Amigos do Fingidor

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A poesia é necessária?


Socorro
Alice Ruiz


Socorro, eu não estou sentindo nada.
nem medo, nem calor, nem fogo,
não vai dar mais pra chorar
nem pra rir.

Socorro, alguma alma, mesmo que penada,
me empreste suas penas.
já não sinto amor nem dor,
já não sinto nada.

Socorro, alguém me dê um coração,
que esse já não bate nem apanha.
Por favor, uma emoção pequena,
qualquer coisa que se sinta,
tem tantos sentimentos,
deve ter algum que sirva.

Socorro, alguma rua que me dê sentido,
em qualquer cruzamento,
acostamento, encruzilhada,
socorro, eu já não sinto nada.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Loud and Clear.
Tim Okamura.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Desculpe aí, patroa!



Pedro Lucas Lindoso


A Polícia Civil do Amazonas montou um esquadrão antigatos. Não é para exterminar os gatos de rua da cidade. Aliás, são muitos. Trata-se de combater preventivamente o furto de energia elétrica em Manaus. Há furtos principalmente porque aqui a energia elétrica é muito cara.
O fato é que a concessionária de energia perdeu mais de 300 milhões de reais com furtos de energia, os famosos “gatos”. Resolveu reforçar a fiscalização, com ajuda da Polícia. Grande parte da população de alguns bairros vai responder criminalmente por furto de energia elétrica. Será?
Há alguns anos, quando a concessionária era pública, houve programa de doação de geladeiras novas para parte da população que usa “gatos”. Geladeiras velhas consumiam o triplo de energia. A concessionária fez grande economia. Todos sabem quem usa “gatos”: o governo, a concessionária e a polícia.
Quando Elizabeth II visitou o Brasil em 1968, a segurança descobriu um “gato” na Embaixada Britânica no Rio de Janeiro. Malandro carioca furtava energia de sua majestade.
No tribunal, Dr. Chaguinhas, colega advogado, lamentava-se porque perdeu um bom partido. O seu melhor partido. Advocacia de partido consiste em prestar assessoria, geralmente à pessoa jurídica, mediante o pagamento de um valor fixo mensal. Teve rescindido o contrato com um banco. Alertou a família da necessidade de apertar o cinto.
Vamos diminuir a conta de energia da casa, decretou. Sendo um sujeito ético e honesto, não pensou em fazer “gato’”. Pediu aos familiares que não usassem ar-condicionado durante o dia. Banhos rápidos e de água fria se possível, bem como outras medidas que promovessem a economia de energia.
A diarista também foi solicitada a evitar ligar o ar. Ao chegar a casa, a mulher de Chaguinhas notou que as janelas e portas estavam fechadas, bem como as cortinas. E o ar ligado em todos os compartimentos. A casa parecia o polo norte. A diarista, sozinha, limpava a casa e cantarolava alegremente.
A mulher de Chaguinhas conversou com a moça, explicando-lhe novamente que era preciso economizar energia, até mesmo para preservar o seu emprego.
A moça alegou que na casa dela usa o ar-condicionado o tempo todo. Porque lá é “gato”. De repente, “caiu a ficha”. E comentou:
– Nossa! Esqueci que a senhora paga energia! Desculpe aí, patroa!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cia Vitória Régia lê “Eles não usam black-tie”




A Cia de Teatro Vitória Régia segue apresentando, sempre às quintas-feiras, em janeiro e fevereiro, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

A mostra visa colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, dominadas pela repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas”, muito parecidas com as milícias assassinas tão caras aos círculos poderosos de hoje.

Escolhemos a ARTE, para resistir e denunciar.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos, que expõem as entranhas do fascismo: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

Nesta quinta-feira, 31 de janeiro, sob a direção de Nonato Tavares, será feita a leitura de Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, um testemunho da vida do operário e do movimento sindical brasileiro.

Escrita em 1958, quando o autor tinha apenas 25 anos, Eles não usam black-tie tornou-se um clássico da dramaturgia brasileira, tendo sido, nos últimos 60 anos, montada dezenas de vezes, com uma excelente adaptação para o cinema, em 1981, sob a direção de Leon Hirszman, que, entre inúmeros prêmios internacionais, ganhou o Leão de Ouro de Veneza, de melhor filme.

