Amigos do Fingidor

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

A poesia é necessária?



O rio comanda a vida

                                          Aldisio Filgueiras


ímpetos sexuais
aríete
de coisas diluídas

o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas

e sob o tropel
de seus ásperos cascos

liquefeita
em cópias
de figuras trágicas

a presença inócua
e dúbia
de nossos corpos 

o rio des-governa

quase impossível
regime
de forças hidráulicas

apenas usadas
por lisos cardumes
de peixes argutos
em ciranda elétrica

o rio põe e dispõe
que
manhas e tramas
tem esse rio
e orgulho de senhor

por exemplo

risca funda fronteira
e aliena
seu feudo do mundo
em líquido
estado de sítio

e pênis raivando
de ímpetos sexuais

– aríete
de coisas diluídas –

o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas