Amigos do Fingidor

domingo, 30 de maio de 2021

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Almir Diniz (6/11/1929 – 28/5/2021)

 

Almir Diniz, solene, no traje acadêmico.

Almir Diniz, aos 28 anos, jornalista premiado.


Siga em frente, velho amigo. Agora você é puro ar. Vá contar histórias para os anjos. Não lamentarei a sua perda, porque você viveu intensamente. E continuará vivo no meu coração e na minha mente. Até outro dia, caboco...

(ZmP)


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Nelson Sargento (25/7/1924 – 27/5/2021)


Nelson Sargento, por MAM.

 

A poesia é necessária?

         Nua no ar

Jorge Bandeira

(Na inspiração da poeta Patti Smith)

 

Sabe aquela onda que percorre teu corpo nu e que te enche de luz?

São artefatos de imagens primordiais, de tempos remotos

E brilham feito uma candeia de estrelas na galáxia de tua pele

Algo como uma transmissão que te acompanha desde teu nascimento

Quando ainda eras uma esfera que buscava um encontro de pulsar

E mesmo assim a nudez te arremessou a este planeta e entre choro e surpresa

Te acalentaram nas primeiras fontes de tua energia crescente

Nudez que te fez caminhar e se banhar e perceber que o olhar te consumiu

Por este motivo despiu-se um mundo e profundo tu o sentiste submergido

E as variações de tuas andanças te fizeram retornar ao nascedouro de Sol

Somente a felicidade não foi possível nesta visão

Nu nunca negarás teu opositor pois ele te pertence

Nus seremos algo que se completa na infinidade

De um raio de Sol que penetra os poros

E que não reflete nada além do próprio ser

Nudez não se traduz: RELUZ.

 

terça-feira, 25 de maio de 2021

Cheia – ensinem os regimes

Pedro Lucas Lindoso

 

Quando menino fiz o Curso Primário no Grupo Escolar Saldanha Marinho. Lá me foi ensinado que o ano tinha quatro estações: primavera, verão, outono e inverno. A primavera é a estação das flores, o verão do calor, no outono as folhas caem e no inverno faz frio e neva.

Isso tudo parecia muito abstrato e estranho. Não só para mim, mas penso que para toda a curuminzada. A verdade é que, na nossa região, na primeira metade do ano chove mais. É menos quente. E no segundo semestre chove um pouco menos. Faz mais calor.

Os livros das escolas dos anos sessenta eram escolhidos pelos professores do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Compulsoriamente, adotados para todos os alunos Brasil afora.

     Os tempos mudaram e hoje existe a tal BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Fui pesquisar e descobri que as estações do ano devem ser ensinadas no primeiro ano do Fundamental. Segundo a BNCC o objetivo da aprendizagem é identificar o ritmo natural das estações. Os alunos devem desenvolver habilidades de comparar sua realidade com outras.

Isso é muito bom. Os professores devem ensinar aos alunos que de dezembro a junho os rios ficam cheios. E de julho até o final do ano é a vazante. O ensino das estações do ano está vinculado à influência do hemisfério norte em nossa cultura. Lá tem neve no inverno. E no Brasil? As quatro estações do ano são bem definidas somente na região sul. É importante que as crianças sejam ensinadas na sua realidade.

Por aqui não temos estações do ano visíveis como na Europa, nos Estados Unidos e no sul do Brasil. Temos o regime das águas. Francisco Vasconcelos, saudoso membro do clube da Madrugada, em seu clássico romance descreve esse regime com maestria. Aborda a nossa condição humana e como nossos caboclos são obedientes às ordens da natureza. Os rios enchem e depois há a vazante. Como é esplêndida a nossa capacidade de adaptação e de escolhas.

O regime das águas está vinculado ao regime das chuvas. Neste ano o regime das chuvas está sob o efeito do fenômeno La Niña. Tem chovido muito e os rios estão excepcionalmente cheios. Uma cheia já considerada histórica.

Ao falar sobre estações do ano, os professores de Geografia do Fundamental não podem esquecer de ensinar a seus alunos os regimes. É importante saber que aqui há o regime das águas dos rios. E o regime das chuvas. Não esqueçam de falar da cheia e desses regimes.


Cena típica, na Amazônia, nesta época do ano.

