Amigos do Fingidor

quinta-feira, 16 de maio de 2024

A poesia é necessária?

 

Radiografia social

Henrique Duarte Neto

 

Jamais tantos néscios

passaram por sábios...

Ou, ao menos, gritaram,

ergueram a voz,

discursaram – tais quais

brilhantes oradores.

 

Tempos de imbecilidade

coletiva,

em que se dá voz

aos insensatos!

Quiçá, o último estágio

antes da ruína final!

 

terça-feira, 14 de maio de 2024

Filhos, sempre prioridade

 Pedro Lucas Lindoso

 

Há uma quantidade enorme de crônicas, depoimentos, poemas, canções e textos em geral homenageando as nossas mães. Mês de maio, mês das mães. Um domingo só delas e para elas. Homenageá-las por meio da escrita é fácil. O difícil é ser original, sem ser piegas e ainda emocioná-las. Nossas queridas mães e leitoras. Uma tarefa bem difícil. Mas é preciso sempre expressar amor por elas. Sempre.

Vou começar as loas pela minha saudosa mãe. Ela começava a mimar e amar seus filhos assim que se descobria gestante. Fazia sapatinhos, luvas e casaquinhos de tricô como ninguém. Teve sete filhos. Todos amamentados e cuidados como se fossem únicos. Sem jamais deixar de ser parceira e apoiadora incondicional de meu pai em tudo e por tudo.

Minha esposa Vera é uma mãe e avó devotadíssima. Quando nossos filhos eram pequenos, Vera organizava, com meses de antecedência, as festas de aniversário. Decoração esmerada, personagens infantis, além de muito brigadeiros e quitutes diversos. Sempre um sucesso.

Marina, nossa filha, esperou bastante pela chegada da Catarina. Nossa Senhora ouviu suas preces e nossa princesinha chegou linda e perfeitinha. E pasmem, Catarina era uma bebezinha de três meses. Surpresa! Isadora resolveu que chegaria também para a família. Hoje Marina toma conta de não só uma, mas duas bebezinhas. Mamãe em dose dupla. De amor e de trabalho.

Dona Nice foi minha secretária na EMBRATUR em Brasília. Teve seu filho Rafael acidentado brincando com álcool. O garoto ficou com o corpo bastante queimado. Com nossa ajuda, levou o rapazinho para um hospital especializado em Goiânia. Dona Nice foi uma heroína. Ela moveu céus e a terra para que seu filho tivesse o melhor tratamento e se recuperasse. O diagnóstico inicial não era dos melhores. Mas ela lutou e conseguiu recuperar a saúde do filho.  O garoto hoje é um brilhante jovem advogado.

A Princesa de Gales, Katherine, será a futura Rainha da Inglaterra. A jovem mãe escondeu da Imprensa mundial e de todo o Reino Unido que estava com um grave problema de saúde. O objetivo era preservar seus filhos. São bem crianças os jovens principezinhos. A princesa necessitava de tempo para prepará-los para a grave notícia. Katherine é muito querida em toda a Inglaterra. A notícia seria impactante e pegaria as crianças despreparadas. Era preciso poupá-las. E conseguiu.

É conhecida a história da mãe do soldado displicente. Ao ver seu filho marchando fora do passo, acreditou que todo o batalhão marchava errado. Seu filho era o único no passo certo.

Elas podem ser psicólogas, primeiras damas, secretárias, trabalhadoras ou rainhas. Filhos são prioridades. Filhos estão sempre nos pensamentos das mamães. Em momentos de amor ou na dor. FELIZ DIA DAS MÃES.

 

domingo, 12 de maio de 2024

Manaus, amor e memória DCLXX

 

Praça Heliodoro Balbi (ou Praça da Polícia),
com Colégio Pedro II (ou Colégio Estadual) ao fundo. 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

A poesia é necessária?

 

Psicologia da composição

João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

 

I

 

Saio de meu poema
como quem lava as mãos.

Algumas conchas tornaram-se,
que o sol da atenção
cristalizou; alguma palavra
que desabrochei, como a um pássaro.

Talvez alguma concha
dessas (ou pássaro) lembre,
côncava, o corpo do gesto
extinto que o ar já preencheu;

talvez, como a camisa
vazia, que despi.

II

 

Esta folha branca
me proscreve o sonho,
me incita ao verso
nítido e preciso.

Eu me refugio
nesta praia pura
onde nada existe
em que a noite pouse.

Como não há noite
cessa toda fonte;
como não há fonte
cessa toda fuga;

como não há fuga
nada lembra o fluir
de meu tempo, ao vento
que nele sopra o tempo.

III


Neste papel
pode teu sal
virar cinza;

pode o limão
virar pedra;
o sol da pele,
o trigo do corpo
virar cinza.

(Teme, por isso,
a jovem manhã
sobre as flores
da véspera.)

Neste papel
logo fenecem
as roxas, mornas
flores morais;
todas as fluidas
flores da pressa;
todas as úmidas
flores do sonho.

(Espera, por isso,
que a jovem manhã
te venha revelar
as flores da véspera.)

IV


O poema, com seus cavalos,
quer explodir
teu tempo claro; rompendo
seu branco fio, seu cimento
mudo e fresco.

(O descuido ficara aberto
de par em par;
um sonho passou, deixando
fiapos, logo árvores instantâneas
coagulando a preguiça.)

V


Vivo com certas palavras,
abelhas domésticas.

