Zemaria Pinto
Todos os dias era o mesmo ritual: ele chegava pouco antes das
8, guardava a mochila no armário, pegava três envelopes de chá, abria-os com
cuidado, colocava-os no copo, deitava água quente sobre eles e sentava-se, esperando
a infusão, enquanto ligava o desktop
para dar início ao trabalho ordinário. Naquele dia, não: quando ele chegou já
todos trabalhavam; pousou a mochila sobre a mesa, abriu-a, puxou de dentro um
revólver e disparou na nuca da colega sentada à sua frente. Nos poucos segundos
que se seguiram de pânico generalizado, ele sentou-se e disparou contra a
têmpora direita, deixando-se cair sobre a mesa, como se apenas cochilasse – o
que, aliás, era seu costume após o almoço.