Amigos do Fingidor

sábado, 30 de abril de 2011

Fantasy Art – Galeria

Boris Vallejo.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 3/14

Zemaria Pinto

Análise da Obra

1) Estrutura formal

a) Ambiente


Fisicamente, Mar morto é todo ambientado no cais da cidade da Bahia. Mas que cidade é essa?, o leitor mais atento deve estar se perguntando. Vamos dar algumas pistas. Fundada em 1549 por Tomé de Sousa, foi sede do governo-geral do Brasil por mais de duzentos anos, perdendo essa condição em 1763, para o Rio de Janeiro. Geograficamente, localiza-se na entrada da baía de Todos os Santos. A cana-de-açúcar, o fumo e o cacau foram por muito tempo os principais sustentáculos de sua economia, tornando o seu porto um dos mais movimentados do país.

A arquitetura da cidade merece um parágrafo à parte. Da perspectiva da baía, vemos a Cidade Alta e a Cidade Baixa, separadas por uma escarpa de cerca de 60 metros de altura, que domina toda a frente da cidade. A mais famosa ligação entre uma e outra “cidade”, um autêntico símbolo urbano, é o Elevador Lacerda, construído em 1930. Mas para quem não tem pressa, o melhor mesmo é subir e descer as ladeiras da velha Bahia. O conjunto arquitetônico do Pelourinho, tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, é apenas uma das grandes surpresas que a cidade, repleta de museus, fortes, palácios e casarões coloniais, reserva a quem a visita.

Seus moradores a chamam de Bahia, cidade de São Salvador. Tomé de Sousa chamou-a inicialmente de São Salvador. Nós aprendemos nas aulas de geografia e história que a capital do estado da Bahia é Salvador. Qual a razão do imbróglio? A fala popular tem razões que a própria razão desconhece...

Mas além do porto da cidade da Bahia, centro da trama, temos passagens em Cachoeira, Santo Amaro e Maragogipe, portos próximos, além de citações de outros portos, como a conhecida ilha de Itaparica, situada em frente à capital.

Do ponto de vista cronológico, a ambientação se concentra praticamente ao mesmo tempo da feitura do livro: década de 30. Isto não fica explícito senão por algumas informações que são dadas ao leitor, como a referência às atividades do cangaceiro Lampião, que só viria a morrer em 1938. As greves, por exemplo, eram uma prática recém introduzida na vida brasileira. A questão trabalhista, na verdade, só viria a ter algum tratamento legal sistemático a partir da década de 40.

Mas é de se observar, entretanto, que Guma conhece Rosa Palmeirão aos vinte anos, informação dada pelo próprio no capítulo “Acalanto de Rosa Palmeirão”. Não somos informados sobre o tempo que eles passam juntos, mas o primeiro contato com Lívia acontece ainda nessa época. Na sequência, Guma e Lívia casam-se e cinco meses depois, essa informação está no capítulo “Roteiro do Mar Grande”, ela já está grávida de Frederico. No capítulo “A Noite É Para o Amor”, o narrador afirma que fazia vinte anos que a mãe de Guma estivera em busca do filho. Como esse encontro deu-se quando Guma tinha 11 anos, concluímos que ele morre aos 31 anos, que seria o tempo exato da ação. Enfim, no seu estilo “contador de histórias”, o narrador não se preocupa em datar com muita precisão o que conta.


b) Tempo


A narrativa flui de maneira linear a partir do capítulo “Terras do Sem Fim”. Entretanto, os capítulos que o antecedem, “Tempestade” e “Cancioneiro do Cais”, ligam-se diretamente com o capítulo “Rota do Mar Grande”, na segunda parte do livro. Por isso, podemos dizer, um tanto professoralmente, que apesar de linear, a narrativa começa “in media res”, ou seja, no meio dos acontecimentos. E que acontecimentos são esses? Se fosse rigorosamente linear, os dois capítulos iniciais integrariam a segunda parte da narrativa, “O paquete voador”, que conta o declínio de Guma, e não a primeira parte, “Iemanjá, dona dos mares e dos saveiros”, que conta sua ascensão.

Há que se observar ainda o “flashback” (também chamado de analepse), que significa voltar para trás na narrativa, representado pelo capítulo “Toufick, o Árabe”. Além de contar a trajetória do estrangeiro até a Bahia, o narrador tem o cuidado de enfatizar que ele chegara na cidade na mesma noite em que mestre Raimundo e seu filho Jacques morrem num temporal: exatamente o momento daqueles dois capítulos iniciais a que nos referimos.

Isto é simbólico porque se as mortes de Jacques e Raimundo representam o primeiro contato de Lívia com o inevitável destino dos marinheiros, a chegada de Toufick é o início do fim de Guma, porque, não nos esqueçamos, Guma foi atraído, ainda que inadvertidamente, para a morte naquela noite fatal por Toufick.

Ilustrações: edição portuguesa de 1965; edição polonesa de 1953.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

No mundo encantado de Bel Papoulinha

Medicinas de Galeno e Sorano

João Bosco Botelho


Após a terceira guerra púnica, os romanos consolidaram o vasto império no Mediterrâneo. O espírito legislador romano não deixou de organizar as atividades médicas. As obrigações dos médicos eram estipuladas pelo Estado que pagava pelos serviços profissionais e, sob o império de Adriano, no século II, a maior parte das cidades dispunha desse profissional.

Possivelmente em consequência dos atritos entre os médicos e a população, em torno do século IV, a profissão passou a ser fiscalizada com rigoroso exame de proficiência. O império romano subvencionava os estudantes de Medicina, mas em troca eram obrigados a prestar assistência aos pobres. Os médicos foram proibidos de praticar o aborto e negar o atendimento a qualquer doente, sob risco de castigo corporal e multa. Nessa mesma época, sob o império de Diocleciano, em 300, um édito do Imperador impunha como condição para entrar na escola de Medicina a apresentação de certificado de boa conduta fornecido pelo comando militar da cidade de origem.

Cícero identificara alguns médicos que exerceram diferentes especialidades: “Cascelio extirpa ou cura os doentes; tu Igino, queimas os cílios que irritam os olhos; Eros elimina as tristes cicatrizes dos servos; e Hermes goza de fama de ser o Podalírio das hérnias”.

Galeno e Sorano são considerados, estão entre todos os médicos romanos, como os que mais influenciaram a Medicina nos quinze séculos seguinte.

Cláudio Galeno nasceu em Pérgamo, na Ásia Menor, no ano de 130. As suas obras, a maioria perdida, abordavam a anatomia, a fisiologia, a patologia, a sintomatologia e a terapêutica.

Sorano de Éfeso dedicou-se de modo mais marcante à obstetrícia. Entre as suas produções, destaca-se o “Manual de Ginecologia”, onde esse médico genial descreve com absoluta precisão as posições anormais dos fetos no útero grávido.

Esses médicos extraordinários viveram no Império Romano, no período em que já estava funcionando o competente sistema público de atenção à saúde. A preocupação com a saúde pública era inquestionável. A Lei das Doze Tábuas estabelecia normas para o abastecimento de água potável, construção dos esgotos e o sepultamento e a queima dos cadáveres fora dos muros da cidade.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

Lançamento: Simetria do Caos, de Pollyanna Furtado

Gabriel saiu para almoçar 14/15

Marco Adolfs


...Existem três tipos de angústia, escreveu então Sombra para não perder o fio da meada: uma angústia ligada ao medo de morrer, uma angústia de sentir-se insignificante (como ele não gostava de sentir-se) e uma angústia culposa. Mas tudo isso poderia ser diluído, raciocinou e escreveu o poeta, se esse ser que sente alguma dessas situações, soubesse se aliar ao tempo e produzisse alguma coisa que o levasse a uma espécie de eternidade. O que se busca, no fundo no fundo, é a realização pessoal; a notoriedade; o existir como alguém amado. Gabriel então percebeu que a solidão, nessas circunstâncias, aparecia como uma ajuda à procura pelo preenchimento. Por isso, ele, Gabriel Sombra, o poeta, tinha que sair sempre. Na busca de preencher o vazio. E que, quando o vazio se apresentava mais presente e sensível, como aos domingos, a situação de preencher-se se tornava ainda mais premente. Um domingo a mais a administrar. “Mas não a continuar a escrever esse bendito ensaio”. Precisava descansar disso. Mas o que significava a palavra administrar, no caso de preencher-se um vazio existencial? Pensou Sombra enquanto se enxugava após o banho de todas as manhãs. Se fosse apenas gerenciar situações difíceis dos excessos ou faltas humanas, haveria então cortes e complementos no uso do tempo, mas não a solução final do problema da solidão. Pois solidão é preenchida com companhia, segundo entendimentos de todos que sofriam desse mal. Reconhecimento, por outro, de estarmos ali para sermos amados por ele. Preenchimento de carências afetivas, e não administração pura e simples do espaço e tempo, foi o que pensou com maior profundidade o poeta. Seus olhos enchendo-se de lágrimas. Mas, duro na queda, Sombra não se deixou demorar mais do que alguns segundos nesse sentimento de abandono. Precisava ocupar sua cabeça com este ensaio definitivo. Ser proativo perante a própria existência era uma forma de fugir das lágrimas. Uma técnica para fazer-se merecer e merecer-se neste mundo, pensava o poeta, enquanto a caneta corria como uma lebre pelo velho caderno de espiral. Seu legado, “ou seria testemunho?”, sobre a solidão, sendo escrito em velocidade de cruzeiro...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Infinito Verde: Zeca Nazaré em Lisboa

Sathya Sai Baba

Rogel Samuel



Sai Baba faleceu. O que é mais impressiona não é o fato dele materializar bolas de ouro em sua mão, pedras saídas do nada, mas sim a sua gigantesca obra social.

