Amigos do Fingidor

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Academia Amazonense de Letras – uma proposta de paz

Zemaria Pinto


A renúncia do escritor Thiago de Mello à Academia Amazonense de Letras foi motivada pela ignorância da própria diretoria da entidade a respeito do Estatuto e, especialmente, do que é necessário para alterá-lo. Escrevo na condição de secretário da comissão que, em 2004, redigiu o Estatuto em vigor, sob a presidência do eminente professor Áderson Dutra, homologado em Assembleia Geral Extraordinária, no dia 24 de novembro daquele ano, quando era presidente da AAL o escritor Elson Farias.

Ocorre que o Artigo 37 do referido instrumento diz que “O presente Estatuto poderá ser alterado mediante proposta subscrita, no mínimo, por 10 (dez) membros efetivos”. Somente após a apresentação da proposta é que a diretoria nomeará uma comissão de 3 membros, da qual nenhum dos signatários poderá fazer parte, para analisar a legalidade (e a moralidade, eu acrescentaria) da proposta – parágrafo 1º. Se considerada pertinente, a proposta será levada à Assembleia Geral. A aprovação só se dará com a concordância de 2/3 dos presentes – parágrafo 2º. Não há outra forma de promover qualquer alteração, decorridos 5 anos da aprovação do Estatuto, conforme o parágrafo 3º do mesmo artigo.

Ora, se a proposta partiu do artista plástico Moacir Andrade – como dizem o desembargador José Braga e o oftalmologista Claudio Chaves – não deveria nem ser considerada. Moacir Andrade teria que conseguir mais nove assinaturas, numa proposta por escrito, para dar validade ao suposto pedido de alteração.

Vou repetir o que já escrevi aqui, embora ninguém tenha me perguntado nada e eu fizesse melhor ficando calado: Moacir Andrade, 84 anos, graves problemas de saúde, foi manipulado pelos verdadeiros interessados em perpetuar o poder em uma entidade que, entre outras finalidades menos nobres, existe apenas para massagear o ego de falsos escritores, falsos intelectuais.

A verdadeira finalidade da Academia a vivenciamos entre os anos de 2004 e 2007, quando, sob a presidência de Elson Farias, dezenas de estudantes e não estudantes a frequentavam semanalmente, acompanhando as palestras e participando ativamente dos debates que se lhes seguiam. Ainda hoje me perguntam quando voltarão aquelas palestras. Talvez, nunca, respondo – se prevalecer a tese defendida pela atual diretoria de reeleição sem limites. Melhor seria decretar logo a vitaliciedade do cargo, como nos “bons tempos” de Péricles Moraes...

Proposta de paz

Pelo que expus acima, o processo está totalmente irregular.

Apelo, então, à magistralidade do professor José Braga: reconheça a ilegalidade do processo. Desmanche a tal comissão, apressadamente nomeada. E conclua seu mandato com dignidade.

Ah, guarde a cartinha do poeta Thiago, como um documento histórico – um exemplo para as futuras gerações, de desprendimento e desinteresse pessoal. O poeta, do alto de seus 85 anos, tem direito a momentos de ira sagrada. Até porque, presidente, o Estatuto não prevê a figura da renúncia. Se Vossa Excelência levá-la adiante, vai expor mais ainda a nossa combalida Academia. Ao ridículo. Poupe-nos.

Ilustração: Myrria - jornal A Crítica.