Amigos do Fingidor

domingo, 30 de setembro de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXXVIII


Rua Pedro Botelho, no Centro, próxima à Escadaria.

sábado, 29 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Girl with tattoo. 
Yann Dalon.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


177 – Escolha o seu lado. Civilização ou barbárie?

178 – Civilização é justiça social, emprego e crescimento econômico; é o controle dos lucros bancários e a taxação às grandes fortunas; mas é também programas sociais, como o Bolsa-Família, por exemplo, que promove justiça social, por meio da distribuição de renda.

179 – Barbárie é esterilizar a população de baixa renda, “para diminuir o número de pobres”.

180 – Barbárie é condenar o Bolsa-Família, sob o argumento de que “os miseráveis agora vivem só de renda”, ignorando as regras rígidas para a concessão do benefício.

181 – Barbárie é cortar gastos de investimentos públicos, sob a alegação de que “o estado já é grande demais”.

183 – Barbárie é diminuir os impostos da classe média, para aumentar dos que ganham menos, pois é isso a “alíquota única do Imposto de Renda”.

184 – Barbárie é afirmar que “as grandes fortunas já dão sua parcela de colaboração na economia do país”, por isso devem ser isentas de mais impostos.

185 – Civilização é a universalização do sistema educacional – do fundamental à pós-graduação.

186 – Barbárie é a industrialização e a privatização do sistema educacional.

187 – Civilização é o sistema de cotas para índios e negros, visando reparar erros históricos.

187 – Barbárie é afirmar que “os índios são preguiçosos e os negros são malandros”.

188 – Civilização é o respeito e o estímulo ao papel da mulher independente, como força motriz da economia e da nação.

189 – Barbárie é afirmar que “crianças criadas por mães e avós terminam como soldados do narcotráfico”.

190 – Civilização é o respeito à diferença  de sexo, gênero, crença, religião, cor, etnia, raça.

191 – Barbárie é o ódio e a violência contra o diferente – inclusive, dentro da própria casa. 

192 – Civilização é o respeito à democracia e à justiça, mesmo quando vítimas de injustiça.

193 – Barbárie é chantagear afirmando, com duas semanas de antecipação, que se não ganharem “é porque houve fraude”.

194 – Civilização é o respeito à democracia e o exercício do diálogo com os adversários, visando o bem do país.

195 – Barbárie é pregar o “voto de partido”, independente da vontade do parlamentar.

196 – Barbárie é pregar o autogolpe ou o golpe, que não é apenas retórica, mas uma possibilidade que se desenha.

197 – Civilização é pregar a concórdia e a harmonia, mesmo porque ninguém governa sozinho, quando todos o acusam de extremismo.

198 – Barbárie é o extremismo que prega a violência, a tortura, o assassinato.

199 – Civilização é acreditar que o país só mudará com educação, cultura e pleno emprego.

200 – Barbárie é o ódio à cultura, à educação e aos trabalhadores.  

201 – Escolha o seu lado. Civilização ou barbárie?



