Pedro Lucas Lindoso
No início deste mês a família perdeu Claudinha, aos 63 anos
de idade. Ela era especial. Em todos os sentidos. Dizem que os portadores da
síndrome de Down geralmente não têm uma vida muito longa. Claudinha sempre foi
jovem. Era extremamente alegre e gostava de dançar. Muito querida pelos irmãos,
tios e primos.
Nasceu numa época em que as pessoas especiais como ela eram
chamadas de... É difícil falar. E mais ainda escrever. Não se trata de ser
politicamente correto. A palavra é inadequada, pejorativa e agressiva. Remete a
um país da Ásia em que as pessoas naturalmente têm os olhinhos puxados.
A síndrome de Down é a ocorrência genética mais comum que
existe. Independentemente de raça, país, religião ou condição econômica da
família. As pessoas com a síndrome têm 47 cromossomos em suas células em vez de
46, como a maior parte da população.
Quando Claudinha nasceu, em meados da década de 1950, pouco
se sabia sobre a síndrome. Em 1959 quando foi descoberta a causa genética da
doença, ela já era uma garotinha de quatro anos.
Sabemos que os Down são capazes de sentir, amar, aprender, se
divertir e trabalhar. Claudinha fez tudo isso. Só não precisou trabalhar.
Desde novinha mereceu a atenção e os cuidados que
necessitava. Foi levada aos melhores especialistas no Rio de Janeiro. Era a
mais velha dos irmãos. Todos sempre muito carinhosos e atenciosos com ela.
Francisquinha, sua dedicada mãezinha, contou com ajuda de uma tia, dona
Isolina. Espírito raro de altruísmo, Isó devotou-se integralmente a ensinar,
amar e cuidar dessa garotinha tão alegre e feliz.
Lembro-me de Claudinha sempre rindo e dançando. A palavra
Down não combina com ela. Era uma pessoa sempre “up”, para cima. Meu filho
Fernando casou-se com Bruna em Búzios. Devido à logística complicada, alguns
familiares de Brasília e Manaus não compareceram. Mas Claudinha foi ao
casamento. Dançou bastante. Alguém me perguntou:
– Quem é aquela senhorinha tão alegre e tão simpática?
Eu, pai do noivo, disse que era minha prima Claudinha. Filha
de um tio muito querido chamado Antônio Lindoso. Claudinha se foi na semana em
que seu pai já falecido aniversariava. Mais uma estrelinha nessa constelação
que carregamos chamada saudade.