Sem maniqueísmos nem julgamentos de qualquer espécie, o texto de Guarnieri explora o impasse do ser humano diante de decisões importantes para si, como indivíduo, mas também para a coletividade – a família, os amigos, os vizinhos, os companheiros de trabalho. Destaque para as personagens femininas, Maria e Romana, que antecipam em uma década a discussão sobre o feminismo – discussão, aliás, que já deveria estar superada, mas ainda perdura em certos meios...

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leitura dramática de Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri
Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como Dias Gomes, Augusto Boal, Chico Buarque, Oduvaldo Vianna Filho e outros
Quanto: dia 31 de janeiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos.
Entrada franca.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Manaus, amor e memória CDV


Panorâmica, com Teatro, praça, igreja, Tribunal, Ideal, IEA e Benjamin.
Em primeiro plano, a avenida Getúlio Vargas.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Hesitation.
René Zwaga.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A poesia é necessária?



Descobrimento
Mário de Andrade


Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus! muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Patética ou Herzog foi suicidado





A Cia de Teatro Vitória Régia segue apresentando, sempre às quintas-feiras, em janeiro e fevereiro, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

A mostra visa colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, quando a repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas” perseguiam autores e atores, num paralelo com o retrocesso que se instala hoje no país, disfarçado sob o falso argumento da proteção à família e aos bons costumes.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos, que expõem as entranhas da ditadura instalada em 1964: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

Nesta quinta-feira, 24 de janeiro, sob a direção de Nonato Tavares, será feita a leitura de Patética, de João Ribeiro Chaves Neto, vencedor de concurso promovido pelo Serviço Nacional de Teatro, em 1977, cujas cópias foram confiscadas pela polícia, com o claro e estúpido intuito de fazer a peça desaparecer definitivamente.

O texto, uma metáfora do teatro brasileiro, é uma alegoria da morte do jornalista Vladimir Herzog, “suicidado” pela polícia. Complexo, sem ser obscuro, construído em quatro níveis diferentes, o texto mostra uma trupe de circo representando a vida de Herzog, desde a chegada de seus pais, judeus, no Brasil, fugindo da Iugoslávia – inicialmente, dominada pelos nazistas de Hitler; depois, pelos comunistas de Tito. Para o crítico Fernando Peixoto, “Patética é um texto que se fundamenta na verdade e sobretudo na necessidade de não permanecer em silêncio diante da injustiça e da violência”.

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leituras dramáticas
Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como João Ribeiro Chaves Neto, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Dias Gomes e outros
Quanto: dia 24 de janeiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos.
Entrada franca.

Fantasy Art - Galeria


Victoria Stoyanova.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A diferença é o vatapá



Pedro Lucas Lindoso


O jovem advogado Rodrigo Pinheiro foi escalado para uma reunião de trabalho em Salvador. Foi sua primeira viagem à Bahia. Teria sido uma viagem maravilhosa se não fossem alguns percalços.
A Bahia fica no oriente do Brasil enquanto o Amazonas na parte bem ocidental do país. Deve ser aí a origem da expressão “se oriente”. De fato o Brasil importante fica no leste, no sudeste. O Amazonas só fica perto da Bahia na ordem alfabética: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas e depois Bahia!
Dr. Rodrigo estava sendo esperado para a tal reunião marcada de última hora para o dia 20 de dezembro. Logo na semana do Natal. Sair de Manaus nessa época é um problema. Sabe-se que a saída única, pelo menos a mais viável, é o aeroporto.
Passagem comprada e confirmada para as 14h50min do dia 19 de dezembro, véspera da reunião. Hotel reservado e também confirmado. Tudo parecia perfeito. Dr. Rodrigo estava bastante animado ante a perspectiva de conhecer a boa terra. Finalmente saber o que é que a baiana tem. Afinal a baiana Kamélia, que aparece por aqui no Carnaval, é só uma boneca, literalmente.
Infelizmente, Rodrigo enfrentou um severo engarrafamento na conhecida Av. Torquato Tapajós, que dá acesso ao aeroporto de Manaus. Atrasou-se. Perdeu a viagem. A opção de voo dada ao jovem causídico foi: saída de Manaus a partir das 03h25min, já na madrugada do dia 20. Temos aí um atraso de mais de 12 horas. Com escalas e conexões em Belém, São Luís, Fortaleza e Recife. Rodrigo só chegou à Bahia no final da manhã daquele dia. A reunião estava a pleno vapor. Foi aplaudido de pé. O grupo de WhatsApp acompanhava o périplo de Rodrigo. Entre espanto e admiração só restou aos colegas advogados o aplauso e a necessária empatia.
César Augusto, advogado baiano que mora em Manaus, em férias em Salvador, convidou Rodrigo para comer um peixe. Amazonense é acostumado com cadeirada, peixe frito, assado ou à escabeche. A moqueca era algo a ser testado.
Tudo parecia novidade para Rodrigo. A farofa de farinha fininha, a moqueca em si. Mas havia vatapá. Comida muito popular para o amazonense. Rodrigo esbaldou-se. Quente na Bahia significa apimentado. E foi assim que ele provou o vatapá baiano. Bem quente.
Na volta para Manaus precisou tomar um sal de frutas. O famoso Eno.  É porque o vatapá da Bahia é diferente do nosso, concluiu. Leva amendoim, castanha e gengibre. É verdade. A diferença entre o Amazonas e a Bahia é o vatapá. E viva a Bahia. Axé.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

