Max Carphentier tem duas
linhas marcantes na sua poesia: a mística, de fundo existencialista e
religioso; e a mítica, onde ele trabalha literariamente a paisagem e o
imaginário amazônicos. Por vezes, como no seu apreciado poema Sermão da Selva, essas vertentes se
imbricam e se tornam uma só, que podemos, por mero reducionismo didático,
denominar de “poesia cristã-amazônica”. No âmbito do Clube da Madrugada, a
poesia de Carphentier diferencia-se da poesia dos também
místicos-existencialistas L. Ruas e Farias de Carvalho exatamente por essa
singular e exuberante cor amazônica. Opção consciente, desde os primeiros
escritos dados a publicidade, a obra poética de Max Carphentier tem um quê de
libertária, sem a preocupação social de Farias de Carvalho, ao mesmo tempo em
que mantém o seu caráter místico em alta densidade, sem a angústia que perpassa
o trabalho de L. Ruas. Entenda o leitor que não estou comparando os três poetas
com a finalidade de estabelecer um juízo de valor, mas unicamente de mostrar
que, a despeito da opção por uma mesma direção, os três trilham caminhos
diferentes.
O livro Tiara do verde amor, de onde foram
extraídos os poemas que analisaremos, dá bem a dimensão dessa poesia que, sendo
profundamente cristã, não perde contato com a ancestralidade atemporal e o
telurismo amazônico, responsáveis, na obra de Max Carphentier, por livros como Nossa Senhora de Manaus e Nosso Senhor das Águas, poesia e novela,
respectivamente. O livro está dividido em três partes: “A Coroa de Anunciação”,
“A Coroa Mitológica” e “A Coroa das Águas”. Na primeira, o tema religioso está
centrado na chegada de uma mulher – a “Amada” –, alegoria do cristianismo,
impondo-se não mais pela violência, como registra a história, mas com a dádiva
do amor e da convivência harmoniosa. A segunda parte reporta aos mitos, à
“religião” da selva, mas não como algo vivo, contemporâneo: são fragmentos
reminiscentes de um tempo remoto, anterior à história, tatuados com os símbolos
do novo tempo. A terceira parte renova-se, telúrica e sensual, numa síntese
entre os dois mundos, que enfim se moldam num só.
O poema “Do urutau”, que
pertence à “Coroa Mitológica”, reproduz uma das muitas histórias que o lendário
caboclo preservou acerca da ave de hábitos noturnos e de natural habilidade
para a camuflagem, cujo canto lembra “uma gargalhada de dor”, segundo Camara
Cascudo anota em seu Dicionário do
Folclore Brasileiro.[1] Chamado
também de mãe-da-lua, além de outros nomes que parecem variações ou corruptelas
do primeiro, o urutau está associado sempre a histórias trágicas e a costumes
relacionados à moral sexual feminina. Uma dessas lendas conta que Tupã unira um
jovem casal, reservando-lhes para o futuro uma missão de muita gravidade. A
jovem esposa, porém, apaixona-se por um marinheiro branco e foge com ele,
provocando a ira do deus. Como castigo, Tupã condena-a a ter sua alma presa na
lua, permitindo-lhe voltar à terra à noite, sob a forma de um pássaro de canto
triste e aterrador. A essa ave o povo tupi chamou de urutau, que quer dizer
“pássaro fantasma”.
Carphentier, ao compor o
poema, foi fiel à narrativa popular, cuidando para que a linguagem poética
reproduzisse de maneira clara, mas sem concessões, toda a dor transmitida pelo
pássaro. Observe, desde o primeiro verso, construído sobre um belo oximoro – vivendo de morrer –, como essa linguagem
se estrutura, em decassílabos brancos. Há pouco a esclarecer. A expressão
“flautas tristes”, por exemplo, pode ter duas leituras: são metáforas para as
almas condenadas por Tupã, que andam a assombrar, pela noite; ou são as flautas
noturnas de Jurupari, cada som com um significado diferente, todos,
invariavelmente, melancólicos.
Mas o canto lúgubre do
pássaro, sendo mais que um lamento, é um desafio a quem o condenou a uma pena
maior que o crime que a jovem cometera. Para dar ideia da extensão dessa dor, o
poeta se refere a “esse cantar da lua à terra”; e os olhos do pássaro
“interrogam o céu” sobre o castigo do “amor sozinho”, como o sofrimento da
moça-urutau,
que, se um falaz amor tarde traíra,
do verdadeiro amor cedo partira.
