Pedro Lucas Lindoso
O jovem advogado Rodrigo Pinheiro foi escalado para uma
reunião de trabalho em Salvador. Foi sua primeira viagem à Bahia. Teria sido
uma viagem maravilhosa se não fossem alguns percalços.
A Bahia fica no oriente do Brasil enquanto o Amazonas na
parte bem ocidental do país. Deve ser aí a origem da expressão “se oriente”. De
fato o Brasil importante fica no leste, no sudeste. O Amazonas só fica perto da
Bahia na ordem alfabética: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas e depois Bahia!
Dr. Rodrigo estava sendo esperado para a tal reunião marcada
de última hora para o dia 20 de dezembro. Logo na semana do Natal. Sair de
Manaus nessa época é um problema. Sabe-se que a saída única, pelo menos a mais
viável, é o aeroporto.
Passagem comprada e confirmada para as 14h50min do dia 19 de
dezembro, véspera da reunião. Hotel reservado e também confirmado. Tudo parecia
perfeito. Dr. Rodrigo estava bastante animado ante a perspectiva de conhecer a
boa terra. Finalmente saber o que é que a baiana tem. Afinal a baiana Kamélia,
que aparece por aqui no Carnaval, é só uma boneca, literalmente.
Infelizmente, Rodrigo enfrentou um severo engarrafamento na
conhecida Av. Torquato Tapajós, que dá acesso ao aeroporto de Manaus.
Atrasou-se. Perdeu a viagem. A opção de
voo dada ao jovem causídico foi: saída de Manaus a partir das 03h25min, já na
madrugada do dia 20. Temos aí um atraso de mais de 12 horas. Com escalas e
conexões em Belém, São Luís, Fortaleza e Recife. Rodrigo só chegou à Bahia no
final da manhã daquele dia. A reunião estava a pleno vapor. Foi aplaudido de
pé. O grupo de WhatsApp acompanhava o périplo de Rodrigo. Entre espanto e
admiração só restou aos colegas advogados o aplauso e a necessária empatia.
César Augusto, advogado baiano que mora em Manaus, em férias
em Salvador, convidou Rodrigo para comer um peixe. Amazonense é acostumado com
cadeirada, peixe frito, assado ou à escabeche. A moqueca era algo a ser
testado.
Tudo parecia novidade para Rodrigo. A farofa de farinha
fininha, a moqueca em si. Mas havia vatapá. Comida muito popular para o
amazonense. Rodrigo esbaldou-se. Quente na Bahia significa apimentado. E foi
assim que ele provou o vatapá baiano. Bem quente.
Na volta para Manaus precisou tomar um sal de frutas. O
famoso Eno. É porque o vatapá da Bahia é
diferente do nosso, concluiu. Leva amendoim, castanha e gengibre. É verdade. A
diferença entre o Amazonas e a Bahia é o vatapá. E viva a Bahia. Axé.