Ele construiu com seu próprio recurso, vindo de doações, ao custo de 70 milhões de dólares, um aqueduto, chegando a dezenas de milhares de aldeias, trazendo água limpa nas torneiras.

Ele patrocinou escolas, universidades e hospitais, e fez levar comida a milhares de pobres.

Ele pregou com sua palavra e seus gestos. Sua fala mansa, seus gestos largos, seu sorriso puro.

A um advogado raivoso que o procurou para processá-lo como chantagista, ele convidou a entrar em sua casa e o fez ver vários lugares e templos que apareciam em sua frente.

Sua doutrina unia o islamismo e o hinduísmo, o que significava paz.

Foi um dos grandes homens que a Índia já conheceu.

Capela 2

Jorge Tufic


Quando já pensamos que a poesia, ou o poeta, terá chegado ao final da palavra ou do discurso lírico ou épico, eis que nos deparamos com a réplica dessa conclusão catastrófica neste Capela 2, de Reinaldo Ramos, coletânea de poemas raros que transmitem a experiência das fábulas humanas e o áspero amargor que lhe restara das taças de vinho, dos papos que levou, dos amores que teve, das leituras que fez e das longas caminhadas peripatéticas em derredor da filosofia e das ciências exatas. Tudo isso numa forma poética sua, totalmente sua, a que não deixa de suavizar com as rimas e, ocasionalmente, com o verso medido, chegando a incluir um soneto dentre várias composições que nos prendem o fôlego, até que possamos entendê-las ou saber como terminam. Na verdade todas, todas mesmo do livro citado, produzem no leitor, por mais atualizado que seja, um impacto inicial seguido de uma lenta e meticulosa fruição de metáforas surpreendentes, estalos minimalistas, advertências e diagnósticos de nossa contraditória humanidade.

Desse conjunto estranhamente belo, destaco as seguintes pedras de toque: “A mente”, “Escapulário”, “Vaziez”, “Mudança”, “Ante pé”, “Liquidação”, “Menos um”, “Dia”, “Nuvem”, “Eidos”, “O burro”, “Mesmo assim”, “Navegação”, “Máscara”, “Encaminho”, “Um poema por dia”, “Totem”, e, afinal, “Big Brother Jesus Christ”.

Não é uma crítica, a menos que de prisma errado. Trata-se apenas da opinião de um leitor veterano que, há alguns dias, teve a honra e o prazer de encontrar o texto dessa obra poética no e-mail de jorge tufic, humilde assinante da Internet, onde, como se vê, os altos e baixos chegam a criar belezas imprevistas e o que há de melhor dentre tantos equívocos literários.

domingo, 24 de abril de 2011

A arte emblemática de HR Giger 2/2

Jorge Bandeira


Os críticos de arte descrevem a obra de Giger como se fosse uma espécie de telescópio ou microscópio, revelando segredos sombrios da alma humana. Giger, em sua obra, reveste de importância psicológica o trauma do nascimento junto com expressões fortes de seu estar vivo, existente. Passagens, reentrâncias, perfurações, violações, eis uma seleta gama de recursos visuais de impacto que fazem de Giger um mestre absoluto das mutilações e mutações. O fato seguro é que Giger retrabalha e dá vida a várias formas de material biológico, secreções vaginais e penianas, sangue, urina, carnes, peles, numa escatologia mecano-humana.

A incrível imaginação, aliada a uma técnica peculiar no trato de seu objeto artístico fazem de Giger um mestre da arte contemporânea, numa estética que podemos classificar (caso seja possível) como “beleza terrível”, e a cada dia seu círculo de admiradores só cresce, seja em contato com suas exposições em diversas galerias de arte por todos os continentes, no mundo do cinema (os fãs de Alien e do filme Species), no mundo da música (Emerson, Lake & Palmer, Dead Kennedys, Deborah Harry, a vocalista da banda Blondie e a banda de rock Korn buscaram ajuda a Giger para suas realizações visuais), nas artes plásticas onde pululam “cópias” de suas criações, e onde mais o mestre Giger transita em sua rigorosa busca pelo encantamento dos que enxergam a arte como a busca desse infinito possível.

Erotomechanics VII.

As cores metálicas, cinzentas e de um “triste azul” nas obras de Giger canalizam nossos sentimentos para o lúgubre, uma espécie de futuro melancólico, e mesmo as imagens do coito sexual carregam a estranha sensação de morte, o gozo da morte, a morte perpetuada. São felações transmitindo a oleosidade corrosiva aos corpos, onde o prazer é deliciosamente vinculado ao sadismo e à perversão. O sarcasmo de Giger talvez seja este, o de antever um mundo onde o gozar efêmero seja como a vida perene, algo passageiro, e que acaba levando à inércia, permeando as relações humanas, em todos os níveis e opções, de uma certa carga de nostalgia e de padecimento pelo que se vive no agora, causando a provável prisão do sentimento, onde a relação projeta um falso brilho, que logo se oxidará. Máquinas que se confundem com os seres humanos, restos de lodo que se juntam a essas atrações traiçoeiras, uma máquina ao mesmo tempo zelosa e pseudo-organizada.

O obra de Giger é uma ejaculação precoce, uma frigidez repercutindo a fragilidade dos corpos frente ao esmagador elemento totalizante das máquinas da sociedade industrial e cibernética.

Não há lirismo possível dentro da imagística sexual de Giger, os corpos são profanados, descarnados, numa união desigual entre a porosidade da pele metálica e metalizada, cor de chumbo, de elemento envelhecido. O que reluz é uma estranha sensação de junção biônica desses corpos, mas que não carrega um símbolo de união perfeita, antes de uma profanação ocasional, numa luta evolutiva entre o metal e a carne perecível. Giger é um artista que aponta na direção do além, de uma arte feita para “contaminar” as retinas através das mais recônditas formas e deformações provocativas que um corpo pode suportar, no aspecto lânguido da sexualidade e da relação sexual entre seres biomecantropomórficos.

Necronom.










Necronom V.













As transformações vertiginosas no campo da ciência e da tecnologia são absorvidas e ruminadas pela visão apocalíptica de Giger, num universo particular onde sobrevivem e se toleram seres espectrais e monstruosos, que são interpenetráveis em suas escolhas pela simbiose violenta, e que trilham caminhos siameses neste mar revolto e dantesco de suas ações sexuais. Elimina, o artista, a fronteira entre dor e prazer, entre gozar e sofrer, entre ter e receber. Uma linha tênue do pensamento se vislumbra, causando ao mesmo tempo um vínculo com o humano e o grotesco, fato que leva Giger a ser alcunhado de o “Hyeronymus Bosch do mundo industrial e tecnológico”.

Como um Leonardo da Vinci da pós-modernidade, Giger realiza seus rascunhos de forma obsessiva, buscando o melhor ângulo, a melhor cor, a perspectiva por excelência, a melhor textura, o melhor elemento de composição de sua magnífica obra, e a forma final é determinada por este rigor inconteste sobre suas criações. O artista domina o começo, o meio e o fim de seu trabalho, e não abre concessões para nada e ninguém. Não pode haver dois Giger em seu cataclismo de soluções imaginárias. Sua patafísica é da primazia da individualidade. Caberá ao espectador de sua obra determinar o aparato de utilidade estética, de onde suas sensações o levarão a lugares desconhecidos, pouco prováveis, ou para um recanto de seu conhecimento, mas do qual Giger seria esse porteiro da insanidade que lhe daria as chaves necessárias para aprofundar suas descobertas, a chave de seu inconsciente.



Alguns artistas almejam construir uma arte que se perpetue, que seja uma dignificação da capacidade do ser humano de avistar o horizonte. Giger talvez seja um curioso caso de artista que se perpetua, se eterniza pelo modo contrário, a partir do caos destruidor que não deixa pedra sobre pedra, no caso dele, metais retorcidos e corpos mutilados e mutantes, deformados. O horizonte, neste caso, está feito um anjo terrível encravado nas costas de cada ser humano, um anjo exterminador.



Para saber mais sobre HR Giger:


sábado, 23 de abril de 2011

Fantasy Art – Galeria

X-Men Annual Cover.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 2/14

Zemaria Pinto

O regionalismo modernista


A revolução representada pelo advento do Modernismo, em 1922, virou a literatura brasileira, literalmente, pelo avesso. Foi um rompimento com a velha estética e uma abertura para as novidades que vinham da Europa. E não eram poucas. Se enumerarmos os “ismos” que proliferaram nas duas primeiras décadas do século XX, entenderemos porque o nosso Modernismo mostrou-se tão fragmentado, com várias tendências tentando abrigar-se sob a mesma denominação: Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo são apenas algumas dessas tendências.