domingo, 20 de janeiro de 2019

Manaus, amor e memória CDIV


Vista aérea, com Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião ao centro.
Ao fundo, bem atrás da igreja, o Benjamin Constant. O IEA ainda não existia.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Night swimmer.
Adam Brown.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

As ruínas das ruínas de Paricatuba





A 35 quilômetros de Manaus, já no município de Iranduba, a vila de Paricatuba seria apenas mais um amontoado de casebres às margens do rio Negro, a conviver com o monótono ciclo anual de enchentes e vazantes, tendo por companhia a crônica pobreza.

Mas a vila é predestinada, a mais de um século, a ser um símbolo. Inicialmente, da ventura; depois, do descaso; hoje, da esculhambação que é este estado.

O prédio, há mais de 100 anos.

Projetada para abrigar imigrantes italianos – sim, os italianos, na virada do século XIX para o XX fugiam da miséria na Europa –, tornou-se liceu, quando a economia da borracha definhou; casa de detenção, quando as de Manaus já não tinham como abrigar aqueles que a miséria tornara criminosos; e, finalmente, asilo de leprosos, para mantê-los longe das vistas sensíveis de Manaus, o que aconteceu até meados dos anos 1980.

Recebendo imigrantes italianos.

De lá pra cá, sem função, o prédio se deteriora a olhos vistos.

Seria ótimo saber, se não fosse um tanto ridículo, que, todos os dias, dezenas de pessoas se dirigem àquele sítio, para tirar fotos e passar alguns minutos naquele mundo estranho. Do ponto de vista antropológico, as ruínas históricas fazem parte da identidade cultural de uma comunidade, e, por extensão, de um povo. Será isso que nos mantêm atavicamente ligados às ruínas de Paricatuba?

Visão interna do complexo, quando em funcionamento.

Recuperar as ruínas de Paricatuba é dar início a um processo permanente de conservação... das ruínas. O entorno será valorizado e poderá ser explorado pelos próprios locais – restaurantes, bares, parques, áreas para espetáculos de teatro, dança, música e projeção de filmes. Na vazante, as praias seriam um atrativo adicional. Turistas chegariam lá de barco, muito mais interessante que atravessar aquele minhocão de concreto, que custou mais de um bilhão de reais e enriqueceu meia dúzia de canalhas.

Ou é isso ou, em breve tempo, do que hoje são as ruínas das ruínas, restará apenas um indecifrável pó.   

Detalhes do frontispício.

A beleza da arquitetura ainda é visível.


Visão interna, com Madona ao fundo.

Esta bela Madona foi pintada no muro errado.

Um dos salões.





Parece que alguém saiu às pressas.

Assinaturas de alguns vândalos.


Texto e fotos atuais: Zemaria Pinto


A poesia é necessária?


Vozes-Mulheres
Conceição Evaristo


A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
        e fome.

 A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Amazon.
Pablo Fernandez.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Teatro e Resistência – leituras dramáticas




A Cia de Teatro Vitória Régia apresenta, sempre às quintas-feiras, em janeiro e fevereiro, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

A mostra tem a finalidade de colocar em discussão o retrocesso que se instala no país com a censura a eventos artísticos, disfarçada sob o argumento falacioso da proteção à moral e aos bons costumes.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos dos anos 1960 e 1970, que expõem as entranhas da ditadura instalada em 1964: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

A primeira peça, a ser apresentada, nesta quinta-feira, 17 de janeiro, sob a direção de Nonato Tavares, é O abajur lilás, de Plínio Marcos, que ficou onze anos sem poder sem ser encenada, de 1969 a 1980.

