Amigos do Fingidor

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A fonte
Capa: composição com a obra Cabocla, de Afrânio de Castro.

Uma das principais fontes de alimentação dO Fingidor é o livro Poesia e Poetas do Amazonas (Manaus: Valer, 2005), dos professores Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger. A eles o nosso tributo de agradecimento.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Revista Literária – Entrevista com Zemaria Pinto
Seu nome oficial é José Maria Pinto de Figueiredo, mas ele prefere que o chamem de Zemaria Pinto. É amazonense, de Manaus, onde reside desde sempre, mas, por mero acaso, nasceu em Santarém, no Pará. É formado em Economia, com pós-graduação em Análise de Sistemas e em Literatura Brasileira.

Autor de sete livros, desde 2004 ocupa a cadeira nº 27 na Academia de Amazonense de Letras, cujo patrono é Tavares Bastos. Uma de suas características, e qualidades, é se empenhar em divulgar a literatura, com destaque para a amazonense.

Revista Literária – Sua primeira obra Fragmentos de Silêncio é de 1995. Em 2008 você lançou seu sétimo livro, O Texto Nu. A que veio o escritor Zemaria Pinto?

Zemaria Pinto: Sempre fui muito autocrítico, por isso comecei a publicar tão tarde. Em 1982, fui classificado em terceiro lugar num concurso promovido pelo Governo do Estado, vencido pelo Alexandre Otto, com o Max Carphentier em segundo. Eu estava, aos 25 anos, em muito boa companhia. Aquele livro, chamado Noturno ao meio-dia, já poderia ter sido publicado. Mas eu tinha consciência da minha imaturidade. Alguma coisa daquele livro entrou em Fragmentos de Silêncio. Mas só alguma coisa...

A experiência de 11 anos como professor de Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Literatura Latina foi fundamental para amadurecer o crítico de O Texto Nu, um livro que escrevi para mim mesmo, mas pensando também nos meus alunos. O livro, na verdade, são as minhas aulas de Teoria da Literatura, com um adendo, tirado de uma palestra, que é a Teoria da letra-poema.

Ao poeta e ao ensaísta veio juntar-se, em algum momento, o dramaturgo. São sete ou oito peças, quatro delas encenadas. Há alguns anos, venho fazendo também umas experiências em prosa. Em 2009 deve ser publicada, pela Valer, uma novela juvenil intitulada A Cidade Perdida dos Meninos-Peixes.

No momento, estou empenhado em escrever um livro sobre os poetas do Clube da Madrugada, um projeto com o músico Mauri Marques: um CD e um livro, que devem ser vendidos juntos. No mais, o único plano que tenho para o futuro é continuar escrevendo e dando minhas palestras, uma atividade que substitui, com vantagens, a sala de aula, porque, no fundo, eu sou apenas um professor.

RL – Para aqueles que ainda não o conhecem gostaria que, em rápidas palavras, falasse sobre cada um dos seus demais livros e que tipo de leitor você busca atingir.

ZmP: Música para surdos, meu segundo livro de poemas, é um livro mais trabalhado, mais racional que o Fragmentos de Silêncio. Continuo escrevendo poesia e acalentando um projeto, para 2012 em diante: reunir meus poemas num único livro, com um terceiro título. Se continuar escrevendo poesia depois disso, será apenas acrescentado àquele título. Já fiz isso com o Dabacuri, onde reuni todos os meus haicais.

Os dois livros de ensaios para o vestibular foram muito importantes como exercícios. E a parceria com o professor Marcos Frederico só me enriqueceu.

Nós, Medéia foi premiado como melhor texto adulto em concurso da Secretaria de Cultura. Foi publicado em uma série de dramaturgos amazonenses, mas a frustração permanece: até hoje não consegui encenar a peça. E o mais importante para o teatro é o palco: se um texto não vai ao palco não é teatro, é só literatura.

Tem um livro meu – que não é meu – que eu gosto muito: A Uiara & outros poemas, de Octavio Sarmento, um autor que morreu em 1926. Eu organizei e fiz o ensaio introdutório. Uma palestra de encomenda para a Academia de Letras virou um livro para entrar na história da literatura amazonense, porque até então Octavio Sarmento, que jamais publicara um livro, era um desconhecido. A Uiara é não só boa literatura, mas tem um papel fundamental na compreensão da poesia amazonense que antecede o Clube da Madrugada.

O meu leitor ideal é aquele que gosta de boa literatura. É para ele que eu escrevo. Quer dizer, no final das contas, para mim mesmo.

RL – Em O Texto Nu, o que você procura? Ser fiel ao título e desnudar o texto? Esclareça mais sobre esse livro.

ZmP: O Texto Nu começou a ser pensado há mais de dez anos, nas minhas conversas com o Paulo Graça. Estávamos de acordo que precisávamos de um livro de Teoria da Literatura, que servisse de guia a nossos alunos, obrigados a comprar diversos livros, para cobrir toda a matéria. A Valer tinha uma coleção chamada "Como Funciona", na qual o Paulo chegou a publicar um livro sobre poesia – Como Funciona a Poesia. A idéia era que ele escrevesse também um Como Funciona a Teoria da Literatura. Infelizmente, ele morreu antes de iniciar o projeto. Em 2001, resolvi encarar o desafio. Foram cinco anos de trabalho – sem nenhuma pressa. Em 2006, entreguei o livro à editora e agora ele se materializou.

