Pedro Lucas Lindoso
Escrevi
uma crônica sobre o petisqueiro de minha avó. Muitas pessoas amigas sugerem
temas ao cronista. Depois da crônica do petisqueiro algumas garotas de minha
geração sugeriram que eu fizesse uma crônica sobre penteadeiras.
Eu
então resolvi pedir a algumas conhecidas que falassem sobre suas penteadeiras.
As respostas foram bem interessantes.
Uma delas me disse que herdou uma penteadeira antiga, linda, com espelho
que balançava. Depois confessou que a tinha vendido para um antiquário. O
motivo: não coube no seu novo apartamento.
Outra
me contou que sua penteadeira saiu de moda. O móvel atualmente se encontra num
sítio da família. Alguns relatos foram coincidentes. Os espelhos sempre
aparecem como objeto de destaque nos depoimentos. Muitas descreveram os
espelhos assim:
“As
penteadeiras tinham um espelho central e dois laterais que eram presos ao
central. De modo que se podia movê-los para perto do rosto. Assim, era possível
se ver os cabelos e os respectivos penteados da parte posterior da cabeça.
Tanto de um lado, como do outro.”
Nas
gavetas se colocavam grampos, laços, presilhas e fitas. Nessas gavetas também
eram guardados os produtos para maquiagem. Geralmente, um batom claro e um
pouco de “rouge”. Depois o tal “rouge” passou a ser chamado de “blush”. Nos
olhos, somente uma leve sombra, que hoje se chama “eye shadow”. Tudo muito discreto, como cabia a uma moça de
família.
Em cima
das penteadeiras, bem em frente ao espelho central, ficavam o talco e o perfume
da época. Uma delas confessou que usava um chamado de “Alma de Flores”, até
hoje presente nas farmácias.
Para a
grande maioria, o importante sempre foi o espelho, repita-se. Sem esquecer a
banqueta, que dava conforto, não só para se pentear, como para se maquiar –
“sempre sentadas”, explicou-me uma delas.
O espelho deveria ser bisotado ou “bisotê”. São espelhos que não
deformam a imagem, ainda que se mire de longe.
Muitas
penteadeiras foram transformadas ou desmembradas. Ou mudaram de função. Como a
de uma ilustre advogada cuja antiga penteadeira adorna a sua sala, onde coloca
porta-retratos com fotos das pessoas que lhe são queridas. As que foram
desmembradas, em sua maioria, ficam sem
os espelhos, realocados em outro ponto da casa.
Aliás, as penteadeiras, contudo, sempre
existiram e não acabarão jamais. No quarto de moças e senhoras privilegiadas de
nossos dias existe um móvel modulado com espelho e gavetas que se chama
camarim. Elas não vivem sem espelhos. Ainda bem.