O texto é uma alegoria do Brasil da época, mas permanece muito atual. Nas palavras do crítico Sábato Magaldi, “De todas as peças que analisaram a situação brasileira pós-1964, O abajur lilás se distingue certamente como a mais incisiva, dura e violenta. Plínio Marcos fundiu nela, mais do que em outras obras-primas suas, talento e ira. A estrutura do poder ilegítimo está desmontada, para revelar, com meridiana clareza, seu ríctus sinistro.”

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leituras dramáticas

Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como Plínio Marcos, 
Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Millôr Fernandes e outros

Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida

Recomendado para maiores de 16 anos.

Entrada franca.


Claudinha na constelação da saudade



Pedro Lucas Lindoso


No início deste mês a família perdeu Claudinha, aos 63 anos de idade. Ela era especial. Em todos os sentidos. Dizem que os portadores da síndrome de Down geralmente não têm uma vida muito longa. Claudinha sempre foi jovem. Era extremamente alegre e gostava de dançar. Muito querida pelos irmãos, tios e primos.
Nasceu numa época em que as pessoas especiais como ela eram chamadas de... É difícil falar. E mais ainda escrever. Não se trata de ser politicamente correto. A palavra é inadequada, pejorativa e agressiva. Remete a um país da Ásia em que as pessoas naturalmente têm os olhinhos puxados.
A síndrome de Down é a ocorrência genética mais comum que existe. Independentemente de raça, país, religião ou condição econômica da família. As pessoas com a síndrome têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população.
Quando Claudinha nasceu, em meados da década de 1950, pouco se sabia sobre a síndrome. Em 1959 quando foi descoberta a causa genética da doença, ela já era uma garotinha de quatro anos.
Sabemos que os Down são capazes de sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Claudinha fez tudo isso. Só não precisou trabalhar.
Desde novinha mereceu a atenção e os cuidados que necessitava. Foi levada aos melhores especialistas no Rio de Janeiro. Era a mais velha dos irmãos. Todos sempre muito carinhosos e atenciosos com ela. Francisquinha, sua dedicada mãezinha, contou com ajuda de uma tia, dona Isolina. Espírito raro de altruísmo, Isó devotou-se integralmente a ensinar, amar e cuidar dessa garotinha tão alegre e feliz.
Lembro-me de Claudinha sempre rindo e dançando. A palavra Down não combina com ela. Era uma pessoa sempre “up”, para cima. Meu filho Fernando casou-se com Bruna em Búzios. Devido à logística complicada, alguns familiares de Brasília e Manaus não compareceram. Mas Claudinha foi ao casamento. Dançou bastante. Alguém me perguntou:
– Quem é aquela senhorinha tão alegre e tão simpática?
Eu, pai do noivo, disse que era minha prima Claudinha. Filha de um tio muito querido chamado Antônio Lindoso. Claudinha se foi na semana em que seu pai já falecido aniversariava. Mais uma estrelinha nessa constelação que carregamos chamada saudade.



domingo, 13 de janeiro de 2019

Manaus, amor e memória CDIII


Penitenciária Vidal Pessoa.
Ao fundo, à direita, a Ponte de Ferro, continuação da 7 de Setembro.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Rare groove.
Tim Okamura.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Zona de Guerrilha Franca



Zemaria Pinto


296 – Não se pode negar o talento histriônico do novo governo: um pastelão dos Trapalhões, com Tiririca no papel principal. Com todo respeito aos palhaços.

297 – O presidente-tiririca-trapalhão tem um método: primeiro ele diz que faz; depois ele desfaz o que disse que ia fazer.

298 – E porque ele desfaz? Porque a reação – especialmente, da mídia – o leva a isso.

299 – No caso do aumento do IOF e da redução da alíquota do IR, entretanto, ele foi desmentido (o verbo é esse mesmo), foi desmentido por subalternos do segundo escalão.

300 – É um idiota, agindo às cegas, fazendo o que a canalha em volta manda ele fazer.

301 – E enquanto isso, nem o Queiroz e nem o primeiro filho (ou será o segundo?) dão qualquer satisfação ao MP. Arrogantes, estão acima da lei nesta barafunda chamada Brasil.

302 – Dia 1º de janeiro marcou o início do fim do governo do palhaço presidente. Ou devo dizer do presidente palhaço?

303 – O que assistimos, nestes últimos 10 dias, foi um desfile de baboseiras, dignas do mais reles reality show. Perto desse amontoado de asnices, o BBB parece uma tragédia shakespeariana.