O livro trata desde a origem da Teoria da Literatura, seus conceitos fundamentais, os gêneros, os estilos de época, as escolas críticas etc. Tem um exemplo de aplicação da Teoria, com uma análise de Morte e Vida Severina, de João Cabral, e um exemplo de como a Teoria é dinâmica, com uma teoria que eu mesmo desenvolvi, para melhor compreensão das letras de música popular: a Teoria da letra-poema.
A despeito de ser um livro didático, dirigido a professores e alunos de Letras, pode ser lido por qualquer pessoa que tenha interesse nos aspectos, digamos assim, mais técnicos da literatura. A Valer se esmerou na produção do livro, que está muito bem editado. Sem falsa modéstia, é um livro bonito, em todos os aspectos.

RL – Como pouquíssimos no Amazonas, você é um grande divulgador da literatura amazonense. Participa de, e divulga, eventos culturais, se “mistura” com antigos e novos autores, usa a internet como poderoso meio de difusão. Zemaria Pinto “é o cara”?

ZmP: Quando eu divulgo a literatura amazonense estou me divulgando também. Participar dos eventos, me “misturar”, faz parte de uma concepção de vida: para mim, como canta o Milton Nascimento, o artista tem de ir aonde o povo está. Isso não me faz diferente, até porque eu faço apenas aquilo que eu acredito seja correto. Embora a atividade do escritor seja solitária, ele não pode se isolar numa torre de marfim. Tem que vir pra avenida, se misturar com o povo, fazer parte da multidão.

Incentivar os mais jovens, por exemplo, eu aprendi na prática: com o Alcides Werk, o Antísthenes Pinto, o Arthur Engrácio, o Thiago de Mello, o Jorge Tufic. Esses sempre me incentivaram e, mesmo quando eu era inseguro, me deram sempre a maior força.

RL – Você tem dois blogs. Explique o objetivo de cada um deles, pois cada um é bem específico, e por que dois?

ZmP: A história começa há 15 anos, em 1993. Eu já não era nenhuma criança quando resolvi, incentivado pelo Simão Pessoa, principalmente, criar um fanzine, chamado o fingidor, com minúscula mesmo, com a finalidade de divulgar a poesia da minha geração: o próprio Simão, Cláudio Fonseca, Arnaldo Garcez, Engels Medeiros etc. O jornalzinho (duas folhas de papel A4, dobrado, 8 páginas) feito ainda no Wordstar, tio-avô do Word, fez sucesso nacional. 300 exemplares se multiplicavam em milhares, porque as pessoas tiravam cópias e tal. Isso, no Brasil inteiro, graças aos endereços que o Simão me passou. Gente importantíssima como Glauco Mattoso, Alice Ruiz, Rubervam du Nascimento, Eliakin Rufino e Leila Míccolis era “correspondente” do fingidor. Entre 1993 e 2002 fiz 16 números, entre paradas e retomadas. Era muito cansativo – além do desgaste das pessoas que se achavam injustiçadas por ficar de fora. Fiz algumas inimizades por conta disso. Mas aconteceu também muita coisa boa, e o fingidor acabou por ser um veículo não apenas para os poetas da minha geração, mas também para o pessoal do Clube da Madrugada, e também para os novíssimos. Foi lá que começou a “estante do tempo”, homenageando os poetas já falecidos.

Pois bem: desde setembro passado, O Fingidor voltou, agora em versão eletrônica e letras maiúsculas, trazendo, além de um poema por dia, a reprodução de um quadro. Podem dizer qualquer coisa, mas é impossível negar que é muito bonito – principalmente, pelos quadros... Observe que, de segunda a quinta, só entram poetas do Amazonas. Na sexta é a vez dos poetas “brasileiros”, onde eventualmente entra algum amazonense que mora fora, como o Tufic, o Donaldo e a Astrid; sábado é poesia em tradução; e o domingo é reservado aos clássicos da língua portuguesa.

O outro blog, Palavra do Fingidor, complementa o primeiro, que eu não queria “poluir”, com notícias, comentários etc. Então o Palavra ficou assim, solto, sem compromisso de postar todo dia, mas ele começa a tomar a feição de um espaço para a discussão de idéias, especialmente relacionadas à estética. Muita gente me pergunta pelo trabalho que dá, quando deveria perguntar pelo prazer, muito maior que qualquer trabalho.

Deixando de novo a modéstia de lado, acho que estou construindo alguma coisa que no futuro será muito útil. O Fingidor, como espaço democrático onde pode ser encontrada a poesia amazonense mais representativa. O Palavra, registrando eventos e discutindo idéias. Em apenas três meses, já estamos perto das 300 postagens; imagine como será daqui a três anos... Só espero ter saúde para isso.


(A Revista Literária é produzida pelo escritor Evaldo Ferreira e circula somente via e-mail; solicitações para evaldo.am@hotmail.com)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – VII

Zemaria Pinto


30 – Para efeito didático, podemos dividir o poema em cinco níveis, facilitando assim a sua análise: os níveis espacial, lexical, sintático, fônico e semântico.

31 – Espacial, onde se verifica a distribuição do texto no papel. Pode parecer bobagem, mas a forma como poeta distribui o poema na folha em branco não é gratuita, por isso deve ser considerada.

32 – Lexical, onde se localizam as palavras, em estado primordial, de dicionário. Na análise de um poema, todas as palavras utilizadas devem ser conhecidas, sob pena de não se conseguir fazer todas as conexões possíveis.

