Amigos do Fingidor

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

A poesia é necessária?

 

Gaia

 

Bruna Lombardi

 

Você sabe como eu sou despreocupada

que me encerro neste quarto e me permito

todas as divagações, as fantasias

obsessões, perseguições, todos os dias

você sabe que eu me viro de inventos

que eu me reparto e dou crias

que eu mal me resolvo e me aguento

carrego pedras no bolso

e enfrento ventanias.

 

Você sabe como eu sou desorientada

raciocino pelo instinto e cometo

fugas de túnel de ladra de galeria

uso malhas e madras manhas e lanhas

e percorro superfícies

em que você escorregaria

 

Mas você sabe como eu sou de subsolos

de subterfúgios, de subversos subliminares

como eu sou de submundos

subterrâneos, de sub-reptícias folias

meio de circo, meio de farsa

ervas, panfletos, fluidos, presságios

quebrantos, jeitos, gírias, reviras

de sensações e cismas, filosofias

 

de como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos

atmosférica e vadia

gato da noite, de crises, guitarras

ouros e danças e circunstâncias

de vinho azedo e companhia.

       

Que eu sou de todas as misturas

todas as formas e sintonias

e enfrento esse aperto, essas normas

forças, pressões, imposições, o poderio

os intervalos, o silêncio da maioria.

 

Você sabe de toda minha luta

mesmo quando a intenção silencia

que eu não cedo, não desisto

a todo custo, a toda faca, a todo risco

eu sobrevivo de paixão e de anarquia.

 

Você sabe bem da minha fraude

Você conhece as minhas alquimias.