Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A poesia é necessária?



Antropologia
Simão Pessoa


tembé oiampii assurini parakanã
xikrin gorotiré apalaí kaxuyana
tiryo arara parakatagé  karipuna
galibi palikur makuxi wapixana
fora dos livros de história
estes nomes não dizem nada
só trazem talvez remorso
pela memória apagada
txikuna miranha kulina kaxinawá
tapirapé paresi iranixe karajá
xavante bacairi javaé nambikuara
krinati guajajara krahó apinagé
fora dos livros de história
estes nomes nada nos dizem
só trazem talvez espanto
pela miséria visível
guajá xerente pataxó atroari
pankararé tupiniquim krenak tuxã
waimiri kaimbé potiguara xoko
kiriri ianomâmi apurinã kadiwé
fora dos livros de história
estes nomes nos mostram tudo:
o homem lobo do homem
na apoteose do jugo



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Anette Tjaerby.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Jacaré-tinga ou do rabo cotó?



Pedro Lucas Lindoso


Quem entra para a vida pública há que se acostumar com críticas e notícias desagradáveis. Além das armadilhas e artimanhas dos partidos de oposição ao seu governo. É inerente à democracia.
Eleito deputado e posteriormente senador pelo Amazonas, meu saudoso pai José Lindoso levou a família toda para Brasília. Cresci e casei-me por lá. Quando José Lindoso tomou posse como governador, não morava por aqui e poucos me conheciam.
Era o dia da posse. Fui cortar o cabelo numa barbearia do centro. Cabeleira devidamente aparada. O barbeiro, que não me conhecia, fazia o acabamento usando com incomum destreza uma afiadíssima navalha. De repetente, alguém comenta.
– Hoje é posse do novo governador José Lindoso. E o barbeiro, ainda com a navalha na mão, terminando o corte no meu cabelo, disse:
– Mais um para roubar.
Eu calado estava, calado fiquei. Terminado o serviço, paguei o homem e saí sorrateiramente da barbearia, evitando constrangimentos.
Os amazonenses têm o hábito de criticar nossos irmãos paraenses usando como mote a gatunice, ou chamando-os de jacaré. É deselegante e injusto. Mesmo porque a maioria dos paraenses que vem para Manaus não é da região de Belém. São na verdade tapajoenses. Óbidos, Oriximiná, Juruti e Santarém são cidades bem mais próximas de Manaus do que de Belém.
Isso explica a forte migração para Manaus e a grande quantidade de paraenses do Tapajós por aqui. Não se justifica a implicância porque a cultura, o sotaque e os costumes são os mesmos dos amazonenses da região do Baixo Amazonas. Já próximo ao Tapajós, lindo rio com belas praias, temos as importantes cidades de Parintins, Maués e Barreirinha.
A marchinha de carnaval da Banda da Bica, que sempre faz críticas aos políticos, chamou o novo governante de jacaré-tinga. Ele é paraense oriundo do Tapajós que é um lindo rio com belas praias. Dizem que sua excelência não gostou do apelido.
Vá se acostumando governador. Faz parte do jogo político. Graças a Deus vivemos numa democracia. É melhor ser chamado de jacaré-tinga do que jacaré do rabo cotó. O jacaré-tinga é também conhecido como jacaré-de-óculos. Olho vivo na democracia.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

“Papa Highirte”, de Vianinha, encerra ciclo de leituras dramáticas Teatro e Resistência




O ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas, promovido pela Cia Vitória Régia, chega à sua edição final nesta quinta-feira, com a leitura da peça de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, Papa Highirte.

Com excelente repercussão junto ao público, foram feitas as leituras de Abajur Lilás, de Plínio Marcos; Patética, de João Ribeiro Chaves Neto; Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri; Campeões do mundo, de Dias Gomes; Vejo um vulto na janela, me acudam que eu sou donzela, de Leilah Assumpção; e Zona Franca, meu amor ou Tem piranha no pirarucu, de Márcio Souza. Seis peças que, sem perder a condição de arte, retratam com muita propriedade a vida brasileira nos (mal)ditos anos de chumbo.

A mostra teve como objetivo colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, dominadas pela repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas”, muito parecidas com as milícias assassinas em ação hoje, com o apoio de gente acima de qualquer suspeita.