Pela infidelidade a um
amor que não desejara, que lhe fora imposto pelo deus – ou, quem sabe, por seus
pais –, ela foi condenada a viver eternamente sem amor.
O poema seguinte, da
“Coroa de Anunciação”, trata, complementarmente, de assunto similar, mas vário:
o amor místico que, a despeito do sofrimento cotidiano, tende a crescer, tendo
por suporte a fé. Mas o poeta, inseguro da própria condição de crente,
compromete-se apenas a cantar “do que se acaba a luz que fica”, eternizando o
que lhe vem aos olhos. Do quinto ao oitavo verso, o poeta vê-se morto entre os
escombros, mas o milagre do retorno à vida – “lázaros de prantos” – se dá na
presença da “ave infinita”, metáfora da interferência divina.
Os versos seguintes
repetem o coro do amor necessário à salvação da selva, alegoria da própria
humanidade. O dístico final não poderia ser mais otimista: o prêmio de amor que
o amor de Deus dá ao crente é personificado na chegada da “Amada”, símbolo da felicidade
e da cessação de todo o sofrimento.
A poesia de fundo
religioso faz parte da tradição poética em todas as línguas. O espanhol San
Juan de la Cruz e a mexicana Sóror Juana Inés de la Cruz, além do inglês John
Donne, são alguns dos nomes mais notáveis. Em português, desde o pioneiro
Anchieta, passando pelo injustamente mal-afamado Gregório de Matos, até os
recentes Jorge de Lima e Murilo Mendes, manteve-se a tradição. A literatura
amazonense tem em Max Carphentier um representante desse legado, tornando a
crença em beleza e a fé em poesia.
Do urutau - A coroa de Anunciação XXI
(Mauri Mrq - Max Carphentier)
Bibliografia Geral
1.Subsídios para uma apresentação da
poesia amazonense: o Clube da Madrugada
GARCIA, Etelvina. Zona Franca de Manaus: história, conquistas
e desafios. Manaus: Norma, Suframa, 2004.
LOUREIRO, Antônio. Síntese da História do Amazonas. Manaus:
Imprensa Oficial, 1978.
RAMA, Ángel. Literatura e Cultura na América Latina. Org. de Flávio Aguiar e
Sandra Guardini T. Vasconcelos, Trad. de Raquel la Corte dos Santos e Elza
Gasparotto, São Paulo: Edusp, 2001.
TUFIC, Jorge. Clube da Madrugada – 30 anos. Manaus: Imprensa Oficial, 1984.
Obs: Por
justiça, devo citar também as conversas-entrevistas com os escritores Luiz
Bacellar, Anísio Mello, Almir Diniz e Armando de Menezes, que me passaram sua
visão e sua experiência pessoal sobre o assunto.
[1]
CASCUDO, Luís da Camara. Dicionário do
folclore brasileiro. 6.ª ed., Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 1988. p. 454.
O
historiador Francisco Gomes da Silva nos brinda com esse primor de livro – As
Pedras do Rosário. Depois de quase duas dezenas de livros publicados, o
Autor se apresenta com uma “inspiração teologal”. Elson Farias, ilustre
renomado poeta de Itacoatiara, em seu livro As náiades e a mãe-d’água, nos
lembra que Max Carphentier “trabalha uma poesia de inspiração teologal”.
Essa “inspiração
teologal” de que fala Elson Farias é, em nosso sentir, a mesma inspiração
divinal que inspirou Francisco Gomes ao escrever As Pedras do Rosário. Inspiração
teologal sublime e voltada para a exaltação de Maria, a Mãe de Deus e nossa Mãe.
Maria
que já se manifestou de diversas maneiras para consolar, acalmar e acalentar a
humanidade. E sempre nos aconselha a rezar o terço. Se apresentou aos pastores
meninos de Fátima, a Bernadete em Lourdes, em forma de adoração à sua imagem em
Aparecida e em Belém do Pará.
