Amigos do Fingidor

terça-feira, 6 de abril de 2010

Apenas uma história policial

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Marco Adolfs



Meu nome é Mário Rodrigues. Sejam bem-vindos ao meu inferno particular. Tenho cinquenta e dois anos de idade e sou investigador de polícia. Se me perguntam por que resolvi ser investigador de polícia, eu digo que é para ficar mais perto de Deus. Muitos se espantam com essa minha resposta. Mas eu explico melhor citando um velho chavão batido, o de que Deus escreve certo por linhas tortas.

Portanto, o que penso e vejo – no meio dessa marginalidade cruel de uma vida, não só de crimes, mas de situações psicológicas de desespero –, é uma parte desse meu inferno. Não sou nenhum masoquista ou sádico, mas percebo que é aqui, nesta condição marginal, o momento onde Deus exerce o seu domínio. Ou através da culpa que cada um carrega, ou através da punição. Uma luta eterna onde ele tenta apascentar essas ovelhas negras no escuro. Meu inferno particular, afirmo com convicção.

Naquela noite não consegui pegar no sono antes das três da madrugada. Fiquei fumando um longo charuto cubano, enquanto pensava nos possíveis caminhos para a solução daquele crime esquisito. E logo com um pastor da Igreja Cósmica do Reino de Deus. Esse homem deveria ter muitos segredos a revelar, pensei. Por isso havia sido morto. Mas, nada era certo, pois histórias estranhas de crimes absurdos acontecem quase todos os dias. Brotam nas esquinas, sob o signo do desespero dos humanos. E esse era mais um.

No outro dia, quando entrei na delegacia, um investigador amigo meu me chamou a um canto e falou:

– Tenho uma coisa para lhe dizer sobre ele.

– O quê?

– Uma mulher ligou de um orelhão e disse que sabia quem havia feito aquilo com o pastor.

Olhei para os olhos do investigador Parreira e esperei. Parreira tossiu um pouco e então continuou:

–...Ela não quis se identificar, mas disse que ligaria amanhã para marcar um encontro com a polícia em um local a ser definido – disse. – Mas ainda tem mais uma coisa que ela me disse – continuou Parreira.

– O quê? – perguntei ansioso.

– Que esse sujeito que morreu não era um pastor sério.

– Por que crimes desse tipo não são logo arquivados? – resmunguei contrariado, enquanto saía de perto do Parreira.

Mas tudo foi resolvido da forma mais simples do que eu imaginava que fosse resolvido. Após o encontro marcado com a tal mulher, ela nos revelou que o tal pastor, “não era pastor coisa nenhuma” e que não passava de um bandido que devia muito dinheiro para um traficante do morro onde morava. Um traficante de nome Jesus.

Enquanto tratava do caso, não pude deixar de pensar em quantos bandidos fogem de seus algozes e vidas pregressas assim..., em nome de Jesus.