33 - Sintático, onde se organizam as palavras, formando frases, orações, períodos. Pela organização sintática é possível deduzir o estilo utilizado; o mais importante, entretanto, é ter certeza de que a leitura que se faz é a mais coerente, porque um estilo empolado, muitas vezes, induz ao erro de leitura, e, conseqüentemente, de análise.

34 - Fônico, onde as palavras são observadas a partir dos fonemas que as compõem, ensejando, por força da repetição, uma musicalidade que se relaciona diretamente com o conteúdo do texto. Compõem o nível fônico do texto poético as seguintes figuras de efeito sonoro, baseadas, enfatizamos, na repetição de fonemas e palavras: rima, aliteração, assonância, onomatopéia, paronomásia, antanáclase, refrão. Mas a poesia também tem, ou pode ter, melodia e ritmo, obtidos a partir da disposição dos metros dos versos e de seus acentos tônicos.

35 - Semântico, onde as palavras assumem significados e sentidos não necessariamente derivados do nível lexical. São os tropos, linguagem em sentido figurado. Na verdade, o nível semântico envolve o poema como um todo – não é uma simples ocorrência, é um processo, que leva em conta os outros níveis, cada um deles contribuindo, em menor ou maior grau, para o entendimento do poema. No nível semântico, a ocorrência formal é separada apenas para fins didáticos, pois ela concorre com o todo do poema para possibilitar a sua leitura, ou leituras. Desta forma, podemos isolar três tipos de figuras que concorrem para a formação do nível semântico: as figuras de similaridade, de contigüidade e de oposição.

36 – Entre as figuras de similaridade, que ocorrem por comparação, temos a metáfora, a sinestesia e a alegoria.

37 – As figuras de contigüidade caracterizam-se pela proximidade entre os objetos cujos nomes são intercambiados; são elas a metonímia, a sinédoque e a antonomásia.

38 – Finalmente, as figuras de oposição ocorrem quando há contradição de idéias num mesmo enunciado; é o que ocorre com a antítese, o oximoro e a ironia.

Continuamos.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – VI

Zemaria Pinto


27 – Expressa inicialmente por meio do canto, a poesia lírica, escrita para ser lida, mas, eventualmente, também cantada, tem como características mais imediatamente reconhecíveis as seguintes:

  • Expressão de um eu lírico, espécie de narrador do poema, que não pode jamais confundir-se com o eu biográfico do autor.
  • Uso do verso, que é, originalmente, uma unidade melódica, com padrão métrico e acentos rítmicos.
  • Ainda que o autor utilize o “verso livre”, este deve ter, se não efeitos melódicos e sonoros, pelo menos, unidade de sentido com o resto do poema.
  • Não à toa, Manuel Bandeira dizia que o verso livre era mais difícil de elaborar que o verso convencional.
  • Linguagem marcadamente condensada, onde o máximo de expressão deve ser obtido como o mínimo de recursos.
  • Daí alguns teóricos confundirem o poema lírico com “poema de pequena extensão”, o que, como tudo no universo, já o sabemos, é relativo.
  • Imagens inusitadas, fora do contexto ordinário da fala cotidiana.
  • Esse procedimento empresta à linguagem um caráter plurissignificativo, pois cada leitor poderá interpretar aquelas imagens de acordo com sua capacidade individual de apreensão do texto.
  • Repetição de fonemas, desvio das normas gramaticais, alogicidade, antidiscursividade e valorização do espaço como componente textual.
28 – Podemos simplificar reproduzindo a idéia de Ezra Pound de que o poema tem três raízes possíveis: a fanopéia, a melopéia e a logopéia. A fanopéia é a representação das imagens no poema. A logopéia reflete a musicalidade do poema. E a logopéia é “a dança do intelecto entre as palavras.”

29 – Num diagrama que representasse a decomposição possível de um poema, poderíamos ter a visão abaixo, onde o poema se decompõe em linguagem e idéias e a linguagem, em imagens e musicalidade.
Diagrama da decomposição do poema, a partir da concepção de Ezra Pound.
Continuamos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Chico Mendes (15/12/1944-22/12/1988)
Cena de Tributo a Chico Mendes, com a Companhia Vitória Régia, esta noite. Direção: Nonato Tavares.

domingo, 21 de dezembro de 2008

A Panelinha reunida
A Panelinha é uma sociedade lítero-gastronômica que se reúne ordianariamente aos sábados, no restaurante El Perikiton, e extraordinariamente sempre que um fato relevante (aniversário de um dos membros, por exemplo) justififique. A foto acima, tirada dia 20/12 pelo misto de garçom e matemático Juliano, mostra, no sentido horário, alguns dos membros do grupo: Cláudio Fonseca, Zemaria Pinto, Luiz Bacellar, Raquel Brasil, Koia Refkalefsky, Allison Leão e Marcos Frederico.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Mais um mito que desaba: a AMOAL sem segredos
Começa que Alô, doçura! – os protocolos secretos da AMOAL (Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebre) não é propriamente um livro, mas uma suma simoniana. E aqui utilizo suma no sentido escatológico, e não teológico, entendo-se escatologia no seu sentido teológico-axial. Quer dizer: sacanagem pouca é bobagem.

Reunindo os textos do Manual do Canalha e do Manual do Espada, remixando uns, reconstruindo outros, mais uns tantos inéditos, temos um apanhado da melhor literatura erótica do ocidente, desde o Cântico dos cânticos, atribuído a Salomão (ou vocês acham que um cara que tem 400 mulheres vai ter equilíbrio hormonal para escrever aqueles versos idiotas?), até o próprio Simão Pessoa, que, em pleno século XXI, mantém a tradição da literatura que tem entre seus expoentes os gregos Safo e Anacreonte, os romanos Ovídio e Petrônio – e mais Boccaccio, Rabelais, Aretino, Sade, Sach-Masoch, Bocage, Anaïs Nin, D. H. Lawrence, Jean Genet, William Burroughs e Henry Miller. Só por essa lista essencial, você já sacou que a AMOAL é coisa séria.