No
México, se transformou numa nativa grávida, ao aparecer em Guadalupe ao jovem
mexicano Diego. E no livro de Francisco Gomes, logo no início, temos a breve
narrativa da Deusa dos índios Iruri. Como a Virgem de Guadalupe, a Deusa índia
também veio grávida do céu. Guadalupe se tornou padroeira de toda a América
latina. A mãe dos Iruri com certeza é a mesma nossa Mãe. Mãe do Criador. Mãe de
Deus. Ela se transforma, se transmuta para melhor se fazer entender, para
auxiliar os homens em seus desejos e angústias.
O
Rosário, a reza do terço, é a maneira mais prática, mais eficaz de se conectar
com nossa Mãe. E com o Divino Pai Eterno. Como bem nos diz Francisco Gomes:
“Simbolicamente, o Rosário é a rede que pesca almas
para Deus, com a intercessão da Virgem Maria”.
Francisco
Gomes nos informa que a vocação de rezar o Rosário veio para Itacoatiara e
região pelos jesuítas, ainda no século XVII.
A
riqueza da obra de Francisco Gomes extrapola o aspecto teologal de que falamos
e adentra no aspecto histórico e considerações do mundo profano. E nos lembra
quão marcante e às vezes altamente dramáticas que foram as conquistas dos
europeus:
“Durante os séculos XV e XVI, os europeus lançaram-se
nos três oceanos com os objetivos de descobrir uma nova rota marítima para as
Índias e encontrar novas terras. A expansão no exterior levou ao surgimento dos
impérios de Portugal e Espanha, que lideraram as grandes descobertas estendendo
seus domínios à África, à Ásia e às Américas”.
Como
bem ensina Francisco Gomes, na conquista das Américas, a Igreja esteve presente
inclusive endossando interesses comuns dos governos colonizadores. Obviamente,
este expansionismo europeu teve por base a teologia cristã.
E aí
vem, em minha opinião, o ápice da obra, que é a importância do Santo Rosário
para consolidação do Cristianismo na Amazônia e em Itacoatiara. E assim nos
fala:
“O Santo Rosário sempre se revelou forte no mundo
inteiro, é tradicional na Amazônia e se sobressai muito no Município de Itacoatiara.
É uma oração mariana muito recomendada pela Igreja Católica ao longo dos
séculos”.
O Autor
nos informa que a devoção do povo itacoatiarense a Nossa Senhora do Rosário vem
de 1683, ano em que foi fundado no rio Madeira o núcleo originário desta
cidade. Gomes, acertadamente afirma que:
“Além do Culto a Jesus, o Catolicismo incentivava o
Culto à Virgem Maria e aos santos. A Igreja sempre venerou Maria como sua Mãe,
e há uma razão lógica: ela é a Mãe de Jesus, Cabeça da Igreja”.
A obra
de Francisco Gomes da Silva é riquíssima em informações históricas. Mas sempre
há lugar para o Divino por intermédio da adoração da Santa Mãe de Deus e seus
milagres. É assim ao relatar episódio ocorrido em 1791. A pequenina igreja foi
devorada por um misterioso incêndio – sendo a imagem da Padroeira
milagrosamente salva.
Durante
toda a leitura do livro, o leitor vai tomar conhecimento dos mais importantes
fatos históricos ocorridos primeiro na Província do Grão Pará e Maranhão.
Posteriormente, no Grão Pará e Alto Rio Negro. Além de importantes
considerações sobre o período Pombalino. Entretanto, Francisco Gomes, de
maneira magistral, consegue sempre lembrar ao leitor a figura divinal de Maria,
Mãe de Deus.
Por
fim, tanto o autor como os leitores, percebemos que Nossa Senhora vela por
todos e cada um de nós, como Mãe e com uma grande ternura, misericórdia e amor,
e sempre nos incentiva a sentir seu olhar amável. Quem nos garante isso é o
nosso atual Pontífice, Papa Francisco.
Parabéns
ao historiador Francisco Gomes da Silva por sua obra que nos enriquece, tanto
no aspecto teologal, na figura de Nossa Senhora do Rosário, como no aspecto
histórico, com toda a gama de informações sobre a Amazônia.
Na última quinta-feira, sob a presidência de Robério Braga (à mesa), o escritor recebeu das mãos do poeta Max Carphentier e do desembargador Lafayette Vieira o diploma de acadêmico.
O discurso de posse na cadeira número 30, que tem como patrono Araripe Júnior. O novo acadêmico lembrou seu antecessor, Armando de Menezes.