Do dia aberto
(branco guarda-sol)
esses lúcidos fusos retiram
o fio de mel
(do dia que abriu
também como flor)

que na noite
(poço onde vai tombar
a aérea flor)
persistirá: louro
sabor, e ácido
contra o açúcar do podre.

VI


Não a forma encontrada
como uma concha, perdida
nos frouxos areais
como cabelos;

não a forma obtida
em lance santo ou raro,
tiro nas lebres de vidro
do invisível;

mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta,
desenrola,

aranha; como o mais extremo
desse fio frágil, que se rompe
ao peso, sempre, das mãos
enormes.

VII


É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.

São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.

É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.

É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza

da palavra escrita.

VIII


Cultivar o deserto
como um pomar às avessas.

(A árvore destila
a terra, gota a gota;
a terra completa
caiu, fruto!

Enquanto na ordem
de outro pomar
a atenção destila
palavras maduras.)

Cultivar o deserto
como um pomar às avessas:

então, nada mais
destila; evapora;
onde foi maçã
resta uma fome;

onde foi palavra
(potros ou touros
contidos) resta a severa
forma do vazio.

 

terça-feira, 7 de maio de 2024

Das penteadeiras ao camarim


Pedro Lucas Lindoso

 

Escrevi uma crônica sobre o petisqueiro de minha avó. Muitas pessoas amigas sugerem temas ao cronista. Depois da crônica do petisqueiro algumas garotas de minha geração sugeriram que eu fizesse uma crônica sobre penteadeiras.

Eu então resolvi pedir a algumas conhecidas que falassem sobre suas penteadeiras. As respostas foram bem interessantes.  Uma delas me disse que herdou uma penteadeira antiga, linda, com espelho que balançava. Depois confessou que a tinha vendido para um antiquário. O motivo: não coube no seu novo apartamento.

Outra me contou que sua penteadeira saiu de moda. O móvel atualmente se encontra num sítio da família. Alguns relatos foram coincidentes. Os espelhos sempre aparecem como objeto de destaque nos depoimentos. Muitas descreveram os espelhos assim:

“As penteadeiras tinham um espelho central e dois laterais que eram presos ao central. De modo que se podia movê-los para perto do rosto. Assim, era possível se ver os cabelos e os respectivos penteados da parte posterior da cabeça. Tanto de um lado, como do outro.” 

Nas gavetas se colocavam grampos, laços, presilhas e fitas. Nessas gavetas também eram guardados os produtos para maquiagem. Geralmente, um batom claro e um pouco de “rouge”. Depois o tal “rouge” passou a ser chamado de “blush”. Nos olhos, somente uma leve sombra, que hoje se chama “eye shadow”.  Tudo muito discreto, como cabia a uma moça de família.

Em cima das penteadeiras, bem em frente ao espelho central, ficavam o talco e o perfume da época. Uma delas confessou que usava um chamado de “Alma de Flores”, até hoje presente nas farmácias.

Para a grande maioria, o importante sempre foi o espelho, repita-se. Sem esquecer a banqueta, que dava conforto, não só para se pentear, como para se maquiar – “sempre sentadas”, explicou-me uma delas.  O espelho deveria ser bisotado ou “bisotê”. São espelhos que não deformam a imagem, ainda que se mire de longe.

Muitas penteadeiras foram transformadas ou desmembradas. Ou mudaram de função. Como a de uma ilustre advogada cuja antiga penteadeira adorna a sua sala, onde coloca porta-retratos com fotos das pessoas que lhe são queridas. As que foram desmembradas, em sua   maioria, ficam sem os espelhos, realocados em outro ponto da casa.

Aliás, as penteadeiras, contudo, sempre existiram e não acabarão jamais. No quarto de moças e senhoras privilegiadas de nossos dias existe um móvel modulado com espelho e gavetas que se chama camarim. Elas não vivem sem espelhos. Ainda bem.

 

domingo, 5 de maio de 2024

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Usina Literária, com Zemaria Pinto




Usina Literária, podcast apresentado por Luiz Eduardo de Carvalho.

Acesse pelo Spotfy, clicando sobre a figura ou aqui: 

Usina Literária 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

A poesia é necessária?

 

Meu pranto

José Seráfico

 

É para você o meu pranto

e...

para mim também

para e por Marielle

também choro

mal entrara na luta

que tanta vida

tem ceifado

tanta amargura

multiplicado

tanto ódio cultivado

meu lamento se faz

diante da música

que já não tem

som

algum perdido tiro

dos oitenta disparados

calou de vez o instrumento

e a vida que ali

jaz

 

É também por Vlado

que meus olhos

vertem água

por sua falsa gravata

guilhotina adequada aos tempos

de terror

porque amar dói

códigos malditos

ódios desatados

porões infectados

das piores (des)humanas

moléstias

merece minhas lágrimas

não tenho como negá-las

como retê-las

muito menos

as chamas que deram

fim a Ney Lopes

os fuzis

de Carandiru e os

fuzilados camponeses

em busca do Eldorado

cujas caras e tudo

mais jazem

no buraco mais alto

foi tudo quanto restou

 

Que Frei Tito

ouça meu langor

esteja onde (onde?)

estiver o que de

Rubens restou

saibam quanto deploro

a partida de Dorothy Stang

o jogo perdido por

Chico Mendes

por eles

(e quantos mais)

é que choro

saudoso mais que

triste

sem ódio

nenhum rancor

as lágrimas rolam

pela impossibilidade

do amor.