Amigos do Fingidor

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Lançamento: Entre marços e janelas, de Letícia Pinto de Cardoso

 



Entre marços e janelas é o primeiro livro solo de Letícia Pinto Cardoso, o que não quer dizer que ela seja uma principiante. Organizadora da série Te conto em contos, em três volumes, Letícia espalhou contos seus e de outras autoras – mulheres do mundo! – nas nuvens do ciberespaço. De certa forma, este livro continua a série, com apenas uma autora, mas a mesma diversidade de vozes: multiplicadas vozes de inumeráveis eus, pintando, com incômodo realismo, tragédias e dramas cotidianos nos bairros distantes e na zona rural de uma cidade qualquer, mas tão familiar...

Esse cotidiano resume-se em “um hábito dentro de uma rotina toda cheia de outros hábitos”: algo entre as cores de Hopper e sombras expressionistas. E aí os arquétipos se multiplicam na mesma proporção das vozes: desde a mulher abandonada com os filhos pequenos (“uma vida que vale por quatro”), passando pela mancha no teto a arder no estômago, a casa de subúrbio feita personagem, a velhice no exílio da realidade, o amor proibido e a morte antecipada – até a suprema interdição, dita num quase sussurro: “cresci numa casa em que era proibido ter criatividade”. O horror. O horror.

Entre marços e janelas é uma antologia do banal cotidiano, que se anima de nossa solidão, nossos incômodos, tédios, repulsas e medos – e eles estão aqui, presentes, representados, à espreita, prontos para o assalto fatal, presas indefesas que somos.

O cotidiano é o horror – com ele, Letícia Pinto Cardoso doma o sortilégio da escrita e domina a alma de suas/seus leitoras/leitores. 

Zemaria Pinto,

na orelha