A Cia Vitória Régia escolheu a ARTE e o TEATRO para esclarecer o passado e denunciar as semelhanças com o presente, resistindo.

Os textos escolhidos botam o dedo em diversas feridas: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

A peça desta quinta-feira, 28 de fevereiro, sob a direção de Nonato Tavares – Papa Highirte, de Vianinha – mostra um típico ditador sul-americano, que, no exílio, amarga o abandono de todos. Escrita em 1968, só pôde ser encenada quando os ventos da “abertura” sopraram, 11 anos depois.

Highirte é um ser desprezível, cercado de seres desprezíveis. Vianinha opta pelo simbolismo, construindo personagens que representam parcelas do continente (e do Brasil) nos anos 30 a 60, mas que se mantêm ainda muito atuais: generais golpistas, torturadores não-oficiais, um delator arrependido, um representante do “big brother” do norte, oferecendo “ajuda humanitária”... 

Ator e diretor, Vianinha escreveu “Chapetuba Futebol Clube”, “Allegro desbum” e “A mão na luva”, além ter sido o criador, juntamente com Armando Costa, do humorístico “A grande família”, em 1972. Morreu em 1974, aos 38 anos, logo após concluir sua obra-prima “Rasga Coração”.

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leitura dramática de Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho
Finalidade: mostra de peças de autores censurados
Quando: dia 28 de fevereiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos
Entrada franca



domingo, 24 de fevereiro de 2019

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Daniel Miller.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A poesia é necessária?



Ponto de vista
Leila Miccolis


Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Lembranças ao Mickey Mouse



Pedro Lucas Lindoso


Ao chegar de férias, encontrei-me com meu colega e amigo Chaguinhas. Estive nos Estados Unidos. Meu amigo é meio antiamericano. Sempre estudou francês. Quando viaja, vai preferencialmente para a Europa. Não toma Coca-Cola. Não porque faz mal à saúde. Mas, segundo Chaguinhas, a Coca-Cola é o símbolo máximo do imperialismo. Bobagens do Chaguinhas. Eu fiz intercâmbio na juventude e sinto-me em casa na terra do Tio Sam.
Em entrevista que rola na rede, Ariano Suassuna ressalta a quase “obrigatoriedade” da classe média brasileira em visitar o Disney World. Um rico anfitrião e sua família ficaram abismados pelo fato de Suassuna não conhecer o Disney World. O inesquecível escritor questiona o fato do mundo ser divido entre as pessoas que foram à Disney e as que ainda não foram.
Chaguinhas comentou que seus filhos, quando crianças, perguntavam-lhe:
– Quando vamos à Disney? Ele sempre dizia:
– Um dia, todos vamos para lá!
Imagine que quase todos os colegas da sala foram à Disney. E a pergunta persistia:
– Quando vamos à Disney? Invariavelmente, Chaguinhas respondia:
– Um dia, todos vamos para lá!

Quando seu pai faleceu, o seu filho mais novo, de cinco anos, questionou:
– Para onde o vovô foi? E Chaguinhas respondeu:
– Um dia, todos vamos para lá!
– O vovô foi para a Disney? Perguntou o garotinho. Risada geral, relatou-me o meu amigo e colega.
Disse ao Chaguinhas que tinha ido à Disney levar a minha netinha Maria Luísa. Comentei que nos Estados Unidos as ruas não têm buracos, as calçadas são largas, planas e bem feitas.
– Não acredito. Isso existe? Pergunta Chaguinhas. Encantado com a possibilidade de andar em ruas largas, planas, sem nenhum buraco e com calçadas bem pavimentadas, Chaguinhas me disse que levaria os filhos e netos à Disney no carnaval.
Dê lembranças ao Mickey Mouse, meu amigo Chaguinhas. Afinal, este ano Mickey Mouse completa 90 anos de idade.



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Zona Franca, meu amor - leitura dramárica





A Cia de Teatro Vitória Régia segue apresentando, sempre às quintas-feiras, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

Com excelente repercussão junto ao público, já foram feitas as leituras de Abajur Lilás, de Plínio Marcos; Patética, de João Ribeiro Chaves Neto; Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri; Campeões do mundo, de Dias Gomes; e Vejo um vulto na janela, me acudam que eu sou donzela, de Leilah Assumpção. Peças que, sem perder a condição de arte, retratam com muita propriedade a vida brasileira nos (mal)ditos anos de chumbo.

