Amigos do Fingidor

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Entregadores de pizza, cuidado!



Pedro Lucas Lindoso


Revogou-se o Estatuto do Desarmamento. Se certo ou errado não sei. Não sou especialista em Direito Penal. Pouco entendo de Sociologia do Crime. Não tenho armas. Não critico quem as têm. Cada um sabe de si. Todos têm medo. Há muita violência no país, onde ainda há muita fome e desigualdades.
Liberou-se a posse de armas. Nos Estados Unidos, a posse de armas em casa ou no carro é totalmente liberada. Em alguns estados americanos há restrições. Mas a posse está garantida constitucionalmente.  E lá não se toca na constituição facilmente. A Segunda Emenda, ainda no ano de 1791, da Constituição Americana, diz: “sendo necessária para a segurança de um Estado livre uma milícia bem regulada, o direito de as pessoas manterem e portarem armas não deve ser violado”.
Todavia, no outono de minha vida estou mais afeito à Literatura do que ao Direito. O maior poeta brasileiro do século 20, Carlos Drummond de Andrade, escreveu um significativo poema chamado “A morte do leiteiro”. Tomei a ousadia de resumir a obra de Drummond, cortando algumas partes, juntando as estrofes assim:
“Então o moço que é leiteiro de madrugada com sua lata sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim. (...) E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir. Mas este entrou em pânico (ladrões infestam o bairro), não quis saber de mais nada. (...) O revólver da gaveta saltou para sua mão. Ladrão? se pega com tiro. Os tiros na madrugada liquidaram meu leiteiro. Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber. (...) Mas o homem perdeu o sono de todo, e foge pra rua. Meu Deus, matei um inocente. (...) Da garrafa estilhaçada, no ladrilho já sereno escorre uma coisa espessa que é leite, sangue… não sei. (...) Formando um terceiro tom a que chamamos aurora.”
Não há leiteiros distribuindo garrafas de leite puro e cru nas madrugadas no século 21. Compra-se leite em pó. Ou industrializados e pasteurizados vendidos em recipientes com conservantes para durar semanas. Leiteiros estão fora de perigo. Então o poema de Drummond estaria totalmente anacrônico?
Acho que não. Preocupam-me os entregadores de pizza.
Devido à facilidade e comodidade, muitos brasileiros preferem pedir pizza em casa. Inclusive de madrugada. Os serviços de entrega de pizzas cresceram nos últimos anos. Faturando bilhões.  Há moços correndo, distribuindo pizza boa para gente ruim. E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir. 
Os tiros na madrugada que liquidaram o leiteiro de Carlos Drummond podem acertar no entregador de pizza. Entregadores de pizza, cuidado!