Amigos do Fingidor

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lábios que beijei 30


Zemaria Pinto

Peta


Pouco menos de 20 anos, Peta parecia uma bailarina em permanente performance, denunciando sua indecisão entre permanecer menina ou se tornar mulher. Recém-casado, eu não me interessei, até porque havia uma relação de gerente-empregada, que eu não podia transgredir. Mas não resisti por muito tempo. Meiga, doce, carinhosa, Peta foi se impondo lentamente, até que me vi totalmente envolvido, apaixonado. Filha única, seus pais viajaram por motivos que não guardei, deixando-a sozinha. Nos encontrávamos em sua casa, e fazíamos amor em seu próprio quarto. Durante três semanas aquela foi a rotina, e não apenas nos dias úteis. A menina virava mulher e assimilava as lições do jovem fauno. Quando seus pais voltaram, ficaram sabendo de seu envolvimento comigo. Primeira providência: quais são suas intenções etc. Segunda providência: era preciso abafar o escândalo. Cláudia estava na primeira gravidez e eu já não estava mais assim tão apaixonado por Peta. Foi feita a manobra clássica: ela foi mandada para o Rio de Janeiro, junto com a mãe, sob a desculpa de estudar, enquanto o pai esperava a própria transferência. Nunca mais a encontrei. Melhor assim: ficou-me apenas sua alegria, a meiguice e a doçura de sua juventude. Terá sido feliz?

domingo, 28 de setembro de 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Luis Royo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Bodas de prata


Zemaria Pinto

Restaurante de hotel. Café da manhã.
Percebo que um casal octogenário nos observa, na mesa ao lado. Exagero nos cuidados: corto a castanha crua em pequenos pedaços e dou-lhe na boca. Ela retribui, cortando a melancia e fazendo o mesmo comigo.
Três meses de namoro, estamos mesmo apaixonados.
A velhinha não resiste:
– Há quanto tempo casados?
– Estamos comemorando bodas de prata. E vocês?
– Ah, nos conhecemos agora, na excursão... quanto - mg moro, estamos mesmo apaixonados.


Sábado na Academia, O pensamento amazônico


A nova série do Sábado na Academia acontecerá em outubro, sob o formato de debates entre especialistas das áreas enfocadas.


A boa morte



           João Bosco Botelho        

           Em alguns textos do período de Carlos Magno, no século 9, alguns cavaleiros, os mais audazes e valentes frente ao inimigo, relataram premonições da própria morte por meio de sinais de natureza sobrenaturais. Aqueles que morriam no curso de epidemias, inesperadamente, como na peste, eram considerados vítimas de morte fora do normal, da qual não era bom falar...
No medievo europeu, esses cavaleiros supuseram premonições sobre a própria morte. Os textos sobre o tema repetiam: “ele sabia que sua morte estava próxima...”. O aviso era materializado por meio de acontecimentos não usuais ou, muitas vezes, pelo simples convencimento da morte próxima. Quando a pessoa se convencia, aguardava a morte deitado, junto à família. Essa atitude expectante da morte é reconhecida em muitas esculturas sepulcrais, desde o século 12.
Nos dois séculos seguintes, outro rito fúnebre foi introduzido: o moribundo se lamentava das tristezas da vida, pedia perdão às pessoas próximas, recomendava os amigos a Deus, sempre próximo ao sacerdote encarregado da extrema-unção. Sob essa perspectiva, a morte constituía espécie de cerimônia pública, com livre entrada no quarto do moribundo, reunindo parentes, amigos, vizinhos, crianças de todas as idades. Não havia medo nem vergonha da morte inevitável. O número de pessoas que desejavam ver o parente ou amigo próximo da morte era tão grande, que os médicos, no final do século 16, se queixavam do inconveniente junto ao leito do moribundo.
Esses ritos da morte – boa morte – eram aceitos e cumpridos como parte da vida, sem emoção excessiva. Assim, incontáveis pessoas, na Europa central, no medievo, ricos e pobres, morreram junto aos parentes e amigos. Naquela época, representava a morte familiar, a boa morte.
Com o passar do tempo, os ritos modificaram para absorver o sentido dramático, de dor, inconformidade, repulsa à morte. O ritual da boa morte, inevitável, sereno, ao lado da família, amigos e vizinhos, foi sendo substituído por outro, dramático, doloroso, causando sofrimento nos que assistiam.