Práticas médicas entre os confrontos ideológicos 2/2



João Bosco Botelho


As propostas oitocentistas incentivadas pela fisiologia experimental de Claude Bernard aprumaram a ciência na tarefa de explicar como funcionava o corpo, quase sempre o associando aos avanços da técnica. O pleno exagero do mecanismo coube às palavras do pensador La Mettrie, em 1748, que conduziu a mecanização dos corpos ao limite máximo: “Em todo o universo não há senão uma única substância diversamente modificada, portanto o homem é uma máquina”.
As sementes dessa estranha concepção linear da dor e do prazer, se reconstruíram no século 20, trazendo a máquina como o modelo ideal para ser comparado ao corpo humano. Nesse caso, os corpos, como num passe de mágica, passaram a ser comparados às máquinas, e as doenças, aos desajustes na engrenagem.
A industrialização impondo as linhas de montagem e a necessidade rápida de mão de obra, os corpos tornaram-se complementos das máquinas. O mecanicismo trouxe um impressionante conjunto metafórico às linguagens-culturas: o coração passou a ser a bomba; o pulmão, o fole; o rim, o filtro; e, finalmente, o cérebro, o computador.
 Os reflexos dessas mudanças na formação do médico não tardariam. Em 1910, o relatório Flexner, que analisou a competência de 150 faculdades de medicina existentes naquela época, nos Estados Unidos, seguido, dois anos depois, do segundo relatório, descrevendo os cursos médicos da França, Inglaterra, Alemanha e Áustria, selaram o destino da nova metodologia do ensino da Medicina:  o maior produtor de saúde estava fincado nas relações científicas vindas dos laboratórios de pesquisa.
Como consequência, o conjunto formador competente do médico só poderia existir na certeza o uso de aparelhos, para intermediar as práticas médicas responsáveis pela melhoria das condições de saúde das populações.
A estrutura teórica que ajuizou a indissociável ligação da medicina à tecnologia também se apoiou em Talcott Parsons, em 1951, ao entender que a saúde só poderia ser alcançada sob a estreita supervisão do médico. Essa abordagem, marcada pelo etnocentrismo americano, da década de cinquenta, legitimou os relatórios Flexner: “O paciente tem a obrigação de buscar ajuda técnica competente (fundamentalmente um médico) e cooperar no processo de recuperação”.
É evidente que o estudo de Parsons só poderia ser aplicado nos poucos segmentos sociais, nos países industrializados, com grandes recursos disponíveis para pagar os serviços de saúde. A imensa maioria das pessoas, nos quatro cantos do mundo, continua sendo tratada pelos curadores populares de todos os matizes.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Otelo Solo na UFAM



Amazonas, o que é?



Pedro Lucas Lindoso


Era domingo. Fico triste em ler nos jornais mais um ataque ao Amazonas, seu povo e a Zona Franca de Manaus. Nosso parque industrial é chamado de obsoleto por um jornal de São Paulo.
Vou à Academia Amazonense de Letras, presidida pelo dinâmico mecenas Robério Braga. Naquele domingo o sodalício estava de portas abertas. O projeto Academia de Portas Abertas é simpático e eficaz. Como tudo tocado pelo Robério. A plateia no salão Álvaro Maia encontrava-se cheia de manauaras, ávidos por literatura e boa música.
Por que o sudeste nos trata com desinformação e zombaria? Aqui produzimos de celular a lâmina de barbear. E vários outros produtos, inclusive os refrigerantes que matam a sede venenosa daqueles que atacam um projeto que promove o desenvolvimento da Amazônia e preserva a nossa floresta.
Zezinho Corrêa, o artista que levou a música amazonense para o Brasil e o mundo, entra no salão. Seu repertório que iniciou com o sucesso do “Tic tic tac’, hoje é bem eclético. E canta Caetano Veloso: ”Isso aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil iaiá. Desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz”.
O Amazonas não é só um “pouquinho” de Brasil. Temos a maior floresta tropical do mundo. Sim. Cantamos e somos felizes. Temos dança que o boi balança e o povo de fora vêm para brincar, como também canta o Zezinho Corrêa no “Tic tic tac”.
O que o jornal paulista não explica é que os incentivos concedidos Às empesas do PIM – Polo Industrial de Manaus, não são financiamentos públicos. São benefícios fiscais vinculados à produção. Só usufruído quando ela é comercializada.
E Zezinho continua cantando a música do Caetano, que, na verdade, é do grande Ary Barroso: “É também um pouco de uma raça. Que não tem medo de fumaça ai, ai. E não se entrega não”.
Não nos entregamos. Nosso Hino do Amazonas sempre nos lembra: somos bravos. Bravos que sonham seu canto de lenda. Aos que lutam, mais vida e riqueza.
O projeto “Academia de Portas Abertas” da Academia Amazonense de letras seguirá até 21 de outubro com música, exposições, palestras e encontros com imortais e intelectuais manauaras.

domingo, 23 de setembro de 2018

sábado, 22 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Simon Bisley.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Academia de Portas Abertas


A programação começa às 17h, com visita guiada e recital da
cantora lírica Marinete Negrão.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


164 – Crescer, oscilar, derreter. Entenda o que significa cada um destes verbos, na patética linguagem da mídia canalha.

