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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

As ruínas das ruínas de Paricatuba





A 35 quilômetros de Manaus, já no município de Iranduba, a vila de Paricatuba seria apenas mais um amontoado de casebres às margens do rio Negro, a conviver com o monótono ciclo anual de enchentes e vazantes, tendo por companhia a crônica pobreza.

Mas a vila é predestinada, a mais de um século, a ser um símbolo. Inicialmente, da ventura; depois, do descaso; hoje, da esculhambação que é este estado.

O prédio, há mais de 100 anos.

Projetada para abrigar imigrantes italianos – sim, os italianos, na virada do século XIX para o XX fugiam da miséria na Europa –, tornou-se liceu, quando a economia da borracha definhou; casa de detenção, quando as de Manaus já não tinham como abrigar aqueles que a miséria tornara criminosos; e, finalmente, asilo de leprosos, para mantê-los longe das vistas sensíveis de Manaus, o que aconteceu até meados dos anos 1980.

Recebendo imigrantes italianos.

De lá pra cá, sem função, o prédio se deteriora a olhos vistos.

Seria ótimo saber, se não fosse um tanto ridículo, que, todos os dias, dezenas de pessoas se dirigem àquele sítio, para tirar fotos e passar alguns minutos naquele mundo estranho. Do ponto de vista antropológico, as ruínas históricas fazem parte da identidade cultural de uma comunidade, e, por extensão, de um povo. Será isso que nos mantêm atavicamente ligados às ruínas de Paricatuba?

Visão interna do complexo, quando em funcionamento.

Recuperar as ruínas de Paricatuba é dar início a um processo permanente de conservação... das ruínas. O entorno será valorizado e poderá ser explorado pelos próprios locais – restaurantes, bares, parques, áreas para espetáculos de teatro, dança, música e projeção de filmes. Na vazante, as praias seriam um atrativo adicional. Turistas chegariam lá de barco, muito mais interessante que atravessar aquele minhocão de concreto, que custou mais de um bilhão de reais e enriqueceu meia dúzia de canalhas.

Ou é isso ou, em breve tempo, do que hoje são as ruínas das ruínas, restará apenas um indecifrável pó.   

Detalhes do frontispício.

A beleza da arquitetura ainda é visível.


Visão interna, com Madona ao fundo.

Esta bela Madona foi pintada no muro errado.

Um dos salões.





Parece que alguém saiu às pressas.

Assinaturas de alguns vândalos.


Texto e fotos atuais: Zemaria Pinto