Algumas construções metafóricas tratando dessa fase interpretando a morte como satânica são as “danças macabras”, no leste da França a na Alemanha. O horror da morte, que desfigura a pessoa amada, reconhecido na feiura, na agressão à vida que poderia ter continuado se não fosse ancorada na maldade diabólica. O cheiro pútrido do corpo decomposto pela morte toma o sentido macabro. Esse sentido repugnante, na segunda metade do século 20, deslocou a morte para o hospital. Tornou-se proibida a morte ocorrer na casa, junto à família. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


David Rapoza.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Talento!


Quando perguntaram a Noël Coward (1899-1973) a que ele atribuía seu sucesso como dramaturgo, contista, ator, compositor, cantor, diretor de teatro e de cinema:


– Talento!
                    

domingo, 21 de setembro de 2014

Manaus, amor e memória CLXXVIII


Bonde com o prédio da Alfândega ao fundo. Anos 30? E o transporte público já era desse jeito...


sábado, 20 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Frank Frazetta.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Liturgia



Zemaria Pinto



Todos os dias era o mesmo ritual: ele chegava pouco antes das 8, guardava a mochila no armário, pegava três envelopes de chá, abria-os com cuidado, colocava-os no copo, deitava água quente sobre eles e sentava-se, esperando a infusão, enquanto ligava o desktop para dar início ao trabalho ordinário. Naquele dia, não: quando ele chegou já todos trabalhavam; pousou a mochila sobre a mesa, abriu-a, puxou de dentro um revólver e disparou na nuca da colega sentada à sua frente. Nos poucos segundos que se seguiram de pânico generalizado, ele sentou-se e disparou contra a têmpora direita, deixando-se cair sobre a mesa, como se apenas cochilasse – o que, aliás, era seu costume após o almoço.

Eutanásia, distanásia e ortotanásia: buscas da boa morte



           João Bosco Botelho

A construção teórica da eutanásia está inserida no pressuposto de a morte ocorrer com menos sofrimento e constitui conjunto de atitudes com o objetivo de abreviar a vida de um doente reconhecidamente incurável, com incomensurável sofrimento físico e mental, impossíveis de serem controláveis por meio de remédios. 
O Código Penal brasileiro, sob nenhuma hipótese, autoriza a eutanásia. Contudo, em certas circunstâncias, muito especiais, abreviar a vida a pedido do próprio doente portador de doença incurável, em situação terminal, com incalculável sofrimento, poderia ser entendido homicídio privilegiado. Desse modo, em qualquer circunstância a eutanásia se configura conduta ilícita.
O mundo televisivo acompanhou em março de 2005 o drama familiar da doente norte-americana, em coma vegetativo durante quinze anos, após a autorização judicial, em última instância, para interromper a alimentação e hidratação. A paciente morreu treze dias após serem interrompidos os cuidados médicos.
Distanásia representa o conjunto de ações médicas com o objetivo de empurrar os limites da morte, em determinas condições, mantendo o sofrimento.
Ortotanásia pode ser entendida como a chegada da morte no processo natural. Nessa circunstância, a assistência médica não contribui para prolongar artificial e desnecessariamente o processo de morte. É importante assinalar que somente o médico poderá conduzir o processo da ortotanásia, portanto não sendo obrigado legal e eticamente a prolongar a vida contra a expressa vontade do paciente.
O drama da doente americana despertou atenção em vários países no mundo, principalmente aos parentes dos doentes com morte encefálica, sem possibilidade de recuperação, que têm a vida e o sofrimento prolongados pelas ações da Medicina.
Essa discussão pública recebeu a atenção dos teóricos do Direito, da Ética e da Moral, que se manifestaram acaloradamente em torno de concepções da dignidade e autonomia da pessoa humana para morrer.
Poder das instituições hospitalares e do médico para manter a vida artificialmente dos doentes sem qualquer possibilidade de recuperação;
Direito de pedir a própria morte quando o doente lúcido, com muito sofrimento, expressa com lucidez que não quer mais sentir dor fora do controle;
Na impossibilidade de o doente decidir, nas mesmas condições acima citadas, se alguém da família poderia decidir a hora da morte.
De modo geral, as discussões de ordem jurídica, ética e moral, alcançaram diferentes espaços das relações sacras e laicas. Sem unanimidade frente às várias correntes, a discussão acabou restrita aos abusos da tecnologia médico-hospitalar que transformou o doente terminal em mercadoria de valor, seja científico ou monetário.
           Prolongar a vida a qualquer preço, sustentando o sofrimento do doente, estaria em choque com a dignificação da própria vida.
           Esse confronto entre quem possui recursos para receber o melhor tratamento e os que não conseguem o acesso ao serviço público de assistência médica cunhou a categoria denominada mistanásia ou eutanásia social. Em outras palavras, os pobres morrem mais precocemente e com mais sofrimento se comparados aos ricos!