165 – O ato falho “Haddad oscilou 11 pontos”, vem sempre acompanhado de um sorriso amarelo: “oscilou, não: cresceu”.

166 – Quem oscila é o CapCu, que só cresce dentro da margem de erro: soluços.

167 – Mas o barato mesmo é Marina: ela derrete. Marina é apenas o que é: uma carola individualista, com um discurso oscilando (opa) entre o falsamente progressista e a mocinha pobre que venceu na vida.

168 – Vence na vida quem diz sim, tia, como diz a profecia.

169 – Seus votos migram (ou se tornam sólidos?) para o CapCu, pelo ódio que ela devota ao PT, e para o Haddad – dos que declaravam apoio a ela, iludidos pelo seu discurso falso, e só agora, com o ódio escancarado, se dão conta de quem é ela, realmente.

170 – Candidata de si mesma, Marina deve contentar-se, a partir de 2022, a compor a bancada evangélica. Isto se os evangélicos do Acre a aceitarem.

171 – E a vaca fardada, também conhecido como jumento de carga?

172 – Constituição sem Constituinte? Caralho. Sem comentários. Imbecil.

173 – E o CapCu quer a volta da cédula de papel, porque na urna eletrônica ele será fraudado. Ora, em 20 anos, ele nunca foi vítima de fraude. Cuspindo no prato que lambeu. Babaca.

174 – O que está em jogo, afinal, não é um embate estéril e extemporâneo entre esquerda e direita, que é sempre resolvido com a entrada em cena da canalha do Centrão.

175 – O embate é mais embaixo. Entre civilização e barbárie.

176 – Escolha o seu lado.

O romancista do povo


Já não se fazem mais deputados como antigamente...

Práticas médicas entre os confrontos ideológicos 1/2



João Bosco Botelho


Apesar de a medicina oficial, produzida nas universidades, ter feito progresso no trato da saúde coletiva, retirando-a do espaço fechado da classificação morfológica, é saudável insistir que prevalecem nas academias as correntes que colocam a doença como um produto exclusivo da organização social.
Nesse sentido, a principal proposta teórica, na modernidade, que associou a doença à desordem social (por corruptela, ao capitalismo) e a saúde à ordem social (por corruptela, ao socialismo), se fortaleceu a partir das condições de trabalho e de saúde dos operários ingleses, descritas por Engels.
É interessante assinalar que a associação entre a doença e a desorganização das sociedades e o papel político do médico para intervir e mudar é mais antiga. Na Grécia, nos tempos de Sólon, já estava estabelecida, expressa no livro de Werner Jaeger Paidéia: a formação do homem grego: “A função da justiça na sociedade corresponde para o corpo à da medicina, que Platão ironicamente denomina pedagogia das doenças. Todavia, o momento da doença é muito tardio como ponto de partida para uma verdadeira influência educacional. Sendo o médico o conhecedor da doença, ele pode intervir politicamente para evitá-la”.
Essa leitura mecanicista dos corpos, também anterior aos confrontos políticos do século passado, serviu para fundamentar uma das mais conhecidas tentativas para explicar a diferença entre o homem, possuidor de alma, e os outros animais, feita pelo médico espanhol Gomes Pereira, em 1554, ao afirmar que os animais são máquinas, incapazes de falar e raciocinar.
O peso decisivo para alavancar essas ideias recebeu forte impulso no filósofo francês René Descartes (1596-1650), ao robustecer o pensamento mecanicista, defendendo o corpo como o domínio da física e a alma, da religião.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Anette Tjaerby.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Sobre gratidão e agradecimentos



