Zemaria Pinto
Elisa
Conheci Elisa num barracão
de candomblé, uma oca de terra batida, para onde fui levado pela curiosidade
adolescente que cerca o proibido. A frenética música dos tambores não deixava
ninguém indiferente. Pelas tantas, uma cabocla roxa, de negros cabelos lisos,
regulando uns 15 anos, rodou até o centro do salão e começou a se contorcer no
ritmo dos tam-tans. Foi a dança mais sensual que eu veria em toda a minha vida.
De início, ela levantava a saia vermelha, mostrando as coxas fortes, os
músculos retesados. Na sequência, desabotoou a blusa azul e quando alguém
tentou impedi-la de prosseguir, ela arrancou o corpete, fazendo saltar os
pequeninos seios, os bicos túmidos, e atirou-o longe – aos meus pés. A ialorixá
sinalizou para que a deixassem. Apanhei o corpete e logo senti o forte cheiro
de patchuli. Elisa, banhada em suor, continuou sua dança ensandecida, tirando
uma a uma as peças – saia, anágua, blusa – até ficar só de calcinha. A dança
ainda se estendeu por alguns minutos, até que ela desabou no chão, inerte. Cobriram-na
com uma toalha e levaram-na para dentro de casa. Quando ela reapareceu, o
semblante refletindo uma estranha calma, devolvi-lhe o corpete. Elisa me
abraçou, tocou o ombro contra o meu, em xis, em ambos os lados, me fazendo
sentir a fortaleza de seus seios duros, e enfiou a língua na minha boca, com
sofreguidão. Sempre nos encontrávamos depois do ritual, no quarto em que ela
morava com uma tia entrevada, numa estância próxima. Um dia, Elisa sumiu do barracão
– voltou para Faro, alguém comentou com displicência. No ar, aquele cheiro
inconfundível, que ainda hoje me faz sonhar seu corpo rijo, úmido, e sua
sensual dança sagrada.