É importante ressaltar que a tendência, inclusive na Igreja, por meio da Bula Evangelium Vitae, de 1995, do papa João Paulo II, é de valorizar a ortotanásia, que além de se opor aos excessos terapêuticos, renuncia aos meios excepcionais e desproporcionais para prolongar a vida. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Melanie Delon.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Sábado na Academia, Zemaria Pinto e Tavares Bastos




Tavares Bastos (1839-1875) – foi o grande teórico da monarquia, influenciando com suas ideias a revolução republicana. Tendo vivido apenas 36 anos, deixou uma obra densa, de grande embasamento técnico e filosófico. Liberal clássico, Tavares Bastos foi um dos primeiros a apontar os Estados Unidos, então uma nação em desenvolvimento, como o grande parceiro comercial do Brasil. Era um entusiasta da Amazônia, tendo viajado entre Belém e Manaus, por três meses, em 1865. O fruto dessa viagem foi o livro O vale do Amazonas, onde, com largueza de pensamento, ele dá as diretrizes econômicas e políticas para uma Amazônia que haveria de ser o grande motor do desenvolvimento do Brasil. Tavares Bastos é o patrono da cadeira 27 da Academia Amazonense de Letras e da cadeira 35 da Academia Brasileira de Letras.  


Zemaria Pinto (1957) – autor de 16 livros publicados e uma dezena de inéditos – entre poesia, teatro, ficção infanto-juvenil e ensaios sobre literatura –, é mestre em Estudos Literários e membro, há 10 anos, da Academia Amazonense de Letras, onde ocupa a cadeira 27, de Tavares Bastos. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Lábios que beijei 29