Pela primeira vez, a posse foi transmitida ao vivo, pelo feicebuque. Confira o vídeo, na íntegra, copiando o endereço abaixo, e colando-o no seu navegador:
As cadeiras de balanço em vime estão na memória afetiva da
maioria dos amazonenses. Possivelmente, de muitos brasileiros também. Praticamente,
em todas as casas da Manaus de antigamente havia cadeiras de balanço. Feitas de
vime.
Só mesmo o grande bardo Marx Carphentier descreveria uma
cadeira de balanço como “movediço trono e plataforma alada”. Ao ler o poema,
exclamei: Meu Deus, a cadeira falante ressuscitou! É a cadeira de minha
avó.Uma das cadeiras de balanço da
chácara da Vila Municipal. A cadeira em que minha avó sentava. Um trono!
Decerto um verdadeiro trono! De uma carinhosa rainha drusa. Que acalentava netos
em seus braços de generosos afagos.
Não tive dúvidas. A cadeira de minha avó ressurgia no poema
de Max. “Uma plataforma alada”. Claro, a cadeira que na minha imaginação
metamorfoseava-se num simpático Pégaso. Aquele cavalo alado da mitologia,
símbolo da imortalidade. Seres mágicos capazes de alimentar-se de nuvens do
entardecer e raios de sol. Justamente no entardecer de tardes úmidas e mornas.
Pégasos imaginários que traziam do firmamento uma aragem benfazeja para
presentear as pessoas. Aragem recolhida nos rios e igarapés que alagam a
floresta. Era esse presente que minha avó desfrutava quase todas as tardes, em
sua cadeira de balanço. Cuidadosamente posta na calçada, em frente ao grande
portão, para o lado da pracinha.
Minha avó fazia várias atividades sentada em sua cadeira de
balanço. Sempre gostou de ler enquanto se embalava. Ver televisão. Acarinhar os
netos. Conversar com os vizinhos e principalmente desfrutar do suave frescor do
lusco-fusco manauara.
As cadeiras de balanço atuais são diferentes daquelas da
Manaus dos anos sessenta. Há muitas fabricadas em modelos tradicionais com fios
de plástico. Outras são feitas de “junco”, uma fibra sintética.
Meu irmão mais velho, que mora em São Paulo, num rasgo de
saudosismo, manifestou a vontade de ter uma cadeira de balanço em vime. Como as
de antigamente. Encomendei a cadeira ao seu Ernandes. Um valoroso marceneiro
com estabelecimento na esquina da Joaquim Nabuco com a Avenida Getúlio Vargas.
Levei a cadeira embalada, normalmente despachada, em voo para São Paulo.Não preciso dizer que o paulista baré
encantou-se com o presente. Mais uma vez, o poeta estava certíssimo. As
cadeiras de balanço são sempre antigas, mesmo quando novas.
E eu agradeço ao poeta por ter ressuscitado a cadeira de
minha infância. Volto ao presente. Fico na certeza que as cadeiras de balanço
já não são mais coisas somente das avós. A cadeira de balanço é um convite para
ler, fazer poesia e principalmente relaxar.
Num país tropical como o nosso, a cadeira de balanço, ainda
parafraseando Carphentier, é a “torre de vigia das varandas”. “Sempre velhos e
jovens contemplam nos meus braços a próxima paisagem e a invisível”.
E eu convoco novamente o Pégaso de minha infância. O eterno
comedor de nuvens e raios de sol. Sento-me na cadeira de balanço. Só me resta
meditar e relaxar. No balanço das recordações.
PS: Opoema “No
balanço das recordações”, de Max Carphentier, encontra-se na página 79 do recém
lançado livro A palavra de tudo, pela
Editora Sejamos Luz.
O lançamento do livro da Irmã Marília Menezes, que deveria acontecer na próxima terça-feira, 5 de maio, foi cancelado, em virtude do falecimento de uma irmã da autora, em Belém, na tarde de ontem, 2 de maio. Nossos pêsames à família.
Clube da Madrugada em 1990. Posse de Evandro Carreira como presidente.
Da esquerda para a direita: Nestor Nascimento, Luiz Bacellar, Evandro Pororoca Carreira, não conheço, Antísthenes Pinto e Max Carphentier.