Pedro Lucas Lindoso


Aprendi que a ingratidão é um dos piores defeitos do ser humano. Devemos diariamente ser gratos. Em princípio, a Deus, da maneira como o concebemos. Ou mesmo a uma força procriadora ou quântica. Mas é importante ser grato.  Aos nossos pais, aos nossos amigos, parentes e colegas. Gratidão sempre.
Os falantes de português dizem obrigado, os homens.  E obrigada, as mulheres. Há pessoas que agradecem errado. O Português é difícil, principalmente para as mulheres. Até a língua é machista.
Alguns cariocas gostam de dizer agradecido. Ou “gradicido”. Uns dizem até obrigadão. Ouvi dizer que o arigatô japonês teria derivado de nosso obrigado. Os portugueses rodaram o mundo. Mas nisso eu tenho dúvidas.
O certo é que um “obrigado” dito rápido e banalmente é diferente de um “muito obrigado, do fundo do coração”. Levei farinha e pimenta murupi para um amazonense em Brasília. Ele me agradeceu efusivamente:
– Obrigado, mano velho!
Roberto Fukuda, empresário brasileiro que mora em Atlanta, em visita ao Brasil, contou-me que recebeu como resposta a um “muito obrigado”, a expressão “é nóis”. As respostas mais comuns são: “de nada”; “às ordens” ou mesmo “foi um prazer”. Há quem diga: “pode contar comigo”. Acho que isso deve ter inspirado o jovem que respondeu “é nóis” ao Roberto.
Os americanos dizem “thanks” todo o tempo. Penso que “thank you” é mais expressivo e equivale ao nosso “muito obrigado”. A resposta é “welcome”, que literalmente significa “bem-vindo”. Achamos estranho. Contudo, ao ensinar português para americanos muitos ficavam espantados em saber que existia “thanks” para homens, o nosso obrigado, e “thanks” para mulheres, obrigada! Lembro-me de uma americana ter tido um acesso de riso!
Em espanhol, gracias. Ou muchas gracias. Em Italiano, grazie. Grazie mila! A resposta é intrigante para brasileiros: prego! É que se usa “prego” em Italiano não só para responder a “grazie”. Mas é resposta para “scusa”, que é desculpa-me. Prego também é usado para oferecer algo a alguém. O garçom no restaurante fala “prego”, quando chega com a comida.
Uma simpática portuguesa me ensinou como se agradecia em sua terrinha. Ela mora no Porto. E lá se agradece assim: “bem haja”. Bem haja significa muito obrigado, agradecido. Ou como se diz muito hoje em dia: Valeu!

domingo, 16 de setembro de 2018

sábado, 15 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Serpiere.
Paolo Eleuteri.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


147 – Setembro, o mês da vaca louca.

148 – Primeiro, uma vaca fala em autogolpe.

149 – Depois, a outra vaca proclama um golpe, substituindo o candidato esfaqueado, sem combinar com o resto da quadrilha.

150 – É a maldição dos vices golpistas. Ou vice-golpistas.

151 – Agora, é pra valer – com facada ou sem facada, o CapCu derrapa na subida.

152 – Não vou comentar pesquisas, porque todo mundo já leu algum pitaco a respeito.

153 – O que não dá pra esconder, entretanto, é que a Marina despenca na descida e o Picolé de Chuchu queimou as velas.

154 – Sobram o centrão-Ciro, a direita-CapCu e a esquerda-Lula.

155 – Mas, atenção: Ciro não é Lula; Lula não é Ciro.

156 – Ciro é uma cortina de fumaça para tirar votos da esquerda.

157 – Suas agressões à vaca fardada vice visam culpar a “esquerda”.

158 – Ciro vive lembrando que foi ministro de Lula. É verdade, responsável pela transposição do Rio São Francisco. Em 3 anos, não transpôs uma gota sequer. É incompetente.