Zemaria Pinto

Elisa


Conheci Elisa num barracão de candomblé, uma oca de terra batida, para onde fui levado pela curiosidade adolescente que cerca o proibido. A frenética música dos tambores não deixava ninguém indiferente. Pelas tantas, uma cabocla roxa, de negros cabelos lisos, regulando uns 15 anos, rodou até o centro do salão e começou a se contorcer no ritmo dos tam-tans. Foi a dança mais sensual que eu veria em toda a minha vida. De início, ela levantava a saia vermelha, mostrando as coxas fortes, os músculos retesados. Na sequência, desabotoou a blusa azul e quando alguém tentou impedi-la de prosseguir, ela arrancou o corpete, fazendo saltar os pequeninos seios, os bicos túmidos, e atirou-o longe – aos meus pés. A ialorixá sinalizou para que a deixassem. Apanhei o corpete e logo senti o forte cheiro de patchuli. Elisa, banhada em suor, continuou sua dança ensandecida, tirando uma a uma as peças – saia, anágua, blusa – até ficar só de calcinha. A dança ainda se estendeu por alguns minutos, até que ela desabou no chão, inerte. Cobriram-na com uma toalha e levaram-na para dentro de casa. Quando ela reapareceu, o semblante refletindo uma estranha calma, devolvi-lhe o corpete. Elisa me abraçou, tocou o ombro contra o meu, em xis, em ambos os lados, me fazendo sentir a fortaleza de seus seios duros, e enfiou a língua na minha boca, com sofreguidão. Sempre nos encontrávamos depois do ritual, no quarto em que ela morava com uma tia entrevada, numa estância próxima. Um dia, Elisa sumiu do barracão – voltou para Faro, alguém comentou com displicência. No ar, aquele cheiro inconfundível, que ainda hoje me faz sonhar seu corpo rijo, úmido, e sua sensual dança sagrada.

domingo, 14 de setembro de 2014

sábado, 13 de setembro de 2014

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Lauren K. Cannon.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Dupla penitência



Zemaria Pinto


Lesta e contrita, a velha senhora caminha, com o terço na mão.


Repulsa à morte: o grito pela vida



         João Bosco Botelho

A necessidade incontrolável de dar sentido à vida, diferente da dos outros animais, e de minimizar a morte, expressa com transparência na História, contribuiu para materializar, como opostos, a saúde e a doença. A primeira, sinônimo de vida, ficou ligada ao bem, ao bom, ao belo; a segunda, ao mal, porque sinaliza e antecipa a morte, sempre temida.
         A pulsão inata para desvendar as formas visíveis, em especial as do corpo, dotado com propriedades sensíveis de comunicar-se e locomover-se, para fugir da dor e do desconforto, pode ser considerada como a primeira verdade material. É verdadeira em si mesma, porque dá forma ao viver, num movimento caleidoscópico, composto pela carnalidade da pele quente, realidade dos sentidos, da respiração e do ritmo cardíaco. Atinge e entrelaça o ser no mundo.  
         Quando a morte advém, como antítese da vida, descolora a pele, resfriando-a e tornando-a insensível ao pior dos tormentos: a dor. O movimento respiratório e o coração param. O corpo desfigurado pelo rigor cadavérico enche de sentido a vida dos que choram. É quando o vivo se apercebe da própria existência e rejeita a morte refletida no corpo endurecido do outro, sem movimentos, na pele indolor e fria.
As pessoas para reafirmarem as vidas humanas como fatos permanentes utilizam a ficção, vivificam o corpo inanimado e prolongam a crença do renascimento, com prêmio ou castigado, no após a morte, nos moldes da vida vivida.
É a dialética fundamental entre a vida e a morte, atando com ligadura indissolúvel o ser-tempo (homem vivo) ao ser-não-tempo (homem morto). Ambos são partes da mesma realidade, por isso, essenciais. Contudo, somente um percebe o outro. Por essa razão, é capaz de transfigurar, quando aprouver, o objeto perceptível (ser-não-tempo), pensá-lo vivo, renascido, em outro lugar.
A técnica humana, transformadora da natureza circundante, é o pilar sustentador que aprimora e prolonga os sentidos, marcando a separação do ser-tempo (homem vivo) do objeto (homem morto) dos outros animais. Os saberes historicamente acumulados buscam na repulsa à morte as razões para viver com conforto, sem frio, sem fome.
Os atuais saberes ocidentais, em parte marcados pela influência cultural greco-romana, uniram esse patrimônio, perdido nos confins enigmáticos do tempo indivisível. A pólis, organizada à semelhança do corpo saudável, passou a ser compreendida como um organismo vivo. Ao contrário, o caos social era sinônimo de doença. O administrador competente era aquele que curava a sociedade deficitária.
         O poder de curar pessoas e sociedades e adivinhar os infortúnios, evitando a enfermidade, para melhor organizar um determinado grupo social, oferecendo a saúde e adiando a morte, tem sido historicamente utilizado pelo poder político, como mecanismo de coesão e controle sociais.
         O sofrimento causado pela morte da pessoa amada determina transtornos complexos incomensuráveis, em diferentes níveis do corpo, trazendo sinais físicos de dores, variando em cada pessoa. O pavor à morte, entendida como sensação de perigo iminente, interferindo na vida dos que veem a morte do outro, provoca sofrimento. É lógico pressupor que as atitudes específicas – como pensar na vida após a morte – minorando o sofrimento frente à morte temida, tenham sido valorizadas e continuamente aperfeiçoadas pelas linguagens-culturas pelo fato de ordenar a volta do bem-estar.
        