Na fila de trás: D. Izabel Alaúzo, Jorge Tufic, sei lá quem e Arthur Engrácio.
Mais atrás, as barbas de Anisio Mello.
O Bacellar de bermudas é inédito. Ele estava querendo mandar alguma mensagem para o futuro.
Talvez, "esse clube já não existe mais, tirem por mim..."
Em 1990, o Clube já havia cumprido sua função histórica e era apenas um arremedo do que fora.
Duas epígrafes, imagino agora, deveriam ter sido impressas nas páginas de entrada desta tríplice coroa de sonetos , Tiara do verde amor, de um dos melhores poetas brasileiros de todos os tempos, Max Carphentier, autor, inclusive, de um livro de contos e de um romance premiado pela SUFRAMA (Superintendências da Zona Franca de Manaus). Uma delas eu tirei da Cartilha da Amazônia (Livro do aluno, SEDUC/INPA, 1979) e traz a seguinte frase ou período simples: “A Amazônia vai até onde acaba a vegetação amazônica”. A outra é minha, e tem forma de trova:
Floresta é tudo o que encerra fauna, flora, sol e ermo:
entre o verde e a moto-serra
não pode haver meio-termo.
Não se trata aqui, porém, de um livro técnico, embora se trate de livro que tenha, aliado ao poético e à difícil arte da espécie coroa, o interesse de infundir amor pela nossa Amazônia, última grandeza natural que testemunha o homem e o nascimento da poesia.
Como no tempo dos árcades, o autor festeja o advento da Amada, repleta de bons prenúncios. O verbo chega a marcar-lhe a presença, nem muito sutil nem muito ruidosa, pelo fato de já tê-la em si mesmo e no todo que ainda vai ser narrado e percorrido. Ela chega assim veículo e companheiro, musa e pão, tapete mágico e flor aquática. E ambos partem, depois desse introito, a tecer, nos ares perfumados e bosques atentos, sonetos que tecem sonetos, sonetos que tecem de verde o amor através do qual, o poeta e sua Amada, nutrindo-se da seiva agonizante que instaura a vida e protege os seres do planeta, tentam salvar a Amazônia do maior e mais longo enterro ecológico da História. A tiara, símbolo do poder místico, eleva-se do canto em ramos luminosos que se agitam de esperança.
Transferida para os mísseis de alcance continental, a intensidade poética em jogo através da terra e dos mitos da coroa intermediária, redobra em potência. A verde tiara do Amor, contudo, alando-se cada vez mais em descobertas e leves registros metafóricos, sem a cor alarmante das caixas de alta tensão, pretende colocar o bom senso, em vez do pânico; a vigília, em vez do ódio; a árvore, em vez do poste; a vida, em vez da morte; o verde em vez das queimadas.
Em verdade, poeta, só o Deus venerado pelos brancos, ou os deuses rubros da forja de Vulcano, podem salvar esse conjunto de matas e águas em absurdo que se juntaram no ecossistema da Amazônia, vista e sonhada por gregos e troianos, ianques e russos, pretos e amarelos, mas onde apenas alguns reconhecem a impossibilidade de um meio-termo que seja, entre o desenvolvimento colocado pelos homens de empresa e a necessidade de sua preservação, como parte que é de tantos outros sistemas, ainda hoje desconhecidos.
Meu pai cresceu ouvindo os sinos da Catedral de Estrasburgo. No meu tempo de menino, de minha casa se ouviam os sinos da catedral, pois Manaus era uma cidade silenciosa e morávamos no centro. Creio que todos nós temos uma catedral íntima, interna, interior. É lá que nós nos recolhemos, nas nossas meditações e reflexões, na solidão de nosso encontro com nossos pensamentos.
O poeta Max Carphentier foi mais longe, ele mesmo construiu a sua própria “Catedral dos sacramentos” (Manaus, Academia Amazonense de Letras, 2010, 238 p.) em poemas em prosa, articulados numa espécie de mural, como aquele em que “Cristo que saía da parede e os abençoava”, na página 37.
O autor (e aí eu arrisco a heresia clara) criou o Cristo para adorá-lo depois. Porque primeiro o escreveu, o inscreveu na sua Catedral do seu livro. Essa Catedral, feita de pedras da salvação, ele a teceu com suas frases, com seus capítulos.