Com uma origem que remonta a um tempo mítico, muito além do tempo cronológico primordial, a AMOAL nasceu da Machonaria, entidade secreta que em nada pode ser confundida com aquela outra de nome ligeiramente parecido e muito menos história. O símbolo da organização, pelo menos no Brasil, é ninguém menos que Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, que às vezes tem a cara do Grande Otelo, às vezes, a do Paulo José, não sendo nenhum dos dois, nunca. Macunaíma, que os macuxis muito apropriadamente chamam de Macunaima, com a tônica no segundo a, foi escolhido certamente por ser “o protótipo do macho amazônico, fodedor exemplar, que não se prende, jamais, a nenhuma fêmea, fazendo da vida uma aventura errante”, como observou a professora Theófila Belisário, citando o grão-sacerdote da AMOAL Vinicius de Moraes, na edição crítica para o livro de Mário de Andrade, de 1978, quando Macunaíma completava 50 anos. Agora, aos 80, ele está mais contemporâneo e, por que não dizer?, mais atemporal que nunca. A propósito, ninguém mais antimacunaíma que o velho Mário de Andrade. Benzadeus...

Para quem já passou pelos manuais anteriores, estes Protocolos servirão, até o capítulo 23, como uma reciclagem, ou, melhor dizendo, uma revisão de princípios, pois o material inédito, a partir do capítulo 24 (que coisa!), só deve ser lido por mentes que já atingiram um grau superior no entendimento de qual realmente é o papel do macho na face da terra – além de cuidar das tarefas básicas essenciais, como fazer o café, levar as crianças para escola, pegar as crianças na escola, servir o almoço, manter a casa arrumada etc. Em todo caso, há sempre a saída das “poções mágicas e rituais de purificação”, que você deve usar/fazer sempre de óculos escuros, tipo formiga atômica, e sombrero mexicano, para evitar que alguém te reconheça, sabe como é?

Para os neófitos (que língua, a nossa!), informações importantíssimas sobre o que há de mais antigo – as feministas – e o que há de mais novo nessa barafunda – os metrossexuais. Na relação homem/mulher, que deveria se pautar pela simplicidade de um botaetiraepõe, essas duas espécimes vieram embaralhar o jogo. Para entendê-los, há um capítulo específico – o dos bichos escrotos. Mas não é só isso: tudo o que você queria saber sobre a bunda, mas tinha medo de perguntar; os rituais de fertilidade; a síndrome do casamento (um dia você vai ter um...); e a arte mágica da sedução – da cunhada à empregada, tudo é peixe na sua rede.

Sempre associei literatura com prazer. Aliás, sempre associei o que gosto com prazer. Ao ter nas mãos mais um livro do Simão Pessoa, não posso deixar de pensar que este (o livro, pô!) é um instrumento de prazer. Espero que seja bom pra você também.
(Zemaria Pinto, na apresentação de Alô, Doçura! - os protocolos secretos da AMOAL)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Alô, Doçura! – Os protocolos secretos da AMOAL
O novo livro de Simão Pessoa reúne os já clássicos Manual do Canalha e Manual do Espada ao inédito Manual do Garanhão.
SERVIÇO

O que é: lançamento do livro “Alô, Doçura! – Os protocolos secretos da AMOAL”
E o que é AMOAL: Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebres
Quando: sexta-feira, 19 de dezembro, a partir das 19h
Onde: Solarium Eventos, Rua Javari, 277 – Adrianópolis, quase em frente da Esbam
Quanto custa: R$ 100,00, com direito a um acompanhante
Atrações: dança do ventre, sagração de novos cavaleiros da AMOAL, festa disco com o DJ Ernesto Coelho e birita de graça até o dia amanhecer.

RELEASE

O leitor tem em mãos um livro corajoso, despudorado, terrivelmente provocador. Escrito por um jornalista e publicitário que é uma verdadeira navalha de irreverência, este “Alô, Doçura! – Os protocolos secretos da AMOAL” – que também poderia ter como subtítulo Guia do Politicamente Incorreto – vai excitar o leitor, irritá-lo às vezes, mas com certeza lhe arrancará sonoras gargalhadas, ainda que seguidas por alguma exclamação do tipo “pô, que cara escroto esse Simão Pessoa!”.

Mistura tropical de escabrosidades típicas de um Marquês de Sade com o humor irreverente do inglês Jonathan Swift, Simão Pessoa traça uma rota que começa em Lemúria e Atlântida e chega aos dias atuais para mostrar que o machão das antigas está mais vivo do que nunca. E escreve um interessante perfil biográfico dos principais grãos-mestres da Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebres (AMOAL): Giacomo Casanova, Don Juan de Sevilha, Georges Simenon, Jorginho Guinle, Porfírio Rubirosa, John Kennedy, Carlinhos Niemeyer, Vinicius de Moraes, Antonio Maria e Sergio Porto, entre outros.