 

domingo, 23 de maio de 2021

Manaus, amor e memória DXVI

 

Pensão localizada na avenida Eduardo Ribeiro. 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

quinta-feira, 20 de maio de 2021

A poesia é necessária?

 A Poesia

Ferreira Gullar (1930-2016)

 

Onde está

a poesia? indaga-se

por toda parte. E a poesia

vai à esquina comprar jornal.

 

Cientistas esquartejam Puchkin e Baudelaire.

Exegetas desmontam a máquina da linguagem.

A poesia ri.

 

Baixa-se uma portaria: é proibido

misturar o poema com Ipanema.

O poeta depõe no inquérito:

meu poema é puro, flor

sem haste, juro!

Não tem passado nem futuro.

Não sabe a fel nem sabe a mel:

é de papel.

Não é como a açucena

que efêmera

passa.

E não está sujeito a traça

pois tem a proteção do inseticida.

Creia,

o meu poema está infenso à vida.

 

Claro, a vida é suja, a vida é dura.

E sobretudo insegura:

“Suspeito de atividades subversivas foi detido ontem

o poeta Casimiro de Abreu.”

“A Fábrica de Fiação Camboa abriu falência e deixou

sem emprego uma centena de operários.”

“A adúltera Rosa Gonçalves, depondo na 3.ª Vara

de Família,

afirmou descaradamente: ‘Traí ele, sim. O amor

acaba, seu juiz’.”

O anel que tu me deste

era vidro e se quebrou

o amor que tu me tinhas

era pouco e se acabou

 

Era pouco? era muito?

Era uma fome azul e navalha

uma vertigem de cabelos dentes

cheiros que transpassam o metal

e me impedem de viver ainda

Era pouco? Era louco,

um mergulho

no fundo de tua seda aberta em flor embaixo

onde eu morria

 

Branca e verde

branca e verde

branca branca branca branca

E agora

recostada no divã da sala

depois de tudo

a poesia ri de mim

Ih, é preciso arrumar a casa

que André vai chegar

É preciso preparar o jantar

É preciso ir buscar o menino no colégio

lavar a roupa limpar a vidraça

O amor

(era muito? era pouco?

era calmo? era louco?)                  passa

A infância

passa

a ambulância

passa

Só não passa, Ingrácia,

a tua grácia!

E pensar que nunca mais a terei

real e efêmera (na penumbra da tarde)

como a primavera.

E pensar

que ela também vai se juntar

ao esqueleto das noites estreladas

e dos perfumes

que dentro de mim gravitam

feito pó

(e um dia, claro,

ao acender um cigarro

talvez se deflagre com o fogo do fósforo

seu sorriso

entre meus dedos. E só).

 

Poesia – deter a vida com palavras?

Não – libertá-la,

fazê-la voz e fogo em nossa voz. Po-

esia – falar

o dia

acendê-lo do pó

abri-lo

como carne em cada sílaba, de-

flagrá-lo

como bala em cada não

como arma em cada mão

E súbito da calçada sobe

e explode

junto ao meu rosto o pás-

saro? o pás-

?

Como chamá-lo? Pombo? Bomba? Prombo? Como?

Ele

bicava o chão há pouco

era um pombo mas

súbito explode

em ajas brulhos zules bulha zalas

e foge!

como chamá-lo? Pombo? Não:

poesia

paixão

revolução

 

(Santiago, 12/7/73)


terça-feira, 18 de maio de 2021

Atenção avós, fiquem espertos

Pedro Lucas Lindoso

 

Tenho uma linda netinha, Maria Helena, que nasceu durante a pandemia. Minha nora entrou no hospital e no dia seguinte já saiu carregando a neném para casa. Ambas com saúde. Graças a Deus, livres do corona.

Nós, avós corujas, não tivemos a oportunidade de ir à maternidade e testemunhar a chegada de Maria Helena. E só pudemos vê-la, a distância, muitos dias depois. É a dita geração coronial.

Minha esposa é neuropsicóloga e especialista em crianças e adolescentes. Explicou-me que os cérebros de bebezinhos como nossa netinha processam milhões de sinapses por segundo. A estimulação é primordial nessa fase da vida. A criança precisa de estimulação sensorial. É importante ouvir barulhos de chocalhos, canções, vozes e todo tipo de estimulação.

