: Ismael, Sinhô, Donga, João da Baiana, Geraldo Pereira, Monsueto, Mano Décio, Candeia, Mauro Duarte e tantos outros.

Mas “Bebadosamba”, o disco, não é só invenção. O Paulinho da Viola compositor de inúmeros e bem-humorados “sambas de costumes”, como “Papo Furado”, “Dona Santina e Seu Antenor”, “No pagode do Vavá”, “Dívidas”, “O Velório do Heitor”, “Meu novo sapato”, entre outras que a memória teima em esconder, oferece-nos agora um delicioso presente, futuro clássico, “Memórias Conjugais”, dedicada ao nunca assaz louvado poeta Aldir Blanc: “lapidar / foi a sua frase / proferida de um jeito natural / registrei esta preciosidade / sem alarde / no meu livro de memórias conjugais / – ‘tenho asas, meu amor, preciso abri-las / ao seu lado não sou muito criativa’ – / depois dessa / fui em busca do meu antidepressivo / e afundei / no sofá com meus jornais”. Quem nunca viu esse filme?

Paulinho nunca foi de muitos parceiros. Além dos constantes Capinan (“Coração Imprudente”, “Orgulho”, “Prisma Luminoso”), Sérgio Natureza (“Vela no breu”, “Brancas e pretas”, “Último Lance”) e o inefável Elton Medeiros (“Moemá morenou”, “Recomeçar”, “Onde a dor não tem razão”), algumas poucas parcerias com Hermínio Bello de Carvalho (“Sei lá, Mangueira”, um clássico), Casquinha (“Recado”) e Mauro Duarte (“Foi demais”). Neste novo disco, ele retoma parcerias com Elton (“Ame”), Hermínio (“Timoneiro”) e Natureza (“Mar grande”). O curioso é que as canções destes dois parecem dialogar entre si: “não sou eu quem me navega / quem me navega é o mar”, diz o refrão da primeira, ao que a segunda responde “se navegar no vazio / é mesmo o destino / do meu coração / parto pra ser esquecido / navio perdido / na imensidão”. No capítulo das parcerias, uma novidade: “Solução de vida”, com o poeta Ferreira Gullar.

A paixão pelo samba, não bastasse tudo o que já se disse, traduz-se também em alguns clássicos do samba de quadra, como “Perder e ganhar”, “Guardei minha viola”, “Argumento” e “Não posso negar”, que tratam de problemas relacionados às escolas e à própria sobrevivência do samba, com o perdão da má palavra, de maneira metalinguística. Nessa linha, a mais popular canção de Paulinho, e, na minha modestíssima opinião, a mais bela, “Foi um rio que passou em minha vida”, é exemplar. Feita para acalmar os ânimos de uma Portela enfurecida pelo fato de seu pupilo ter colocado música nos versos de Hermínio Bello, em “Sei lá, Mangueira”, de lá pra cá rolou muita história, mudando o rumo dos ventos.

Em “Bebadosamba”, Paulinho prestigia a velha-guarda de sua velha escola gravando Candeia, Casquinha e Noca, mas, ao fazer samba sobre samba, prefere falar da inspiração, em “Quando o samba chama”: “tão imprevisível chega e logo sai / vive provocando sobressaltos / no meu coração / que não tem coragem de renunciar / ao prazer de uma velha paixão / o que era um sonho / pétalas no mar / logo é pura transpiração”, para concluir, “mas se o tempo se acha no sol do poente / e do céu se retira um pedaço do azul / o poeta ressurge / e lança no ar a semente / e reparte feliz a sua luz”. Paulinho da Viola, não tem feito outra coisa, a não ser repartir a luz de sua poesia e de sua música com quem sabe ouvi-la.


Ilustrações: retrato de Paulinho da Viola, por Roberto Weigand, e capa do cd Bebadosamba.

Artigo publicado no jornal Amazonas em tempo, na vazante de 1996.

