Amigos do Fingidor

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mar morto, de Jorge Amado, uma análise 1/14


Zemaria Pinto(*)

Informação biográfica


Jorge Amado de Faria nasceu na fazenda Auricídia, arraial de Ferradas, município de Itabuna, na Bahia, no dia 10 de agosto de 1912, de uma família de plantadores de cacau. A informação sobre a geografia do nascimento do autor tem sido motivo de controvérsia, uma vez que alguns autores anotam o município de Piranji, enquanto outros preferem Ilhéus. Estes chegam perto, uma vez que foi em Ilhéus que Jorge Amado passou sua infância, a partir dos dois anos de idade.

Aos onze anos, fixa-se em Salvador, estudando como interno em um colégio de jesuítas. Aos catorze anos, começa a trabalhar no jornal Diário da Bahia. Por essa época, começa a participar ativamente da vida intelectual e boêmia da capital. Aos quinze, publica pela primeira vez um texto literário: um poema de cunho modernista, na revista Luva. Fazia parte então do grupo “Academia dos Rebeldes”, que pretendia disseminar, com cinco anos de atraso, o Modernismo na Bahia.

Em 1930, muda-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1931, ingressa na Faculdade de Direito e publica seu primeiro romance, O país do carnaval. Com o diploma de bacharel e vários livros publicados, torna-se um ativista político de primeira linha. Num período conturbado da vida política nacional, a ditadura de Getúlio Vargas, é preso em várias ocasiões.

Uma curiosidade: em 1937, a caminho do exílio na Colômbia, com um passaporte fornecido pelo próprio cônsul daquele país no Rio de Janeiro, que era seu amigo, Jorge Amado foi preso... em Manaus. O motivo: seu livro Capitães da areia fora apreendido e queimado em praça pública, sob a alegação de ser “instrumento criado com a única finalidade de incitar das massas”. Em entrevistas concedidas depois de muito tempo, Jorge Amado relembra seu companheiro de cela, o maranhense Nunes Pereira, antropólogo, autor de um livro fundamental para a compreensão da Amazônia: Moronguêtá Um Decameron Indígena. Os dois passavam os dias embaixo de um chuveiro “porque fazia um calor infernal, enquanto os integralistas desfilavam na frente do quartel, ameaçando a gente de morte.” Os integralistas, leitor, eram os nazi-fascistas tupiniquins, ou melhor, barés.

Passado algum tempo, o comandante permitiu que ele se hospedasse num hotel, de onde só podia sair acompanhado de um guarda especial, a quem ele chamava carinhosamente de “meu carcereiro”, que, na verdade, deixava-o andar livremente pelas ruas de Manaus. Jorge Amado lembra ter se tornado padrinho do filho do “carcereiro”. Além de amigos, compadres.

Com o fim da ditadura de Vargas, em 1945, representando São Paulo, elege-se deputado federal, pelo Partido Comunista do Brasil. Três anos depois, o partido volta à clandestinidade e Jorge Amado tem o seu mandato cassado. Vai para a Europa, de onde só retorna em 1956. Em 1961, candidata-se a uma vaga da Academia Brasileira de Letras, sendo eleito por unanimidade.

Recebe inúmeros prêmios internacionais, pelo conjunto de sua obra. É o autor brasileiro mais traduzido e publicado em todo o mundo. Todos os anos, seu nome é lembrado nas semanas que antecedem a divulgação do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Por enquanto, tem sido apenas candidato.

Alto dignatário do Candomblé, o velho comunista, escritor dos marginais que se transformam, na sua ficção, em heróis populares, aos 88 anos ainda busca o feitiço da literatura(**). Seu romance Bóris, o vermelho, anunciado há anos, parece ser o seu canto do cisne – por isso mesmo nunca terminado, por isso mesmo sempre adiado. Mas não há porque ter pressa...


Principais obras publicadas

Romances e novelas:

. O país do carnaval (1931)

. Cacau (1933)

. Suor (1934)

. Jubiabá (1935)

. Mar morto (1936)

. Capitães da areia (1937)

. Terras do sem fim (1943)

. São Jorge dos Ilhéus (1944)

. Seara vermelha (1946)

. Os subterrâneos da liberdade (1954)

          I - Os ásperos tempos

          II - Agonia da noite

          III - A luz no túnel

. Gabriela, cravo e canela (1958)

. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua (1961)

. O Capitão-de-Longo-Curso (1961)

. Os pastores da noite (1964)

. Dona Flor e seus dois maridos (1966)

. Tenda dos milagres (1969)

. Teresa Batista cansada de guerra (1972)

. Tieta do Agreste (1977)

. Farda fardão camisola de dormir (1979)

. Tocaia Grande (1984)

. O sumiço da santa (1988)

. Navegação de cabotagem (1992)

Outros gêneros:

. A estrada do mar (poesia, 1938)

. ABC de Castro Alves (biografia, 1941)

. O Cavaleiro da Esperança (biografia, 1942)

. Bahia de Todos os Santos (guia, 1945)

. O mundo da paz (viagem, 1951)

. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (infantil, 1976)

. O Menino Grapiúna (autobiografia, 1982)


(*) Inserido no livro Análise Literária das obras do Vestibular 2001, publicado pela EDUA, em 2000. Do livro constam seis ensaios, três de autoria de cada autor: Marcos Frederico Krüger e Zemaria Pinto.

(**) Jorge Amado morreu no dia 06 de agosto de 2001.

Ilustrações: capa da primeira edição, 1936; capa da edição tchecoslovaca de 1948.