Amigos do Fingidor

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A diferença é o vatapá



Pedro Lucas Lindoso


O jovem advogado Rodrigo Pinheiro foi escalado para uma reunião de trabalho em Salvador. Foi sua primeira viagem à Bahia. Teria sido uma viagem maravilhosa se não fossem alguns percalços.
A Bahia fica no oriente do Brasil enquanto o Amazonas na parte bem ocidental do país. Deve ser aí a origem da expressão “se oriente”. De fato o Brasil importante fica no leste, no sudeste. O Amazonas só fica perto da Bahia na ordem alfabética: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas e depois Bahia!
Dr. Rodrigo estava sendo esperado para a tal reunião marcada de última hora para o dia 20 de dezembro. Logo na semana do Natal. Sair de Manaus nessa época é um problema. Sabe-se que a saída única, pelo menos a mais viável, é o aeroporto.
Passagem comprada e confirmada para as 14h50min do dia 19 de dezembro, véspera da reunião. Hotel reservado e também confirmado. Tudo parecia perfeito. Dr. Rodrigo estava bastante animado ante a perspectiva de conhecer a boa terra. Finalmente saber o que é que a baiana tem. Afinal a baiana Kamélia, que aparece por aqui no Carnaval, é só uma boneca, literalmente.
Infelizmente, Rodrigo enfrentou um severo engarrafamento na conhecida Av. Torquato Tapajós, que dá acesso ao aeroporto de Manaus. Atrasou-se. Perdeu a viagem. A opção de voo dada ao jovem causídico foi: saída de Manaus a partir das 03h25min, já na madrugada do dia 20. Temos aí um atraso de mais de 12 horas. Com escalas e conexões em Belém, São Luís, Fortaleza e Recife. Rodrigo só chegou à Bahia no final da manhã daquele dia. A reunião estava a pleno vapor. Foi aplaudido de pé. O grupo de WhatsApp acompanhava o périplo de Rodrigo. Entre espanto e admiração só restou aos colegas advogados o aplauso e a necessária empatia.
César Augusto, advogado baiano que mora em Manaus, em férias em Salvador, convidou Rodrigo para comer um peixe. Amazonense é acostumado com cadeirada, peixe frito, assado ou à escabeche. A moqueca era algo a ser testado.
Tudo parecia novidade para Rodrigo. A farofa de farinha fininha, a moqueca em si. Mas havia vatapá. Comida muito popular para o amazonense. Rodrigo esbaldou-se. Quente na Bahia significa apimentado. E foi assim que ele provou o vatapá baiano. Bem quente.
Na volta para Manaus precisou tomar um sal de frutas. O famoso Eno.  É porque o vatapá da Bahia é diferente do nosso, concluiu. Leva amendoim, castanha e gengibre. É verdade. A diferença entre o Amazonas e a Bahia é o vatapá. E viva a Bahia. Axé.