No Brasil, com o tempo, essas tendências foram se acomodando sob um nacionalismo um tanto esquizofrênico: de um lado, o grupo de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, que pregava a antropofagia, isto é, a deglutição da nossa cultura popular e da nossa história, mas sob uma nova perspectiva, criando, a partir da absorção das novidades europeias, uma nova linguagem. De outro lado, o grupo liderado por Plínio Salgado, que pregava um nacionalismo puro, sem influências estrangeiras. No final das contas, percebemos que, muito além das divergências estéticas, havia mesmo divergências ideológicas inconciliáveis.

Em 1928, enquanto Mário de Andrade, pelos antropófagos, publicava Macunaíma, e Cassiano Ricardo, pelo outro grupo, publicava Martin Cererê, José Américo de Almeida, que até então ainda não havia entrado na história, publicava o livro-marco de um novo movimento: A bagaceira. Dois anos depois, para consolidar de vez essa nova tendência, surge O quinze, de Rachel de Queiroz. Estava fundado o “regionalismo modernista”, e era preciso caracterizá-lo com o adjetivo, para que ele não fosse confundido com o regionalismo romântico ou com o regionalismo realista-naturalista, já ultrapassados.

O novo regionalismo não vê mais o homem como mero produto do meio em que vive, um animal acuado pela miséria física e espiritual, como no Naturalismo. Não. O novo regionalismo vê o homem como produto das condições históricas e sociais e, o mais importante, o vê como o agente modificador dessas condições. Os ecos da revolução bolchevique, que fundara a União Soviética e o sonho do socialismo real, em 1917, são evidentes e são sentidos também nos Estados Unidos, na Itália e em Portugal, só para ficarmos nos casos mais notáveis.

O novo regionalismo é o velho Naturalismo, devidamente reciclado. Neonaturalismo. José Lins do Rego, Érico Veríssimo e Jorge Amado, além dos já citados, são os autores das obras fundamentais desse novo período, onde se identificam algumas características agrupáveis:

a) romances da seca;

b) romances do ciclo da cana-de-açúcar;

c) romances do cangaço;

d) romances baianos;

e) romances do ciclo do cacau;

f) romances do Sul;

g) romances urbanos;

Você deve ter notado, leitor, a exclusão do nome de Graciliano Ramos. O notável autor de Vidas secas, o mais extraordinário dos romances sobre a seca, não merece ser classificado como mais um neonaturalista. Mas Jorge Amado é o principal responsável pelos romances baianos (Jubiabá, Capitães da areia, Mar morto) e pelo ciclo do cacau (Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus), mas não ignora a seca e o cangaço (Seara Vermelha) e, principalmente, os romances urbanos, as crônicas de costumes, onde concentra boa parte de sua obra.


Um Criador de Mundos


Costuma-se dividir, preguiçosamente, a obra de Jorge Amado em duas fases: antes e depois de Gabriela, cravo e canela. É uma divisão preguiçosa, sim, porque se diz que antes de Gabriela... Jorge Amado fora um autor panfletário, populista, partidário. Não que isso não seja verdade, mas é uma meia verdade.

País do Carnaval, Cacau e Suor poderiam ser classificados como romances de denúncia, embora a classificação preferida seja “romances proletários”, mostrando o engajamento do autor nas lutas do nascente proletariado urbano brasileiro. Mas são apenas rascunhos do grande escritor que ele viria a ser. Ora, leitor, faça as contas. Em 1934, ano da publicação de Suor, nosso herói tinha apenas 22 anos... Jubiabá, de 1935 (23 anos...), já mostra um salto de qualidade enorme em relação aos outros, mostrando um personagem, Baldo, que vai evoluindo aos poucos, crescendo com a trama, passando de marginal a agitador político. Quando escreve o objeto de nosso estudo, Mar morto, o autor está com 24 anos de idade. É talvez essa imaturidade que o faz resvalar muitas vezes por um sentimentalismo falsamente poético, falsamente lírico, expediente ainda utilizado à farta em Capitães da areia, o livro seguinte, publicado em 1937.

O que vem em seguida, se esquecermos o fraquíssimo ABC de Castro Alves e o absolutamente ruim O Cavaleiro da Esperança, de 1941/42, respectivamente, é um novo autor: Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de 1943/44, e Seara Vermelha, de 1946, nos mostram um escritor senhor de seu ofício, um criador de mundos, senhor das palavras e de uma linguagem própria, épica e dramática, de acordo com a necessidade, encantadora.

Uma nova recaída no “proletarismo” de juventude com Os subterrâneos da liberdade, em 1954, e o autor ressurge, quatro anos depois, com sua obra-prima: Gabriela, cravo e canela. Aqui, o realismo tipicamente observador dá lugar à invenção, à criação – não de estereótipos, mas de personagens que poderiam sair das páginas dos livros e andar anonimamente pelas ruas. E para mostrar que a nova fase agora era para valer, em 1961, Jorge Amado publica o livro de novelas Os Velhos Marinheiros, contendo duas narrativas: O Capitão-de-Longo-Curso e A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua. Esta é, por não poucos críticos, considerada a mais alta realização do autor, onde sua linguagem atinge o máximo da expressão.

Os romances que se seguiram, Os pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos, Tieta do Agreste, entre tantos, só vieram confirmar o que já se sabia do velho baiano: um mestre em criar tipos, em construir diálogos e em manter o interesse do leitor, tensionando a narrativa. Mais ainda. A partir de Gabriela..., Jorge Amado desenvolve um tipo de narrativa picaresca, onde, sem deixar de lado sua velha simpatia pelos marginais, especialmente os da Bahia, cultiva um humor refinado, distante anos-luz daquele panfletarismo obstinado, que marcara sua juventude e maculara boa parte de sua obra.

Ilustrações: edição brasileira de 1960; edição alemã de 1950. 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

CAEL promove Simpósio Internacional Margens & Periferias: literaturas do Sul da Europa à América do Sul

.

A Cátedra Amazonense de Estudos Literários, grupo de pesquisas certificado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas junto ao CNPq, promove o Simpósio Internacional Margens & Periferias: literaturas do Sul da Europa à América do Sul, que acontece em Manaus, de 7 a 9 de setembro de 2011.

O evento é uma parceria da UEA/ Universidade de Vigo (Espanha)/Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, Instituto Camões e Reitoria da Universidade do Estado do Amazonas.

O evento elege 5 eixos temáticos:

1) literaturas africanas de expressão portuguesa;

2) Literatura de expressão (homo)erótica;

3) a relação entre literatura, identidade e pertencimento em literaturas periféricas;

4) cânone e margem no espaço da lusofonia;

5) o bicentenário de morte de Bento Tenreiro Aranha (1769-1811) – primeiro poeta do Amazonas.

As inscrições poderão ser feitas de 1 de maio a 31 de julho, aceitando-se a participação como ouvinte ou com apresentação de painel (pôster), incluindo na taxa de inscrição um minicurso e o livro com o texto integral das palestras e conferências, que será lançado no primeiro dia do evento pela UEA Edições.

PARTICIPAÇÃO como ouvinte + minicurso + livro e material do evento – R$ 50,00

PARTICIPAÇÃO com pôster + minicurso + livro e material do evento – R$ 55.00


Convidados nacionais e internacionais confirmados:

Isabel Pires de Lima (Universidade do Porto)

Inocência Mata (Universidade de Lisboa)

Maria Teresa Bermúdez (Universidade de Vigo)

Carmen Lúcia Tindó Secco (UFRJ)

jorge Vicente Valentim (UFSCar)

Emerson da Cruz Inácio (USP)

Jaime Ginzburg (USP)

Luci Ruas (UFRJ)

Mario Lugarinho (USP)

Renata Moreira (UFMG)

Silvio Renato Jorge (UFF)


Maiores informações por email (cael.uea@gmail.com) ou pelo nosso site www.pos.uea.edu.br/catedra

Medicina de Hipócrates

João Bosco Botelho


A consolidação da cultura grega ligada a pólis,com a estrutura político-jurídica definida e o homem sendo visto como a medida de todas as coisas, constituem o esplendor da nova visão das relações do homem com ele mesmo e com o meio. Nessa Grécia caracterizada pela busca da racionalidade, entre outros gênios, se destacou Hipócrates, considerado o pai da Medicina, nascido no ano 460 a.C., na ilha de Cós. Sem qualquer dúvida, ele fundou as bases da atual ordem médica.

A produção literária atribuída a Hipócrates é enorme. Hoje, sabe-se que muitos dos livros são apócrifos, porém, parece não haver dúvidas da participação de Hipócrates, direta ou indiretamente, na elaboração das seguintes obras: “Epidemia”, “O Prognóstico” e “Tratado Ético”.

Na mesma época em que Demócrito lançava as bases do atomismo – tudo é formado por átomos que são partículas indivisíveis e invisíveis, eternas e imutáveis – e oferecendo pela primeira vez a explicação do odor e do sabor, Hipócrates e seus seguidores propuseram a teoria dos Quatro Humores para explicar a saúde e a doença. Esse conjunto teórico marcou o esboço inicial da separação entre a Medicina e a religião.

Entre as dezenas dos ensinamentos hipocráticos, destacam-se como ainda atuais e pertinentes: os conceitos de diagnóstico, prognóstico e tratamento; distinção entre sinal (material, por exemplo, a fratura) e sintoma (imaterial, por exemplo, a dor); os três aforismos – o médico e a sua arte, o doente e a sua natureza individual e a doença. Esses conceitos, apesar de terem sofrido aperfeiçoamento ao longo dos séculos, continuam válidos e utilizados, mesmo com toda a tecnologia da moderna Medicina.