Arqueologia da doença e a teoria do caos (1/2)

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João Bosco Botelho


Para iniciar a discussão teórica entre as relações da arqueologia da doença com a teoria do caos, é adequado introduzir três categorias envolvidas com a cura das doenças:

• Medicina-divina: construída desde tempos imemoriais, como parte indissociável das ideias e crenças religiosas, notadamente como instrumento de catequese. Os agentes têm sido homens e mulheres, identificados como possuidores de dons especiais, representantes das divindades taumaturgas, para curar as doenças por meio de mágicas (ou milagres) rituais que incluem os toques das mãos sobre o suplicante;

• Medicina-empírica: intimamente relacionada e tão antiga quanto a medicina-divina. Os agentes são representados por homens e mulheres com forte aderência às crenças e ideias religiosas dominantes ou marginais, identificados nas comunidades pela qualidade de possuírem o dom de curar. Além dos ritos de natureza religiosa, onde se destacam também o toque das mãos, os sopros e danças, diferenciam-se dos agentes da medicina-divina pelo uso dos recursos da natureza circundante, amparados nos conhecimentos historicamente acumulados, para obter a cura;

• Medicina-oficial: os registros são uniformes, desde o passado de 3.500 anos, que os processos teóricos que continuam amparando a reprodução dos médicos, sob a guarda do poder dominante e como agentes exclusivos da medicina-oficial, foram construídos em torno de três determinantes principais interrelacionadas:

- Entender, dominar e modificar a multiplicidade dinâmica das formas e funções do corpo;

- Estabelecer os parâmetros do normal e da doença;

- Vencer as limitações impostas pelo determinismo da dor fora de controles e da morte precoce.

Antepondo-se à medicina-divina e à medicina-empírica, o conjunto teórico da medicina-oficial tem assumido posição muito clara quanto à busca da materialidade da saúde e da doença: a arqueologia da doença está sendo decifrada nas dimensões cada vez menores da matéria viva.

As resultantes apontam para a certeza de esses saberes, amparado por processos teóricos, produzidos fora das ideias e crenças religiosas, continuam produzindo mudanças sociais duradouras. Do mesmo modo, acompanhando as inovações da ciência e da tecnologia, a medicina-oficial é a única responsável pelos avanços sociais que possibilitaram, em muitas circunstâncias, as pessoas viverem mais e melhor, vencendo muitos tipos de dor e evitando incontáveis mortes nos quatro cantos do planeta.

A busca da arqueologia da doença, fora das ideias e crenças religiosas, iniciou sua trajetória no século 4 a.C., na ilha de Cós, na Grécia, nos escritos de Políbio, o genro de Hipócrates. Esse genial médico, baseado nos quatro elementos de Empódocles (água, fogo, terra e ar), estabeleceu a primeira teoria — Quatro Humores (sanguíneo, linfático, bilioso amarelo e bilioso preto) —, para o entendimento das origens das doenças. Simultaneamente, provocou o longo processo, ainda em curso, de ruptura com as estruturas de poderes organizadas nas idéias e crenças religiosas e retirando dos deuses e deusas protetores a primazia de provocar a saúde e a doença.

A interpretação filosófica da teoria dos Quatro Humores, sob os conceitos de Bachelard (Bachelard, Gaston. Épistémologie. 3ª. sd. Paris. PUF. 1980), a teoria dos Quatro Humores, de autoria de Políbio, pode ser considerada o primeiro corte epistemológico da história da Medicina, materializando a partida na busca da arqueologia da doença e reduzindo a imensidão teofânica à visibilidade corpórea.

Assim, o entendimento da doença passou da abstração da mágica (ou dos milagres) ao corpo visível e mensurável.

Dois mil anos após, no Renascimento europeu, a partir do aprimoramento das lentes de aumento, ocorreu o segundo corte epistemológico da história da Medicina, nas publicações de Marcelo Malpighi, descrevendo o primeiro relato da micrologia dos seres vivos. Dessa forma, a materialidade da doença pulou da macroscopia dos corpos para os seres invisíveis aos olhos desarmados — os micróbios — mas, identificados por meio das lentes de aumento, o cerne do pensamento micrológico.