Apesar do estilo “deixa-que-eu-chuto” da maioria dos capítulos, ninguém poderá negar que este livro é capaz de proporcionar momentos de divertida leitura e, ao mesmo tempo, levar a uma saudável reflexão – pela prática do livre pensar – a respeito dos muitos mitos e preconceitos enraizados, sobretudo pela mídia, na cabeça do povo.
Para ampliar, clique sobre a imagem.
Da séria série "reflexões dolorosas".
Diante da azáfama de ontem à tarde na livraria Valer, concluo: o povo pode não gostar de ler, mas adora uma liquidação!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – V

Zemaria Pinto

Pirâmide representativa da quantidade de leitores e a etapa alcançada na leitura do texto literário.
22 – Observem a figura acima. O número de pessoas que conseguem ler é o mais expressivo: em condições ideais, todos conseguem ler. Mas nem todos conseguirão compreender o que lêem. A compreensão é o primeiro estágio da leitura, é o entendimento do que foi lido.

23 – O segundo estágio da leitura é interpretar o que foi lido. Um fato nunca está isolado. Ele sempre se relaciona com outros. A maioria das pessoas que sabem ler, por mais que consigam entender o que lêem, não interpretam a leitura dentro de um contexto mais amplo. Por exemplo, uma notícia de jornal: mulher é assassinada pelo marido. O que é esse contexto mais amplo a que me refiro? São vários: a violência doméstica, os valores familiares aviltados, a falência dessa instituição chamada família etc. Quem consegue compreender a leitura – a mulher foi morta pelo marido, não o inverso – nem sempre consegue avaliar o significado disso, no âmbito da própria comunidade.

24 – Conhecer é acumular informações. Não lemos apenas para nos distrair, mas para internalizar as informações que recebemos. O indivíduo que consegue guardar as informações recebidas – desde que saiba selecioná-las, acumulando informações úteis – estará mais bem preparado para os embates do banal cotidiano. Esse número é bem menor que o daqueles que conseguem chegar ao estágio anterior.

25 – o último estágio pós-leitura é pensar. Após acumular informações, alguns indivíduos se dedicarão a pensá-las; isto é, a produzir conhecimento, que voltará à base da pirâmide sob forma de literatura, cinema, música, fotografia, balé etc. Como estamos tratando do texto literário, vamos nos ater a pensar o mundo escrevendo poemas, contos, crônicas, romances, ensaios, roteiros, peças...

26 - Escrever é pensar o mundo – desvendando-o; reinventando-o.
Continuamos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Livraria Valer faz promoção de aniversário com até 90% de desconto

Como acontece todos os anos, a Livraria Valer (Rua Ramos Ferreira, 1195, Centro) comemorará seu aniversário, o décimo oitavo, com uma promoção de livros. Todo seu acervo, composto de mais de 30 mil livros, estará à venda, com descontos de 40 a 90%. Essa promoção começa dia 17 de dezembro e se estende até sábado, dia 20, sempre de 8h às 18h.

Fruto de seu compromisso com o incentivo à leitura, a Livraria Valer pretende com a campanha oportunizar o acesso das pessoas ao livro. Segundo o proprietário da livraria, Isaac Maciel, a promoção é um presente para os clientes que, ao longo de 18 anos, têm prestigiado a livraria e seus eventos culturais.

Os superdescontos, segundo Maciel, são uma resposta da livraria à fidelização de clientes e mais uma oportunidade para a inclusão de novos leitores. "Essa promoção faz parte do esforço da Valer para democratizar o acesso aos livros", diz o escritor Tenório Telles, coordenador editorial do grupo.

Alguns títulos importantes serão vendidos a preços simbólicos. São mais de dois mil livros a R$ 5,00 e outros cinco mil a R$ 10,00. Na promoção, destaca-se a coleção de 11 títulos de Monteiro Lobato, que, vendida no mercado a R$ 170,00, estará à disposição na Valer por R$ 59,00. Os livros da coleção Memórias da Amazônia, da Editora Valer, terão desconto de 50%, inclusive os recém-lançados.

Os livros dos autores que participaram do Flifloresta – Festival Literário Internacional da Floresta, terão descontos de até 75% na promoção. Exemplos como "As mulheres do meu pai", do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que custa atualmente R$ 38,00 e, estará à venda por R$ 10,00, além de "Cinzas do Norte", de Milton Hatoum, "Agente Secreto", de Pepetela – um dos mais importantes autores de língua portuguesa, ganhador do prêmio Camões de literatura –, "Poesia reunida", de Alexei Bueno, e "Acenos e afagos" de João Gilberto Noll.

O acervo conta também com livros técnicos, didáticos e universitários, nas áreas de Direito, Administração, Economia, Informática, Filosofia, História, Ciências Sociais, Contabilidade, Literatura, Matemática, Biologia, Turismo e Finanças, além de temas relacionados à Amazônia. Está é a nona promoção no decorrer de 18 anos. Os clientes poderão pagar suas compras em dinheiro, cartão de crédito ou débito automático.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – IV

Zemaria Pinto


Ezra Pound (1885-1972), para quem “grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”.


15 – Um problema fundamental é identificar o texto literário, o texto-obra, plurissignificante. Podemos começar com seu inverso, o texto-objeto, que deve procure o entendimento do leitor. Isso não quer dizer que o texto-obra não busque ser entendido, mas ele se estrutura de forma diferente, por meio de símbolos.

16 – Uma aluna questionou-me certa feita, argumentando que o Cristo buscava ser entendido utilizando a linguagem cifrada das palavras. Disse-lhe, e repito aqui agora, que a linguagem dos vates-profetas é a mesma linguagem dos vates-poetas, talvez por isso eles se eternizam nos corações e mentes da humana gente.