Maria Helena tem a sorte de ter uma irmãzinha, Maria Luísa, que tem ajudado nessa parte. As crianças que nasceram durante a pandemia, na maioria dos lares, só estão expostas a interagir com seus pais. Maria Luísa tem sido peça fundamental na interação de sua irmãzinha no mundo sensorial. Ela fala com a irmã. Canta sempre. Em especial canções da Moana.

 Em vídeo recente, vimos Malu cantando as músicas da corajosa jovem princesa da Oceania. Malu estava fantasiada da sua heroína. O mar é sempre presente nas músicas. A família da princesinha interage com os mares e oceanos. Parece-me que representam uma longa linhagem de navegadores.

Maria Luísa é de uma geração de crianças que vieram ao mundo a partir de 2010. Já encontrou e já conhece uma gama de aplicativos que fazem parte de tablets e smartphones. E assim aprende as músicas e danças que estimulam sua irmãzinha. Essa turma é conhecida como geração alpha.

O mundo digital para crianças alpha e também para os coronials será a coisa mais natural do mundo. A tecnologia a que estão expostos é a forma que será ofertada para conhecer e interagir com familiares, professores, amigos e conhecidos.

Entre a realidade e a virtualidade. Esse é o meio e a forma com que essas crianças vão se relacionar com o tempo e o espaço. Será entre a realidade e a virtualidade que essas pessoinhas vão estabelecer as suas relações interpessoais. Eles vão estar conectados constantemente à internet através de seus smartphones.

Atenção, avós corujas. Procurem ter sempre bons celulares e aprendem a usar aplicativos. O mundo virtual para seus netinhos é de total fluidez e grande naturalidade. Alphas e coronials vão transformar o mundo. Fiquem espertos.

 

domingo, 16 de maio de 2021

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A poesia é necessária?

         Nostalgia do mar

Violeta Branca (1915-2000)

 

Amanhã voltarás para o mar...

Teu destino é o mar...

Na deslumbrante exaltação das ondas verdes,

tua vida

– luminoso poema de mocidade e de sol –

tornar-se-á linda como uma alvorada rosicler.

 

Amanhã voltarás para o mar...

E na inquieta convivência das vagas

depressa olvidarás meu vulto de mulher.

Serei vela perdida

na grandeza infinita do oceano.

Serei a emoção esquecida

de um porto, que ficou em névoas, na distância...

 

Amanhã voltarás para o mar...

Enquanto eu ficarei numa tristeza longa, dolorosa,

tu, que trazes na alma altaneira

o orgulho e a boêmia do marinheiro,

partirás sorrindo.

E não terás para mim um pensamento de amor,

tua alegria será jovial e franca.

Mas sentirás que te acompanha sempre,

sempre

um perfume sutil de violeta branca...


terça-feira, 11 de maio de 2021

Dia das mães

Pedro Lucas Lindoso

 

Nesse dia das mães o cronista pede licença para novamente homenagear sua inesquecível mãe, Amine Daou Lindoso. Mãe de sete filhos, sempre procurou dar atenção integral a todos nós. Os sete foram tratados como filhos únicos.

Minha mãe, como toda moça educada em escolas salesianas, era habilidosa, excelente esposa e mãe devotada. Dentre as suas várias habilidades como tocar piano, falar e escrever impecavelmente, sabia fazer tricô com perfeição. Seu amor pelos filhos e depois aos netos, materializava-se ainda antes do nascimento. Dona Amine tricotava, com todo desvelo e afeto do mundo, perfeitos e até cobiçados sapatinhos, casaquinhos e luvinhas de lã.

A origem do tricô é bem controvertida. Provavelmente foi inventado na Antiguidade. Algumas peças antigas foram descobertas no Egito. O fato é que na História Moderna o tricô foi aperfeiçoado nas Ilhas Britânicas. As mulheres inglesas foram as primeiras que desenvolveram a técnica nos nossos dias. O objetivo era produzir meias e cachecóis que protegessem seus maridos e filhos no inverno. O fato de dona Amine ter nascido no calor de Manaus e tornar-se exímia em tricô é um mistério a ser estudado.

O cuidado com os filhos, a administração da casa e as diversas atividades sociais em que se engajava não eram empecilho para acompanhar e sempre apoiar meu pai, José Lindoso, em suas atividades como político e homem público.