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Larry Elmore.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A universidade por Millôr


Millôr por J. Bosco.

A universidade é o local onde a ignorância é levada a suas últimas consequências.

(Millôr Fernandes)

domingo, 7 de setembro de 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Charlie Terrell.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dabacuri – memória 5/5



Zemaria Pinto 

crianças em conflito
no salão em festa
– peidos-de-velha

chuva de prata:
estrelas ao rés do chão
– alumbramento!

artes do delírio:
os espectros dos bravos
passeiam silentes

cavalos noturnos
galopam noites de febre
– delírios senis

Thiago de Mello é candidato à Academia Brasileira de Letras


Thiago de Mello, 88 anos, é candidato à cadeira 32, ocupada até há pouco por Ariano Suassuna.

O poeta amazonense Thiago de Mello é candidato à cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono o poeta e dramaturgo Araújo Porto-Alegre e cujo último ocupante foi Ariano Suassuna.

Thiago jamais pleiteou uma vaga na ABL, embora tenha sido instado por vários amigos que por lá passaram, desde o poeta Manuel Bandeira até o próprio Suassuna. Mas não resistiu ao apelo do amigo de mais de 60 anos Carlos Heitor Cony:

Ó Thiago, eu não quero morrer sem ver você na Academia. Depois eu morro pra você sofrer um pouco.

Cony, que tem a mesma idade de Thiago, continua trabalhando e produzindo regularmente.




O principal adversário de Thiago de Mello é o colunista global Zuenir Ventura, 83 anos, autor de 1968: o ano que não terminou, além de cinco outros títulos. Já não bastava o Merval Pereira...

Aliás, no quesito bibliografia, o caboco suburucu dá um banho de cuia. Confiram.


Bibliografia de Thiago de Mello

POESIA

Silêncio e palavra. Rio de Janeiro: Hipocampo, 1951.
Narciso cego. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.
A lenda da rosa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955.
O andarilho e a manhã. José Olympio, 1960.
Tenebrosa acqua. José Olympio, 1960.
Toadas de cambaio. José Olympio, 1960.
Vento geral (1951-1960). Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. (Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras)
Faz escuro mas eu canto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
A canção do amor armado, 5 ed.. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
Poesia comprometida com a minha e tua vida, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. 5 ed. Civilização Brasileira, 1983.
Os estatutos do homem, edição ilustrada por Aldemir Martins. Martins Fontes, São Paulo, 1977. 3 ed. 1980.
Horóscopo para os que estão vivos. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
Mormaço na floresta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2 ed. 1983.
Vento geral II- Poesia 1951/1981. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
Num campo de margaridas. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1986.
De uma vez por todas. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1996. (Prêmio Jabuti de melhor Poesia)
Campo de milagres. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1998. (Prêmio Jabuti de melhor Poesia)
Faz escuro, mas eu canto. Rio de Janeiro: Record e São Paulo: Altaya, 1999. (coleção Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa)
Poemas preferidos pelo autor e seus leitores. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
A floresta vê o homem. Men viem from the forest – Edição bilíngue. Organizado e Tradução de   Sérgio Bath. Manaus: Valer, 2006.
Melhores Poemas: Marcos Frederico Krüger Aleixo (Seleção e prefácio) São Paulo: Global, 2009.
Os Estatutos do Homem. Edição trilíngue .  Versão castelhana de Pablo Neruda. Versão inglesa Robert Marques e Trudy Pax. Vergara y Riba, São Paulo. 2012.
Como sou. São Paulo: Global. 2014

