Amigos do Fingidor

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Marca valiosa não se muda



Pedro Lucas Lindoso


O Jornal do Commercio comemora 115 anos de existência. Em nome de sua tradição centenária, continua mantendo a marca JORNAL DO COMMERCIO, com m dobrado. E deve manter essa saudável tradição. Por tratar-se de marca, tem valor econômico expressivo.  O jornal de maior circulação da capital federal, o CORREIO BRAZILIENSE, é grafado com z. Também é uma marca, criada em Londres, em 1808, por Hipólito José da Costa.
Até o início do século 20, quando o Jornal do Commercio foi fundado (em janeiro de 1904), tanto no Brasil como em Portugal a escrita obedecia com radicalidade à raiz latina ou grega das palavras.
O JC já circulava na ainda próspera Manaus de 1907 quando a Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações. Somente em 1924, quando o Brasil já havia comemorado 100 anos de independência, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum. Todavia somente em 1931 é aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, que visa suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa. Contudo só entrou em vigor em 1940 em Portugal e em 1943 no Brasil.
Por esse acordo foi permitida a conservação, para ressalva de direitos, da grafia dos nomes próprios adotada pelos seus possuidores. Assim como da grafia original de firmas comerciais, sociedades, marcas e títulos. Portanto, o Jornal do Commercio tem o legítimo direito de ser grafado Commercio e não Comércio.
Ainda em 1931, quando o Brasil se chamava oficialmente de República dos Estados Unidos do Brasil, e Getúlio Vargas mandava e desmandava por decreto, instituiu-se o de nº 20.108, de 22 de julho de 1931. O decreto dispunha que a grafia usualmente dubitativa de algumas palavras, dentre elas Brasil, seria grafada Brasil e não Brazil (inciso XVI, alínea “a”).
Também pelo mesmo Decreto nº 20.108/1931, Manaus deixou de ser Manáos. A lei mandava grafar “- Com ai, au, eu, iu e oi os ditongos que alguns escrevem com ae, ao, eo, io, oe: pai, pau, céu, viu, herói”. Páo brazil, virou pau brasil. Náo virou nau e Manáos virou Manaus.
Houve outras reformas ortográficas. No início dos anos de 1970 e a mais recente em 2009, com vigência definitiva em 2012.  Mas o Jornal do Commercio conservou-se escrito assim. Marca valiosa não se muda.