A própria aparência do médico estava prevista nos ensinamentos hipocráticos. No livro “Tratado Ético”, lê-se: “A norma do médico deverá ter boa cor e bom aspecto... Pois será de grande utilidade para si colocar-se elegantemente e perfumado agradavelmente... E tudo isto agradará ao doente.”

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fantasy Art – Galeria

The Sea Witch.
Frank Frazetta.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Gabriel saiu para almoçar 13/15

Marco Adolfs


O que fazer com a solidão: esse parecia ser o drama de todos os seres humanos. E como o preenchimento desse processo se dava com os fatos da vida. Quase como uma recreação. “Este ensaio”, por exemplo. O preenchimento final do uso da sua vida. Era o preparar-se para o final da sua vida com uma explicação definitiva. Nesta sua atitude de compreender a sua solidão através de um ensaio; ou pseudoensaio; ele, Gabriel Sombra, agia segundo a concepção de Nietzsche, que disse que quem tem um “por que viver”, suporta qualquer “como viver”. A falta disso é que estabelecia um vazio existencial que se configurava no tédio e na angústia sobre os quais os solitários sabiam muito bem. A angústia maior de Sombra se dava aos domingos, quando não sabia “como fazer”; já que tudo parecia ter desaparecido no ar. Onde o passado de sua cidade e de seus dramas pessoais pareciam invadir o seu peito de forma acachapante. “Sentir-se ameaçado pelo vazio é alguma coisa de ridículo”, pensou então, com propriedade, o poeta. Uma condição totalmente subjetiva. De medo infundável. Uma angústia sentida que nada mais era do que uma antecipação da morte. “Foda-se a morte”, pensou com mais força ainda. “Deixarei como legado estas palavras finais”. Se o passado não existe e o futuro ainda veio, retomou a escrita, então o presente tem apenas que ser preenchido com o movimento...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A CAEL convida

Prezados colegas, alunos e demais membros da comunidade acadêmica,

A Cátedra Amazonense de Estudos Literários, grupo de pesquisa certificado pela pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UEA junto ao CNPq, inaugura seu terceiro ano de atividades constantes convidando a todos para a palestra a ser proferida pela Professora Doutora Auricléa Oliveira das Neves (doutora em Estudos Literários pela UFF e atual professora do Centro Universitário do Norte), na próxima quarta-feira, 20 de abril, às 10h, na Escola Normal Superior. A palestrante falar-nos-á sobre “A poética de Max Carphentier” e, como tradicionalmente já fazemos, haverá bastante tempo para o debate de idéias.

Inovando em relação aos encontros anteriores, desta vez a fala de nossa convidada será transmitida via sistema IPTV aos campi da Universidade do Estado do Amazonas em que o nosso grupo de pesquisas está enraizado: Tefé e Parintins. Será, portanto, um momento único na história de nosso grupo que passa, a partir de agora, a contar com o apoio da tecnologia para levar conhecimento a um número maior de estudantes e estudiosos dos Estudos Literários.

Aproveitaremos a ocasião para lançar o selo comemorativo dos 3 anos da Cátedra e apresentaremos o nosso programa de atividades (eventos) para 2011. Na ocasião, estará presente a Professora Doutora Cleuza Suzana Araújo, coordenadora de pesquisa da PROPESP, a fim de prestigiar o trabalho que a Cátedra tem feito (incluindo neste as bases que propiciaram a abertura do Mestrado em Letras e Artes da UEA), marcando a presença da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa de nossa Universidade.

A todos, o convite para que no dia 20/04, às 10h, tenhamos um compromisso marcado com a literatura e o saber.

OBS: entrada franca a membros internos e externos à UEA.


Prof. Otávio Rios
Regente da Cátedra Amazonense de Estudos Literários da UEA

Cambebas

Jorge Tufic


Desenha-se a maloca dos Cambebas (ou Omáguas) de modo a ser vista como se fosse da janelinha de uma aeronave que sobrevoasse as margens do Rio Amazonas (ou Solimões), isso numa recuada do tempo ao ano de 1707, quando a Amazônia ainda era vedada à curiosidade de estrangeiros, mas abriu-se exceção para Charles Marie de La Condamine, que neste exato período desceu o rio vindo de Quito, e para os naturalistas alemães Spix e Martius. Nesse ponto é Nunes Pereira que assume a janelinha do pássaro metálico, e esclarece: “Buscando-se, no mapa da Amazônia Brasileira, a área cultural atualmente habitada pelos Índios Tucuna, no quadrilátero Tabatinga-Esperança-Tocantins-Auati, logo nos ocorrerá um conceito remoto do geógrafo inglês G. E. Church, em sua obra sobre os aborígenes da América do Sul.”

A partir dessa abertura, deduz-se, ocorre, talvez, o previsível: “A escória derramada no Continente compunha-se de degradados, apedeutas, da ralé corrida das enxovias, de ambiciosos, de vagabundos sem eira nem beira, de gente de maus bofes” (MYM, “História da Cultura Amazonense”, Vol. I, pag. 33). Em seus primeiros passos nesses domínios da natureza selvagem, caberia, porém, a La Condamine o privilégio de ser alertado para um acontecimento no mínimo assustador e fantástico: um grupo de meninos cambebas se empenhava num jogo singular, ao chutarem, em todas as direções, um objeto cilíndrico que, inclusive, ao cair ao solo desafiava as leis da gravidade, voltando, aos pulos, a rolar sobre si mesmo ou ganhando altura, quando novamente chutado.

Compreende-se o espanto do cientista e sua comitiva ao terem descoberto um derivado da seringueira, o caucho, o qual, como não prestava para ser vendido, poderia ser usado em várias serventias, sobrando para o foot-ball, assim batizado pelos ingleses, cujo “direito” à invenção do futuro esporte das Copas do Mundo não passa daí. A Era dos Automóveis também saiu desse encontro histórico. Ou melhor, do começo de uma série de roubos e furtos internacionais das riquezas do nosso País, jamais avaliadas ou pensadas com a devida responsabilidade e conhecimento de causa. Da Amazônia, por exemplo, o que vai sobrar das catástrofes espontâneas fica mais para um deserto de areia, abandonado e estéril, do que mesmo para o que apregoam os caçadores de empréstimos milionários, em nome de projetos insanos ou apenas tardios. A Amazônia caminha em direção contrária ao sonho de Stefan Zweig. Ano após ano ela se extingue, procura aninhar-se na vastidão de um deserto de areia, mas onde estejam, codificadas, as novas sementes de árvores do látex.

Palavras (finais) de Betty J. Meggers sobre aqueles primórdios, como se pudesse, à distância de séculos, continuar seu passeio ao redor da inocente pelada dos meninos-omáguas: “A Amazônia formava um sistema ecológico perfeito, em que os diversos elementos da flora e da fauna se interpenetravam e se completavam, no equilíbrio necessário à sobrevivência de todos.”

domingo, 17 de abril de 2011

A arte emblemática de HR Giger 1/2

Jorge Bandeira

(Dedicado ao Mário Orestes)

Birth Machine Baby.
HR Giger, artista suíço que transita por várias artes com desenvoltura impressionante, é daqueles artistas que, pelo conjunto de sua obra, pode ser considerado um enigma de classificação: qual o seu gênero? Em que se enquadra o artista? Com certeza, o ecletismo é uma de suas características, onde o lúgubre e o gótico moderno, permeado por imagens misturadas de corpos e máquinas futuristas, são uma das tônicas mais presentes. A vertente na qual iremos nos deter por ora neste artigo é a do erotismo na arte de HR Giger e sua inegável contribuição para a arte moderna.

Giger, sem dúvida, capturou a essência da alma da modernidade, suas contradições e as mais profundas manifestações desta verdade “escondida” do ser humano. Arte e tentação. Giger forjou um neologismo para essas manifestações dentro de sua obra pictórica e escultural, representando os vários distúrbios da civilização industrial no Ocidente, a que ele chama de “Biomecanoide”, caracterizado pelo inevitável progresso tecnológico que escraviza a humanidade, e seus hibridismos e simbioses com o mundo das máquinas. Ao longo do século XX, e se consolidando plenamente nesta primeira década do século XXI, a tecnologia moderna, especialmente nas áreas da medicina, da informática e da robótica, engendrou inventos que servem como extensões dos músculos humanos, de seu sistema nervoso, de olhos e ouvidos, de reprodução de seus diversos órgãos, numa junção entre a ciência da Biologia e elementos da Mecânica, onde a nanotecnologia também tem um aspecto inovador.