Curiosamente, o livro todo é permeado por aquele minúsculo batismo, por aquele minúsculo dilúvio das águas amazônicas. Não é um livro europeu, ou asiático, mas interiorano na sua imensidão amazônica. A sua Catedral é pessoal, cheia de sol e de luz da Terra Santa de sua própria Terra. Sua Catedral é uma festa das águas de um renovado batismo.
O leitor de Max Carphentier não tem nas mãos um livro piedoso e triste, nunca a tristeza das novenas lamuriosas, mas sempre a alegria da claridade dos cantos. O livro nada tem a lamentar, mas a confirmar: “Criamos uma canção nova para a hora das crismas”. Suas palavras são aquelas “andorinhas que falaram como os sinos”.
Por isso mesmo há um capítulo chamado “Carisma e felicidade”, em que o jovem Lívio volta para casa para despedir-se dos pais e partir para terras distantes pregando e profetizando sobre o novo tempo: Mas “os que o ouviam aprendiam sem esforço, porque suas revelações eram revestidas de sua própria felicidade”.
O livro todo é atravessado por essa contagiante felicidade.
Prezados colegas, alunos e demais membros da comunidade acadêmica,
A Cátedra Amazonense de Estudos Literários, grupo de pesquisa certificado pela pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UEA junto ao CNPq, inaugura seu terceiro ano de atividades constantes convidando a todos para a palestra a ser proferida pela Professora Doutora Auricléa Oliveira das Neves (doutora em Estudos Literários pela UFF e atual professora do Centro Universitário do Norte), na próxima quarta-feira, 20 de abril, às 10h, na Escola Normal Superior. A palestrante falar-nos-á sobre “A poética de Max Carphentier” e, como tradicionalmente já fazemos, haverá bastante tempo para o debate de idéias.
Inovando em relação aos encontros anteriores, desta vez a fala de nossa convidada será transmitida via sistema IPTV aos campi da Universidade do Estado do Amazonas em que o nosso grupo de pesquisas está enraizado: Tefé e Parintins. Será, portanto, um momento único na história de nosso grupo que passa, a partir de agora, a contar com o apoio da tecnologia para levar conhecimento a um número maior de estudantes e estudiosos dos Estudos Literários.
Aproveitaremos a ocasião para lançar o selo comemorativo dos 3 anos da Cátedra e apresentaremos o nosso programa de atividades (eventos) para 2011. Na ocasião, estará presente a Professora Doutora Cleuza Suzana Araújo, coordenadora de pesquisa da PROPESP, a fim de prestigiar o trabalho que a Cátedra tem feito (incluindo neste as bases que propiciaram a abertura do Mestrado em Letras e Artes da UEA), marcando a presença da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa de nossa Universidade.
A todos, o convite para que no dia 20/04, às 10h, tenhamos um compromisso marcado com a literatura e o saber.
OBS: entrada franca a membros internos e externos à UEA.
Prof. Otávio Rios
Regente da Cátedra Amazonense de Estudos Literários da UEA
O romance A Musa de Jerusalém é uma releitura da saga de Cristo, descrita sob a perspectiva de uma mulher que testemunhou esses acontecimentos e, em sonhos e inspiração, partilhou-os com o narrador.
Max Carphentier firma sua reputação como ficcionista com a publicação de A Musa de Jerusalém, oferecendo um momento renovador ao romance histórico em língua portuguesa. Este livro é revelador de certos aspectos da vida de Jesus, sua pregação e valores éticos.
Para o autor, a figura da musa existe em toda literatura. Às vezes, vem disfarçada de paisagem, mas sempre existe esse sinal humano e visível da inspiração do alto, que pode configurar-se numa mulher, num ideal, num tema. É por meio dessa configuração que passa a inspiração do alto. Carphentier criou, então, sua Musa para conduzi-lo por entre as paisagens bíblicas. Originada de um movimento de fuga na direção de Deus, ela carrega um pouco dos anseios e as interrogações de todos aqueles que foram tocados pelos Evangelhos.
