“Il
dolce far niente” significa ”o doce fazer nada”. É uma locução italiana que
remete ao estado de ócio feliz e despreocupado.
De
repente a pessoa se aposenta e começa a enfrentar uma ociosidade imposta. Até
que ponto essa ociosidade é salutar e doce?
Conheci
um médico naturalista coreano em Brasília que sempre dizia que “não existe
aposentadoria da vida”. E que devemos sempre nos exercitar, comer com sabedoria
e fazer uma atividade que seja útil e prazerosa.
Certa
vez fui visitar Tia Idalina em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ela está
aposentada há muitos anos. Vive bem e apresenta uma higidez formidável para sua
idade. Perguntei-lhe logo ao chegar em seu apartamento:
– A
senhora vai sair? No que ela me respondeu:
– Não.
Eu fico sempre arrumada, penteada e devidamente maquiada. Mesmo para ficar em
casa. Não tenho o que algumas pessoas chamam de roupa de casa. Também não tenho
hábito de dormir de dia. É perda de tempo. Devemos sempre procurar o que fazer.
Tenha sempre um bom livro à mão. Nada dessas porcarias de autoajuda. Releia Eça
de Queiroz, Machado de Assis e Jorge Amado, dentre outros.
Foi uma
grande lição de vida. Na época eu ainda trabalhava e tinha uma vida muito
corrida. Mas agora que estou aposentado entendi a sábia lição de Idalina.
Nos
primeiros meses de aposentados o tal “dolce far niente” é uma realidade. Tudo
parece umas grandes férias merecidas. Geralmente pode-se fazer uma viagem e
colocar em dia alguns assuntos. Arrumar algumas gavetas. Mas de repente aquele
ócio parece que perde a sua graça e não se apresenta tão doce. Um vazio começa
a encher o coração do aposentado.
Cuidado.
Pode ser um dos primeiros sintomas de depressão. Em sua biografia, Winston
Churchill confessa que eventualmente ficava deprimido. Chamava a depressão de
“black dog”.
Um amigo psiquiatra me disse que há riscos para a saúde mental ao deixar-se de trabalhar. Segundo ele, a aposentadoria pode elevar em 40% as chances de se desenvolver depressão. Por isso, é essencial se preparar para esta etapa da vida e mudar alguns hábitos e atitudes. E assim, poder aproveitar de fato e de direito esse “dolce far niente”. Cuidado com o “black dog”. Pode ser perigoso.