Giger percebeu isso ainda no final dos anos de 1960, quando já trabalhava com o conceito de biomecanoide, que caracteriza toda a extensão de sua singular arte. Os chamados arquétipos dessa sua arte primordial podem ser encontrados nas narrativas fantásticas do Fausto, do Golem da tradição hebraica e na criatura criada pelo Dr. Frankenstein, histórias que se confundem com a realidade e que fazem parte do inconsciente coletivo. Podemos exemplificar com a criatura do Dr. Frankenstein, que já está no imaginário de todos, sua imagem é clássica e não se dilui em nossa mente, basta lembrar do nome Frankenstein (que é o nome de seu criador, a criatura não tem nome!) que imediatamente temos a elaboração mental do ser monstruoso. Giger, artista visionário e inovador, também conseguiu isso na contemporaneidade: todos lembram da terrível criatura do filme ALIENS, sua mais notória criação. Giger transportou para sua arte a violência e a destruição sem precedentes do século XX, de guerras televisionadas, revoluções sanguinárias, genocídio, brutalidade de agentes secretos do Estado, regimes totalitários, incluindo a nova versão do terrorismo na modernidade. A outra causa que Giger abraçou e verteu para sua produção artística foi a extraordinária mudança de mentalidade no tocante à sexualidade, mudança que revolveu muito do conservadorismo a partir de uma nova visualização da chamada liberdade sexual, onde a nova geração experimentou sem amarras ou sentimento de culpa o que antes era tido como promiscuidade, estando a liberação gay na linha de frente destas conquistas.

Landscape.
O lado sombrio da sexualidade já estava amalgamado com essa visão da cultura moderna: gravidez na adolescência, pornografia infantil e adulta, todas as formas bizarras de prostituição, sadomasoquismo coletivo, mercado de escravos e escravas sexuais etc. Nisso tudo, para jorrar ainda mais elementos sombrios, a rápida escalada mundial de propagação da AIDS, o que tornou inseparável a junção entre sexualidade e morte, Eros e Tânatos. Todos estes elementos estão presentes na arte biomecanoide de Giger. Seu estilo é inimitável. Como um grande mestre, ele mergulhou fundo em suas pesquisas e criações, projetando seus sonhos, numa concepção artística que alia a tecnologia mundial com as várias partes da anatomia humana. É extraordinário como Giger consegue misturar os aparatos sexuais com imagens de violência e com emblemas da morte. Esqueletos e ossos morfologicamente compostos, dentro de órgãos sexuais ou partes de máquinas futuristas, convivendo tranquilamente, resultando em imagens simbólicas da ruptura de um poder sexual, com violência, agonia e morte.

A agressão sexual é outra condicionante da obra de Giger, seus procedimentos estéticos com o erotismo, a “Gigerotic Art”. Giger pintou um mundo nebuloso, de um feio futuro, de um aterrorizante porvir, mundo destruído pelos excessos da tecnologia, uma tecnologia delirante de um inverno nuclear, um mundo contaminado pela alienação, sem homens ou animais, dominado por estranhas criaturas, um céu artificial, materiais plásticos e robóticos, aço e asfalto envelhecido. O gênio visionário de Giger chegou até as profundezas da psicologia humana. A morada dos pesadelos e da claustrofobia são o habitat da obra de Giger, e nisso presta reverência aos nomes de Goya, Bosch, Dalí e Ernst Fuchs. O fascínio provocado pelo estudo do inconsciente reflete-se na arte de Giger, e sua intuição e ousadia fazem com que o artista não seja reconhecido e aceito no circuito conservador da academia, uma oficialidade que para Giger não tem nenhuma importância.
Unknown Pleasures.

A arte de Giger também faz ecos estéticos e científicos com o Surrealismo e as teorias de Sigmundo Freud. O trabalho de Freud, a interpretação psicanalítica dos sonhos, causou um profundo efeito nas artes de modo geral. O conceito dos complexos, de Édipo, Electra, a fixação pela mãe, a castração do pai e a famosa vagina dentada, são concepções que adentraram no universo das artes do século XX, de forma irreversível. O simbolismo dos sonhos foi a chave para boa parte do movimento surrealista, em todas as suas variantes artísticas, da pintura ao cinema. Giger, porém, não se fez réfem de nenhuma corrente, criando um universo estético sem precedentes na arte moderna.



sábado, 16 de abril de 2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 1/14


Zemaria Pinto(*)

Informação biográfica


Jorge Amado de Faria nasceu na fazenda Auricídia, arraial de Ferradas, município de Itabuna, na Bahia, no dia 10 de agosto de 1912, de uma família de plantadores de cacau. A informação sobre a geografia do nascimento do autor tem sido motivo de controvérsia, uma vez que alguns autores anotam o município de Piranji, enquanto outros preferem Ilhéus. Estes chegam perto, uma vez que foi em Ilhéus que Jorge Amado passou sua infância, a partir dos dois anos de idade.

Aos onze anos, fixa-se em Salvador, estudando como interno em um colégio de jesuítas. Aos catorze anos, começa a trabalhar no jornal Diário da Bahia. Por essa época, começa a participar ativamente da vida intelectual e boêmia da capital. Aos quinze, publica pela primeira vez um texto literário: um poema de cunho modernista, na revista Luva. Fazia parte então do grupo “Academia dos Rebeldes”, que pretendia disseminar, com cinco anos de atraso, o Modernismo na Bahia.

Em 1930, muda-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1931, ingressa na Faculdade de Direito e publica seu primeiro romance, O país do carnaval. Com o diploma de bacharel e vários livros publicados, torna-se um ativista político de primeira linha. Num período conturbado da vida política nacional, a ditadura de Getúlio Vargas, é preso em várias ocasiões.

Uma curiosidade: em 1937, a caminho do exílio na Colômbia, com um passaporte fornecido pelo próprio cônsul daquele país no Rio de Janeiro, que era seu amigo, Jorge Amado foi preso... em Manaus. O motivo: seu livro Capitães da areia fora apreendido e queimado em praça pública, sob a alegação de ser “instrumento criado com a única finalidade de incitar das massas”. Em entrevistas concedidas depois de muito tempo, Jorge Amado relembra seu companheiro de cela, o maranhense Nunes Pereira, antropólogo, autor de um livro fundamental para a compreensão da Amazônia: Moronguêtá Um Decameron Indígena. Os dois passavam os dias embaixo de um chuveiro “porque fazia um calor infernal, enquanto os integralistas desfilavam na frente do quartel, ameaçando a gente de morte.” Os integralistas, leitor, eram os nazi-fascistas tupiniquins, ou melhor, barés.

Passado algum tempo, o comandante permitiu que ele se hospedasse num hotel, de onde só podia sair acompanhado de um guarda especial, a quem ele chamava carinhosamente de “meu carcereiro”, que, na verdade, deixava-o andar livremente pelas ruas de Manaus. Jorge Amado lembra ter se tornado padrinho do filho do “carcereiro”. Além de amigos, compadres.

Com o fim da ditadura de Vargas, em 1945, representando São Paulo, elege-se deputado federal, pelo Partido Comunista do Brasil. Três anos depois, o partido volta à clandestinidade e Jorge Amado tem o seu mandato cassado. Vai para a Europa, de onde só retorna em 1956. Em 1961, candidata-se a uma vaga da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito por unanimidade.

Recebe inúmeros prêmios internacionais, pelo conjunto de sua obra. É o autor brasileiro mais traduzido e publicado em todo o mundo. Todos os anos, seu nome é lembrado nas semanas que antecedem a divulgação do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Por enquanto, tem sido apenas candidato.

Alto dignatário do Candomblé, o velho comunista, escritor dos marginais que se transformam, na sua ficção, em heróis populares, aos 88 anos ainda busca o feitiço da literatura(**). Seu romance Bóris, o vermelho, anunciado há anos, parece ser o seu canto do cisne – por isso mesmo nunca terminado, por isso mesmo sempre adiado. Mas não há porque ter pressa...


Principais obras publicadas

Romances e novelas:

. O país do carnaval (1931)

. Cacau (1933)

. Suor (1934)

. Jubiabá (1935)

. Mar morto (1936)

. Capitães da areia (1937)

. Terras do sem fim (1943)

. São Jorge dos Ilhéus (1944)

. Seara vermelha (1946)

. Os subterrâneos da liberdade (1954)

          I - Os ásperos tempos

          II - Agonia da noite

          III - A luz no túnel

. Gabriela, cravo e canela (1958)

. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua (1961)

. O Capitão-de-Longo-Curso (1961)

. Os pastores da noite (1964)

. Dona Flor e seus dois maridos (1966)

. Tenda dos milagres (1969)

. Teresa Batista cansada de guerra (1972)

. Tieta do Agreste (1977)

. Farda fardão camisola de dormir (1979)

. Tocaia Grande (1984)

. O sumiço da santa (1988)

. Navegação de cabotagem (1992)

Outros gêneros:

. A estrada do mar (poesia, 1938)

. ABC de Castro Alves (biografia, 1941)

. O Cavaleiro da Esperança (biografia, 1942)

. Bahia de Todos os Santos (guia, 1945)

. O mundo da paz (viagem, 1951)

. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (infantil, 1976)

. O Menino Grapiúna (autobiografia, 1982)


(*) Inserido no livro Análise Literária das obras do Vestibular 2001, publicado pela EDUA, em 2000. Do livro constam seis ensaios, três de autoria de cada autor: Marcos Frederico Krüger e Zemaria Pinto.

(**) Jorge Amado morreu no dia 06 de agosto de 2001.

Ilustrações: capa da primeira edição, 1936; capa da edição tchecoslovaca de 1948. 

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Marmitão Seboso, o carbonário

João Sebastião


Quando não está em estado catatônico – resultante da mistura de crack com conhaque Dreher –, Marmitão Seboso faz discursos inflamados contra a burguesia. Ele entende que burguês é todo mundo que não é ele. Há exceções, claro: os mortos. Alguns mortos.