304 – Tirar a exigência de referências bibliográficas dos livros escolares é a institucionalização das fake news. Mais que nunca, a verdade é uma abstração e a mentira é a única certeza.

305 – Estou contando os segundos para ver os nossos representantes em Davos. Pena que o idiota supremo não estará lá para ver a performance dos seus seguidores, os trumpboys e as olavettes.

306 – Acabaram com o Ministério da Cultura. Até aí morreu o Neves, como diria minha avó.

307 – O que incomoda é que o departamento em que se transformou o ministério está sob o manto cor-de-rosa da ministra palhaça – ou devo dizer palhaça ministra? – aquela mesma que trepou com Jesus na goiabeira.

308 – Aos meus colegas artistas que vestiram a camisa podre da CBF, em vez de empunhar um livro, e agora fazem mimimi, virando o beicinho, lembro minha sábia Mãe-Velha: agora é tarde, Inês é morta.


A poesia é necessária?



Poema do Aviso Final
Torquato Neto


É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Amaranthine.
Yannick Bouchard.


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Caneta Bic é fungível ou infungível?



Pedro Lucas Lindoso


Coisas ou bens infungíveis são os que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. São coisas insubstituíveis em face de suas qualidades individuais.
Já os bens fungíveis são, ao contrário dos infungíveis, os que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Qualquer estudante de Direito tem que saber a diferença. Ou então será reprovado em Direito Civil.
Obviamente que ao se saber o que é fungível (nada mais fungível que o dinheiro), se aprende o que é infungível. Empresto a alguém cem reais. A pessoa me devolve os cem reais. Jamais será a mesma nota, obviamente. Eu peço emprestado do meu vizinho um quilo de feijão preto da marca X, para a feijoada de domingo. Devolvo um quilo do mesmo feijão preto da marca X. Estou quite com o meu vizinho.
Já um rico marchand que resolver emprestar um quadro de Portinari ou escultura de Brecheret do seu acervo a alguém ou museu terá que ter de volta o mesmíssimo quadro e a mesmíssima escultura.
Um colega de trabalho emprestou-me uma caneta Bic. Inadvertidamente levei-a para casa, onde ficou esquecida. No dia seguinte, adquiri meia dúzia de canetas Bic.  Devolvi ao colega uma delas. Não houve problemas. As canetas Bic são bens perfeitamente fungíveis.
Um amigo que trabalha no Senado Federal me contou que Ulisses Guimarães assinou a Constituição Federal de 1988 com uma caneta Bic. Não se sabe o destino da caneta. Um objeto que se tornou totalmente infungível. Afinal chancelou a nossa Constituição Federal! É única.
O presidente Bolsonaro usou uma Bic para assinar o termo de posse. Boa pergunta para uma prova de Direito Civil. Afinal, uma caneta Bic é fungível ou infungível?
As canetas Bic são fabricadas no PIM – Polo Industrial de Manaus, desde os anos 1970. A Bic Amazônia está há mais de 43 anos na cidade. São produzidos por dia em Manaus milhões de produtos Bic. Além das famosas canetas esferográficas e lápis, produz isqueiros e barbeadores, dentre outros.
Terezinha, que trabalha lá há décadas, guarda num estojo prateado a caneta Bic que assinou os papéis de seu casamento. É uma Bic tão infungível quando a de Ulisses Guimarães e Bolsonaro.
Fungíveis ou infungíveis as canetas Bic são “Made in Manaus”. Amazonenses da gema. É o Amazonas sempre presente nas grandes celebrações nacionais.


domingo, 6 de janeiro de 2019

sábado, 5 de janeiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Arantza Sestayo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

A poesia é necessária?



O rio comanda a vida

                                          Aldisio Filgueiras


ímpetos sexuais
aríete
de coisas diluídas

o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas

e sob o tropel
de seus ásperos cascos

liquefeita
em cópias
de figuras trágicas

a presença inócua
e dúbia
de nossos corpos 

o rio des-governa

quase impossível
regime
de forças hidráulicas

apenas usadas
por lisos cardumes
de peixes argutos
em ciranda elétrica

o rio põe e dispõe
que
manhas e tramas
tem esse rio
e orgulho de senhor

por exemplo

risca funda fronteira
e aliena
seu feudo do mundo
em líquido
estado de sítio

e pênis raivando
de ímpetos sexuais

– aríete
de coisas diluídas –

o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas