Meu pranto
José Seráfico
É
para você o meu pranto
e...
para
mim também
para
e por Marielle
também
choro
mal
entrara na luta
que
tanta vida
tem
ceifado
tanta
amargura
multiplicado
tanto
ódio cultivado
meu
lamento se faz
diante
da música
que
já não tem
som
algum
perdido tiro
dos
oitenta disparados
calou
de vez o instrumento
e
a vida que ali
jaz
É
também por Vlado
que
meus olhos
vertem
água
por
sua falsa gravata
guilhotina
adequada aos tempos
de
terror
porque
amar dói
códigos
malditos
ódios
desatados
porões
infectados
das
piores (des)humanas
moléstias
merece
minhas lágrimas
não
tenho como negá-las
como
retê-las
muito
menos
as
chamas que deram
fim
a Ney Lopes
os
fuzis
de
Carandiru e os
fuzilados
camponeses
em
busca do Eldorado
cujas
caras e tudo
mais
jazem
no
buraco mais alto
foi
tudo quanto restou
Que
Frei Tito
ouça
meu langor
esteja
onde (onde?)
estiver
o que de
Rubens
restou
saibam
quanto deploro
a
partida de Dorothy Stang
o
jogo perdido por
Chico
Mendes
por
eles
(e
quantos mais)
é
que choro
saudoso
mais que
triste
sem
ódio
nenhum
rancor
as
lágrimas rolam
pela
impossibilidade
do
amor.