Quando o vice-presidente de Lula morreu, Seboso escreveu um tocante artigo, onde mistura os “dois grandes josés alencares” – para usar expressão sua: o escritor que, ainda segundo ele, fundou o Romantismo no Brasil em 1822; e o recém morto. Esquecia, o Seboso, que o primeiro Alencar, senador do Império, foi senhor de escravos, e o segundo, apesar de semianalfabeto, senador da República e capitão de indústria. Ambos, ricos e poderosos, exploradores do populacho. Mortos, viraram tudo gente boa, agentes da revolução proletária.

Aliás, se tem uma palavra que Seboso ama sobre todas as outras é esta: revolução. Ou melhor: REVOLUÇÃO! Com maiúscula e exclamação. Cada vez que pronuncia essa palavra, sempre no mais alto e bom som que lhe permitem as forças corrompidas, seus olhos baços adquirem uma estranha luz, combinada às escassas lágrimas que insistem em brotar-lhe, como fonte de suas derradeiras esperanças na revolução inevitável. Insofismável! Inenarrável! Inolvidável! Inexorável! Inoxidável!

Lançamento: De "cativo" a "liberto" – o processo de constituição sócio-histórica do seringueiro no Amazonas

VII Belô Poético – programação

Clique sobre a imagem, para ampliá-la.

Medicina na Mesopotâmia

João Bosco Botelho


Com a consolidação do sedentarismo, no Neolítico, entre 10.000 e 5.000 anos a.C., importantes modificações foram se processando nos grupos sociais que habitavam a Mesopotâmia e o Egito. Essas sociedades iriam absorver parte da experiência acumulada desde o aparecimento do Homo sapiens.

O corpo humano começou a ser manuseado de modo sistemático para empurrar as fronteiras da dor e da morte. É nesse contexto que já existia a distinção entre o clínico e o cirurgião.

A atividade médica deve ter sido intensa, nos vários extratos sociais, o suficiente para originar atritos frequentes. Sabe-se que o Rei Hammurabi (1728-1688 a.C.), na Mesopotâmia, dedicou vários parágrafos do seu famoso Código para disciplinar o exercício cirúrgico da Medicina:

218 – Se um médico fez em um awilum (homem livre em posse de todos os direitos de cidadão) uma incisão difícil com uma faca de bronze e isso causou a morte do awilum ou abriu o nakkaptum (arco acima da sobrancelha) de um awilum com uma faca de bronze e destruiu o olho do awilum: eles cortarão a sua mão;

219 – Se um médico fez uma incisão difícil com uma faca de bronze no escravo de muskenum (intermediário entre o awilum e o escravo) e causou a sua morte: ele deverá restituir um escravo como o escravo morto.

220 - Se ele abriu a nakkaptum de um escravo com uma faca de bronze e destruiu o seu olho: ele pagará a metade do seu preço.

Dessa forma, o Código de Hammurabi formou jurisprudência com dois pontos cruciais da ordem médica: as sanções que devem receber os cirurgiões pela imperícia e os honorários aos atos bem executados nos diversos grupos sociais. Por outro lado, é claro o fato de não existir no Código sanção contra a prática médica não intervencionista no corpo, isto é, as punições estavam voltadas exclusivamente aos cirurgiões.

De certo modo, a questão permanece nos dias atuais na medida em que os riscos inerentes à ação do cirurgião são muito mais densos se comparados à do clínico.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

Marmitão Seboso, o último estalinista

João Sebastião



Marmitão Seboso caminha pelas ruas do centro de Manaus. Coberto de andrajos, nem parece um ser humano. As faces descarnadas pelo crack já não guardam nenhum traço do jovem atleta, de cabelos louros e olhos agateados, que misturava a aguada cerveja Antarctica com desodorante Mistral – para dar um grau, ele rimava pobremente.

Seboso olha para o semáforo vermelho, parecendo não entender o que acontece. Aquela cor... Permanece hirto na calçada, como uma estátua equestre sem cavaleiro, atrapalhando o tráfego pedestre. Ele sonha com os tempos em que papá Stalin dominava metade do mundo e mandava matar quem quer que se metesse em seu caminho. Ah, papá, papá, papá...

Apesar da aparência mumiforme, Seboso não viveu a época de papá Stalin, por isso, nutre no seu íntimo o desejo de exterminar a todos os inimigos de papá – que se tornaram seus inimigos também. Seria uma lista muito longa, para ser reproduzida em um nanoconto. Para simplificar, digamos que Seboso odeia tudo o que está a mais de dois milímetros de seu seboso umbigo – umbigo que, ele acredita, um dia o ligou a papá Stalin.

Gabriel saiu para almoçar 12/15

Marco Adolfs



...Foi pensando então assim, neste seu ensaio sobre a solidão, que Gabriel Sombra voltou a lembrar de seus antigos mestres. Precisamente em dois filósofos de sua predileção: Husserl e Heidegger. Dois filósofos da predileção de seu pai, um francês perdido nos trópicos e que se metera com uma cabocla. Um pai que gostava de ler livros de filosofia deitado em uma rede na frente de uma casa flutuante na beirada do bairro de Educandos, antes de sair para o seu trabalho de professor da língua mater em um colégio do centro de Manaus. Mas, voltando a Husserl e Heidegger, em suas elucubrações sobre a noção de tempo, já que o tempo era a grande viga mestra de qualquer solitário que se prezasse. Husserl, e isso Sombra bem o sabia, desenvolveu um trabalho sobre a questão temporal, no qual o movimento de uma consciência era descrito em três momentos importantes: a impressão originária, a retenção e a protensão. O primeiro desses momentos seria o agora (escrevia Gabriel Sombra), o nosso presente dado. O segundo momento, que seria quando o presente era retido e se transformava em passado. E o terceiro momento, finalmente se referia ao horizonte de um futuro qualquer. O que originaria a chamada percepção da gestalt. Pelo o que já havia lido sobre gestalt, Sombra apreendera o fato de que segundo ela o cérebro seria dinâmico, interagindo com os elementos através da percepção e através de uma proximidade. Sendo assim o cérebro teria princípios operacionais com tendências auto-organizacionais de estímulos recebidos pelos sentidos. Aí Sombra pensou especialmente, antes de escrever; mas como a gestalt explicaria o sentimento de solidão? Pela sensação de vazio sentida no peito? O que ele sabia sobre essa filosofia que mastigava o tempo, era apenas que o tempo estava em sua consciência e na de todo o mundo e que ele começava no nada e terminaria no mesmo nada. E quanto a Husserl, sua filosofia justificava as lembranças. Só isso...

domingo, 10 de abril de 2011

A vida em ficção

Jorge Tufic


Outras estórias de submundo, contos de Arthur Engrácio, Casa Editora Madrugada, 1988. Dividido em duas partes, este livro contém uma novela (“A toga manchada”) e dezesseis contos. Polariza em maturidade com “Áspero Chão de Santa Rita”, romance publicado em 1987, ambos a combinarem ciclos em duas fronteiras de temática e linguagem, sacadas em mundos e realidades diferentes: este, regionalista, enquanto seus trabalhos mais recentes ou mais esporádicos, estão na linha urbana, como o título acima. Uma tarefa realmente produtiva e proveitosa a deste escritor amazonense, que dispõe de jeito e suor a medir-se com os dois universos de sua vigília a serviço da literatura. Falamos daquele universo que aparentemente ficou no passado e deste outro, urbano e presente nos sonhos e pesadelos que se vão transferindo para o elenco da narrativa. Tanto num como noutro, entretanto, se agitam as formas viventes das necessidades em conflito. Predomina a luta entre o bem e o mal, sobrando uma grande vantagem de “santificação” para os que ficam abaixo do limiar do consumo e da cultura. Maniqueísmo? É a hipótese que se levanta. Tenha-se em vista, porém, que tudo, nestes pagos, orienta o indivíduo no sentido das oposições. E quanto ao pobre, ao injustiçado e humilde senhor das várzeas e dos estirões, ele conta, ao menos, com a proteção dos evangelhos da selva e de Cristo. Quantas parábolas, como a do camelo e da agulha, já não lhe conferem o nimbo da santidade? Sejam quais forem as interpretações desse contexto, a verdade é que Arthur Engrácio não pára de escrever. Sua base é a ficção. Seu objetivo é o social da vida amazônica. Esse objetivo é amplo e abrangente. Ele começa telúrico; vai, num crescendo, e degenera no urbano. A selva, como deve ser considerada em seu estado de natureza, transfere-se também para a roupagem das leis, dos costumes...e de suas transgressões rotineiras. O autor deste livro, ainda aferrado ao tradicional, continua adiando, por outro lado, o corpo a corpo da escritura-experiência, no sentido atual e corrente da técnica e da linguagem. Mas tem um jeito particular e saboroso de contar estórias, colocando sua obra de ficção numa espécie de ângulo aberto (e sempre favorável) a uma visão de conjunto. Assim, por exemplo, os causos e cenários descritos em suas páginas de fundo regional, são organicamente inseparáveis da terra e do homem amazônico. As de fundo psicológico e social, plasmam, da mesma forma, os dramas e episódios de várias fases de uma cidade que não pode ser outra, pelas suigeneridades que apresenta, senão a da Barra de São José do Rio Negro. Explicamos: suigeneridades porque todos os absurdos que não podem acontecer em outros lugares, acontecem na Barra. Alguns exemplos: aqui, restaurante fecha para o almoço; se faz lançamento de livro, sem livro; dá-se posse em cargo público, sem a respectiva nomeação do empossado; uma Assembléia de marajás julga atos de corrupção; “desmonta-se” o único Suplemento Literário do Estado, antes de ser montado ou implantado; etc. etc. E por que não pode existir ou ter existido, aqui também, uma toga manchada, tal como narra o autor em sua novela, que abre o volume?