17 – Para Ezra Pound, “grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”.

18 – Jakobson nos diz que o texto literário tem um componente que o define como tal, a literariedade, que é “um desvio de linguagem”, isto, é um desvio das normas e procedimentos usuais.

19 – Chklovski cria o conceito de estranhamento: se o leitor se depara com construções sintático-semânticas que fogem do padrão compreendido por todos, deve prestar bastante atenção nelas, pois poderá estar diante de uma obra de arte.

20 – Claro que esses conceitos ditos assim, de forma ligeira, não acrescentam muita coisa à cabeça já repleta de informações do leitor. Então, vamos nos desviar um tantinho da teoria literária e pensar nessa entidade chamada leitor. Eu disse desviar? Não nos desviamos, porque o leitor é parte integrante da leitura (lembram disso? leitor + texto).

21 – Vamos pensar no tipo de leitor que temos (ou podemos ter).

Continuamos.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – III
Zemaria Pinto
11 – A linguagem criadora é determinada pela fala individualizada, que, para o escritor, é sua escrita. Cabe lembrar que a palavra texto tem origem no latim textum, que quer dizer tecido – entrelaçamento; daí indústria têxtil...

12 – Se o texto é feito da linguagem do escritor, a que serve senão à leitura? Isto nos traz à cena um novo ator: o leitor

leitor + texto = leitura

13 – Cabe ainda observar que há dois tipos de textos: o texto-objeto e o texto-obra. O texto-objeto tem como referência ordinária a fala comum, cotidiana; procura informar, com clareza e objetividade. O texto-obra, ao contrário, por ser uma manifestação individual e intuitiva do autor, dirigida a um leitor desconhecido, veicula um discurso onde a predominância é a tensão entre ambos, autor-emissor e leitor-receptor.

14 – Em outras palavras, temos o discurso referencial cotidiano e técnico versus o discurso metafórico, plurissignificante (tensão entre emissor e receptor), que pode ser simplificado num embate entre linguagens: linguagem denotativa versus linguagem conotativa

Continuamos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O "bucheiro" Áureo Nonato e o "reacionário" Nelson Rodrigues
Mais de uma vez (questão de estilo, talvez), Áureo Nonato contou-me que Nelson Rodrigues dizia, sempre que o encontrava, que ele, Áureo, era o único amazonense da vida real. Só entendi a piada na sua plenitude lendo as crônicas de O Reacionário, onde Áureo é citado duas vezes. Nelson vivia de birra com o Piauí e "sua pobreza ancestral". Daí sobrava para o Amazonas, "que tem uma população menor que Madureira". Como o seu mundinho era o Rio de Janeiro – São Paulo mesmo era quase outro planeta, embora habitado –, Nelson tinha dificuldade em entender porque não havia mais piauienses e amazonenses entre as suas relações. Mas a amizade com Áureo Nonato – "um rapaz que anda metido no teatro" – foi bastante duradoura. E deixou boas lembranças a ambos.
Produção de texto poético (uma introdução) – II

Zemaria Pinto


4 – Poesia é, sobretudo, imaginação; faculdade de representar imagens; fantasia; invenção;

numa palavra – criação.

5 - Roland Barthes elaborou a seguinte equação, para explicar o seu conceito de língua:

língua = linguagem – fala

6 – Se queremos identificar do que se compõe a linguagem, apliquemos a regra da comutação e teremos:

linguagem = língua + fala

7 – Aqui chegamos a um conceito fundamental: a linguagem criadora, formada pelo código da língua e pela nossa expressão, nossa fala.
'



8 - Pensamos para falar / falamos para pensar – não é mero jogo de palavras. Antes de falar pensamos sobre o que vamos falar, embora não nos apercebamos disso. Nossa mente é tão rápida que não nos damos conta dessa preparação. Por outro lado, quando falamos, o fazemos com a finalidade de produzir reflexão em nosso interlocutor, a menos que falemos ao vazio, ao nada, sobre nada.

9 – A linguagem é parte concreta do cotidiano. Imaginemos um mundo de mudos. Seria um mundo sem linguagem? Claro que não, porque a comunicação continuaria existindo. Exatamente como hoje as pessoas portadoras de necessidades especiais, que não conseguem se expressar por meio da fala usual, utilizam uma linguagem de sinais.

10 – Eu disse linguagem de sinais? O correto é dizer língua de sinais – um código aceito por todos que somado à expressão individual de cada um resultará na linguagem. Desta forma podemos falar em várias linguagens além da língua/idioma: a linguagem da publicidade, a linguagem da moda; a linguagem da música etc.

Continuamos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – I

Zemaria Pinto

Em datas recentes, ministrei a palestra Produção de texto poético (uma introdução) para duas turmas diferentes – uma de professores da rede pública, outra de alunos de Letras. Como o resultado me pareceu satisfatório, vou postar aqui algumas reflexões a respeito do assunto.

1 – Assim como entre os profissionais de Relações Humanas desenvolveu-se a idéia de CHA (iniciais de conhecimento, habilidade e atitude), podemos usar para o texto poético o correspondente CHT (conhecimento, habilidade e talento).

2 –
O conhecimento estará concentrado na aquisição dos conceitos necessários à compreensão do fenômeno literário. A habilidade refere-se à técnica de escrever, indispensável a quem quer levar o negócio a sério. Ambos, conhecimento e habilidade, podem ser desenvolvidos. A tendência, aliás, se o escritor for sério, é o crescimento e o amadurecimento, tanto em relação ao conhecimento (nunca vamos aprender tudo) quanto à técnica (quando não houver nada mais a aprender, inventamos).

