Amigos do Fingidor

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Jacaré-tinga ou do rabo cotó?



Pedro Lucas Lindoso


Quem entra para a vida pública há que se acostumar com críticas e notícias desagradáveis. Além das armadilhas e artimanhas dos partidos de oposição ao seu governo. É inerente à democracia.
Eleito deputado e posteriormente senador pelo Amazonas, meu saudoso pai José Lindoso levou a família toda para Brasília. Cresci e casei-me por lá. Quando José Lindoso tomou posse como governador, não morava por aqui e poucos me conheciam.
Era o dia da posse. Fui cortar o cabelo numa barbearia do centro. Cabeleira devidamente aparada. O barbeiro, que não me conhecia, fazia o acabamento usando com incomum destreza uma afiadíssima navalha. De repetente, alguém comenta.
– Hoje é posse do novo governador José Lindoso. E o barbeiro, ainda com a navalha na mão, terminando o corte no meu cabelo, disse:
– Mais um para roubar.
Eu calado estava, calado fiquei. Terminado o serviço, paguei o homem e saí sorrateiramente da barbearia, evitando constrangimentos.
Os amazonenses têm o hábito de criticar nossos irmãos paraenses usando como mote a gatunice, ou chamando-os de jacaré. É deselegante e injusto. Mesmo porque a maioria dos paraenses que vem para Manaus não é da região de Belém. São na verdade tapajoenses. Óbidos, Oriximiná, Juruti e Santarém são cidades bem mais próximas de Manaus do que de Belém.
Isso explica a forte migração para Manaus e a grande quantidade de paraenses do Tapajós por aqui. Não se justifica a implicância porque a cultura, o sotaque e os costumes são os mesmos dos amazonenses da região do Baixo Amazonas. Já próximo ao Tapajós, lindo rio com belas praias, temos as importantes cidades de Parintins, Maués e Barreirinha.
A marchinha de carnaval da Banda da Bica, que sempre faz críticas aos políticos, chamou o novo governante de jacaré-tinga. Ele é paraense oriundo do Tapajós que é um lindo rio com belas praias. Dizem que sua excelência não gostou do apelido.
Vá se acostumando governador. Faz parte do jogo político. Graças a Deus vivemos numa democracia. É melhor ser chamado de jacaré-tinga do que jacaré do rabo cotó. O jacaré-tinga é também conhecido como jacaré-de-óculos. Olho vivo na democracia.