Os agachados, novela em segunda edição de Antísthenes Pinto, ele também, como Arthur Engrácio, ficcionista dividido entre a várzea e a terra firme, entre a cidade e as terras-do-sem-fim, revela, com o máximo sucesso de estilo, tema e linguagem, aspectos dificilmente comportáveis da vida boêmia e dos bares de Manaus, aos quais eram levados e discutidos problemas de todos os matizes. Boêmio cultural, experiente, faro ambientado nos ácidos da estufa de Baco, o autor deste livro aproveita as excentricidades e engarrafa a medula filosófica de seus frequentadores. Nada escapa à lente gravadora do artista, capaz, como foi, de tecer um enredo central debaixo de numerosos outros projetos de romance, pondo em relevo as “correntes cruzadas” do modo singular de como uma sociedade banca e tolera os excessos da vida.

Há, neste livro de Antísthenes Pinto, o personagem central Rivaldo, que teve seu começo no Dr. Félix, um médico psiquiatra, portanto enclave na rotina classe média dos aperitivos. No entanto, todos os tipos do bar (ou dos bares), merecem aqui um retrato ou uma característica de corpo inteiro, caráter e vísceras expostas, no vômito e no verbo. O casamento das duas realidades – o surreal, entre o fato e a foto do cotidiano; e o real, entre a vida e a arte – também se entrelaçam com toda a violência, tensão e unidade. Desta maneira, raros serão os leitores de Os agachados – agachados, todos, sem exceção, diante do sistema econômico e político do País – que podem desconhecer a “matéria” quase impossível do bar e de seus viventes contumazes, sendo esta novela um documento sociológico e literário dos meios que, direta ou indiretamente, têm influído nos processos de transformação da nossa sociedade.

sábado, 9 de abril de 2011

Fantasy Art – Galeria

Dorian Cleavenger.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um ano sem Anisio Mello

No dia 11/04, completará um ano do falecimento do multiartista Anisio Mello (1927-2010).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Academia Amazonense de Letras – uma proposta de paz

Zemaria Pinto


A renúncia do escritor Thiago de Mello à Academia Amazonense de Letras foi motivada pela ignorância da própria diretoria da entidade a respeito do Estatuto e, especialmente, do que é necessário para alterá-lo. Escrevo na condição de secretário da comissão que, em 2004, redigiu o Estatuto em vigor, sob a presidência do eminente professor Áderson Dutra, homologado em Assembleia Geral Extraordinária, no dia 24 de novembro daquele ano, quando era presidente da AAL o escritor Elson Farias.

Ocorre que o Artigo 37 do referido instrumento diz que “O presente Estatuto poderá ser alterado mediante proposta subscrita, no mínimo, por 10 (dez) membros efetivos”. Somente após a apresentação da proposta é que a diretoria nomeará uma comissão de 3 membros, da qual nenhum dos signatários poderá fazer parte, para analisar a legalidade (e a moralidade, eu acrescentaria) da proposta – parágrafo 1º. Se considerada pertinente, a proposta será levada à Assembleia Geral. A aprovação só se dará com a concordância de 2/3 dos presentes – parágrafo 2º. Não há outra forma de promover qualquer alteração, decorridos 5 anos da aprovação do Estatuto, conforme o parágrafo 3º do mesmo artigo.

Ora, se a proposta partiu do artista plástico Moacir Andrade – como dizem o desembargador José Braga e o oftalmologista Claudio Chaves – não deveria nem ser considerada. Moacir Andrade teria que conseguir mais nove assinaturas, numa proposta por escrito, para dar validade ao suposto pedido de alteração.

Vou repetir o que já escrevi aqui, embora ninguém tenha me perguntado nada e eu fizesse melhor ficando calado: Moacir Andrade, 84 anos, graves problemas de saúde, foi manipulado pelos verdadeiros interessados em perpetuar o poder em uma entidade que, entre outras finalidades menos nobres, existe apenas para massagear o ego de falsos escritores, falsos intelectuais.

A verdadeira finalidade da Academia a vivenciamos entre os anos de 2004 e 2007, quando, sob a presidência de Elson Farias, dezenas de estudantes e não estudantes a frequentavam semanalmente, acompanhando as palestras e participando ativamente dos debates que se lhes seguiam. Ainda hoje me perguntam quando voltarão aquelas palestras. Talvez, nunca, respondo – se prevalecer a tese defendida pela atual diretoria de reeleição sem limites. Melhor seria decretar logo a vitaliciedade do cargo, como nos “bons tempos” de Péricles Moraes...

Proposta de paz

Pelo que expus acima, o processo está totalmente irregular.

Apelo, então, à magistralidade do professor José Braga: reconheça a ilegalidade do processo. Desmanche a tal comissão, apressadamente nomeada. E conclua seu mandato com dignidade.

Ah, guarde a cartinha do poeta Thiago, como um documento histórico – um exemplo para as futuras gerações, de desprendimento e desinteresse pessoal. O poeta, do alto de seus 85 anos, tem direito a momentos de ira sagrada. Até porque, presidente, o Estatuto não prevê a figura da renúncia. Se Vossa Excelência levá-la adiante, vai expor mais ainda a nossa combalida Academia. Ao ridículo. Poupe-nos.

Ilustração: Myrria - jornal A Crítica.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

“Constrangido e ofendido”, Thiago de Mello renuncia à Academia Amazonense de Letras


Deu nA Crítica

O poeta Thiago de Mello entregou, ontem, à diretoria da Academia Amazonense de Letras (AAL), uma carta de renúncia solicitando o seu desligamento da entidade. O pedido foi motivado por uma recente proposta de mudança do estatuto da AAL, atualmente em estudo, visando permitir sucessivas reeleições de uma diretoria. As regras atuais só permitem uma reeleição após uma eleição, tendo cada mandato duração de dois anos.

Na carta de Thiago, à qual A Crítica teve acesso, o escritor se diz “constrangido e ofendido” com a proposta de mudança na AAL e pede seu desligamento “por dever moral e de fidelidade ao espírito fundador da Casa”. “Deixo a Academia constrangido pelas práticas e intenções recentes, ambiciosas de poder, de alguns de seus membros. Constrangido e ofendido, porque ferem a dignidade não apenas da Casa, mas o espírito democrático que deve presidir o convívio entre os seres humanos e suas relações sociais”, diz um trecho do documento.

Thiago de Mello, autor do célebre poema “Os estatutos do homem”, é membro da AAL há mais de meio século. Ainda em sua carta de renúncia, ele lembra que relutou em fazer parte da entidade, mas que acabou cedendo “a uma carta de Djalma Batista e a um ‘carão’ de meu pai”. À época, o escritor fora aclamado membro da Academia por proposta de Péricles Moraes, Waldemar Pedrosa e Álvaro Maia.

A proposição de alterar o estatuto da AAL para permitir sucessivas reeleições foi feita pelo artista plástico e escritor Moacir Andrade, durante uma reunião da diretoria da casa. Por votação, os acadêmicos presentes decidiram formar uma comissão para estudar a questão e formalizar ou não a proposta.

Até ontem, a comissão ainda não havia se reunido, mas ainda assim a proposição causou incômodo entre alguns acadêmicos contrários à ideia de uma diretoria, atual ou futura, poder permanecer à frente da casa por período indefinido.


Meu comentário: o nome do Moacir Andrade está sendo manipulado, para esconder os nomes dos verdadeiros interessados no golpe. Moacir é um gozador: se, de fato, fez tal proposta, estava ironizando; pedindo, com o seu riso mais sarcástico, que a atual diretoria renuncie... E conseguiu, porque despois do xeque do poeta Thiago, para não perder o jogo, resta ao rei, quer dizer, ao presidente um só movimento: a renúncia. Xeque-mate.

Fantasy Art – Galeria

Yannick Bouchard.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Brasil, Brasis: insulamento e produção literária no Amazonas

.

Coordenado pelo professor Gabriel Albuquerque e aprovado pelo Edital MCT/CNPq 14/2009 – Universal, o Projeto Brasil, Brasis: insulamento e produção literária no Amazonas tem como sua principal preocupação o estudo de problemas postos para aqueles que se propõem a fazer a investigação sobre a produção literária no Norte do Brasil e o necessário reconhecimento da distância que se impõe entre esse Norte, mais especificamente o estado do Amazonas, e os centros dispersores de cultura. Para ir além da clássica dualidade centro-periferia, faz-se necessário investigar a constituição histórica e cultural do Amazonas a fim de sairmos do mero campo das generalidades para uma pesquisa que busca alcançar o estético e o cultural. É nesse ponto que a idéia de insulamento aparece como um problema a ser pensado.