PROSA

Notícia da Visitação que fiz no Verão de 1953 ao rio Amazonas e seus Barrancos. Ministério da Educação, 1957.
A estrela da manhã. Ministério da Educação, 1958.
Arte e ciência de empinar papagaio. Manaus, 1982.
Manaus, amor e memória. Rio de Janeiro, Philobiblion, 1984.
Amazonas, a menina dos olhos do mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992.
Amazonas, pátria da água. Water Heartland. Edição bilíngue. Fotografia de Luiz Claudio Marigo. São Paulo: Sver & Boccato, 1990 (Prêmio Osvaldo Orico da Academia Brasileira de Letras, em 1989)
O povo sabe o que diz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2. Ed. 1993.
Borges na luz de Borges. São Paulo: Pontes Editores, 1993.
Amazonas águas, pássaros, seres e milagres. Rio de Janeiro: Salamandra, 1998.
Os milagres da palavra. Florianópolis, Museu/ Arquivo da Poesia manuscrita, 1998.
Tradução: arte de recriar. Florianópolis, Museu/Arquivo da Poesia Manuscrita, 1999.
Mamirauá, Foto: Luiz Claudio Marigo. Tefé: Sociedade Civil Mamirauá, 2002.
ABC da floresta Amazônica. Com Pollyanna Furtado. Fortaleza: Conhecimento, 2008.
O desafio do exílio. In: Caderno do Refúgio. Brasil: ACNUR, 2007.

Neruda no coração da floresta. Memorial da América Latina: São Paulo, 2008.

Thiago confiou-me um delicado convite recebido da CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe, autorizando sua divulgação. Todo salamaleque é pouco para o autor dos Estatutos do Homem.


Clique sobre a imagem, para ampliá-la.


Se o quesito qualidade da obra fosse o único determinante ele já estaria eleito. Infelizmente, academias têm lá seus achaques e tiques. Desde Richelieu. Nossa torcida para o poeta.