3 – O terceiro item, talento, assim como atitude para RH, é algo inato: ou o sujeito tem ou não tem. Não se desenvolve, não se ensina, não se adquire. O talento, no escritor, precisa ser descoberto a partir da combinação de C e H – conhecimento/conceitos e habilidade/técnica.

Continuamos.
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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Afonso Toscano busca patrocínio para o primeiro CD
Foi no programa Nossa Cultura, da Rádio Rio Mar, apresentado por Gláucia Campos, onde todo primeiro domingo do mês faço uma ponta (depois volto ao assunto), que reencontrei uma amizade que data dos tempos do Colégio Estadual, já lá se vão mais de 35 anos: Afonso Toscano está com seu primeiro CD todo gravado – Enredo –, mas ainda procura patrocínio para uma primeira prensagem comercial.

Enredo tem 11 faixas, sendo oito com letra e música de Toscano. As parcerias são assinadas, respectivamente, por C. Carneiro, Inácio Oliveira e – pasmem! – Antônio Paulo Graça, a belíssima "Notívagos", bem o D. Paulinho.

Músicos participantes:
  • Afonso Toscano: voz e violão
  • Almir Fernandes: bateria
  • Bernardo Lameira: contrabaixo
  • Gilson Rodrigues: guitarra
  • Célio Vulcão: teclados
  • Miguel Pronsky: teclados

Cansado de esperar por uma grande fraude promovida pela Prefeitura de Manaus (já lá se vão três escroques, quer dizer, prefeitos), ironicamente intitulada Valores da Terra, Toscano resolveu dar a cara a tapa e lutar para concretizar esse sonho, que é também de todos que o conhecem e sabem o seu valor.

Contatos: (92) 9969-4200 ou afonso.toscano@hotmail.com

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Três palavras para o CLAM

Tudo muda, tudo passa, tudo está em movimento. Esta lei da mãe natureza também se aplica à literatura – até porque esta é parte daquela, como as florestas e os rios, as cidades e os campos, o sol e a chuva. Quando eu tinha 20 e poucos anos, achava que o pessoal do Clube da Madrugada era eterno. Aos poucos, convivendo com eles, dei-me conta de que, infelizmente, mais cedo ou mais tarde, começariam a partir, e era preciso que a minha geração estivesse apta a segurar o bastão, se me permitem a metáfora esportiva. A vida é mesmo uma corrida de revezamento. Arthur Engrácio, Antísthenes Pinto, Alcides Werk – mestres e amigos que reverencio em memória.

Presenciamos agora um terceiro momento, em que uma nova geração, formada por jovens talentosos, desabrocha para o mundo das artes. Organizados, uniram-se em torno de um ideal, apropriadamente nomeado CLAM – reverberando a idéia de família, de irmandade. Coisa que os da minha idade não tiveram pique para fazer. Estávamos, talvez, sufocados por aquela massa de talentos do Clube da Madrugada. Já ouvi do amigo Tenório Telles que nós somos ponte, crescemos sob o estigma da passagem. Por força do movimento incessante do universo, um novo ciclo se inicia, com uma nova geração, que, lá na frente, haverá de tomar o bastão. Travessia.

Costumo dizer, nas minhas palestras, que é muito fácil escrever; basta combinar, em proporções equilibradas, três elementos essenciais: conhecimento, habilidade e talento. O conhecimento é adquirido pelas leituras – infinitas leituras. Quanto mais lemos mais nos damos conta do quão pouco conhecemos. Digo isso não para desestimular, mas para enfatizar que o conhecimento é acessível a todos, especialmente nesta era dominada pela Informação. E se é impossível conhecer tudo – uma vida não seria suficiente para tanto –, faz-se imperativo conhecer os clássicos, a literatura brasileira e, por que não?, a literatura amazonense – sem perder de vista os contemporâneos.

No quesito habilidade as coisas se simplificam: é necessário estudar a Arte Poética (ainda que seja pra propor o seu fim) e dominar a técnica (palavra que em grego tem a mesma raiz etimológica da palavra poesia); é indispensável o domínio da técnica para desenvolver o texto literário – em prosa ou poesia. Mas aqui o universo cabe, se não numa casca de noz, num ouriço de castanha-do-pará.

Sobre talento, não preciso dizer nada. Os jovens componentes do CLAM já vêm, há alguns anos, dando demonstrações de que talento não lhes falta.

É a velha lei que se cumpre: tudo muda, tudo passa, tudo está em movimento...

(Zemaria Pinto, na orelha de A Quinta Estação)

(Mais) 10 anos da Quarta Literária

Marcos Frederico, Tenório Telles e Zemaria Pinto.

Uma visão do público presente. Em primeiro plano, de vermelho, a escritora Vera do Val.

Outro ângulo do público.

Candinho e Inês.

Dori Carvalho, Cláudio Fonseca, Zemaria Pinto, Tenório Telles e Marcos Frederico: soprando velinhas.

CLAM - Clube Literário do Amazonas, originado dentro da Quarta Literária.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Parintins ganha Academia de Letras

No último 29 de novembro, no auditório da Câmara Municipal de Parintins, foi fundada a Academia Parintinense de Letras. Presidiu a sessão, representando a Academia Amazonense de Letras, o escritor Antônio Loureiro.

Foram empossados 17 dos 40 membros do novo silogeu, sendo eleita a primeira diretoria, tendo por presidente Narciso Picanço.

