Pedro Lucas Lindoso
Em
Inglês a palavra “understand” significa entender, compreender. O prefixo “mis”
pode mudar completamente o significado de uma palavra e dizer o oposto! No caso
de “understand”, por exemplo, temos “misunderstand”. O que vem a significar o
oposto de entender, que é compreender mal, não necessariamente um
desentendimento.
Martinho
Lutero, como sabemos, foi o famoso monge alemão do século XVI. Fundou a
doutrina protestante luterana. A doutrina de Lutero tem como elemento central a
crença na justificação pela fé, ou seja, que a salvação de uma pessoa é
garantida exclusivamente pela fé. Os livros de História sempre se referem ao
Martin Luther alemão como Martinho Lutero e nunca como Martin Luther. Já o líder negro americano que lutou pelos
direitos civis dos negros sempre foi conhecido no Brasil como Martin Luther
King Jr. E nunca como Martinho Lutero King.
Frei
Donald foi pároco da Igreja de Santo Antônio em Brasília. É falante do inglês.
Sempre se esforçando em falar o português corretamente. Mas dava suas
derrapadas. Certa vez fez um sermão em que falava sobre o líder negro
americano. Chamou-o de Martinho Lutero King.
Ninguém entendeu nada. As pessoas achavam que ele se referia ao monge
alemão fundador da Igreja Luterana. Frei
Donald é meu amigo. No final da missa fui falar com ele e esclareci a confusão.
O sermão foi um grande “misunderstanding”.
Quando
jovem, fiz um curso de Inglês em Londres. Em nossa turma havia estudantes de
diversos países. Uma jovem brasileira do interior de Minas nunca havia
conversado com um mulçumano. Ao ser informada pelo rapaz que ele fazia suas
orações virado para Meca, a moça caiu na gargalhada. O jovem árabe não gostou.
Ficou ofendidíssimo.
A
garota pediu desculpas que não foram aceitas. Tentei argumentar dizendo que ela
desconhecia a cultura dele e não quis ofender. Não adiantou. E o pior. Ficou
chateado comigo. Achou que eu estava dando razão à moça. Ninguém quis, em
momento algum, desrespeitar a religião e a cultura do jovem rapaz. Pelo
contrário.
Expliquei
a ele que nós, católicos, durante a missa, comungávamos com um pão simbolizando
o corpo de Cristo. E que cada religião tinha seus dogmas e mistérios. E que em
nenhum momento houve desrespeito à religião dele. Por fim, o rapaz concordou
que estava tudo bem. Mas não poderia perdoar a garota mineira. É uma pena que
mal-entendidos não possam ser perdoados. Em época de divisões políticas, ódios
injustificáveis, fake news e ressentimentos fica ainda mais difícil
esclarecer os mal-entendidos.
Lembra-se
da tomada e do focinho de porco? Ambos têm dois buracos. Confundi-los acarreta
problemas. Melhor estar atento às diferenças. Nunca foi tão difícil explicar
que focinho de porco não é tomada.