159 – Mas Ciro não quer que lembremos que foi ministro de Itamar, o topetudo, lambendo as solas de FHC, em 1994, por 4 meses. FHC se livrou dele, assim que assumiu. É incompetente e lambe-botas.

160 – Ciro está a serviço da direita, babando de raiva, como sempre.

161 – A esquerda é Haddad e é Manu. Haddad/Manu são Lula. Lula é Haddad/Manu.

162 – Enquanto isso, o criminoso incêndio do Museu Nacional caiu no esquecimento.

163 – E a Marielle continua assassinada.   

MOVA-SE!





Doença além do social



João Bosco Botelho


A teoria dos Quatro Humores, construída no século 4 a.C. por Políbio, médico da Escola de Cós e genro de Hipócrates, e a proposição de Galeno, do século 2 d.C., associando o perfil social como fator nato ao aparecimento das doenças – teoria dos Quatro Temperamentos – se tornaram dogmas nos estudos das práticas médicas, no medievo europeu, influenciado pelo fato de Galeno ter se declarado cristão, ampliou a busca dos limites da cura além do social até os dias atuais.
A inovação de Galeno não modificou a essência da prática médica da Escola de Cós, liderada por Hipócrates: o exame do doente por meio da anamnese, descrita em homenagem à deusa grega da recordação, Mnemis. Assim, o médico próximo do doente o interrogava na busca dos fatores pessoais, familiares e sociais que poderiam estar relacionados com as doenças.
Com absoluto predomínio das teorias hipocrático-galênicas a medicina atravessou o medievo europeu. A pouca resistência se adaptou às intolerâncias e assim chegou às primeiras universidades, sob forte influência da Igreja.
No período mais tenebroso da Inquisição, entre os séculos 14 e 15, alguns médicos, sob interpretações equivocadas das teorias de Políbio e Galeno, construíram exames clínicos para identificar as bruxas, em pouco tempo abandonados no lixo da intolerância.
No século 18, o avanço seguinte com o suporte da micrologia, genialmente descrita no século anterior por Marcelo Malpighi, na medida no aperfeiçoamento do pensamento micrológico celular, obrigou a revisão da ordem greco-romana de Políbio e Galeno.
A medicina oficial, a produzida nas universidades, continuou transmitindo, como verdade final, a morfologia das doenças, sob as lentes dos microscópios, desprezando como e por que as pessoas se relacionam com as dores e os prazeres.
Apesar da associação saúde-sociedade não ser recente na história da medicina, nunca se tornou tão obrigatória nos trabalhos acadêmicos, quanto nos últimos cinquenta anos. Notadamente nos países do Terceiro Mundo, onde a exclusão social é mais gritante, escrever ou orientar teses médicas desprovida do suporte metodológico em torno da doença como fruto do social acabou sendo proibido.
É nessa perspectiva que ocorreram novas intolerâncias: admitir como pressuposto indissociável que a doença só depende da ordem social, remete o raciocínio, de maneira obrigatória, à falsa premissa da ausência de vetores pessoais que interferem com a etiologia das doenças. A herança genética que molda os corpos dos animais multicelulares foi estruturada, em milhões de anos, para fugir das dores de todos os tipos, física e mental, e buscar o prazer como resposta inata contra o sofrimento. As vidas são impossíveis sem a distensão entre a dor e o prazer, amalgamando o pessoal ao social e vice-versa.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Amazon Warrior.
Carlos Vasseur.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Arrolar testemunhas



