Pedro Lucas Lindoso
Quem entra para a vida pública há que se acostumar com
críticas e notícias desagradáveis. Além das armadilhas e artimanhas dos
partidos de oposição ao seu governo. É inerente à democracia.
Eleito deputado e posteriormente senador pelo Amazonas, meu
saudoso pai José Lindoso levou a família toda para Brasília. Cresci e casei-me
por lá. Quando José Lindoso tomou posse como governador, não morava por aqui e
poucos me conheciam.
Era o dia da posse. Fui cortar o cabelo numa barbearia do
centro. Cabeleira devidamente aparada. O barbeiro, que não me conhecia, fazia o
acabamento usando com incomum destreza uma afiadíssima navalha. De repetente,
alguém comenta.
– Hoje é posse do novo governador José Lindoso. E o barbeiro,
ainda com a navalha na mão, terminando o corte no meu cabelo, disse:
– Mais um para roubar.
Eu calado estava, calado fiquei. Terminado o serviço, paguei
o homem e saí sorrateiramente da barbearia, evitando constrangimentos.
Os amazonenses têm o hábito de criticar nossos irmãos
paraenses usando como mote a gatunice, ou chamando-os de jacaré. É deselegante
e injusto. Mesmo porque a maioria dos paraenses que vem para Manaus não é da
região de Belém. São na verdade tapajoenses. Óbidos, Oriximiná, Juruti e
Santarém são cidades bem mais próximas de Manaus do que de Belém.
Isso explica a forte migração para Manaus e a grande
quantidade de paraenses do Tapajós por aqui. Não se justifica a implicância
porque a cultura, o sotaque e os costumes são os mesmos dos amazonenses da
região do Baixo Amazonas. Já próximo ao Tapajós, lindo rio com belas praias,
temos as importantes cidades de Parintins, Maués e Barreirinha.
A marchinha de carnaval da Banda da Bica, que sempre faz
críticas aos políticos, chamou o novo governante de jacaré-tinga. Ele é
paraense oriundo do Tapajós que é um lindo rio com belas praias. Dizem que sua
excelência não gostou do apelido.
Vá se acostumando governador. Faz parte do jogo político.
Graças a Deus vivemos numa democracia. É melhor ser chamado de jacaré-tinga do que
jacaré do rabo cotó. O jacaré-tinga é também conhecido como jacaré-de-óculos.
Olho vivo na democracia.