Pouco menos de duzentos anos depois, o genial frade agostiniano Gregor Mendel, na sessão de 8 de fevereiro de 1865 da União de Naturalistas de Brün, sem imaginar a grandeza do extraordinário salto que estava construindo, ao descrever as leis da segregação e da independência, explicando os resultados dos cruzamentos das ervilhas, levou a arqueologia da doença da dimensão celular à molecular, inaugurando o terceiro corte epistemológico da história da medicina, brotando o pensamento molecular, que culminaria, no século seguinte, com o estudo do genoma, uma das consequências mais fascinantes do pensamento molecular ou ultramicroscópico.


Sem pretender simplificar exageradamente, a busca da arqueologia das doenças está percorrendo o caminho da maior para a menor dimensão da matéria:

CORPO - ÓRGÃO - CÉLULA - MOLÉCULA

Com a anulação da porção teofânica, a construção dessa estrutura teórica, para que seja identificada uma parte do corpo “doente”, visível aos olhos desarmados, qual-quer que seja a ação motivadora da mudança no aspecto do corpo, determinando a “doença”, torna-se necessário que o caminho inverso seja igualmente verdadeiro, isto é, as alterações na matéria viva também estão presentes em todas as dimensões da matéria:

CORPO DOENTE - ÓRGÃO DOENTE - CÉLULA DOENTE - MOLÉCULA DOENTE

É possível oferecer abundantes exemplos de como se passa essa realidade nos tecidos vivos, dos seres multicelulares, passível de comprovação e, em muitos casos, a reprodução laboratorial.

A pessoa que apresenta, ao exame clínico, o bócio difuso não nodular (aumento do volume da glândula tireóide sem nodulação) com aumento da função (hipertireoidismo) é possível comprovar a doença nos três níveis.

- Corpo: aumento visível da porção anterior e inferior do pescoço;

- Órgão: aumento do volume da tireóide comprovado por meio do exame do ul-trassom;

- Célula: alteração visível por meio do microscópio ótico, característica somente do hipertireoidismo;

- Molecular: a dosagem dos hormônios presentes na corrente sanguínea que caracterizam o hipertireoidsmo.

Além de não existir dois bócios exatamente iguais; são diferentes entre si, mas mantêm certas características semelhantes, capazes de justificarem agrupá-los sob a mesma nominação.

A complexidade da arqueologia da doença aumenta na mesma medida em que temos a certeza de a matéria viva não termina na dimensão molécula, considerando o espectro da matéria, abaixo, da maior dimensão em direção à menor (da esquerda para a direita):

MOLÉCULA - ÁTOMO - PRÓTONS - NEUTRONS - ELETRONS - PARTÍCULAS SUBATAÔMICAS - BÓSON DE HIGGS (?)

O acesso visual como uma etapa para compreender a forma das estruturas vivas, seja por meio da visão desarmada ou com a ajuda da microscopia ótica e da microscopia eletrônica, só alcança parte da matéria viva:

- corpo e órgão, visíveis aos olhos desarmados;

- célula, visível à microscopias ótica e eletrônica;

- molécula, invisíveis;

- átomos, invisíveis;

- partículas subatômicas; invisíveis.

Essa é a razão pela qual mesmo com o inegável progresso para desvendar a arqueologia da doença, a medicina-oficial não sabe em qual dimensão da matéria o normal se transforma em doença (se é que a doença realmente existe como está sendo concebida). Talvez esse enigma esteja relacionada à pouca compreensão dos sistemas vivos sob o prisma da Termodinâmica. Até hoje, continua sendo muito difícil entender o homem, como exemplo de sistema aberto, consegue manter a vida com rigorosa ordem interna e baixa entropia.