Pedro Lucas Lindoso


Dentre as funções do advogado militante tem-se a de arrolar testemunhas para um processo. Nem sempre a empreitada é bem-sucedida. Muitas vezes a testemunha mais atrapalha do que ajuda no deslinde da demanda. Arrolar significa relacionar as testemunhas e requerer a oitiva no processo.  Ora, antes disso é preciso conversar com o cliente para saber se há alguém confiável, que possa testemunhar com eficácia os fatos e provas.
Ouvi de um antigo advogado criminalista em Brasília que um colega seu (talvez fosse ele mesmo) costuma arrolar testemunhas consultando o obituário do jornal. O intuito (aliás, uma verdadeira chicana) era atrasar o curso do processo e mais na frente absolver o cliente pela prescrição.
Disse-me outro colega de São Paulo que havia um estelionatário que se passava por testemunha de “viveiro” para advogados que atuavam no Fórum João Mendes. Com 24 andares, o prédio abriga 62 varas de Justiça. O volume de processos em andamento, acumulados nas prateleiras, cerca de 400.000, deve aumentar ainda mais.
Testemunha de “viveiro” é aquela fabricada, instruída pelo advogado e partes para relatar algo que não viu e nem tinha conhecimento. É outro tipo de chicana, de desonestidade de alguns advogados sem ética. E crime, obviamente. 
Como há muitas varas e diversos juízes, o “testemunha de viveiro paulista” custou a ser descoberto. Mas um dia, um juiz com boa facilidade em gravar e reconhecer fisionomias desconfiou daquele senhor bem-falante, didático e preciso, como são todos os estelionatários. Suspendeu a audiência e convocou auxiliares para pesquisar em quantos processos aquela tão eloquente testemunha havia dado os seus precisos e eficazes depoimentos. Descobriu-se só últimos seis meses, 16 processos. Mandou prendê-lo na hora.
No Fórum Trabalhista aqui em Manaus, determinado reclamante levou o único colega de trabalho que se dispôs a testemunhar suas horas extras não pagas. Advertido do crime do perjúrio, a testemunha relata que além de ser amigo íntimo e ter interesse na causa é “namorado” do reclamante. O juiz, conservador e homofóbico, julgou totalmente improcedente a reclamação.
O criminalista de Brasília contou-me ainda que atuou em caso de suposta sedução. A vítima e a testemunha estavam sentadas esperando, quando o escrivão perguntou da testemunha: “Você é a testemunha arrolada?” No que a moça respondeu: “Eu não. A “rolada” foi nela aí.”.
 Não à toa a testemunha é chamada de “meretriz das provas”. Nem sempre é fácil ter um bom testemunho em juízo.

domingo, 9 de setembro de 2018

Manaus, amor e memória CCCLXXXV


Aviaquário, interior.
Ficava na Praça da Matriz.

sábado, 8 de setembro de 2018

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


133 – Inacreditável, o ataque ao Capitão Cueca. Daqueles acontecimentos que vão parar na lata de lixo da história, mas como aconteceu ontem, temos que perder nosso tempo com ele.

134 – Pelo que a lobobobo mostrou, a estocada, em linha reta, atingiu uma área – entre intestino grosso, delgado e uma artéria à altura do umbigo – de 20 cm2. Uma façanha. Eu diria que um milagre, tantas as forças místicas envolvidas. Mas, segundo o boner, foi merda pra todo lado.

135 – Curioso é que na democracia de fantasia em que vive o Capitão Cueca, ele está sempre de colete à prova de bala – afinal, os petralhas acreanos podem reagir às suas ameaças de fuzilá-los.

136 – Ontem, na pacífica Juiz de Fora – de onde uma Vaca Fardada saiu, na noite de 31 de março de 1964, para tomar o poder no Rio de Janeiro, sendo que a capital do país, havia 4 anos, era Brasília –, ontem, o Capitão Cueca não vestiu o colete.

137 – E agora, meu bom José? Casar com Débora ou com Sara? A festa mal começou, trocaram Noel, Tom e até o Roberto Carlos pelo pessoal do funk, de má poesia e armados até o olho do cu.

138 – O idiota que atentou (?) contra o Capitão Cueca é uma espécie de Joana D’Arc caipira: ouve vozes que ele atribui a um deus imbecil e sua canalha de anjos.

139 – Mas o estranho nisso tudo, é que os mineirinhos da PM de JF, esmirrados e famélicos, conseguiram livrá-lo de um linchamento pelos pitbulls do CapCu.

