Amigos do Fingidor

domingo, 25 de abril de 2010

Anisio Mello

Jorge Tufic


Anisio Mello, com seu atelier no porão da Rua Dr. Moreira (em frente ao Vaticano, de Evandro Carreira), era o ponto de encontro da turma formada por mim, Alencar e Silva, Farias de Carvalho e Antísthenes Pinto; isso, precisamente, ao longo dos anos 1949 a 52 do século XX, quando o artista decide casar-se e transferir residência para o estado de São Paulo. Ali, após uma estada no Jardim Paulista, muda-se definitivamente para o Rio Comprido, onde faz de sua ampla vivenda um abrigo permanente daqueles que o procuravam, ainda e sempre nós, os vates do porão, agora em busca dos ares inovadores da Semana de 22, da qual só restavam Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, que também nos recebera. O novo estúdio de Anísio, então bastante ampliado, já podia incluir um visual de instrumentos musicais, entre estes a flauta e o violão, uma invejável discoteca, além das telas que pintava, ao lado de esculturas de gente famosa, modeladas por ele. Retorna o poeta à sua terra natal em 1977, indo residir em nossa casa, à rua J. G. de Araújo, 94, enquanto se lançava numa arriscada aventura como seringalista, no Rio Juruá, dono que fora de uma gleba do tamanho de seu próprio sonho de empresário. E aproveita o espaço geográfico para criar uma pequena cidade, dando ao nome das ruas os nomes de seus amigos de Manaus.

Findo esse sonho, instala-se ele na avenida Joaquim Nabuco, 1254, casa de seu irmão Pedro Mello, onde passa a funcionar o Liceu Esther Mello, e, tempos após, o seletivo Chá do Armando, de conjurados, sim, contra a mesmice da burocracia literária, mas não de inconfidentes, daí seu ecletismo e o clima democrático que manteve durante quase dez anos. Homem probo, bom, cordato, sincero, culto, polimorfo e criativo, Anísio Mello está a merecer, agora, o justo reconhecimento e a justa homenagem de seus contemporâneos. Ele deixa saudades e acordes imemoriais de sua lira nascente!



Acima, retrato de Anisio Mello (21/06/1927-11/04/2010) por Afrânio Pires. Abaixo, tela abstrata, sem título, um dos últimos trabalhos de Anisio.