Amine Daou Lindoso foi primeira dama do Amazonas de 1979 a 1982.Visitava sempre a colônia Antônio Aleixo. Certa vez eu perguntei a ela se não tinha medo de contrair o vírus da hanseníase. Disse-me que era um vírus “bobo”. Considerava um absurdo ainda não ter sido erradicado.

Há anos o Governo do Amazonas construiu, na colônia Antônio Aleixo, um conjunto habitacional denominado Amine Daou Lindoso. A inauguração contou com a presença do governador, presidente e autoridades. Após a solenidade os moradores vieram, vários, cumprimentá-la. Queriam vê-la novamente. Alguns bastante mutilados. Fiquei especialmente tocado com uma senhora cadeirante, com sinais bastante evidentes de mutilações, porém muito vaidosa, com uma flor no cabelo. Queria repetir versos já ditos a dona Amine. E assim o fez. Eles vieram demonstrar ternura, afeto e reconhecimento.

Em honra à memória de minha mãe, quero homenagear as mulheres que são mães devotadas. Cuidam com extremo amor dos seus filhos. Contudo, exercem ainda o papel de esposa e companheira. Mulheres-mães que mudam o mundo. Pelo exemplo que dão aos homens e aos seus filhos.

  

segunda-feira, 10 de maio de 2021

domingo, 9 de maio de 2021

Manaus, amor e memória DXIV


Rua separando o Quartel da Polícia Militar da Praça... da Polícia. 

 

quinta-feira, 6 de maio de 2021

A poesia é necessária?

          Metáfora

Gilberto Gil

 

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora


terça-feira, 4 de maio de 2021

Primeiro de Maio


Pedro Lucas Lindoso

Primeiro de maio é o dia do trabalhador. É feriado em muitos países do mundo. Menos nos Estados Unidos. Perguntei a um diplomata americano em Brasília porque a Embaixada não apoiou um projeto de revitalização de Fordlândia, no Pará. A resposta foi de que na cultura americana não se cultivam fracassos. Não se celebram coisas negativas.

O feriado de primeiro de maio tem sua origem numa greve de 1886, ocorrida em Chicago. O objetivo foi conquistar condições melhores de trabalho, principalmente a redução da jornada para oito horas. Nessa manifestação, houve confronto com policiais, o que resultou em prisões e mortes de trabalhadores.

A base da reivindicação dos trabalhadores de Chicago era baseada no número oito. “Eight hours for work, eight hours for rest and eight hours for what you will”. Ou seja, oito horas de trabalho, oito de descanso (ou para dormir) e oito para o que quiser, o que geralmente é para comer, passear e estar com a família. Simples assim.  O slogan, e o próprio evento, ficou conhecido como o dia do movimento das oito horas.

Nos Estados Unidos se celebra o Dia do Trabalho na primeira segunda-feira de setembro. Há quem diga que esta escolha foi feita para evitar associar a festa do trabalho com o movimento socialista. Prefiro a versão do diplomata que me disse que eles não comemoram fracassos ou tristezas. 

Já a Nova Zelândia, país distante onde tenho parentes, celebra o Dia do Trabalho na quarta segunda-feira de outubro. A data é alusiva à luta dos trabalhadores locais que levou à adoção da jornada diária de 8 horas. O fato teria ocorrido bem antes da greve geral que resultou no massacre de primeiro de maio que os Estados Unidos procuram esquecer.

A maioria dos países do mundo celebra o primeiro de maio como Dia do Trabalhador. Exceto poucos países. O Canadá segue os Estados Unidos e na Austrália o Dia do Trabalho varia de acordo com a região. Na América Latina toda, grande parte da África e da Ásia se celebra o dia do trabalhador nesse dia. Em países onde o dia primeiro de maio não é feriado oficial, geralmente há manifestações em defesa dos trabalhadores.

Os americanos costumam celebrar o início de maio, não como feriado, mas como esperança de melhoras no clima e a chegada de dias mais amenos e gostosos. É a primavera. O feriado importante deste mês, para os americanos é o do Memorial Day. Acontece sempre na última segunda-feira do mês. Este feriado costuma marcar o início das férias de verão de muitas escolas americanas. O feriado americano Memorial Day é uma homenagem para todos os americanos que morreram durante as guerras em que os EUA participaram. É dia de orgulho nacional. Isso eles comemoram. Agora greves e projetos fracassados são para esquecer.

 

domingo, 2 de maio de 2021