140 – Era tão simples: eles andam armados, são fortões, especialistas em artes de bater e de matar. Como conseguiram perder para os soldadinhos fudidos e mal pagos pelo traidor Pimentel, que prefere o Aécio à Dilma, como companheiro de chapa?

141 – Era tudo o que eles queriam: vitimizar o Capitão, antes que ele começasse a perder terreno nas pesquisas, o que deve acontecer a partir de terça-feira, 11, quando o Haddad será oficializado como candidato, tendo Manuela como vice.

142 – A Vaca Fardada da vez – aquele que acha que todo índio é preguiçoso e todo preto é ladrão – já botou a culpa pelo atentado (?) no PT. O coronel dono do partido aqui em Manaus (um partido de aluguel), repetiu a mesma ladainha.

143 – Só falta o CapCu dizer que viu a estrelinha do PT brilhando nos olhos do agressor. Aí fudeu.

144 – Ah, o tal Adélio já foi do PSOL. E daí? O cabo daciolo aleluia glória a deus também já foi. Isso só depõe contra o PSOL.

145 – Só há uma possibilidade de a situação voltar ao que era: um cachorrão do CapCu – um buldogue, um pitbull – matar o tal Adélio Bispo.

146 – Matar não, fazer justiça, que é assim que eles justificam seus crimes.     


Wilson Moreira (12/12/1936 – 7/9/2018)


Wilson Moreira, por Carlos Wolfgram.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Arte como (RE) Existência



A medicina entre confrarias, corporações e irmandades 2/2



João Bosco Botelho


O aumento da circulação de moeda e do comércio pode ter contribuído para forçar, por parte da população mais organizada, o preenchimento de um espaço vazio da organização social na assistência à saúde e à velhice. Pode ter sido por aí que as normas das corporações-confrarias-irmandades passaram a prever diversas formas de amparo aos membros e suas famílias.  A maior parte possuía hospital próprio, como o da rica Confraria de São Leonardo, em Viterbo, Itália, no século XII, capazes de prestar vários tipos de atendimento e amparo à viuvez e aos órfãos. Essas ajudas mútuas estavam atadas aos resultados oferecidos pela Medicina-oficial, basicamente dos melhores cirurgiões-barbeiros, aderidos à Confraria dos Cirurgiões. De certa forma, nesse contexto, contribuíram para que a ética dos médicos retornasse aos bons resultados como o melhor caminho.
Essas mudanças só protegiam pequenos grupos, a maior parte da população vivendo na miséria. É importante relembrar que as conquistas sociais da Medicina greco-romana haviam se perdido. O processo de dessacralização da doença, iniciado na Escola de Cós, por meio da teoria dos Quatro Humores, foi apagado pela ética cristã inserida na Medicina, que valorizava, exclusivamente, a doença como castigo pelo pecado cometido.
Essa ética cristã baseada na caridade cristianizada, que valorizou a exaustão a recompensa pessoal após a morte e da obediência aos dogmas eclesiásticos, abandonou os cuidados com a saúde pública, a higiene pessoal, redes de abastecimento de água potável, escoamento dos esgotos e o pagamento pelo serviço profissional médico.
Por essas razões, a maior parte das populações da Europa medieval sofreu na pele o descaso pelas normas essenciais para preservar a saúde coletiva. As cidades não passavam de aglomerações humanas desordenadas, em torno de suntuosas catedrais góticas, sem água potável e esgotos sanitários, com habitações inadequadas, onde, de tempos em tempos, grassavam epidemias de várias doenças infectocontagiosas, que matavam, frequentemente, milhares de pessoas em poucas semanas.
As regras das corporações-confrarias-irmandades sempre ofereceram ajuda entre os membros e suas famílias. Como exemplo, o estatuto da corporação dos curtidores de couro branco, em Londres, datado de 1346, reza no artigo primeiro que o bem-estar de seus membros era o objetivo maior.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Daniel dos Santos.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Oxente!



