Pedro Lucas Lindoso
O Jornal do Commercio
comemora 115 anos de existência. Em nome de sua tradição centenária, continua
mantendo a marca JORNAL DO COMMERCIO, com m dobrado. E deve manter essa
saudável tradição. Por tratar-se de marca, tem valor econômico expressivo. O jornal de maior circulação da capital
federal, o CORREIO BRAZILIENSE, é grafado com z. Também é uma marca, criada em
Londres, em 1808, por Hipólito José da Costa.
Até o início do século 20, quando o Jornal do Commercio foi fundado (em janeiro de 1904), tanto no
Brasil como em Portugal a escrita obedecia com radicalidade à raiz latina ou
grega das palavras.
O JC já circulava na ainda próspera Manaus de 1907 quando a
Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas
publicações. Somente em 1924, quando o Brasil já havia comemorado 100 anos de
independência, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de
Letras começam a procurar uma grafia comum. Todavia somente em 1931 é aprovado
o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, que visa suprimir as
diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa. Contudo só entrou em
vigor em 1940 em Portugal e em 1943 no Brasil.
Por esse acordo foi permitida a conservação, para ressalva de
direitos, da grafia dos nomes próprios adotada pelos seus possuidores. Assim
como da grafia original de firmas comerciais, sociedades, marcas e títulos.
Portanto, o Jornal do Commercio tem o
legítimo direito de ser grafado Commercio e não Comércio.
Ainda em 1931, quando o Brasil se chamava oficialmente de
República dos Estados Unidos do Brasil, e Getúlio Vargas mandava e desmandava
por decreto, instituiu-se o de nº 20.108, de 22 de julho de 1931. O decreto
dispunha que a grafia usualmente dubitativa de algumas palavras, dentre elas
Brasil, seria grafada Brasil e não Brazil (inciso XVI, alínea “a”).
Também pelo mesmo Decreto nº 20.108/1931, Manaus deixou de
ser Manáos. A lei mandava grafar “- Com ai, au, eu, iu e oi os ditongos que
alguns escrevem com ae, ao, eo, io, oe: pai, pau, céu, viu, herói”. Páo brazil,
virou pau brasil. Náo virou nau e Manáos virou Manaus.
Houve outras reformas ortográficas. No início dos anos de
1970 e a mais recente em 2009, com vigência definitiva em 2012. Mas o Jornal
do Commercio conservou-se escrito assim. Marca valiosa não se muda.