A mostra visa colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, dominadas pela repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas”, muito parecidas com as milícias assassinas em ação hoje, com o apoio de gente acima de qualquer suspeita.

Escolhemos a ARTE e, mais especificamente, o TEATRO para resistir, esclarecer e denunciar.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos, que expõem as entranhas do fascismo: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

Nesta quinta-feira, 21 de fevereiro, sob a direção de Nonato Tavares, será feita a leitura de Zona Franca, meu amor ou Tem piranha no Pirarucu, de Márcio Souza, um painel risonho e franco da Manaus pós-moderna; ou seja, pós-borracha.

Encenada em 1978, trata-se de uma revista alegórica, que zomba do modelo econômico legado pela ditadura instaurada em 1964, para concluir, melancolicamente: “Porto de Lenha, tu nunca serás Liverpool...”.

Dono de um humor corrosivo e anárquico, há 40 anos Márcio Souza já antecipava a falência do modelo econômico imposto a fórceps pelos militares, cujo primoroso lema era “integrar para não entregar”. Nunca se entregou tanto...

Autor de Folias do látex, A resistível ascensão do Boto Tucuxi e A paixão de Ajuricaba, entre outros títulos, o consagrado romancista de Galvez, o imperador do Acre e Mad Maria é o nome de maior destaque do teatro feito no Amazonas.     

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leitura dramática de Zona Franca, meu amor ou Tem piranha no pirarucu, de Márcio Souza
Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como Oduvaldo Vianna Filho, Plínio Marcos, Gianfrancesco Guarnieri e outros
Quando: dia 21 de fevereiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos.
Entrada franca.



domingo, 17 de fevereiro de 2019

Manaus, amor e memória CDVIII


Roadway.
Porto flutuante de Manaus.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Serpieri.
Paolo Eleuteri.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

A poesia é necessária?



...Salpicavam nosso chão
Cláudio Fonseca


A porta do barraco
era sem trinco.
Dentro, os meninos metralhados!
Trapos coloridos
do Brasil, florão da América,
ao sol do Novo Mundo
iluminados.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Renso Castañeda.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Não se furtam mais gravadores



Pedro Lucas Lindoso


Alguns jovens de hoje não sabem o que é uma fita cassete. O cassete era constituído de dois carretéis e uma fita magnética alojados em uma caixinha de plástico. De fácil manuseio, o que permitia que a fita fosse colocada ou retirada em qualquer ponto da gravação sem a necessidade de ser rebobinada.
A fita cassete possibilitou a gravação e reprodução de músicas por gravadores de áudio portáteis. Os jovens da época produziam as suas fitas, gravando músicas selecionadas especialmente para os amigos e principalmente para as namoradas.
Hoje existe o Spotify, que é o serviço de streaming de música mais popular e usado no mundo. Saudosismos a parte, não é a mesma coisa. Legal mesmo era gravar fitas cassete. Uma coisa é baixar músicas pelo Spotify e assim ter suas playlists favoritas. Outra coisa é ter o trabalho de fazer e gravar sua própria playlist, como nos anos setenta. Grava-se música por música. Escolhendo-as cuidadosamente. Regravando-as. Pedindo discos emprestados, comprando outros, quando a grana dava.  Usar o Spotify, definitivamente, não é a mesma curtição que gravar uma fita cassete.
Colocar um fone de ouvido no celular e sair por aí curtindo músicas no Spotify jamais será a mesma curtição de quem usou e sabe o que é um walkman.
A invenção do walkman, no final dos anos setenta foi uma revolução. O walkman era um reprodutor de cassete supercompacto e de bolso, com possantes fones de ouvido. Foi inventado pela Sony e tornou-se objeto de desejo de toda uma geração.
O meu primeiro e único walkman foi comprado numa viagem aos Estados Unidos. Curti muito a geringonça. Foi furtado dentro de uma sala de aula da UnB. Mas como já tinha meu carrinho, curtia minhas fitas cassetes no gravador instalado no meu fusca. Era preciso retirar o gravador toda vez que se estacionava. Senão roubavam.
Os tempos mudam, a tecnologia avança. Mas sempre tem os amigos do alheio, que furtam as coisas dos outros sem dó nem piedade.
Gravadores de carro e walkmans eram furtados como se furta celular hoje em dia.
Mas como diz o poeta, meu tempo é hoje. Vou ali curtir minha nova playlist no Spotify, com cuidado para não levarem meu novo celular.