Entre os novos imortais está o compositor Chico da Silva, que, segundo Loureiro, “deu uma alma musical para os amazonenses”.
(Ainda) os 10 anos da Quarta Literária

Com discursos emocionados de Tenório Telles e Marcos Frederico, recitais escrachados de Zemaria Pinto e Dori Carvalho, além de um show belíssimo da dupla Candinho & Inês, a comemoração pelos 10 anos da Quarta Literária foi um verdadeiro happening, que culminou com o lançamento do livro A Quinta Estação, do pessoal do CLAM.

Com mais de 100 pessoas presentes, muita gente acompanhou a festa no salão, onde foi realizado o lançamento, a distribuição de livros-brindes (mais de 50 livros) e um coquetel amazônico de tirar o fôlego. Sem álcool, como manda a tradição das Quartas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Os 10 anos da Quarta Literária
Luiz Bacellar, Zemaria Pinto, Tenório Telles e Marcos Frederico. 07 de maio de 2008.

Com a palestra "Sobre a arte da navegação – considerações em torno da poesia de Luiz Bacellar", uma leitura do livro Frauta de barro, o escritor Marcos Frederico Krüger, com uma palavra de saudade ao amigo Paulo Graça, que falecera 10 meses antes, inaugurou a Quarta Literária, a 14 de abril de 1999. O objetivo de um pequeno grupo de pessoas interessadas em discutir literatura, lideradas pelo escritor Tenório Telles e pela poetisa Aurolina Araújo de Castro, era, principalmente, atrair mais leitores e transformar aquele evento num verdadeiro fórum de discussão sobre arte.

Foram mais de 100 palestras ao longo destes 10 anos. Além de Marcos Frederico e Tenório Telles, foram tantos os palestrantes, que relembrar todos seria impossível, sem que se fizesse uma lista por demais extensa. Mas alguns foram recorrentes, como Zemaria Pinto, Cláudio Fonseca, Allison Leão, Renan Freitas Pinto e Jorge Bandeira. A lista de estudados é igualmente extensa e bastante eclética: de Luiz Bacellar (ele também palestrante) a Allen Ginsberg, de Astrid Cabral a García Márquez, de Violeta Branca a Franz Kafka. Além de autores, muitas vezes a palestra versou sobre determinado tema, como "Poesia e Utopia", "Poesia Erótica e Pornográfica", "Poesia e Música", "O índio na literatura brasileira" etc. O Clube da Madrugada, por ocasião do seu cinqüentenário de fundação, teve o ano de 2004 inteiramente dedicado ao estudo de seus autores mais representativos. Muitos desses encontros nos fins de tarde das quartas-feiras prestaram homenagens a grandes nomes da literatura, como a comemoração dos 80 anos dos poetas Thiago de Mello e Luiz Bacellar.

O Clube Literário do Amazonas – CLAM, formado por jovens escritores hoje na faixa dos 20/30 anos, surgiu de dentro da Quarta Literária. Nelson Castro, José Farias, Carlos Thiago, Rayder Coelho, Gracinete Felinto, Pollyanna Furtado, Miguel de Souza, Edvan Rafael, Eylan Lins, Michele Pacheco, Afonsina Oliveira, Álvaro Smont, Dâmea Mourão, Sheila Nunes, Rafael Marques e Gadi, além dos artistas plásticos Bruna Marinho e Paulo Olivença, encontraram-se na Quarta e passaram a desenvolver seus trabalhos sob o "patrocínio" da Valer. Aliás, o livreiro e editor Isaac Maciel é outro nome que não pode ser esquecido – ele que nunca palestrou, mas é sempre um ouvinte atento, quando seus afazeres lhe permitem participar das Quartas. Assim é que a comemoração dos 10 anos da Quarta Literária terá um ingrediente extra: o lançamento da antologia A Quinta Estação, a primeira do pessoal do CLAM, sob os auspícios da Valer.

Funcionando sempre no mesmo local – altos da Livraria Valer – e mesmo horário, 18h30min, toda primeira quarta-feira do mês, a Quarta Literária acompanhou a modernização tecnológica: das palestras na base unicamente da "garganta" e do flip-chart, até o PowerPoint e o notebook, procurou-se preservar um padrão de qualidade, que hoje é parâmetro para as diversas faculdades de Letras que funcionam na cidade. Afinal, seus alunos (e professores) são freqüentadores (e palestrantes) das Quartas. E se um dia se disse que as Quartas eram um foco de resistência da cultura amazonense, hoje podemos afirmar que as Quartas, na verdade, são a vanguarda dessa cultura.
Nos anos iniciais, não havia interrupção nas atividades, com a Quarta Literária funcionando de janeiro a dezembro, mas, nos últimos anos, a praxe é o recesso de janeiro e fevereiro. Assim, convencionou-se contar o tempo por anos de atividades. 2008 é exatamente o 10º ano de atividades da Quarta Literária. Por isso, neste 3 de dezembro, fechando 2008, não haverá palestras, mas um sarau, onde os velhos freqüentadores se unirão aos jovens, num congraçamento mútuo, numa festa da literatura e das artes. O evento terá em sua programação depoimentos dos mais antigos freqüentadores, recital de Dori Carvalho e poetas do CLAM, e uma parte musical com Candinho e Inês, Célio Cruz, Mauri Marques e Raquel Brasil, Torrinho, Celdo Braga, Nelly Miranda, Ellen Mendonça e Manoel Passos.