O autor
Membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, Max Carphentier é poeta e ficcionista. Vinculou-se ao movimento Clube da Madrugada em uma época em que havia uma espécie de disputa sobre quem se atualizava mais quanto às obras que estavam sendo publicadas no sul do país, bem como sobre a discussão de temas literários. Max foi considerado “verde” porque tinha 18 anos ao aproximar-se dos mais antigos. Portanto, teve de estudar muito, por exigência dos seus companheiros mais adiantados. E isso lhe valeu como um curso intensivo de literatura.
Estreou, em 1975, com a publicação do livro de poemas surrealistas Quarta Esfera. A repercussão foi a melhor possível, a ponto de, no lançamento, sob o Mulateiro da Praça da Polícia, haver comparecido o governador Enoch Reis, entre as autoridades do mundo cultural e político. Na época, o Clube da Madrugada estava em plena efervescência.
Carphentier busca, pela linguagem, resgatar o sentido do sagrado. Seu discurso possui intensa carga subjetiva, cheio de ressonâncias místicas, com forte conotação cristã. Seu segundo livro, Sermão da Selva, foi publicado em 1979. A obra inaugura, para o autor, a concretização da linguagem espiritualista com a qual vem enveredando insistentemente na literatura, juntando, como pano de fundo, a exaltação à natureza amazônica. Sua produção ficcional tem como momento marcante a publicação, em 1993, da novela Nosso Senhor das Águas. Tem outros títulos de poesia, conto, romance e discursos acadêmicos.
Outras informações
Título: A Musa de Jerusalém – Romance histórico da vida de JesusAutor: Max Carphentier
Páginas: 322
Preço: R$ 48,00
Data: 28 de março de 2009 (sábado)
Horário: 10:00h
Local: Livraria Valer – Rua Ramos Ferreira, 1195 – Centro
Contatos: 3635-1324
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Academia Amazonense de Letras promove homenagem anual
O escritor Péricles Moraes (1882-1956), um dos fundadores da AAL.
Pelo quinto ano consecutivo, a Academia Amazonense de Letras concede a Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes, nas áreas de Arte, Letras e Mecenato. Personagens como Astrid Cabral, Ivete Ibiapina, Nivaldo Santiago, Óscar Ramos e Milton Hatoum já foram agraciadas. Neste ano, o bailarino Marcelo Mourão, o escritor Carlos Gomes e o Instituto Dirson Costa foram os escolhidos.
A entrega da medalha, em noite de gala, será a 28 de abril, em local a ser confirmado, pois o prédio da AAL está em reforma. O orador da cerimônia, entretanto, já foi designado: será o escritor Max Carphentier.
Péricles Moraes foi um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, seu presidente de 1948 a 1956, e hoje é patrono da cadeira número 1. O dia 28 de abril marca o seu aniversário de nascimento, em 1882.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Flifloresta - programação do Café Literário
Quinta-feira - dia 20/11/08
18h Mesa temática 2 Tema: O ofício da criação - realidade e imaginário Mediador: Anibal Beça Debatedor I: João Gilberto Noll Debatedor II: Salgado Maranhão Debatedor III: Maria Antonieta Flores (Venezuela)
18h45 Discussão/debatedores
19h15 Debate com a platéia
19h30 Sessão de autógrafos: Tenda dos Escritores
20h30 Mesa temática 3 Tema: Literatura – tempo e eternidade Mediador: Astrid Cabral Debatedor I: Max Carphentier Debatedor II: Fabrício Carpinejar Debatedor III: Ernesto Cardenal (Nicarágua)
20h45 Discussão/debatedores
21h Debate com a platéia
21h30 Sessão de autógrafos: Tenda dos escritores
22 Encerramento
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Márcio Souza fala sobre Utopia política: sonho e realidade
Devido à realização das eleições municipais de 05 de outubro, a última palestra do ciclo As Utopias e a História das Sociedades será realizada somente no próximo sábado, 11/10, de 10 às 12 horas, no salão do Pensamento Amazônico, na Academia Amazonense de Letras. Entrada franca.
O palestrante será o acadêmico Márcio Souza, romancista de renome internacional, autor de obras-primas como Mad Maria, Galvez, o imperador do Acre e O brasileiro voador, entre outros. As três palestras anteriores – As utopias na História (Rosa Mendonça de Brito), As utopias cristãs (Max Carphentier) e As utopias portuguesas (Antônio Loureiro) – abriram caminho para Márcio Souza expor suas polêmicas idéias sobre Utopia e política: sonho e realidade.