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Leitura dramática: Vejo um vulto na janela, me acudam que sou donzela




A Cia de Teatro Vitória Régia vem apresentando, sempre às quintas-feiras, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

Com excelente repercussão junto ao público, já foram feitas as leituras de Abajur Lilás, de Plínio Marcos; Patética, de João Ribeiro Chaves Neto; Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri; e Campeões do mundo, de Dias Gomes. Peças que, sem perder a condição de arte, retratam com muita propriedade a vida brasileira nos (mal)ditos anos de chumbo.

A mostra visa colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, dominadas pela repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas”, muito parecidas com as milícias assassinas em ação hoje, com o apoio de gente insuspeita.

Escolhemos a ARTE e, mais especificamente, o TEATRO para resistir, esclarecer e denunciar.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos, que expõem as entranhas do fascismo: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

Nesta quinta-feira, 14 de fevereiro, sob a direção de Nonato Tavares, será feita a leitura de Vejo um vulto na janela, me acudam que sou donzela, de Leilah Assumpção.

Sob a máscara enganosa da comédia de costumes, Leilah descreve a vida da mulher urbana brasileira, nos dias que antecederam o golpe de 1964: num pensionato de moças em plena avenida Paulista, oito mulheres de idade, formação e condição social diferentes – de quatrocentonas a migrantes nordestinas – vivem suas tragédias pessoais, refletindo as tensões que o país experimentava.

Escrita em 1964, quando a autora contava apenas 21 anos, foi imediatamente proibida pela censura, sendo liberada apenas 14 anos depois, quando Leilah Assumpção já era uma das mais festejadas dramaturgas brasileiras.

Para a crítica de teatro Carmelinda Guimarães, aquela primeira peça “já traz dentro de si o germe de todas outras que viriam depois”.

Leilah Assumpção é autora de Fala baixo, senão eu grito, Jorginho, o machão, Adorável desgraçada e Intimidade indecente, entre dezenas de outros títulos que colocam sempre a condição feminina no centro das discussões, o que lhe rende a condição de autor brasileiro mais encenado no exterior.

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leitura dramática de Vejo um vulto na janela, me acudam que sou donzela, de Leilah Assumpção
Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como Márcio Souza, Oduvaldo Vianna Filho e outros
Quando: dia 14 de fevereiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos.
Entrada franca.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Manaus, amor e memória CDVII


Portão do Aviaquário.
Ao fundo, a Matriz. 

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Frans Mensink.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A poesia é necessária?


Jogos florais
Cacaso


I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.

II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.

Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.

(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Roman Fedosenko.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Entregadores de pizza, cuidado!



Pedro Lucas Lindoso


Revogou-se o Estatuto do Desarmamento. Se certo ou errado não sei. Não sou especialista em Direito Penal. Pouco entendo de Sociologia do Crime. Não tenho armas. Não critico quem as têm. Cada um sabe de si. Todos têm medo. Há muita violência no país, onde ainda há muita fome e desigualdades.
Liberou-se a posse de armas. Nos Estados Unidos, a posse de armas em casa ou no carro é totalmente liberada. Em alguns estados americanos há restrições. Mas a posse está garantida constitucionalmente.  E lá não se toca na constituição facilmente. A Segunda Emenda, ainda no ano de 1791, da Constituição Americana, diz: “sendo necessária para a segurança de um Estado livre uma milícia bem regulada, o direito de as pessoas manterem e portarem armas não deve ser violado”.
Todavia, no outono de minha vida estou mais afeito à Literatura do que ao Direito. O maior poeta brasileiro do século 20, Carlos Drummond de Andrade, escreveu um significativo poema chamado “A morte do leiteiro”. Tomei a ousadia de resumir a obra de Drummond, cortando algumas partes, juntando as estrofes assim:
“Então o moço que é leiteiro de madrugada com sua lata sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim. (...) E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir. Mas este entrou em pânico (ladrões infestam o bairro), não quis saber de mais nada. (...) O revólver da gaveta saltou para sua mão. Ladrão? se pega com tiro. Os tiros na madrugada liquidaram meu leiteiro. Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber. (...) Mas o homem perdeu o sono de todo, e foge pra rua. Meu Deus, matei um inocente. (...) Da garrafa estilhaçada, no ladrilho já sereno escorre uma coisa espessa que é leite, sangue… não sei. (...) Formando um terceiro tom a que chamamos aurora.”
Não há leiteiros distribuindo garrafas de leite puro e cru nas madrugadas no século 21. Compra-se leite em pó. Ou industrializados e pasteurizados vendidos em recipientes com conservantes para durar semanas. Leiteiros estão fora de perigo. Então o poema de Drummond estaria totalmente anacrônico?
Acho que não. Preocupam-me os entregadores de pizza.
Devido à facilidade e comodidade, muitos brasileiros preferem pedir pizza em casa. Inclusive de madrugada. Os serviços de entrega de pizzas cresceram nos últimos anos. Faturando bilhões.  Há moços correndo, distribuindo pizza boa para gente ruim. E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir. 
Os tiros na madrugada que liquidaram o leiteiro de Carlos Drummond podem acertar no entregador de pizza. Entregadores de pizza, cuidado!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Campeões do mundo: leitura dramática


