Pedro Lucas Lindoso
Eu, Cadeira de Balanço,
movediço trono e plataforma alada,
pra sempre antiga mesmo quando nova.
(Max
Carphentier)
As cadeiras de balanço em vime estão na memória afetiva da
maioria dos amazonenses. Possivelmente, de muitos brasileiros também. Praticamente,
em todas as casas da Manaus de antigamente havia cadeiras de balanço. Feitas de
vime.
Só mesmo o grande bardo Marx Carphentier descreveria uma
cadeira de balanço como “movediço trono e plataforma alada”. Ao ler o poema,
exclamei: Meu Deus, a cadeira falante ressuscitou! É a cadeira de minha
avó. Uma das cadeiras de balanço da
chácara da Vila Municipal. A cadeira em que minha avó sentava. Um trono!
Decerto um verdadeiro trono! De uma carinhosa rainha drusa. Que acalentava netos
em seus braços de generosos afagos.
Não tive dúvidas. A cadeira de minha avó ressurgia no poema
de Max. “Uma plataforma alada”. Claro, a cadeira que na minha imaginação
metamorfoseava-se num simpático Pégaso. Aquele cavalo alado da mitologia,
símbolo da imortalidade. Seres mágicos capazes de alimentar-se de nuvens do
entardecer e raios de sol. Justamente no entardecer de tardes úmidas e mornas.
Pégasos imaginários que traziam do firmamento uma aragem benfazeja para
presentear as pessoas. Aragem recolhida nos rios e igarapés que alagam a
floresta. Era esse presente que minha avó desfrutava quase todas as tardes, em
sua cadeira de balanço. Cuidadosamente posta na calçada, em frente ao grande
portão, para o lado da pracinha.
Minha avó fazia várias atividades sentada em sua cadeira de
balanço. Sempre gostou de ler enquanto se embalava. Ver televisão. Acarinhar os
netos. Conversar com os vizinhos e principalmente desfrutar do suave frescor do
lusco-fusco manauara.
As cadeiras de balanço atuais são diferentes daquelas da
Manaus dos anos sessenta. Há muitas fabricadas em modelos tradicionais com fios
de plástico. Outras são feitas de “junco”, uma fibra sintética.
Meu irmão mais velho, que mora em São Paulo, num rasgo de
saudosismo, manifestou a vontade de ter uma cadeira de balanço em vime. Como as
de antigamente. Encomendei a cadeira ao seu Ernandes. Um valoroso marceneiro
com estabelecimento na esquina da Joaquim Nabuco com a Avenida Getúlio Vargas.
Levei a cadeira embalada, normalmente despachada, em voo para São Paulo. Não preciso dizer que o paulista baré
encantou-se com o presente. Mais uma vez, o poeta estava certíssimo. As
cadeiras de balanço são sempre antigas, mesmo quando novas.
E eu agradeço ao poeta por ter ressuscitado a cadeira de
minha infância. Volto ao presente. Fico na certeza que as cadeiras de balanço
já não são mais coisas somente das avós. A cadeira de balanço é um convite para
ler, fazer poesia e principalmente relaxar.
Num país tropical como o nosso, a cadeira de balanço, ainda
parafraseando Carphentier, é a “torre de vigia das varandas”. “Sempre velhos e
jovens contemplam nos meus braços a próxima paisagem e a invisível”.
E eu convoco novamente o Pégaso de minha infância. O eterno
comedor de nuvens e raios de sol. Sento-me na cadeira de balanço. Só me resta
meditar e relaxar. No balanço das recordações.
PS: O poema “No
balanço das recordações”, de Max Carphentier, encontra-se na página 79 do recém
lançado livro A palavra de tudo, pela
Editora Sejamos Luz.