Alguns aspectos do aborto no Brasil



           João Bosco Botelho


No Brasil, o aborto é considerado crime, exceto: gestação como produto de estupro e risco de vida materna e, mais recentemente, quando constatada anomalias fetais incompatíveis com a vida, sendo a anencefalia a mais comum.
Um dos estudos mais importantes identificando o perfil das mulheres que usam o aborto, no Brasil, como método anticoncepcional, foi realizado pela Universidade Federal de Pelotas. Alguns dados são interessantes e mostram a gravidade da questão, claramente entendida como problema de saúde pública:
– Mais frequente entre mulheres com idade entre 20 e 29 anos, em união estável, com até oito anos de estudo, trabalhadoras, católicas e com pelo menos um filho;
 – A maior parte é adolescente;
– O medicamento de venda controlada Misoprostol, indicado  como o principal método abortivo;
– Mais de 1 milhão de gestações foram interrompidas em 2005;
– Cerca de 200 mil mulheres, em 2005, foram hospitalizadas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de tentativas de aborto;
– Em 2005, 3,7 milhões de brasileiras entre 15 e 49 anos realizaram aborto;
– Até 82% dos abortos são realizados por mulheres entre 20 e 29 anos e 10% são adolescentes;
– A maior parte das mulheres que fizeram aborto se declarou católica. A menor proporção, como evangélica.
           As estatísticas mundiais, notadamente, nos países subdesenvolvidos e nos em desenvolvimento, evidenciam o aumento do número dos abortos provocados. Essa realidade impõe outras construções para melhor entender o aborto como metido anticoncepcional, notadamente, se a mulher que pretende abortar é menor de idade.
           Na França, a permissão do Estado ao aborto alcança os embriões de 14 semanas. Contudo, a entrevista obrigatória com equipe especializada, que antecede o ato médio, nos hospitais públicos, e o apoio governamental no sustento futuro da criança, consegue reverter a decisão em mais da metade dos casos
           A análise dos dados estatísticos continua alimentando as seguintes questões:
– As proibições não conseguiram modificar, em dois mil anos, o comportamento das mulheres quando decididas a utilizar o aborto como método ­anticoncepcional;
– Nas sociedades com problemas de superpopulação, pode ocorrer o estímulo do Estado ao aborto como forma de controle populacional.
Também é importante assinalar que frente ao número de médicos em atividades no Brasil, cerca de 370.000, alguns poucos, contados nos dedos, são denunciados por prática de aborto à margem do artigo 54 do Código de Ética Médica, que impõe restrição ao médico, salvo as exceções referidas no artigo 128 do Código Penal.
Para que um médico, no Brasil, possa realizar o aborto, deverá consultar em conferência dois outros médicos lavrando a ata em três vias. Uma das cópias será enviada ao Conselho Regional de Medicina; outra, ao diretor clínico do hospital ou clínica, pública ou privada; a terceira ficará sob a guarda do médico assistente, responsável pela internação hospitalar da paciente.
O tema aborto, com diferentes enfoques, está presente direta ou indiretamente em pelo menos 21 artigos do Código de Ética Médica. Contudo, os artigos 42 e 43 são mais específicos:
Art. 42 – É vedada ao médico a prática ou indicação de atos desnecessários ou proibidos pela legislação do país;
Art. 43 – É vedado ao médico o descumprimento da legislação específica nos casos de transplantes de órgão ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento.
          


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Fantasy Art - Galeria


Yuehui Tang.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Lábios que beijei 28


Zemaria Pinto

Cláudia


O que dizer da mulher com quem vivi nove anos, sem sentir por ela nada além de amizade? Da mesma idade que eu, quando nos casamos ainda havia muito a descobrir, o que se esgotou em menos de seis meses, com a primeira gravidez. Após a segunda gravidez, minha vida com Cláudia era apenas uma fachada com os sinais inevitáveis do desgaste que a chuva e o sol provocam em qualquer fachada. Cláudia era a senhora da casa, abdicando de seus estudos e planos de futuro, eu, o provedor – saía às 7 e nunca voltava antes das 21. O casal criança crescia sem pai e com excesso de mãe. Nos fins de semanas, jogos, pescarias, serenatas, cervejadas. Para mim, era o paraíso: tinha todas as mulheres que eu queria, roupa lavada e cama arrumada. Numa madrugada de sábado, bêbado, encontrei na garagem duas malas com minhas roupas e utensílios de uso mais imediato. Com uma calma inesperada e indescritível, Cláudia falou apenas algo como “quando você se organizar, volte para pegar seus discos e livros”. E nada mais. Na sentença de desquite, o juiz determinava que eu podia ver as crianças apenas aos sábados, o que me fez mudar radicalmente meus programas de farras. Aos poucos, no entanto, fui renovando a confiança de Cláudia, e as visitas passaram aos domingos, quando saíamos todos – ela e Safira, inclusive – para almoçar. As crianças cresceram, os almoços foram se esfumando em mera lembrança. Vieram os netos. Cláudia morreu antes de vê-los. Tento lembrar seu jovem rosto redondo, sorridente, mas só me vem à mente a face encovada, pálida, a cabeça sem pelos, a máscara da morte.