Entre as atividades desenvolvidas pelo projeto, ocorre desde 2010 um ciclo de palestras cuja continuidade se dará com a participação da médica e antropóloga Luiza Garnelo (FIOCRUZ) que falará sobre a Tradição das Narrativas Orais Baniwa. A palestra ocorrerá, na terça-feira, 05 de abril, no auditório 2 da Faculdade de Tecnologia, no campus da UFAM, às 14h.

Como resultado parcial da pesquisa, o mestrando Joaquim Onésimo Barbosa defenderá a dissertação Narrativas Orais: performance e memória, no Programa em Sociedade e Cultura na Amazônia, na sexta-feira, 08 de abril, às 09h:30, no mini-auditório do PPGSCA.

Quarta Literária traz a Eneida, de Virgílio, mais exposição de Anisio Mello

Academia Amazonense de Letras é ridicularizada

.
Com direito a chamada na primeira página do jornal A Crítica, o caderno Bem Viver dedica a capa de hoje à polêmica proposta de reeleição ad infinitum para a Academia Amazonense de Letras.

A matéria falha ao informar que o estatuto da AAL só pode mudar em 2012. Não é verdade. Já se passaram os 5 anos de vigência, sim.

Mas ao compor a tal comissão que irá “estudar” a proposta, os próprios acadêmicos – açodados pela ignomínia – ignoram que a comissão é um passo posterior.

Só tenho pena do Moacir Andrade, do alto dos seus gloriosos 84 anos, estar servindo de anteparo aos verdadeiros interessados no golpe.

Vade-retro! Tesconjuro!

Pollyanna Furtado lança Simetria do Caos no Rio de Janeiro

O lançamento em Manaus será dia 30/04, na Saraiva. Detalhes, em breve.

domingo, 3 de abril de 2011

A insônia dos grilos

Hildeberto Barbosa Filho


Quem está habituado a conviver com a poesia sabe muito bem dos seus poderes misteriosos, do seu alcance incomensurável, das suas surpreendentes e inquietantes revelações.

No dorso da sua linguagem, seja nominal ou discursiva, podem galopar os elementos da natureza ou residirem as especulações metafísicas, as angústias existenciais ou as faturas inominadas do lirismo mais cotidiano. Ora um pedaço da tarde, a variedade anímica do poeta, a liturgia da mesa de bar; ora a trajetória das formigas, o enigma da osga, o anonimato do suicídio, enfim, a física e a metafísica das coisas que tecem o sudário rotineiro da vida.

Isto, sim é, matéria de poesia. É matéria convocada na composição do ritmo, na falange das imagens e na sinfonia das ideias articuladas esteticamente na poesia de Jorge Tufic, acreano radicado no Ceará, selecionada em A insônia dos grilos, Fortaleza, LCR, 1998.

Atento a detalhes nem sempre considerados de vigor poético, Jorge Tufic como que ensaia, na figuração de sua linguagem de sintaxe coloquial mas de semântica densamente metafórica, um curioso tratado das minudências despercebidas. Minudências que se recuperam, não raro, sob o filtro poético fundido com a dimensão irônica do humor.

É assim, logo no poema “Registro no etéreo”: Perdi minha agenda/com meus poemas de bar./Em que mãos estarão se desfazendo/aquelas folhas de manuscritos ilegíveis? /E os endereços e telefones anotados? E as caricaturas de artistas/que viram meu nariz/dobrando a Via-Láctea?

No mesmo viés, podemos referir, entre outros, textos como “A herança”, “Promessa de fé” e “A poesia incomoda”.

Em todos eles, o poeta alicia ao rescaldo prosaico da temática um elemento de surpresa e de desvio em prol da sugestão significativa peculiar à genuína poesia. Veja-se, a título de exemplo, o poema “Os dedos da mão”: Agulhas com som de chuva/tecem, lá fora, os vitrais/da noite, talvez, que desce./Mas é o silêncio que tece/a urtiga dos vendavais.

Na segunda parte da coletânea ( “Odes ao que não passa”), Tufic exercita o verso e o poema mais alongado. Tateando motivos característicos da cotidianeidade lírica, põe em foco a condição hodierna do poeta, sobretudo em certas passagens de “Ode aos rejeitados do canto”, sem perder de vista, contudo, o eterno e o insondável da condição humana.

Não deixam de ecoar, aqui, as vozes lancinantes de poetas com Fernando Pessoa e José Régio, a que a sensibilidade e a cultura do autor nunca se mostram indiferente.

Não obstante, Jorge Tufic é Jorge Tufic, único talvez na prolação destemida de verso assim: (...) Foi à mesa de um bar/que aprendi a linguagem dos átomos, sua justaposição/nas moléculas do poema. (...) Há de haver sempre uma vaga,/um canto, uma brecha, uma fuga/onde posamos beber e conversar/em liberdade. E, por que não?/Onde possamos erguer nosso brinde fraterno/aos duzentos e trinta anos de paz/em três mil anos de guerra, de “Ode ao bar”.

É, pois, neste diapasão de inequívocos estranhamentos estéticos que se tramam todos os sortilégios da motivação em A insônia dos grilos.

À semelhança de outros momentos da vasta trajetória poética de Jorge Tufic, da qual destacaríamos títulos, como Varanda de pássaros (1956), Faturação do ócio (1966), Lâmina agreste (1978) e Retrato de mãe (1995), temos neste volume a presença vívida de um artífice do verso e domador inconteste da palavra, do ritmo e do metro associado, no entanto, ao visionário de imagens quase sempre inventivas e delirantes.

Se a poesia, assim como a festa e o amor, são formas concretas de comunicação, isto é, de comunhão, de acordo com os ensinamentos de Octavio Paz, em A dupla chama: amor e erotismo, e se o poeta, conforme leciona Baudelaire, em seus Pequenos poemas em prosa, “goza desse incomparável privilégio de poder, à sua vontade, ser ele mesmo e outros”, estamos certos de que a poesia de Jorge Tufic, enquanto autêntica poesia, partilha dos extraordinários segredos dessa rara comunhão, da mesma forma que Jorge Tufic é poeta que dá voz a si mesmo, às suas pulsões e fantasias, mas também, enquanto autêntico poeta, dá voz às carências ontológicas do outro. Seja a persona, a coisa; seja a natureza, seja o réptil...

Na sua lira, o mundo fala e os organismos da vida podem enunciar sua retórica e seu silêncio...

sábado, 2 de abril de 2011

Fantasy Art – Galeria

Victoria Frances.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O teatro mítico de Márcio Souza – 5/5

Zemaria Pinto


O teatro mítico de Márcio Souza é uma amostra da riqueza e diversidade dos mitos amazônicos. Uma das finalidades deste trabalho era mostrar as relações interculturais entre os mitos nativos e os mitos universais – não apenas gregos e latinos, mas também judaico-cristãos. Onde termina a originalidade e começa a contaminatio, não cabe aos Estudos Literários identificar – talvez à Antropologia. Importante também era demonstrar que os textos servem de veículo para a “representação espetacular” de rituais, costumes, origens do artesanato, da música, do patriarcado e até de técnicas agrícolas – como preconizado pela Etnocenologia, uma disciplina bem posterior à elaboração dos textos (GREINER; BIÃO, 1999).

Márcio Souza inscreve-se, hoje, entre os grandes dramaturgos deste país, ainda que sob o risco de ser tachado de “regionalista” por uma crítica cosmopolitamente provinciana. Sem entrar nos meandros teóricos, posso garantir que o regionalismo é uma questão de perspectiva: como diz Aldisio Filgueiras, parceiro constante de Márcio Souza, Manaus não é longe; longe é o Rio de Janeiro, São Paulo, Tóquio, Paris... O dramaturgo Márcio Souza é universal na medida em que suas peças refletem a intricada relação entre o homem contemporâneo, com suas práticas e hábitos sociais e mentais, e as perspectivas históricas mais diversificadas – do tempo mítico à temporalidade mais banal; da leitura dos jornais de hoje, por exemplo. A floresta amazônica de Márcio Souza é tão universal quanto as províncias de Balzac e de Gogol e os sertões de Graciliano Ramos e de Guimarães Rosa, no que esses autores transcendem a mera geografia para se inserir como repositórios das mais recônditas experiências humanas.


REFERÊNCIAS


ARISTÓTELES. Poética. In: A poética clássica. Tradução: Jaime Bruna, 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1988.

BACHELARD, Gaston. Fragmentos de uma poética do fogo. Trad. Norma Telles, São Paulo: Brasiliense, 1990.

CASCUDO, Luis da Camara. Dicionário do folclore brasileiro. 6. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: EDUSP, 1988.

_____________. Geografia dos mitos brasileiros. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: EDUSP, 1983.

_____________. Em memória de Stradelli. 2. ed. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1967.

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Tradução: Vera da Costa e Silva et al. 2. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. Tradução: Manuela Torres, Lisboa: Edições 70, 1986.

GREINER, Christine; BIÃO, Armindo (Org). Etnocenologia: textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1999.

KRÜGER, Marcos Frederico. Amazônia: mito e literatura. Manaus: Valer / Governo do Estado do Amazonas, 2003.

KUMU, Umúsin Panlõn; KENHÍRI, Tolamã. Antes o mundo não existia. Introdução e texto final: Berta Ribeiro. São Paulo: Cultura, 1980.

GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. Trad. Victor Jabouille, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.

SOUZA, Márcio. O palco verde. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984.

_____________. Teatro I. São Paulo: Marco Zero, 1997.