Pedro Lucas Lindoso


Essa crônica é uma homenagem a Maria Clara Coelho Baumann, tia Clarita, vó Clarita, bisa Clarita, ou simplesmente Clarita.
Não foi à toa que o jovem médico amazonense Justino Baumann se apaixonou pela bela baiana chamada Maria Clara. Isso nos idos de 1940, na fervilhante cidade de Salvador da Bahia.
Clarita, além de linda, cantava e tocava piano. Exímia dançarina de tango, o ritmo favorito de Justino.
Viviam-se os dias agitados da II Guerra Mundial. Entre racionamentos, toques de recolher e medo de um inesperado bombardeio, havia sempre a oportunidade de se apaixonar.
Justino Baumann nasceu em Itacoatiara na primeira metade do século passado. Desejando ser médico, seguiu a trilha de outros médicos amazonenses. Homens valorosos que hoje dão o nome a hospitais em Manaus. Foi estudar medicina na Bahia.
A Faculdade de Medicina da Bahia é a escola de medicina mais antiga do Brasil. Criada em 18 de fevereiro de 1808, logo após a chegada de Dom João VI e da corte Portuguesa, com o nome de Escola de Cirurgia da Bahia.
Justino e Maria Clara se casaram em 1947, no Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa do Rio de Janeiro sempre foi glamorosa e impactante. Imaginem no pós-guerra!
Muito trabalho e pouca remuneração em terras cariocas levou o jovem médico a acreditar no sonho de Juscelino Kubistchek. Contratado como médico do Instituto dos Bancários, Dr. Baumann, esposa e filhos foram para o Planalto Central ajudar a construir a nova capital do Brasil.
Dr. Baumann e dona Maria Clara formavam o casal mais simpático e querido dos acampamentos pioneiros de Brasília. Médico gastroenterologista e clínico geral, Dr. Baumann atendia os candangos com eficiência e generosidade.
Com a cidade inaugurada e já funcionando como a nova capital, Maria Clara foi trabalhar no Senado Federal. Testemunhou inúmeros fatos históricos. Trabalhou no Gabinete do Senador Auro de Moura Andrade, quando presidente do Senado e do Congresso. Conta sempre que datilografou o discurso de posse do senador Auro de Moura Andrade como Primeiro Ministro, o que durou pouquíssimo.
Talvez o mais impactante foi no dia em que o senador alagoano Arnon de Mello, pai de Fernando Collor, deu um tiro num desafeto, em plenário. Errou o alvo e matou o inocente senador Kaiala, que se despedia de uma suplência pelo longínquo estado do Acre.
A arma foi parar no gabinete da Presidência, em cima da mesa de dona Maria Clara. Fico imaginando seu espanto. Possivelmente, teria sussurrado para si: Oxente!
Clarita está com quase cem anos. As agruras e problemas que enfrentou na vida nunca tiveram o condão de abalar a doce e serena Clarita. Sempre altiva e forte. Nada pode impedi-la de usufruir da alegria proporcionada pelos sobrinhos, netos e bisnetos que tanto ama e é por eles imensamente amada.
Isso se chama resiliência. Oxente!

domingo, 2 de setembro de 2018

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


128 – Setembro não tem sentido.

129 – O Museu Nacional arderá por toda a eternidade, metáfora do inferno dos que – por inépcia, inércia e canalhice – iniciaram o fogo que destruiu 200 anos de história e mais de 20 milhões de itens.

130 – O espectro de Luzia, cujo crânio fossilizado virou cinzas, assombrará a canalha pelos próximos 11 mil anos.

131 – Luzia era ancestral de Marielle, assassinada pelos mesmos facínoras que atearam fogo ao Museu Nacional.

132 – Setembro não sentido.


Manaus, amor e memória CCCLXXXIV


Igreja de Nazaré, em Adrianópolis.

sábado, 1 de setembro de 2018

Fantasy Art - Galeria


Magic Circle.
Rene Zwaga.