A caminho de Argel, os 40 presos políticos trocados pelo embaixador da Alemanha: inspiração para Dias Gomes.

A Cia de Teatro Vitória Régia apresentará por todo o mês de fevereiro, sempre às quintas-feiras, o ciclo Teatro e Resistência – leituras dramáticas.

Com grande participação de público, já foram feitas as leituras de Abajur Lilás, de Plínio Marcos; Patética, de João Ribeiro Chaves Neto; e Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri.

A mostra visa colocar em discussão a situação do teatro e do Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, dominadas pela repressão imposta pela ditadura militar e pelas milícias “anticomunistas”, muito parecidas com as milícias assassinas tão caras aos círculos poderosos de hoje.

Escolhemos a ARTE, para resistir e denunciar.

Para isso, o grupo selecionou textos representativos, que expõem as entranhas do fascismo: a repressão aos movimentos populares, a censura, a prisão arbitrária, o exílio, a tortura, o assassinato.

Nesta quinta-feira, 7 de fevereiro, sob a direção de Nonato Tavares, será feita a leitura de Campeões do mundo, de Dias Gomes, uma verdadeira aula de história, se não fosse pura ficção.

A trama, que cobre o período de 1963 a 1979, conta o sequestro do embaixador americano, em plena copa do mundo de 1970, abordando temas como o feminismo, a guerrilha urbana, a tortura, o exílio. Ficção, sim, porém, montada “em cima de fatos acontecidos e hoje amplamente divulgados”, como afirmou o autor no programa da peça.

Encenada pela primeira vez em 1980, em plena “distensão”, Campeões do mundo já não usa subterfúgios retóricos ou simbólicos para mostrar os acontecimentos como se passaram na realidade. Pelo contrário, sem fazer julgamentos ou tomar partido, lança mão de um realismo visceral e, infelizmente, verdadeiro.

Autor de clássicos da dramaturgia brasileiro, como O pagador de promessas e O santo inquérito, Dias Gomes (1922-1999) consagrou-se como autor de telenovelas, com destaque para Bandeira 2, O bem-amado, Saramandaia e a censurada Roque Santeiro. Com Dias Gomes, o folhetim televisivo, antes desprezado, foi elevado à categoria de cult.

Serviço:
Evento: Teatro e Resistência – leitura dramática de Campeões do mundo, de Dias Gomes
Finalidade: mostra de peças de autores censurados, como Leilah Assumpção, Márcio Souza, Millôr Fernandes e outros
Quando: dia 7 de fevereiro, às 19h
Onde: SINTTEL – Alexandre Amorim, 392, Aparecida
Recomendado para maiores de 16 anos.
Entrada franca.


domingo, 3 de fevereiro de 2019

Manaus, amor e memória CDVI


Quartel da Polícia Militar, hoje Palacete Provincial, em dia de festa.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Fantasy Art - Galeria


Anette Tjaerby.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

ASSEAM, 24 anos: palestra e lançamento


Nosso colaborador Pedro Lucas Lindoso lança coletânea de crônicas, já publicadas no blog,
tendo como protagonista a impagável Tia Idalina.